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Neoclassicismo: mudanças entre as edições

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[[Ficheiro:David-Oath of the Horatii-1784.jpg|thumb|300px|''[[O Juramento dos Horácios]]'', uma das obras mais conhecidas e influentes da escola neoclássica<br><small>por [[Jacques-Louis David]], 1784, [[Museu do Louvre]]</small>]]
O '''neoclassicismo'''  foi um movimento cultural nascido na [[Europa]] em meados do século XVIII, que teve larga influência na arte e cultura de todo o ocidente até meados do século XIX. Teve como base os ideais do [[iluminismo]] e um renovado interesse pela cultura da [[Antiguidade]] clássica, advogando os princípios da moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos decorativistas e dramáticos do [[Barroco]].


== Contexto e caracterização geral==
Os primeiros sinais do neoclassicismo se fazem notar em vários pontos da Europa nas primeiras décadas do século XVIII, embora desde já se deva advertir que a cronologia dos estilos é sempre muito polêmica, e seus limites, muito imprecisos. O neoclassicismo, como o nome indica, foi um movimento cultural [[revivalista]], que voltou-se para a [[Antiguidade clássica]] - a [[Grécia Antiga|Grécia]] e a [[Roma antiga]]s - como a principal referência estética e modelo de vida. Considerava-se há muito tempo que a tradição clássica — onde se incluía a cultura [[renascentista]], também um revivalismo classicista — era imbuída de grande autoridade moral e estética, e por isso era um modelo ideal. De fato, a "volta aos clássicos" é um fenômeno recorrente na história da cultura do ocidente.<ref name="Greenhalgh"/><ref name="Bietoletti"/><ref>Mincoff, Marco. "Baroque Literature in England". In. Limon, Jerzy. ''Shakespeare and His Contemporaries: Eastern and Central European Studies''. University of Delaware Press, 1993, p. 11-57</ref><ref>Rosenblum, Robert. ''Transformations in Late Eighteenth-Century Art''. Princeton University Press, 1970, pp. 3-4 </ref><ref name="Palmer">Palmer, Allison Lee. ''Historical Dictionary of Neoclassical Art and Architecture''. Scarecrow Press, 2011, pp. ix; 1-2 </ref>
[[File:Terpischore, the muse of choir lyric poetry by François Boucher.jpg|thumb|left|250px|''Terpischore'': uma típica obra rococó,<small> por [[François Boucher]],  1739</small>]]
[[File:Pietro Fabris - Ausgrabung des Isis-Tempels in Pompeji.jpg|thumb|left|250px|''A escavação do Templo de Ísis em Pompeia'',<small> ilustração de [[Pietro Fabris]] no tratado ''Campi Phlegraei'' (1776) de [[William Hamilton (diplomata)|William Hamilton]]</small>]]
[[File:The Graces Listening to Cupid's Song 2 - Thorvaldsens Museum - DSC08571.jpg|thumb|left|250px| ''As três graças ouvindo a canção de Cupido'', uma obra exemplar da estética neoclássica<small> por [[Bertel Thorvaldsen]], [[Museu Thordvaldsen]], [[Copenhague]]</small>]]
Uma série de fatores se conjugaram para que em meados do século XVIII houvesse nascido uma nova corrente classicista, nítida e influente, centralizada em [[Roma]], convivendo com e combatendo as últimas manifestações do [[Barroco]] e do [[Rococó]]. Dois fatores foram principais: em primeiro lugar, o esgotamento da fórmula barroca e a condenação do que se viu nela como excessos, peso, decorativismo fútil, falta de decoro e irregularidade, acompanhado por um crescente interesse pela Antiguidade clássica de modo geral, com seus valores de [[racionalismo]], modéstia, equilíbrio, harmonia, simplicidade formal, [[idealismo]] e desapego do luxo. Em segundo, o neoclassicismo está intimamente ligado ao declínio da influência da religião e à ascensão dos ideais do [[iluminismo]], que tinham base no racionalismo, combatiam as [[superstições]] e [[dogma]]s religiosos, e enfatizavam o aperfeiçoamento pessoal e o progresso social dentro de uma forte moldura [[ética]]. Os valores clássicos permaneceram uma forte referência nas [[academicismo|academias de arte]] e de ciências mesmo durante o Barroco, o estilo anticlássico por excelência.<ref name="Greenhalgh"/><ref name="Bietoletti">Bietoletti, Silvestra. ''Neoclassicism & Romanticism''. Sterling Publishing Company, Inc., 2009, pp. 8-16 </ref><ref>Schwarcz, Lilia Moritz. ''O Sol do Brasil: Nicolas-Antoine Taunay e as desventuras dos artistas franceses na corte de d. João''. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. pp. 65-66</ref><ref>Barasch, Moshe. ''Theories of Art: From Plato to Winckelmann''. Routledge, 2000, pp. 330-333</ref><ref>Grenfell, Michael & Hardy, Cheryl. ''Art rules: Pierre Bourdieu and the visual arts''. Berg Publishers, 2007. pp. 110-111</ref><ref>Pevsner, Nikolaus. ''Academias de arte: passado e presente''. Companhia das Letras, 2005. pp. 112-113; 120-133</ref><ref name="Palmer"/>
Também foi inestimável a contribuição de acadêmicos e antiquários como [[Robert Wood]], [[John Bouverie]], [[James Stuart]], [[Robert Adam]], [[Giovanni Battista Borra]] e [[James Dawkins]], que publicaram a partir do século XVIII vários relatos detalhados e ilustrados de expedições arqueológicas, sendo especialmente influentes o tratado de [[Bernard de Montfaucon]], ''L'Antiquite expliquée et representée en figures'' (1719-24), fartamente ilustrado e com textos paralelos em línguas modernas, não apenas no [[latim]] como era o costume acadêmico, e o do [[Conde de Caylus]], ''Recueil d'antiquités'' (1752-67), o primeiro a tentar agrupar as obras de arte da Antiguidade clássica segundo critérios de [[Estilo (arte)|estilo]] e não de gênero, abordando também as antiguidades celtas, egípcias e etruscas.<ref name="Greenhalgh">Greenhalgh, Michael. [http://rubens.anu.edu.au/new/books_and_papers/classical_tradition_book/chap11.html ''The Classical Tradition in Art'']. Londres, Icon Editions, 1978</ref><ref name="Bietoletti"/><ref name="Kleiner"/> Os escritos de [[Johann Joachim Winckelmann]] - um erudito alemão de grande influência entre os intelectuais italianos e alemães, incluindo [[Goethe]], e muitas vezes considerado o principal mentor teórico do movimento - enalteceram ainda mais a arte grega, e vendo nela uma "nobre simplicidade e tranquila grandeza", apelou para que todos os artistas a imitassem, restaurando uma arte idealista que deveria ser despida de toda transitoriedade, aproximando-se do caráter do [[arquétipo]]. Seu apelo gerou sonora resposta. A [[história]], [[literatura]] e [[mitologia]] antigas voltavam a ser a fonte principal de inspiração para os artistas, ao mesmo tempo em que eram reavaliadas outras culturas e estilos antigos como o [[Estilo gótico|gótico]] e as tradições [[folclore|folclóricas]] do norte europeu, produzindo uma heterogeneidade de tendências que tornam o estudo deste período por vezes bastante árduo.<ref name="Gontar"/><ref name="Kleiner"/>
Acrescente-se a isso a descoberta de [[Herculano]] e [[Pompeia]], duas antigas cidades romanas soterradas por uma erupção do [[Vesúvio]], uma grande surpresa para os conhecedores e o público, tornando-se logo uma parada obrigatória no ''[[Grand Tour]]'' europeu e local de pesquisa para artistas e antiquários. Embora as escavações que começaram a ser realizadas nas ruínas em 1738 e 1748 não tenham encontrado grandes obras-primas, trouxeram para a luz uma quantidade de relíquias e artefatos que revelavam aspectos do cotidiano romano até então desconhecidos. Seguiram-se outras pesquisas sistemáticas da arte e cultura antiga, formaram-se importantes coleções públicas e privadas de arte e artefatos antigos e o "estilo grego" se tornava cada vez mais um favorito para os decoradores, estilistas de moda e arquitetos. Esses fatores contribuíram de forma importante para a educação de um maior público e para um alargamento da sua visão sobre o passado, estimulando uma nova paixão por tudo o que fosse antigo.<ref name="Gontar">Gontar, Cybele. [http://www.metmuseum.org/toah/hd/neoc_1/hd_neoc_1.htm|título=''Neoclassicism'']. In: ''Heilbrunn Timeline of Art History''. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000</ref><ref name="Bietoletti"/><ref name="Kleiner"/>
Apesar de a arte clássica ser apreciada desde muito antes, segundo Cybele Gontar era-o de forma circunstancial e empírica, mas agora o apreço se construía sobre bases mais científicas, sistemáticas e racionais. Com essas descobertas arqueológicas e estudos teóricos tornou-se possível formar pela primeira vez uma cronologia da cultura e da arte dos gregos e romanos, distinguindo o que era próprio de uns e de outros, e fazendo nascer um interesse pela tradição puramente grega que havia sido ofuscada pela herança romana, ainda mais porque na época a [[Grécia]] estava sob domínio turco e por isso, na prática, era pouco acessível para os estudiosos e turistas do Ocidente cristão.<ref name="Gontar"/><ref name="Kleiner">Kleiner, Fred S. ''Gardner's Art Through the Ages: The Western Perspective, Volume 2''. Cengage Learning, 2009, pp. 599-605</ref>
[[Ficheiro:Death of Marat by David.jpg|thumb|''[[Marat assassinado|A Morte de Marat]]'', <small>[[Jacques Louis David]] 1793, [[Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica]]</small>]]
O movimento teve também conotações [[política]]s, já que a origem da inspiração neoclássica era a cultura grega e sua [[democracia]], e a romana com sua [[república]], com os valores associados de [[honra]], [[dever]], [[heroísmo]], [[civismo]] e [[patriotismo]]. Como consequência, o estilo neoclássico foi adotado pelo [[Revolução Francesa|governo revolucionário francês]] como arma ideológica contra o "luxo imoral" e a "afetação decadente" das elites, tipificadas na galante e hedonista arte Rococó, pondo de lado a "nobre simplicidade e tranquila grandeza" de Winckelmann e assumindo ares mais agressivos, dinâmicos, dramáticos e nitidamente propagandísticos, convocando a sociedade à mudança.<ref name="Gontar"/><ref name="Rosenblum2">Rosenblum, p. 10</ref> Teve o pintor [[Jacques-Louis David]] como seu campeão e assumiu os nomes sucessivos de estilo Diretório, estilo Convenção e mais tarde, sob [[Napoleão]], estilo Império, influenciando outros países. Nos [[Estados Unidos]], no tumultuado processo de conquista de sua própria independência, e inspirados no modelo da Roma republicana, o neoclassicismo se tornou um padrão patrocinado pelo governo, sendo conhecido como Estilo Federal. Entretanto, desde logo o neoclassicismo se tornou também um estilo cortesão, e em virtude de suas associações com o glorioso passado clássico, foi usado pelos monarcas e príncipes como veículo de propaganda para suas personalidades e feitos.<ref name="Gontar"/><ref name="Janson"/><ref name="Kleiner"/>
O neoclassicismo conheceu seu ponto mais alto entre meados do século XVIII e as décadas iniciais do século XIX, quando Winckelmann fazia grande propaganda da cultura antiga e nas artes brilhavam [[Goethe]], David, [[Haydn]], [[Mozart]] e [[Canova]], além de muitos outros. É uma das características deste período a coexistência do neoclassicismo com um outro movimento cultural também de larga influência: o [[romantismo]]. Ambos foram em muitos pontos estilos antitéticos, pois o romantismo tendia a enfatizar o drama, o movimento, a visão individual, o irracional, o misticismo e a emoção, mas por outro lado, não era inteiramente avesso à referência clássica nem ao idealismo, tendo nascido também sob influência do iluminismo. Muitas vezes será difícil distingui-los. Ao longo do século XIX ambas as escolas viriam a dialogar e se fundir cada vez mais, gerando o [[academismo]] [[Ecletismo|eclético]], prosaico e sentimental do fim do século. No início do século XX o neoclassicismo - bem como o romantismo - havia sido suplantado pela estética [[modernista]], embora continuasse a gerar frutos em algumas regiões.<ref>Palmer, pp. 13-14</ref><ref name="Janson">Janson, Horst Woldemar. [http://books.google.com.br/books?id=MMYHuvhWBH4C&pg=PT673&lpg=PT673&dq=neoclassicism&source=bl&ots=q8ASZ8okUX&sig=aWbAkeYfho1BbukBOS9Y2UGcE2M&hl=pt-BR&sa=X&ei=1mdHUJ64H4Wm8AS34YGYBA&ved=0CEQQ6AEwAw#v=onepage&q=neoclassicism&f=false ''History of Art: The Western Tradition'']. Prentice Hall Professional, 2004, cap 21, s/pp.  </ref><ref>Galitz, Kathryn Calley. "Romanticism". In ''Heilbrunn Timeline of Art History''. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000</ref><ref>Forward, Stephanie. ''Legacy of the Romantics''. The Open University. BBC</ref><ref name="Kleiner"/><ref name="Rosenblum2"/> Na década de 1980, cultivada pelos [[pós-moderno]]s, uma forma atualizada de classicismo apareceu em cena com algum ímpeto, manifestando-se em várias formas de arte.<ref>Palmer, p. 14</ref>
== Literatura ==
{{Ver artigo principal|[[Literatura do neoclassicismo]]}}
Os textos empregam linguagem clara, sintética, gramaticalmente correta e nobre. A forma liberta-se um pouco do rigor do [[classicismo]] anterior. A principal expressão do movimento na [[literatura]] é o [[arcadismo]], manifestado na [[Itália]], em [[Portugal]] e no [[Brasil]].
Na [[França]], os novos ideais [[Iluminismo|iluministas]] são a base dos textos. Os principais autores são [[Montesquieu]] (1689-1755) e [[Voltaire]]. O primeiro é autor, entre outras, da obra ''Do Espírito das Leis''. Voltaire experimenta vários gêneros: [[tragédia]] (''A Morte de César''), [[poesia]] (''Discurso sobre o Homem''), [[conto]]s fantásticos (''Zadig'') e [[romance]] de fundo moral (''[[Cândido, ou O Otimismo]]''). No final do século, uma visão crítica da aristocracia é dada por [[Choderlos de Laclos]] (1741-1803), em ''As Relações Perigosas'', e pelos romances eróticos do [[Marquês de Sade]] (1740-1814) e de [[Restif de la Bretonne]] (1734-1806). Na [[Inglaterra]] destacam-se [[Robinson Crusoe]], de [[Daniel Defoe]] (1660-1731), e [[As Viagens de Gulliver]], de [[Jonathan Swift]] (1667-1731).
A sua principal expressão na literatura, o arcadismo, foi um movimento literário que buscava basicamente a simplicidade, oposto à confusão e do retrocedimento Barroco. Retrata a vida pastoril e harmônica do campo. As referências clássicas voltam, e as obras são recheadas de seres da [[mitologia grega]]. Porém se observa que a mitologia, que era um acervo cultural concreto de [[Grécia]], [[Roma]] e mesmo do [[Renascimento]], agora se converte apenas num recurso poético de valor duvidoso. Também  se destaca ''Éclogas'' de [[Virgílio]] e dos ''Idílios'' de [[Teócrito]], obras clássicas que retratam a natureza harmônica, e por isso são os dois autores mais imitados pelos árcades.
Os árcades, ao contrário do [[Barroco]], preferiam uma visão equilibrada do mundo. Sem exageros, sem conflitos, apenas a simplicidade.
== Artes plásticas ==
{{AP|[[Academismo]]}}
A arte neoclássica busca inspiração no equilíbrio e na simplicidade, bases da criação na [[Antiguidade]]. As características marcantes são o caráter [[ilustração|ilustrativo]] e literário, marcados pelo formalismo e pela linearidade, poses escultóricas, com [[anatomia]] correta e exatidão nos contornos, temas "dignos" e clareza na composição. Sua sistematização era feita através do sistema conhecido como [[academismo]], que estabelecia uma série de normas práticas e teóricas para a produção da boa arte.
Nascendo como uma reação ao Barroco e ao Rococó, a arte neoclássica não foi apenas um movimento artístico, mas também cultural, que refletiu as mudanças que ocorriam na época marcadas pela ascensão da [[burguesia]]. Este estilo procurou expressar e interpretar os interesses, a mentalidade e os hábitos da burguesia manufatureira e mercantil da época da [[Revolução Francesa]] e do [[Império Napoleônico]], mas também expressou muitos valores políticos e cívicos quando patrocinado pelo Estado.
=== Principais características do neoclassicismo nas artes plásticas===
* formalismo e racionalismo
* retorno ao estilo greco-romano
* academicismo e técnicas apuradas
* culto à teoria de [[Aristóteles]]
* ideal da época: democracia
* na pintura, exatidão nos contornos, sobriedade nos ornamentos e no colorido, pinceladas que não marcavam a superfície, dando à obra um aspecto impessoal onde predominava o desenho sobre a cor
* na escultura, preferência pelo mármore branco, considerado o mais nobre dos materiais
=== Pintura ===
{{Ver artigo principal|[[Pintura do neoclassicismo]]}}
[[Ficheiro:Ingres - Die Badende von Valpincon.jpeg|thumb|upright=1.2|''[[A Banhista de Valpinçon]]'', <br><small>por [[Jean-Auguste Dominique Ingres]], 1808, [[Museu do Louvre]]</small>]]
[[Ficheiro:Perseus Canova Pio-Clementino Inv969.jpg|thumb|upright=1.2|''[[Perseu com a cabeça da Medusa]]'': um dos maiores ícones do neoclassicismo escultórico,<br><small> por [[Antonio Canova]],  c. 1800, [[Museus Vaticanos]]</small>]]
Uma amostra de pintura neoclássica nesse período é ''[[O Juramento dos Horácios]]'', do francês [[Jacques-Louis David]]. Nesta obra de temática inspirada na história da [[Roma Antiga]], os valores estéticos da Antiguidade servem de veículo condutor a uma mensagem atual: cidadãos (homens livres), agarram em armas, ou seja, tomam nas suas mãos o poder sobre o futuro da nação. A obra fez furor no [[Salon de Paris|Salão de Paris]] em 1784. A pintura neoclássica de David dominou o panorama artístico francês durante quase meio século, fazendo com que ele, acima das contingências políticas, fosse o pintor oficial da Revolução Francesa e, depois, do regime de [[Napoleão Bonaparte]]. Outro pintor de destaque é [[Dominique Ingres]], de ''[[A Banhista de Valpinçon]]''.
;Principais pintores:
* [[Jacques Louis David]] (francês, 1748-1825): foi o mais característico representante do neoclassicismo. Durante alguns anos controlou a atividade artística francesa, sendo o pintor oficial da corte imperial, pintando fatos históricos ligados à vida do imperador Napoleão. Pintou também temas solenes, personagens e motivos inspirados na [[antiguidade clássica]], através de cores sóbrias. Sua luminosidade lembra [[Caravaggio]], mas é em [[Rafael Sanzio]] (mestre inegável do equilíbrio da composição e da harmonia das cores) que reside sua maior influência. Figuras sólidas e imóveis. Excelente [[retrato|retratista]]. Obras mais importantes: ''[[Marat assassinado|A Morte de Marat]]'' (1793); ''[[A Morte de Sócrates]]'' (1787); ''[[As Sabinas]]''; ''[[A Coroação de Napoleão em Notre Dame]]''.
* [[Dominique Ingres]] (francês, 1780-1867): Formado na oficina de David, permaneceu fiel aos postulados neoclássicos do seu mestre ao longo de toda a vida. Passou muitos anos em Roma, onde assimilou aspectos formais de Rafael e do [[maneirismo]]. Ingres sobreviveu largamente à época de predomínio do seu estilo, dado que morreu em 1867. A partir de 1830 opôs-se com veemência, da sua posição de académico, ao triunfo do [[romantismo]] pictórico representado por [[Delacroix]]. Ingres preferia os retratos e os nus às cenas mitológicas e históricas. Entre os seus melhores retratos contam-se ''Bonaparte Primeiro Cônsul'', ''A Bela Célia'', ''O Pintor Granet'' e ''A Condessa de Hassonville''. Nos nus que pintou (''[[A Grande Odalisca]]'', ''[[O Banho turco (Ingres)|O Banho turco]]'' e, sobretudo, ''[[A Banhista de Valpinçon]]'') é patente o domínio e a graça com que se serve do traço. A sua obra mais conhecida é ''[[Apoteose de Homero]]'', de desenho nítido e equilibrada composição.
;Outros pintores:
* [[Pierre-Paul Prud'hon]], [[Antoine-Jean Gros]], [[Jean Germain Drouais]], [[Jean-Baptiste François Desoria]] (França); [[Karl Briullov]] (Rússia); [[Andrea Appiani]], [[Niccolò Contestabile]] (Itália); [[Angelica Kauffmann]] (Áustria); [[Leo von Klenze]] (Alemanha); [[Thomas Lawrence]], [[John Hamilton Mortimer]] (Grã-Bretanha); [[Benjamin West]] e [[John Singleton Copley]] (Estados Unidos); [[Vieira Portuense]] e [[Domingos Sequeira]] (Portugal).
=== Escultura ===
{{Ver artigo principal|[[Escultura do neoclassicismo]]}}
Na [[escultura]] o movimento buscava inspiração no passado. A [[escultura grega|estatuária grega]] foi o modelo favorito pela harmonia das proporções, regularidade das formas e serenidade da expressão. Também foi menos ousada que a pintura e arquitetura de seu tempo. Entre os principais escultores destaca-se acima de todos o italiano [[Antonio Canova]] (1757-1822), que dominou a cena europeia durante sua maturidade com suas estátuas de heróis e figuras mitológicas, como ''[[Perseu com a cabeça da Medusa]]'' e ''Eros revive Psique com um beijo''. Seu estilo tem um refinamento incomum, reconhecido por seus contemporâneos como insuperável, e como a mais perfeita encarnação dos ideais de Winckelmann. Outro grande nome e concorrente de Canova foi [[Bertel Thorvaldsen]], autor de um celebrado ''Jasão com o Velo de Ouro''.<ref> Pinelli, Antonio. "Il Perseo di Canova e il Giasone di Thorvaldsen: due modelli di ''nudo eroico'' a confronto". IN Kragelund, Patrick & Nykjærpp, Mogens. ''Thorvaldsen''. Volume 18 de ''Analecta Romana Instituti Danici. Supplementum''. L'Erma di Bretschneider, 1991. pp. 25-30</ref><ref>Johns, Christopher M. S. ''Antonio Canova and the politics of patronage in revolutionary and Napoleonic Europe''. University of California Press, 1998, p. 40</ref> Em muitos outros países o neoclassicismo inspirou grandes escultores, como [[Jean-Antoine Houdon]], [[William Wetmore Story]] e [[Richard Westmacott]]<ref>Tolles, Thayer. "American Neoclassical Sculptors Abroad". In ''Timeline of Art History''. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000</ref><ref>Greenhalgh, Michael. ''The Classical Tradition in Art''. Londres, 1978</ref><ref>Kriehn, G., & Kleinschmidt, B. (1912). "Sculpture". In ''The Catholic Encyclopedia''. New York: Robert Appleton Company. Retrieved September 21, 2012 from [http://www.newadvent.org/cathen/13641b.htm New Advent]</ref>
== Música ==
{{HA-ren}}
O período compreendido entre meados do século XVIII e meados do século XIX - que, em outras artes, é designado como neoclássico - é conhecido, na música, como período clássico ou [[Classicismo (música)|classicismo]]. ''[[Grosso modo]]'', a segunda metade do século XVIII é marcada pela simplificação das estruturas [[Música barroca|musicais barrocas]]. A música se torna mais simples, passando de um estilo [[Contraponto (música)|contrapontístico]] para outro, [[homofonia|homofônico]]. [[Wolfgang Amadeus Mozart|Mozart]] e [[Franz Joseph Haydn|Haydn]] são os compositores mais representativos do auge desse estilo por sintetizaram os trabalhos de seus antecessores, dando forma definida à [[forma sonata|sonata]], à [[música de câmara]], ao [[concerto]] e à [[sinfonia]]. Já [[Ludwig van Beethoven|Beethoven]] é considerado o responsável pela transição do estilo clássico para o [[romantismo (música)|romântico]].
Já o neoclassicismo na música  se refere a um movimento um tanto difuso no século XX, notadamente entre 1920 e 1950, cuja principal figura foi [[Stravinski]]. Este, após um período identificado como primitivismo, ou "fase russa", passou a evocar a estética do século XVIII. Isso ocorreu principalmente a partir de seu balé ''[[Pulcinella]]'' (1920). Outros compositores do século XX podem ser reputados como neoclássicos  - em geral aqueles que não buscaram uma estética [[atonal]] ou o exacerbado uso de [[dissonância]]s e [[ruído]]s, mas que continuaram a compor segundo os parâmetros tonais dos séculos anteriores, ainda que, de alguma forma, renovados. Nesse período, a [[música erudita]] revive o final do século XVIII e início do século XIX. O neoclassicismo é, pois, basicamente, uma reação às inovações do [[modernismo]] alemão da primeira parte do século XX. Para os compositores neoclássicos, a Humanidade é essencialmente "diatônica" e "tonal". Eles lançam  um olhar para o passado, para formas e concepções musicais históricas. Suas características composicionais mais notáveis ​​são, além do retorno à tonalidade e às formas convencionais ([[suíte]] de dança, ''[[concerto grosso]]'', a [[forma sonata]], etc), a volta à ideia de música absoluta, o uso de texturas musicais leves e a concisão da expressão musical.  Uma obra representativa desse estilo é a [[Sinfonia n° 1 (Prokofiev)|Sinfonia n° 1 em ré maior]], conhecida como ''Sinfonia Clássica'', de&nbsp;[[Prokofiev]], composta entre 1916 e 1917 e que lembra o estilo de [[Mozart]] e, principalmente, o de [[Haydn]].
O [[balé neoclássico]] é a concepção da dança que se desenvolve ao mesmo tempo em que a música neoclássica, com os ''[[Ballets russes]]'' de [[Sergei Diaghilev]]. Sua proposta era tornar mais despojado, em termos de cenografia e narrativas, o estilo imperial russo do século XIX, embora mantendo a estética da sapatilha de ponta e a avançada técnica. O que resta é a dança em si, sofisticada mas, elegantemente moderna.
== Arquitetura ==
{{Ver artigo principal|[[Arquitetura do neoclassicismo]]}}
[[File:Paris pantheon face.jpg|thumb|[[Panteão de Paris]], com uma fachada inspirada no modelo do [[templo grego|templo greco-romano]]]]
A arquitetura neoclássica foi produto da reacção ao [[barroco]] e ao [[rococó]], levada a cabo pelos novos artistas-intelectuais do [[século XVIII]]. Os arquitectos eram formados no clima cultural do [[racionalismo]] [[iluminista]], com entusiasmo crescente pela [[antiguidade clássica|civilização clássica]], que se tornara mais conhecida e estudada devido aos progressos da [[arqueologia]] e da [[história]].
;Algumas características desse movimento artístico na arquitectura são:
* Materiais nobres (pedra, [[mármore]], [[granito]], [[madeira (material)|madeiras]])
* Processos técnicos avançados
* Sistemas construtivos simples
* Esquemas mais complexos, a par das linhas ortogonais
* Formas regulares, geométricas e simétricas
* Volumes corpóreos, maciços, bem definidos por planos murais lisos
* Uso de [[abóbada de berço]] ou de aresta
* Uso de [[cúpula]]s, com frequência marcadas pela monumentalidade
* Espaços interiores organizados segundo critérios geométricos e formais de grande racionalidade
* [[Pórtico]]s [[coluna]]dos
* [[Entablamento]]s direitos
* [[Frontão|Frontões]] triangulares
* Decoração caracterizada por elementos estruturais com formas clássicas, pintura rural e relevo em [[estuque]]
* Valorização da intimidade e do conforto nas mansões familiares
* Decoração de carácter estrutural
== Interiores e mobiliário ==
{{Ver artigos principais|[[Estilo directório]] e [[Estilo império]]}}
== Teatro ==
No [[teatro]] neoclássico a racionalidade predomina, revalorizam-se o texto e a linguagem poética. A tragédia mantém o padrão solene da Antiguidade. Entre os principais autores está [[Voltaire]]. A [[comédia]] revitaliza-se com o francês [[Pierre Marivaux]] (1688-1763), autor de ''O Jogo do Amor e do Acaso''. Os italianos [[Carlo Goldoni]] (1707-1793), de ''A Viúva Astuciosa'', e [[Carlo Gozzi]] (1720-1806), de ''O Amor de Três Laranjas'', estão entre os principais dramaturgos do gênero. Outro importante autor de comédias é o francês [[Caron de Beaumarchais]] (1732-1799), de [[O Barbeiro de Sevilha]] e de [[As Bodas de Fígaro]], retratos da decadência do Antigo Regime e uma inspiração para as óperas de [[Mozart]] (1756-1791) e [[Rossini]] (1792-1868).
Numa linha que prenuncia o romantismo, trabalha o dramaturgo e filósofo francês [[Denis Diderot]] (1713-1784), um dos organizadores da Enciclopédia. Entre suas peças se destaca ''O Filho Natural''. O italiano [[Metastasio]] (1698-1782) aproxima o teatro da música, como no melodrama .
== Neoclassicismo no Brasil ==
[[Ficheiro:MarcFerrez-AIBA-1891.jpg|thumb|left|170px|Fachada do edifício da [[Academia Imperial de Belas Artes]], um projeto de Grandjean de Montigny, fotografada por [[Marc Ferrez]] em 1891.]]
{{Ver artigo principal|[[Neoclassicismo no Brasil]], [[Pintura do Romantismo brasileiro]]}}
Em 1816, desembarca no Brasil a [[Missão Artística Francesa]], contratada para fundar e dirigir no Rio de Janeiro uma [[Escola Real de Artes e Ofícios]]. Nela está, entre outros, o pintor [[Jean-Baptiste Debret]], que retrata com charme e humor costumes e personagens da época. Em 1826 é fundada a [[Academia Imperial de Belas Artes]], que adota o gosto neoclássico europeu e atrai outros pintores estrangeiros de porte, como [[Auguste Marie Taunay]] e [[Johann Moritz Rugendas]]. Pintores brasileiros desse período são [[Manuel de Araújo Porto-Alegre]] e [[Rafael Mendes de Carvalho]], entre outros.
A tendência torna-se visível também na [[arquitetura]]. Seu expoente é [[Grandjean de Montigny]], que chega com a Missão Francesa. Suas obras, como a sede da reitoria da [[Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro|Pontifícia Universidade Católica]] no [[Rio de Janeiro]], adaptam a estética neoclássica ao clima tropical. Mesmo que sua fundamentação fosse de uma sociedade agrário-escravocrata e com um comércio relativamente atrasado, tendo um governo monárquico.
Na pintura a influência neoclássica está submetida ao romantismo. A composição e o desenho seguem os padrões de sobriedade e equilíbrio, mas o colorido reflete a dramaticidade romântica. Um exemplo é ''Flagelação de Cristo'', de [[Vítor Meirelles]].
Na literatura, a principal expressão é o [[arcadismo]], caracterizado por um estilo mais simples e objetivo e pela temática voltada para a natureza. Os seus principais poetas encontram-se em Vila Rica, atual [[Ouro Preto]] centro cultural do Brasil na época. A vida no campo é também abordada, mas os pastores europeus são substituídos pelos vaqueiros brasileiros. [[Cláudio Manuel da Costa]], [[Tomás Antônio Gonzaga]] e [[Silva Alvarenga]] são os principais poetas do movimento no Brasil.
{{Referências|col=2}}
== Ver também ==
{{Commons1|Category:Neoclassicism}}
* [[Anexo:Lista_de_pintores_do_neoclassicismo|Lista de pintores do neoclassicismo]]
* [[Arcadismo no Brasil]]
* [[Barroco|Estilo Barroco]]
* [[Rococó|Estilo Rococó]]
* [[Classicismo]]
[[Categoria:Neoclassicismo| ]]

Edição das 03h13min de 29 de março de 2017

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