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{{Portal-filosofia}}
{{mais notas|data=maio de 2013}}
[[Image:averroes.jpg|thumb|250px|right|Averróis (1126-1198), no detalhe de ''Triunfo de Santo Tomás'', de [[Andrea Bonaiuto]].]]
{{Info/Biografia
'''Abu al-Walid Muhammad Ibn Ahmad Ibn Munhammad Ibn Ruchd''' (أبو الوليد محمد بن احمد بن محمد بن احمد بن احمد بن رشد), filósofo árabe também conhecido pelo nome de Averróis, nasceu em [[Córdoba]], [[1126]] e morreu em [[Marrakech]], [[1198]].
|bgcolour        = #556B2F
|nome            = {{Branco|Averróis}}
|imagem          = Statue of Averroes in Córdoba, Spain.jpg
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|ocupação        = [[filósofo]], [[médico]] e [[polímata]]
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|Época          = Medieval, Idade de ouro islâmica
}}
'''Abu Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide''' ({{langx|ar|أبو الوليد محمد بن احمد بن محمد بن احمد بن احمد بن رشد||''Abu al-Walid Muhammad ibn Ahmad ibn Muhammad ibn Rushd''}}; [[Córdova (Espanha)|Córdova]], 1126 – [[Marraquexe]], 1198), foi um [[polímata]] cuja obra abrange uma gama diversificada de assuntos, incluindo [[filosofia]], [[teologia]], [[medicina]], [[astronomia]], [[física]], [[jurisprudência]], direito islâmico e [[linguística]]. Seus trabalhos filosóficos incluem numerosos comentários sobre [[Aristóteles]], motivo pelo qual Averróis ficou conhecido no ocidente como "O Comentador". Também serviu como juiz e médico.


Foi um dos maiores conhecedores e comentaristas de [[Aristóteles]]. Aliás, o próprio Aristóteles foi redescoberto na [[Europa]] graças aos árabes e os comentários de Averróis muito contribuíram para a recepção do pensamento aristotélico. Averróis também se ocupou com [[astronomia]], [[medicina]] e [[direito canônico muçulmano]].
Nasceu em Córdoba, em 1126, numa família de juízes proeminentes — seu avô era o célebre juiz supremo da cidade. Em 1169, foi apresentado ao califa [[Abu Iacube Iúçufe]], que ficou impressionado com seu conhecimento, tornou-se seu patrono e encomendou muitos dos comentários de Averróis. Posteriormente, serviu vários mandatos como juiz em Sevilha e Córdoba. Em 1182, foi nomeado médico da corte e juiz supremo de Córdoba. Após a morte de Abu Iúçufe em 1184, permaneceu a favor da realeza até sua queda em desgraça em 1195. Foi alvo de várias acusações — provavelmente por razões políticas — e foi exilado para a cidade vizinha de [[Lucena (Espanha)|Lucena]].


Sua filosofia é um misto de aristotelismo com algumas nuanças platônicas. A influência aristotélica se revela em sua idéia da existência do mundo de modo independente de Deus (ambos são co-eternos) e de que também não existe providência divina. Já seu platonismo aparece em sua concepção de que a inteligência, fora dos seres, existe como unidade impessoal.
Averróis foi um forte defensor do [[aristotelismo]]. Tentou restaurar o que enxergava como o ensinamento original de Aristóteles, contra as tendências neoplatônicas de pensadores muçulmanos anteriores, como [[Alfarábi]] e [[Avicena]]. Também defendeu a autonomia da filosofia contra as críticas de teólogos de Axari como Algazali. Argumentou que a filosofia não era apenas permissível no Islã, mas também obrigatória entre certas elites. Também argumentou que, se o texto das escrituras parecesse contradizer as conclusões alcançadas pela razão e pela filosofia, então o texto deveria ser interpretado alegoricamente. Em última análise, seu legado no mundo islâmico era modesto, tanto por razões geográficas quanto intelectuais.


No âmbito religioso, sua interpretação do [[Corão]] propõe que há verdades óbvias para o povo, místicas para o teólogo e científicas para o filósofo e estas podem estar em desacordo umas com as outras. Havendo o conflito, os textos devem ser interpretados alegoricamente. É daí que decorre a idéia que lhe é atribuída de que existem duas verdades, onde uma proposição pode ser teologicamente falsa e filosoficamente verdadeira e vice-versa.
No Ocidente, era conhecido por seus extensos comentários sobre Aristóteles, que foram traduzidos para o latim e o hebraico. As traduções de sua obra despertaram um novo interesse na Europa Ocidental pelas obras de Aristóteles e de pensadores gregos em geral. Seus pensamentos geraram controvérsias na cristandade latina, desencadeando um movimento filosófico baseado em seus ensinamentos — chamado [[Averroísmo]] — e também condenação pela Igreja Católica em 1270 e 1277. Embora enfraquecido pelas condenações e pela crítica levantada por [[Tomás de Aquino]], o averroísmo latino permaneceu atraindo seguidores durante o {{séc|XVI}}.


Dentre suas várias obras, uma das mais célebres é a intitulada ''Destruição da destruição'' (em árabe ''Tahafut al-tahafut''), também conhecida como ''Incoerência da incoêrencia'', onde defende o [[neoplatonismo]] e o aristotelismo dos ataques de outro filósofo árabe: al-Ghazali, também conhecido como [[Algazali]].
== Biografia ==
Membro de uma família de [[jurista]]s, estudou medicina e filosofia. Foi um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Antes do livro "Aristote au mont Saint-Michel",<ref>{{Citar livro|url=https://www.amazon.fr/Aristote-mont-Saint-Michel-grecques-chr%C3%A9tienne/dp/2020965410|titulo=Aristote au mont Saint-Michel : Les racines grecques de l'Europe chrétienne|ultimo=Gouguenheim|primeiro=Sylvain|data=2008-03-06|editora=Seuil|isbn=9782020965415}}</ref> de Sylvan Gouguenheim, entendia-se que Aristóteles fora redescoberto na [[Europa]] graças aos árabes e aos comentários de Averróis. Ele também se ocupou de áreas como [[astronomia]] e [[direito canônico muçulmano]].


Seu pensamento provocou sérias discussões entre os cristãos latinos da Universidade de Paris. Como resultado, muitos aderiram à concepção de uma filosofia pura e independente da teologia cristã e formaram um grupo chamado de [[averroístas latinos]]. Mesmo [[Tomás de Aquino]], que foi um seguidor moderado de Averróis, não escapou da vigilância eclesiástica cristã que via nas doutrinas do filósofo de Córdoba e no seu naturalismo científico uma ameaça para os dogmas da revelação.
A sua filosofia era um misto de [[aristotelismo]] com algumas nuances [[Platonismo|platônicas]]. A influência aristotélica revela-se na sua ideia da existência do mundo de modo independente de Deus (ambos são coeternos) e de que também não existe providência divina. Já o seu platonismo aparece na sua concepção de que a inteligência, fora dos seres, existe como unidade impessoal.


Averróis teve o favor e a proteção dos califas da [[Espanha]] até que foi desterrado por al-Mansur, que considerou as opiniões do filósofo desrespeitosas e em desacordo como Corão.
No âmbito religioso, a sua interpretação do [[Corão]] propõe que há verdades óbvias para o povo, místicas para o teólogo e científicas para o filósofo e estas podem estar em desacordo umas com as outras. Havendo o conflito, os textos devem ser interpretados alegoricamente. É daí que decorre a ideia que lhe é atribuída de que existem duas verdades, onde uma proposição pode ser teologicamente falsa e filosoficamente verdadeira e vice-versa.


=={{Ver também}}==
[[imagem:Averroes closeup.jpg|thumb|left|Averróis em detalhe da pintura ''[[A Escola de Atenas]]'' (1509), de [[Rafael Sanzio|Rafael]]]]
* [[Ibn Tufail]]


[[Categoria:Filósofos]]
Dentre das suas várias obras, uma das mais célebres é a intitulada ''Destruição da destruição'' (em árabe ''Tahafut al-tahafut''), também conhecida como ''Incoerência da incoerência'', onde defende o [[neoplatonismo]] e o aristotelismo dos ataques de outro filósofo árabe: Algazali, também conhecido como [[Algazali]].
[[Categoria:Filosofia árabe medieval]]


=={{Links externos}}==
O seu pensamento provocou sérias discussões entre os cristãos latinos da [[Universidade de Paris]]. Como resultado, muitos aderiram à concepção de uma filosofia pura e independente da [[teologia cristã]] e formaram um grupo chamado de [[averroístas latinos]].
* [http://www.newadvent.org/cathen/02150c.htm Catholic Encyclopedia: Averroes]
* [http://www.muslimphilosophy.com/ir/default.htm Islamic Philosophy Online: Averroes]


[[ar:ابن رشد]]
Os averroístas aceitam, com Aristóteles, a concepção de Deus como [[motor imóvel]] que move eternamente um mundo eternamente existente não feito nem conhecido por ele. Esta tese da eternidade do mundo choca-se com as concepções cristãs. Postulam que a alma individual do homem é perecível e corruptível; isto é, não é imortal. Finalmente, os averroístas defendem a teoria da dupla verdade: a teológica ou da fé e a filosófica ou da razão. Portanto, é verdade, de acordo com a fé, que a alma é imortal e o mundo é criado; mas também é verdade, de acordo com a razão, que a alma é corruptível e o mundo é eterno. Daqui se retirou, nos séculos XVIII e XIX, a defesa de uma total autonomia da razão perante a fé, que se opõe à tese [[Agostinho de Hipona|agostiniana]] de que a verdade é única. As teses averroístas mais radicais foram condenadas pela [[Igreja Católica]]. [[Tomás de Aquino]], tendo sido um seguidor de Averróis, opôs-se no entanto ao seu naturalismo exclusivamente racional. [[Ernest Renan]], o célebre autor francês da ''Vida de Jesus'', onde se nega toda e qualquer intervenção do [[sobrenatural]], iniciou a sua carreira acadêmica escrevendo sobre Averróis e o Averroísmo. Escreveu diversas obras polêmicas e médicas, mas foram os seus Comentários que exerceram uma influência decisiva no [[Ocidente]] para a adoção do [[aristotelismo]]. Escreveu também um importante tratado médico (Generalidades).
[[bg:Авероес]]
 
[[bs:Ibn Rušd]]
Averróis teve o favor e a proteção da vários sultões até que foi [[Degredo|desterrado]] ao Marrocos, onde faleceu pouco depois, na corte de [[Iacube Almançor]] {{nwrap|r.|1184|1199}}.{{sfn|Latham|1986|p=910}}
[[ca:Averrois]]
 
[[de:Averroës]]
== Obras principais ==
[[en:Averroes]]
[[File:Colliget Auerrois totam medicinam V00026 00000002.tif|thumb|''Colliget'']]
[[eo:Ibn-Rushd]]
* ''Tahafut al-tahafut'' (تهافت التهافت, ''A incoerência do incoerente'')
[[es:Averroes]]
* ''Kitab fasl al-maqal'' (''Sobre a harmonia entre Religião e Filosofia'')
[[eu:Averroes]]
* ''Bidayat al-Mujtahid'' (''Distinguido jurista'')
[[fa:ابن ‌رشد]]
* Os Comentários ao ''Corpus aristotelicum'', que compreendem:
[[fi:Averroës]]
** Comentários menores (''Yawami'') à ''Isagoge'' de [[Porfirio]], ao ''Organon,'' a Retórica, Poética, Física, De Coelo et Mundo, De generatione et corruptione, Meteorológicos, De Anima, Metafísica, De partibus animalium, De generatione animalium'' e a ''Parva Naturalia'', de [[Aristóteles]].
[[fr:Averroès]]
** Comentários médios (''Taljisat'') à [[Isagoge]] de Porfirio, ao ''Organon,'' à ''Retórica, Poética, Física, De Coelo et Mundo, De generatione et corruptione, Meteorológicos, De Anima, Metafísica e Ética nicomaquea,'' de Aristóteles.
[[he:אבן רושד]]
** Comentários maiores (''Tafasir'') aos ''Segundos Analíticos'', a ''Física, De Coelo et Mundo, de Anima e Metafísica, de Aristóteles.
[[hr:Ibn Rushd]]
 
[[id:Ibnu Rushdi]]
* ''Exposição da 'República' de Platão
[[it:Averroè]]
* ''Comentários a [[Cláudio Ptolomeo|Ptolomeo]], [[Alexandre de Afrodísias]], [[Nicolau de Damasco]], [[Galeno]], [[al-Farabi]], [[Avicena]] e [[Avempace]]
[[ja:イブン=ルシュド]]
* O tratado ''De Substantia Orbis''
[[ms:Abul Waleed Muhammad Ibn Rushd]]
* Três importantes escritos teológicos: ''Fals al Maqal'', ''Kasf´al-Manahiy'' e ''Damima''
[[nl:Averroes]]
* O ''Kitab al-kulliyyat al-Tibb'' (''Livro das generalidades da medicina'').
[[no:Averroës]]
 
[[pl:Awerroes]]
== Bibliografia ==
[[ru:Аверроэс]]
* {{Citar livro|sobrenome=Latham|nome=J. D.|título=The Encyclpaedia os Islam Vol. III H - Iram|ano=1986|editor=Lewis, B.; Ménage, V. L.; Pellat, Ch.; Schacht, J.|local=Leida|editora=Brill|capítulo=ibn Rushd|ref=harv}}
[[sh:Averroes]]
 
[[sk:Averroes]]
== Ver também ==
[[sl:Ibn Rušd]]
{{wikiquote|Averróis}}
[[sr:Авероес]]
* [[ibne Tufail]]
[[sv:Averroës]]
 
[[tr:İbn Rüşt]]
{{Referências}}
[[uk:Аверроес]]
 
== Ligações externas ==
{{correlatos
| commons = Averroes
| commonscat = Averroes
}}
* [http://www.newadvent.org/cathen/02150c.htm Catholic Encyclopedia: Averroes] {{en}}
* [http://www.muslimphilosophy.com/ir/default.htm Islamic Philosophy Online: Averroes]{{en}}
* [http://livrepensamento.com/um-dicionario-biografico-dos-livres-pensadores-antigos-medievais-e-modernos/averroes/ Um dicionário biográfico dos livres pensadores antigos, medievais e modernos: Averroes] {{pt}}
 
{{Filosofia da ciência}}
{{Filosofia islâmica}}
{{Filosofia medieval}}
{{Lógica}}
{{Medicina islâmica}}
{{Controle de autoridade}}
{{Portal3|História da ciência|Islão|Filosofia|Direito|Medicina|Marrocos}}
 
[[Categoria:Filósofos do Al-Andalus]]
[[Categoria:Médicos do Al-Andalus]]
[[Categoria:Mortos em 1198]]
[[Categoria:Filósofos do século XII]]
[[Categoria:Filosofia da ciência]]
[[Categoria:Filósofos aristotélicos]]

Edição atual tal como às 07h58min de 19 de abril de 2022

Predefinição:Color
Estátua de Averroes em Córdoba, Espanha
Nascimento 1126[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Córdova
Morte 1198 (72 anos)[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Marraquexe
Nacionalidade Mouro
Ocupação filósofo, médico e polímata
Religião islamismo

Abu Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide (em árabe: أبو الوليد محمد بن احمد بن محمد بن احمد بن احمد بن رشد; romaniz.: Abu al-Walid Muhammad ibn Ahmad ibn Muhammad ibn Rushd; Córdova, 1126 – Marraquexe, 1198), foi um polímata cuja obra abrange uma gama diversificada de assuntos, incluindo filosofia, teologia, medicina, astronomia, física, jurisprudência, direito islâmico e linguística. Seus trabalhos filosóficos incluem numerosos comentários sobre Aristóteles, motivo pelo qual Averróis ficou conhecido no ocidente como "O Comentador". Também serviu como juiz e médico.

Nasceu em Córdoba, em 1126, numa família de juízes proeminentes — seu avô era o célebre juiz supremo da cidade. Em 1169, foi apresentado ao califa Abu Iacube Iúçufe, que ficou impressionado com seu conhecimento, tornou-se seu patrono e encomendou muitos dos comentários de Averróis. Posteriormente, serviu vários mandatos como juiz em Sevilha e Córdoba. Em 1182, foi nomeado médico da corte e juiz supremo de Córdoba. Após a morte de Abu Iúçufe em 1184, permaneceu a favor da realeza até sua queda em desgraça em 1195. Foi alvo de várias acusações — provavelmente por razões políticas — e foi exilado para a cidade vizinha de Lucena.

Averróis foi um forte defensor do aristotelismo. Tentou restaurar o que enxergava como o ensinamento original de Aristóteles, contra as tendências neoplatônicas de pensadores muçulmanos anteriores, como Alfarábi e Avicena. Também defendeu a autonomia da filosofia contra as críticas de teólogos de Axari como Algazali. Argumentou que a filosofia não era apenas permissível no Islã, mas também obrigatória entre certas elites. Também argumentou que, se o texto das escrituras parecesse contradizer as conclusões alcançadas pela razão e pela filosofia, então o texto deveria ser interpretado alegoricamente. Em última análise, seu legado no mundo islâmico era modesto, tanto por razões geográficas quanto intelectuais.

No Ocidente, era conhecido por seus extensos comentários sobre Aristóteles, que foram traduzidos para o latim e o hebraico. As traduções de sua obra despertaram um novo interesse na Europa Ocidental pelas obras de Aristóteles e de pensadores gregos em geral. Seus pensamentos geraram controvérsias na cristandade latina, desencadeando um movimento filosófico baseado em seus ensinamentos — chamado Averroísmo — e também condenação pela Igreja Católica em 1270 e 1277. Embora enfraquecido pelas condenações e pela crítica levantada por Tomás de Aquino, o averroísmo latino permaneceu atraindo seguidores durante o século XVI.

Biografia

Membro de uma família de juristas, estudou medicina e filosofia. Foi um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Antes do livro "Aristote au mont Saint-Michel",[1] de Sylvan Gouguenheim, entendia-se que Aristóteles fora redescoberto na Europa graças aos árabes e aos comentários de Averróis. Ele também se ocupou de áreas como astronomia e direito canônico muçulmano.

A sua filosofia era um misto de aristotelismo com algumas nuances platônicas. A influência aristotélica revela-se na sua ideia da existência do mundo de modo independente de Deus (ambos são coeternos) e de que também não existe providência divina. Já o seu platonismo aparece na sua concepção de que a inteligência, fora dos seres, existe como unidade impessoal.

No âmbito religioso, a sua interpretação do Corão propõe que há verdades óbvias para o povo, místicas para o teólogo e científicas para o filósofo e estas podem estar em desacordo umas com as outras. Havendo o conflito, os textos devem ser interpretados alegoricamente. É daí que decorre a ideia que lhe é atribuída de que existem duas verdades, onde uma proposição pode ser teologicamente falsa e filosoficamente verdadeira e vice-versa.

Averróis em detalhe da pintura A Escola de Atenas (1509), de Rafael

Dentre das suas várias obras, uma das mais célebres é a intitulada Destruição da destruição (em árabe Tahafut al-tahafut), também conhecida como Incoerência da incoerência, onde defende o neoplatonismo e o aristotelismo dos ataques de outro filósofo árabe: Algazali, também conhecido como Algazali.

O seu pensamento provocou sérias discussões entre os cristãos latinos da Universidade de Paris. Como resultado, muitos aderiram à concepção de uma filosofia pura e independente da teologia cristã e formaram um grupo chamado de averroístas latinos.

Os averroístas aceitam, com Aristóteles, a concepção de Deus como motor imóvel que move eternamente um mundo eternamente existente não feito nem conhecido por ele. Esta tese da eternidade do mundo choca-se com as concepções cristãs. Postulam que a alma individual do homem é perecível e corruptível; isto é, não é imortal. Finalmente, os averroístas defendem a teoria da dupla verdade: a teológica ou da fé e a filosófica ou da razão. Portanto, é verdade, de acordo com a fé, que a alma é imortal e o mundo é criado; mas também é verdade, de acordo com a razão, que a alma é corruptível e o mundo é eterno. Daqui se retirou, nos séculos XVIII e XIX, a defesa de uma total autonomia da razão perante a fé, que se opõe à tese agostiniana de que a verdade é única. As teses averroístas mais radicais foram condenadas pela Igreja Católica. Tomás de Aquino, tendo sido um seguidor de Averróis, opôs-se no entanto ao seu naturalismo exclusivamente racional. Ernest Renan, o célebre autor francês da Vida de Jesus, onde se nega toda e qualquer intervenção do sobrenatural, iniciou a sua carreira acadêmica escrevendo sobre Averróis e o Averroísmo. Escreveu diversas obras polêmicas e médicas, mas foram os seus Comentários que exerceram uma influência decisiva no Ocidente para a adoção do aristotelismo. Escreveu também um importante tratado médico (Generalidades).

Averróis teve o favor e a proteção da vários sultões até que foi desterrado ao Marrocos, onde faleceu pouco depois, na corte de Iacube Almançor Predefinição:Nwrap.[2]

Obras principais

Colliget
  • Tahafut al-tahafut (تهافت التهافت, A incoerência do incoerente)
  • Kitab fasl al-maqal (Sobre a harmonia entre Religião e Filosofia)
  • Bidayat al-Mujtahid (Distinguido jurista)
  • Os Comentários ao Corpus aristotelicum, que compreendem:
    • Comentários menores (Yawami) à Isagoge de Porfirio, ao Organon, a Retórica, Poética, Física, De Coelo et Mundo, De generatione et corruptione, Meteorológicos, De Anima, Metafísica, De partibus animalium, De generatione animalium e a Parva Naturalia, de Aristóteles.
    • Comentários médios (Taljisat) à Isagoge de Porfirio, ao Organon, à Retórica, Poética, Física, De Coelo et Mundo, De generatione et corruptione, Meteorológicos, De Anima, Metafísica e Ética nicomaquea, de Aristóteles.
    • Comentários maiores (Tafasir) aos Segundos Analíticos, a Física, De Coelo et Mundo, de Anima e Metafísica, de Aristóteles.

Bibliografia

  • Latham, J. D. (1986). «ibn Rushd». In: Lewis, B.; Ménage, V. L.; Pellat, Ch.; Schacht, J. The Encyclpaedia os Islam Vol. III H - Iram. Leida: Brill 

Ver também

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Referências

  1. Gouguenheim, Sylvain (6 de março de 2008). Aristote au mont Saint-Michel : Les racines grecques de l'Europe chrétienne. [S.l.]: Seuil. ISBN 9782020965415 
  2. Latham 1986, p. 910.

Ligações externas

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