𝖂𝖎ƙ𝖎𝖊

Anaximandro: mudanças entre as edições

imported>79a
m (Desfeita(s) uma ou mais edições de 200.102.43.60, com Reversão e avisos)
imported>Jorge Ricardo Valois
(Inseri a referência no texto que inseri.)
 
(29 revisões intermediárias por 19 usuários não estão sendo mostradas)
Linha 18: Linha 18:
|influências      =[[Pitágoras]], [[Anaxímenes de Mileto]]
|influências      =[[Pitágoras]], [[Anaxímenes de Mileto]]
}}
}}
'''Anaximandro,''' (Em [[Língua grega|grego]]: {{politônico|Ἀναξίμανδρος}}; a.C. 610 — 546 a.C.<ref>{{Citar periódico|ultimo=James Evans|primeiro=|data=9 de Julho de 2009|titulo=Anaximander {{!}} Greek philosopher|jornal=Encyclopædia Britannica|doi=|url=https://www.britannica.com/biography/Anaximander|acessodata=7 de Abril de 2017|idioma=en}}</ref>) foi um [[Geografia|geógrafo]], [[Matemática|matemático]], [[Astronomia|astrônomo]], [[Política|político]] e [[Filosofia|filósofo]] [[Pré-socráticos|pré-Socrático]]; discípulo de [[Tales de Mileto|Tales]], seguiu a [[escola jônica]].<ref>''Anaximandro'', pag. 118 - '''Grande Enciclopédia Universal''' - edição de 1980 - ed. Amazonas</ref> Os relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado "Sobre a Natureza"; contudo, essa obra se perdeu.         
'''Anaximandro''' (em [[Língua grega|grego]]: {{politônico|Ἀναξίμανδρος}}; a.C. 610 — 546 a.C.<ref>{{Citar periódico|ultimo=James Evans|primeiro=|data=9 de Julho de 2009|titulo=Anaximander {{!}} Greek philosopher|jornal=Encyclopædia Britannica|doi=|url=https://www.britannica.com/biography/Anaximander|acessodata=7 de Abril de 2017|idioma=en}}</ref>) foi um [[Geografia|geógrafo]], [[Matemática|matemático]], [[Astronomia|astrônomo]], [[Política|político]] e [[Filosofia|filósofo]] [[Pré-socráticos|pré-Socrático]]; discípulo de [[Tales de Mileto|Tales]], seguiu a [[escola jônica]].<ref>''Anaximandro'', pag. 118 - '''Grande Enciclopédia Universal''' - edição de 1980 - ed. Amazonas</ref> Os relatos [[Doxografia|doxográficos]] nos dão conta de que escreveu um livro intitulado "Sobre a Natureza"; contudo, essa obra se perdeu.         


Ele estudou muito e a Anaximandro atribui-se a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do [[Gnômon]] (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).<ref>[[Diógenes Laércio]], ''Vidas dos Filósofos Ilustres'', II, 1.</ref>
Foi um grande estudioso e se atribui a ele a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na [[Grécia]] do uso do [[Gnômon]] (relógio solar) e a medição das distâncias entre as [[Estrela|estrelas]] e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).<ref>[[Diógenes Laércio]], ''Vidas dos Filósofos Ilustres'', II, 1.</ref>


Anaximandro acreditava que o princípio de tudo (o ''[[arkhé]]'' das coisas) era o ''[[ápeiron]]'', isto é, uma matéria infinita da qual todas as outras se cindem. Esse ''[[Ápeiron|á-peiron]]'' é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal.
Anaximandro acreditava que o princípio de tudo (o ''[[arkhé]]'' das coisas) era o ''[[ápeiron]]'', isto é, uma matéria infinita da qual todas as outras se cindem. Esse ''[[Ápeiron|á-peiron]]'' é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal.
Linha 32: Linha 32:
== O universo de Anaximandro ==
== O universo de Anaximandro ==
[[Ficheiro:Anaximander world map-pt.svg|thumb|direita|Representação do possível mapa mundial de Anaximandro.]]
[[Ficheiro:Anaximander world map-pt.svg|thumb|direita|Representação do possível mapa mundial de Anaximandro.]]
Anaximandro considerava que a Terra tinha o formato de um cilindro<ref name=uol>{{citar web|url=https://educacao.uol.com.br/biografias/anaximandro.htm|título=Anaximandro|website=UOL Educação|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> e que era circundada por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo.<ref name=todamateria>{{citar web|url=https://www.todamateria.com.br/anaximandro/|título=Anaximandro|website=Toda Matéria|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref name=ebiografia>{{citar web|url=https://www.ebiografia.com/anaximandro/|título=Biografia de Anaximandro|website=eBiografia|data=|acessodata=|publicado=25 de abril 2016|ultimo=Frazão|primeiro=Dilva}}</ref><ref name=sofilosofia>{{citar web|url=http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=8|título=Anaximandro|website=Só Filosofia|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=Marconatto|primeiro=Arildo Luiz}}</ref>
Anaximandro considerava que a [[Terra]] tinha o formato de um [[cilindro]]<ref name=uol>{{citar web|url=https://educacao.uol.com.br/biografias/anaximandro.htm|título=Anaximandro|website=UOL Educação|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> e que era circundada por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo.<ref name=todamateria>{{citar web|url=https://www.todamateria.com.br/anaximandro/|título=Anaximandro|website=Toda Matéria|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref name=ebiografia>{{citar web|url=https://www.ebiografia.com/anaximandro/|título=Biografia de Anaximandro|website=eBiografia|data=|acessodata=|publicado=25 de abril 2016|ultimo=Frazão|primeiro=Dilva}}</ref><ref name=sofilosofia>{{citar web|url=http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=8|título=Anaximandro|website=Só Filosofia|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=Marconatto|primeiro=Arildo Luiz}}</ref>


O Sol era um furo, em uma dessas rodas cósmicas, que deixava o fogo escapar. À medida que essa roda girava, o Sol também girava, explicando-se assim o movimento do Sol em torno da Terra. Eclipses se deviam ao bloqueio total ou parcial desse furo.
O [[Sol]] era um furo, em uma dessas rodas cósmicas, que deixava o fogo escapar. À medida que essa roda girava, o Sol também girava, explicando-se, assim, o movimento do Sol em torno da Terra. Eclipses se desviam ao bloqueio total ou parcial desse furo.


A mesma explicação era dada para as fases da Lua, que também era um furo em outra roda cósmica. E finalmente, as estrelas eram pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se situava mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua.
A mesma explicação era dada para as fases da [[Lua]], que também era um furo em outra roda cósmica. E finalmente, as estrelas eram pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se situava mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua.


"Anaximandro,…, representa a passagem da simples designação de uma substância como princípio da natureza para uma ideia desta, mais aguda e profunda, que já aponta para os traços que irão caracterizá-la em toda a filosofia pré-socrática."
"Anaximandro,…, representa a passagem da simples designação de uma substância como princípio da natureza para uma ideia desta, mais aguda e profunda, que já aponta para os traços que irão caracterizá-la em toda a filosofia pré-socrática."
Linha 43: Linha 43:
Em seu livro -  Física, o pensador Simplício nos relata: "Dentre os que afirmam que há um só princípio, móvel e ilimitado, Anaximandro, filho de Praxíades, de Mileto, sucessor e discípulo de [[Tales de Mileto|Tales]], disse que o '''a-peiron''' (ilimitado) era o princípio e o elemento das coisas existentes. Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos (…) É manifesto que, observando a transformação recíproca dos quatro elementos, não achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, fora estes. Não atribui então a geração ao elemento em mudança, mas à separação dos contrários por causa do eterno movimento."
Em seu livro -  Física, o pensador Simplício nos relata: "Dentre os que afirmam que há um só princípio, móvel e ilimitado, Anaximandro, filho de Praxíades, de Mileto, sucessor e discípulo de [[Tales de Mileto|Tales]], disse que o '''a-peiron''' (ilimitado) era o princípio e o elemento das coisas existentes. Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos (…) É manifesto que, observando a transformação recíproca dos quatro elementos, não achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, fora estes. Não atribui então a geração ao elemento em mudança, mas à separação dos contrários por causa do eterno movimento."


Para Anaximandro, o Universo era eterno e infinito. Um número infinito de mundos existiram antes do nosso. Após sua existência, eles se dissolveram na matéria primordial (o a-peiron) e posteriormente outros mundos tornaram a nascer.
Para Anaximandro, o [[Universo]] era eterno e infinito. Um número infinito de mundos existiram antes do nosso. Após sua existência, eles se dissolveram na matéria primordial (o '''a-peiron''') e posteriormente outros mundos tornaram a nascer.


Anaximandro, contudo, não acreditava em nenhum deus, para ele todos os ciclos de criação, evolução e destruição eram fenômenos naturais, que ocorriam a partir do ponto em que a matéria abandonava e se separava do a-peiron. O '''a-peiron''' era a realidade primordial e final de todas as coisas e, consequentemente, continha toda a natureza do divino em si próprio.
Do '''a-peiron''' surgem o frio e o quente, na condição de separações da substância primordial, e se constituem o fluido, a terra, o ar e os astros. A disposição dos elementos do universo no espaço que ocupam está feita assim, de acordo com o maior ou menor peso dos elementos componentes: no centro, a terra; cobrindo-a, a água, e recobrindo tudo, o ar e o fogo. <ref>MORA, Ferrater. Diccionario de Filosofia. Buenos Aires: Sudamérica, 1964.</ref> 
 
Essa ordem que surgiu do caos nasceu em virtude de um princípio, de uma substância única, mas de uma substância que não é determinada, mas indeterminada. A indeterminação do "princípio" de Anaximandro, à diferença da precisa determinação e transparência do "princípio" de Tales, a água, pode ser tanto devido à indiferença qualitativa que corresponde às coisas antes de ser formadas individualmente, como ao fato de que o infinito, ou seja, o indeterminado, recobre o determinado, a ordem do mundo.
 
Os mundos nascem e perecem no seio desse infinito, desse princípio e substância universal que faz que o diferente seja, no fundo, o mesmo. O retorno de toda formação ao informe não é, assim, senão o cumprimento de uma justiça contra essa injustiça que representa o que as coisas pretendem ser subsistentes por si mesmas, pois a justiça é, em última instância, a igualdade de tudo na substância única, a imersão, sem diferenças, no seio de uma indeterminada infinitude.
 
Anaximandro, contudo, não acreditava em nenhum deus, para ele todos os ciclos de criação, evolução e destruição eram fenômenos naturais, que ocorriam a partir do ponto em que a matéria abandonava e se separava do '''a-peiron'''. O '''a-peiron''' era a realidade primordial e final de todas as coisas e, consequentemente, continha toda a natureza do divino em si próprio.


Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e portanto ao se separar deste, é digno de castigo.
Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e portanto ao se separar deste, é digno de castigo.
Linha 58: Linha 64:
Algumas de suas [[ideia]]s são muito semelhantes a opiniões e teorias da [[Física]] atual:
Algumas de suas [[ideia]]s são muito semelhantes a opiniões e teorias da [[Física]] atual:


* Sua ideia de um mundo que sustenta-se por um equilíbrio de [[força]]s é muito semelhante à [[gravidade]] e à [[centrífuga|força centrípeta]], forças que mantêm a Terra girando em torno do [[Sol]];
* Sua ideia de um mundo que se sustenta por um equilíbrio de [[força]]s é muito semelhante à [[gravidade]] e à [[centrífuga|força centrípeta]], forças que mantêm a Terra girando em torno do Sol;
* Sua ideia de que a ação do Sol faz surgirem as criaturas de estrutura simples na [[água]], que depois migram para a terra e adquirem estrutura mais complexa se parece com a teoria da [[evolução]] das espécies;
* Sua ideia de que a ação do Sol faz surgirem as criaturas de estrutura simples na [[água]], que depois migram para a terra e adquirem estrutura mais complexa se parece com a teoria da [[evolução]] das espécies;
* Sua ideia dos opostos se parece com a teoria de que o [[vácuo]] produz [[partículas]] (se supõe que, logo depois do [[Big-Bang]], o vácuo tenha produzido pares de partículas e [[anti-partículas]] que se exterminavam ao se encontrarem, pois o espaço ainda era muito pequeno e os pares sempre se encontravam); as únicas diferenças entre as teorias são que, para Anaximandro, os pares eram de coisas com propriedades determinadas como frio e calor, e para a Física, aqueles pares eram algo como [[energia]] concentrada;
* Sua ideia dos opostos se parece com a teoria de que o [[vácuo]] produz [[partículas]] (se supõe que, logo depois do [[Big-Bang]], o vácuo tenha produzido pares de partículas e [[anti-partículas]] que se exterminavam ao se encontrarem, pois o espaço ainda era muito pequeno e os pares sempre se encontravam); as únicas diferenças entre as teorias são que, para Anaximandro, os pares eram de coisas com propriedades determinadas como frio e calor, e para a Física, aqueles pares eram algo como [[energia]] concentrada;
Linha 67: Linha 73:
==Bibliografia==
==Bibliografia==
*HEIDEL, William. ''O livro de Anaximandro''. trad. Katsuzo Koike. São Paulo: Ixtlan, 2011.
*HEIDEL, William. ''O livro de Anaximandro''. trad. Katsuzo Koike. São Paulo: Ixtlan, 2011.
*MORA, Ferrater. Diccionario de Filosofía. Buenos Aires: Editora Sudamérica, 1964.
*SPINELLI, Miguel. ''Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega''. 2ª edição. Porto Alegre: Edipucrs, 2003, pp.&nbsp;15–92.
*SPINELLI, Miguel. ''Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega''. 2ª edição. Porto Alegre: Edipucrs, 2003, pp.&nbsp;15–92.
*MARÍAS, Julian. 'História da Filosofia', Martins Fontes, 1ª edição, 2004, pg.17).
*MARÍAS, Julian. 'História da Filosofia', Martins Fontes, 1ª edição, 2004, pg.17).
Linha 88: Linha 95:
[[Categoria:Gregos do século VII a.C.]]
[[Categoria:Gregos do século VII a.C.]]
[[Categoria:Gregos do século VI a.C.]]
[[Categoria:Gregos do século VI a.C.]]
[[Categoria:!Mais Teoria da História na Wiki (Wikiconcurso de edição)]]

Edição atual tal como às 18h53min de 20 de maio de 2022

Predefinição:Sem notas

Anaximandro
Pré-socráticos
Anaximandro em A Escola de Atenas, de Rafael
Nome completo Predefinição:Politônico
Escola/Tradição: Naturalismo, Escola de Mileto, Jônicos
Data de nascimento: 610 a.C.[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Local: Grécia
Morte 546 a.C.[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Principais interesses: Metafísica, Astronomia, Geometria, Geografia
Ideias notáveis Ápeiron
Influências: Tales de Mileto
Influenciados: Pitágoras, Anaxímenes de Mileto

Anaximandro (em grego: Predefinição:Politônico; a.C. 610 — 546 a.C.[1]) foi um geógrafo, matemático, astrônomo, político e filósofo pré-Socrático; discípulo de Tales, seguiu a escola jônica.[2] Os relatos doxográficos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado "Sobre a Natureza"; contudo, essa obra se perdeu.

Foi um grande estudioso e se atribui a ele a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnômon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálculo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega).[3]

Anaximandro acreditava que o princípio de tudo (o arkhé das coisas) era o ápeiron, isto é, uma matéria infinita da qual todas as outras se cindem. Esse á-peiron é algo insurgido (não surgiu nunca, embora exista) e imortal.

Além de definir o princípio, Anaximandro se preocupa com os "comos e porquês" das coisas todas que saem do princípio.

Ele diz que o mundo é constituído de contrários, que se auto-excluem o tempo todo. O tempo é o "juiz" que permite que ora exista um, ora outro.

Por isso, o mundo surge de duas grandes injustiças: primeiro, da cisão dos opostos que "fere" a unidade do princípio; segundo, da luta entre os princípios onde sempre um deles quer tomar o lugar do outro para poder existir.

O universo de Anaximandro

Representação do possível mapa mundial de Anaximandro.

Anaximandro considerava que a Terra tinha o formato de um cilindro[4] e que era circundada por várias rodas cósmicas, imensas e cheias de fogo.[5][6][7]

O Sol era um furo, em uma dessas rodas cósmicas, que deixava o fogo escapar. À medida que essa roda girava, o Sol também girava, explicando-se, assim, o movimento do Sol em torno da Terra. Eclipses se desviam ao bloqueio total ou parcial desse furo.

A mesma explicação era dada para as fases da Lua, que também era um furo em outra roda cósmica. E finalmente, as estrelas eram pequenos furos em uma terceira roda cósmica, que se situava mais perto da Terra, do que as rodas do Sol e da Lua.

"Anaximandro,…, representa a passagem da simples designação de uma substância como princípio da natureza para uma ideia desta, mais aguda e profunda, que já aponta para os traços que irão caracterizá-la em toda a filosofia pré-socrática."

A cosmologia de Anaximandro

Em seu livro - Física, o pensador Simplício nos relata: "Dentre os que afirmam que há um só princípio, móvel e ilimitado, Anaximandro, filho de Praxíades, de Mileto, sucessor e discípulo de Tales, disse que o a-peiron (ilimitado) era o princípio e o elemento das coisas existentes. Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos (…) É manifesto que, observando a transformação recíproca dos quatro elementos, não achou apropriado fixar um destes como substrato, mas algo diferente, fora estes. Não atribui então a geração ao elemento em mudança, mas à separação dos contrários por causa do eterno movimento."

Para Anaximandro, o Universo era eterno e infinito. Um número infinito de mundos existiram antes do nosso. Após sua existência, eles se dissolveram na matéria primordial (o a-peiron) e posteriormente outros mundos tornaram a nascer.

Do a-peiron surgem o frio e o quente, na condição de separações da substância primordial, e se constituem o fluido, a terra, o ar e os astros. A disposição dos elementos do universo no espaço que ocupam está feita assim, de acordo com o maior ou menor peso dos elementos componentes: no centro, a terra; cobrindo-a, a água, e recobrindo tudo, o ar e o fogo. [8]

Essa ordem que surgiu do caos nasceu em virtude de um princípio, de uma substância única, mas de uma substância que não é determinada, mas indeterminada. A indeterminação do "princípio" de Anaximandro, à diferença da precisa determinação e transparência do "princípio" de Tales, a água, pode ser tanto devido à indiferença qualitativa que corresponde às coisas antes de ser formadas individualmente, como ao fato de que o infinito, ou seja, o indeterminado, recobre o determinado, a ordem do mundo.

Os mundos nascem e perecem no seio desse infinito, desse princípio e substância universal que faz que o diferente seja, no fundo, o mesmo. O retorno de toda formação ao informe não é, assim, senão o cumprimento de uma justiça contra essa injustiça que representa o que as coisas pretendem ser subsistentes por si mesmas, pois a justiça é, em última instância, a igualdade de tudo na substância única, a imersão, sem diferenças, no seio de uma indeterminada infinitude.

Anaximandro, contudo, não acreditava em nenhum deus, para ele todos os ciclos de criação, evolução e destruição eram fenômenos naturais, que ocorriam a partir do ponto em que a matéria abandonava e se separava do a-peiron. O a-peiron era a realidade primordial e final de todas as coisas e, consequentemente, continha toda a natureza do divino em si próprio.

Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e portanto ao se separar deste, é digno de castigo.

"De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo. Segundo a necessidade, pois têm de pagar penitência e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do Tempo."

Tudo o que nasce, um dia vai morrer. Tudo o que é quente, um dia vai esfriar. Tudo o que é grande, pode ser quebrado em pedaços menores. Fogo pode ser combatido com água, e como resultado, fogo e água deixam de existir.

Assim, Anaximandro conclui que a essência de todas as coisas não pode possuir essas propriedades determinadas que sucumbem ao longo do Tempo. Daí, seu conceito de a-peiron, ser algo ilimitado, infinito, indefinido e eterno.

Anaximandro e a física moderna

Algumas de suas ideias são muito semelhantes a opiniões e teorias da Física atual:

  • Sua ideia de um mundo que se sustenta por um equilíbrio de forças é muito semelhante à gravidade e à força centrípeta, forças que mantêm a Terra girando em torno do Sol;
  • Sua ideia de que a ação do Sol faz surgirem as criaturas de estrutura simples na água, que depois migram para a terra e adquirem estrutura mais complexa se parece com a teoria da evolução das espécies;
  • Sua ideia dos opostos se parece com a teoria de que o vácuo produz partículas (se supõe que, logo depois do Big-Bang, o vácuo tenha produzido pares de partículas e anti-partículas que se exterminavam ao se encontrarem, pois o espaço ainda era muito pequeno e os pares sempre se encontravam); as únicas diferenças entre as teorias são que, para Anaximandro, os pares eram de coisas com propriedades determinadas como frio e calor, e para a Física, aqueles pares eram algo como energia concentrada;
  • Para Anaximandro, os contrários revezam-se no tempo, e para os cientistas, os pares se auto-exterminavam - pois eram como +1 (matéria) e -1 (anti-matéria) e, ao se encontrarem, precisavam "saldar" sua dívida de energia.

Se pode sempre supor que Anaximandro tenha chegado, em sua época, às mesmas conclusões a que muitos cientistas chegaram hoje, ainda que por meios diferentes (pois Anaximandro dispunha apenas de sua observação e de sua reflexão); assim como se pode supor que tais teorias físicas tenham sido inspiradas na leitura, por parte dos cientistas, de Anaximandro. Em qualquer das hipóteses, pode-se notar que o filósofo era uma pessoa notável.

Bibliografia

  • HEIDEL, William. O livro de Anaximandro. trad. Katsuzo Koike. São Paulo: Ixtlan, 2011.
  • MORA, Ferrater. Diccionario de Filosofía. Buenos Aires: Editora Sudamérica, 1964.
  • SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros Mestres da Filosofia e da Ciência Grega. 2ª edição. Porto Alegre: Edipucrs, 2003, pp. 15–92.
  • MARÍAS, Julian. 'História da Filosofia', Martins Fontes, 1ª edição, 2004, pg.17).

Ligações externas

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Anaximandro
Wikiquote
O Wikiquote possui citações de ou sobre: Anaximandro de Mileto

Referências

  1. James Evans (9 de Julho de 2009). «Anaximander | Greek philosopher». Encyclopædia Britannica (em English). Consultado em 7 de Abril de 2017 
  2. Anaximandro, pag. 118 - Grande Enciclopédia Universal - edição de 1980 - ed. Amazonas
  3. Diógenes Laércio, Vidas dos Filósofos Ilustres, II, 1.
  4. «Anaximandro». UOL Educação 
  5. «Anaximandro». Toda Matéria 
  6. Frazão, Dilva. «Biografia de Anaximandro». eBiografia. 25 de abril 2016 
  7. Marconatto, Arildo Luiz. «Anaximandro». Só Filosofia 
  8. MORA, Ferrater. Diccionario de Filosofia. Buenos Aires: Sudamérica, 1964.


Predefinição:Navbox with columns Predefinição:Astronomia grega

talvez você goste