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Cnidaria: mudanças entre as edições

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  |filo = '''Cnidaria'''
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  |filo_autoridade = [[Berthold Hatschek|Hatschek]], 1888
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*[[Anthozoa]]
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*[[Staurozoa]]
*[[Staurozoa]]
*[[Polypodiozoa]]
*[[Polypodiozoa]]
*[[Myxozoa]]<ref name="haaretz.com">{{citar jornal|último =Schuster|primeiro =Ruth|data=20 de novembro de 2015|url=http://www.haaretz.com/israel-news/science/1.687159|título=Microscopic parasitic jellyfish defy everything we know, astonish scientists|obra=[[Haaretz]]|acessodata=4 de abril de 2018}}</ref>
*† [[Conulata]]
*† [[Conulata]]
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[[Ficheiro:Chrysaora quinquecirrha-Sea nettle (jellyfish).ogg|thumb|253pxpx| ''[[Chrysaora quinquecirrha]]'' ("água-viva") a nadar.]]
[[Ficheiro:Chrysaora quinquecirrha-Sea nettle (jellyfish).ogg|thumb|253pxpx| ''[[Chrysaora quinquecirrha]]'' ("água-viva") a nadar.]]
'''Cnidaria''' ([[Grego clássico|grego:]] {{lang|grc|κνίδη}} ''knidē'' 'urtiga' + [[latim]]: ''aria'', sufixo plural) é um [[filo]] de [[Animalia|animais]] exclusivamente [[aquático]]s, agrupando os organismos conhecidos pelo [[nome comum]] de ''cnidários'', entre os quais as [[medusa (animal)|medusas]] e as [[alforreca]]s (ou águas-vivas), as [[Caravela-portuguesa|caravelas]], as [[anémona-do-mar|anémonas-do-mar]], os [[coral-mole|corais-moles]] e as [[Hydridae|hidras de água doce]].<ref name="saofrancisco">.[http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/filo-cnidaria/filo-cnidaria-4.php ColégioSãoFrancisco.com – Filo Cnidaria]</ref> São organismos [[multicelular]]es, com estrutura simples, caracterizados pela presença de uma estrutura celular chamada [[Nematocisto|cnida]], na maioria marinhos e na maioria de vida livre, habitando costas, fundos e as águas abertas dos oceanos, bem como parasitas.<ref>P. A. Meglitsch. Zoología de Invertebrados. (1986). Pirámide. Páxina 117. ISBN 84-368-0316-7.</ref><ref>Ruppert, E.E., Fox, R.S., and Barnes, R.D. (2004). Invertebrate Zoology (7 ed.). Brooks / Cole. ISBN 0-03-025982-7.</ref> O ''[[taxon]]'' inclui atualmente mais de 11&nbsp;000 [[espécie]]s [[extante]]s.<ref>Marymegan Daly, Mercer R. Brugler, Paulyn Cartwright, Allen G. Collin, Michael N. Dawson, Daphne G. Fautin, Scott C. France, Catherine S. McFadden, Dennis M. Opresko, Estefania Rodriguez, Sandra L. Romano & Joel L. Stake: ''The phylum Cnidaria: A review of phylogenetic patterns and diversity 300 years after Linnaeus.'' Zootaxa, 1668: 127–182, Wellington 2007 {{ISSN|1175-5326}} [http://www.mapress.com/zootaxa/2007f/zt01668p182.pdf Abstract - PDF]</ref> Alguns cnidários, como a espécie ''[[Polypodium hydriforme]]'' e os [[Myxozoa]], evoluíram para formas [[parasita]]s. Os cnidários foram incluídos durante muito tempo em conjunto com os [[Ctenophora]] ([[ctenóforos]]) no filo [[Coelenterata]] (os ''celenterados''), embora essa classificação há muito já tenha sido abandonada, deixando o nome obsoleto.<ref>Encyclopædia Britannica (ver ''Classification'') [http://www.britannica.com/EBchecked/topic/145454/ctenophore Ctenophore] Citação: "Os ctenóforos e cnidários eram antes situados conjuntamente no filo Coelenterata. As autoridades modernas, porém, separaram os cnidários dos ctenóforos..."</ref><ref>Tree of Life web project (ver a secção ''Discussion of Phylogenetic Relationships'') [http://www.tolweb.org/Cnidaria Cnidaria] Citação: "A sua estrutura diploblástica e a sua única abertura corporal e cavidade levaram a que fossem associados os cnidários com os ctenóforos. De facto, até tempos relativamente recentes o filo Coelenterata considerava-se como incluindo os animais hoje situados em Cnidaria e Ctenophora."</ref><ref>Steven H.D. Haddock. A golden age of gelata: past and future research on planktonic ctenophores and cnidarians. (2004). Hydrobiologia 530/531: 549–556, 2004. [http://www.lifesci.ucsb.edu/~haddock/abstracts/haddock_gelata.pdf Gelata]. Citação: "O nome 'coelenterata' foi utilizado durante longo tempo como uma forma conveniente de descrever os organismos dos filos Ctenophora e Cnidaria. Como isso implica um grau de parentesco que se considera hoje inexacto, este termo é normalmente evitado em contexto taxonómico ou filogenético rigoroso".</ref>
'''Cnidaria''' ([[Grego clássico|grego:]] {{lang|grc|κνίδη}} ''knidē'' 'urtiga' + [[latim]]: ''aria'', sufixo plural) é um [[filo]] de [[Animal aquático|animais exclusivamente aquáticos]], agrupando os organismos conhecidos pelo [[nome comum]] de ''cnidários'', entre os quais estão as [[medusa (animal)|medusas]] e as [[alforreca]]s (ou águas-vivas), as [[Caravela-portuguesa|caravelas]], as [[anémona-do-mar|anémonas-do-mar]], os [[coral-mole|corais-moles]] e as [[Hydridae|hidras de água doce]].<ref name="saofrancisco">.[http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/filo-cnidaria/filo-cnidaria-4.php ColégioSãoFrancisco.com – Filo Cnidaria]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }}</ref> São organismos [[multicelular]]es, com estrutura simples, caracterizados pela presença de uma estrutura celular chamada [[Nematocisto|cnida]], na maioria marinhos e na maioria de vida livre, habitando costas, fundos e as águas abertas dos oceanos, bem como parasitas.<ref>P. A. Meglitsch. Zoología de Invertebrados. (1986). Pirámide. Páxina 117. ISBN 84-368-0316-7.</ref><ref>Ruppert, E.E., Fox, R.S., and Barnes, R.D. (2004). Invertebrate Zoology (7 ed.). Brooks / Cole. ISBN 0-03-025982-7.</ref> O ''[[taxon]]'' inclui atualmente mais de 11&nbsp;000 [[espécie]]s [[extante]]s.<ref>Marymegan Daly, Mercer R. Brugler, Paulyn Cartwright, Allen G. Collin, Michael N. Dawson, Daphne G. Fautin, Scott C. France, Catherine S. McFadden, Dennis M. Opresko, Estefania Rodriguez, Sandra L. Romano & Joel L. Stake: ''The phylum Cnidaria: A review of phylogenetic patterns and diversity 300 years after Linnaeus.'' Zootaxa, 1668: 127–182, Wellington 2007 {{ISSN|1175-5326}} [http://www.mapress.com/zootaxa/2007f/zt01668p182.pdf Abstract - PDF]</ref> Alguns cnidários, como a espécie ''[[Polypodium hydriforme]]'' e os [[Myxozoa]], evoluíram para formas [[parasita]]s. Os cnidários foram incluídos durante muito tempo em conjunto com os [[Ctenophora]] ([[ctenóforos]]) no filo [[Coelenterata]] (os ''celenterados''), embora essa classificação há muito já tenha sido abandonada, deixando o nome obsoleto.<ref>Encyclopædia Britannica (ver ''Classification'') [http://www.britannica.com/EBchecked/topic/145454/ctenophore Ctenophore] Citação: "Os ctenóforos e cnidários eram antes situados conjuntamente no filo Coelenterata. As autoridades modernas, porém, separaram os cnidários dos ctenóforos..."</ref><ref>Tree of Life web project (ver a secção ''Discussion of Phylogenetic Relationships'') [http://www.tolweb.org/Cnidaria Cnidaria] Citação: "A sua estrutura diploblástica e a sua única abertura corporal e cavidade levaram a que fossem associados os cnidários com os ctenóforos. De facto, até tempos relativamente recentes o filo Coelenterata considerava-se como incluindo os animais hoje situados em Cnidaria e Ctenophora."</ref><ref>Steven H.D. Haddock. A golden age of gelata: past and future research on planktonic ctenophores and cnidarians. (2004). Hydrobiologia 530/531: 549–556, 2004. [http://www.lifesci.ucsb.edu/~haddock/abstracts/haddock_gelata.pdf Gelata] {{Wayback|url=http://www.lifesci.ucsb.edu/~haddock/abstracts/haddock_gelata.pdf |date=20051026183019 }}. Citação: "O nome 'coelenterata' foi utilizado durante longo tempo como uma forma conveniente de descrever os organismos dos filos Ctenophora e Cnidaria. Como isso implica um grau de parentesco que se considera hoje inexacto, este termo é normalmente evitado em contexto taxonómico ou filogenético rigoroso".</ref>


== Anatomia ==
== Anatomia ==
[[Imagem:Celenterati polipo medusa.jpg|thumb| Esquema do plano geral de Cnidaria com boca, coluna e tentáculos.]]
[[Imagem:Celenterati polipo medusa.jpg|thumb|Esquema do plano geral de Cnidaria com boca, coluna e tentáculos]]


Os cnidários apresentam tipicamente duas formas adultas distintas: o [[pólipo]] e a [[medusa (animal)|medusa]].<ref name="saofrancisco" /> Assim, tem o ciclo de vida chamado metagenético, ou de alternância de gerações. Ambas as formas apresentam simetria externa radial. O plano corporal básico é simples: o corpo é saculiforme (em forma de saco), com apenas uma abertura circundada por tentáculos: a boca. A região contrária à boca, denominada aboral, é fixa ao substrato nos pólipos, formando um pé; ou é livre nas medusas, formando o topo da umbrela, o domo típico das águas-vivas. Há  organização a nível tecidual é simples existindo essencialmente apenas o revestimento externo, a epiderme, e um revestimento interno, a gastroderme. Esses são separados por uma matriz extracelular rígida na qual se ancoram, denominada [[mesogleia]]. A mesogleia é o que dá a consistência mais firme e borrachuda em águas-vivas.
Os cnidários apresentam tipicamente duas formas adultas distintas: o [[pólipo]] e a [[medusa (animal)|medusa]].<ref name="saofrancisco" /> Assim, tem o ciclo de vida chamado metagenético, ou de alternância de gerações. Ambas as formas apresentam simetria externa radial. O plano corporal básico é simples: o corpo é saculiforme (em forma de saco), com apenas uma abertura circundada por tentáculos: a boca. A região contrária à boca, denominada aboral, é fixa ao substrato nos pólipos, formando um pé; ou é livre nas medusas, formando o topo da umbrela, o domo típico das águas-vivas. Há  organização a nível tecidual é simples existindo essencialmente apenas o revestimento externo, a epiderme, e um revestimento interno, a gastroderme. Esses são separados por uma matriz extracelular rígida na qual se ancoram, denominada [[mesogleia]]. A mesogleia é o que dá a consistência mais firme e borrachuda em águas-vivas.


Os cnidários não apresentam tecido muscular verdadeiro. A movimentação do animal é realizado pelas células epiteliais. Por isso, recebem também o nome de células epitélio-musculares. Não há sistema nervoso concentrado, mas uma rede difusa de neurônios multipolares, isto é, que disparam em mais de um sentido.
Os cnidários não apresentam tecido muscular verdadeiro. A movimentação do animal é realizado pelas células epiteliais. As presentes na epiderme são denominadas epiteliomusculares, e as presentes na gastroderme são as nutritivomusculares. Não há sistema nervoso concentrado, mas uma rede difusa de neurônios multipolares, isto é, que disparam em mais de um sentido.


== Reprodução ==
== Reprodução ==
Os cnidários são notórios por possuírem vastas diferentes formas de reprodução. Todas as classes podem se reproduzir tanto de forma sexuada quanto de forma assexuada, embora existam exceções em cada classe. A forma de reprodução sexuada tipicamente ocorre em alternância de gerações, com uma fase séssil, chamada polipoide, e uma fase livre nadante, a medusa. A reprodução [[Reprodução assexuada|assexuada]], também chamada de reprodução clonal, ocorre em antozoários (Classe Anthozoa) e principalmente na forma polipóide de medusozoários (Classes Scyphozoa, Hydrozoa, Cubozoa e Staurozoa).
Os cnidários são notórios por possuírem vastas diferentes formas de reprodução. Todas as classes podem se reproduzir tanto de forma sexuada quanto de forma assexuada, embora existam exceções em cada classe. A forma de reprodução sexuada tipicamente ocorre em alternância de gerações, com uma fase séssil, chamada polipoide, e uma fase livre nadante, a medusa. A reprodução [[Reprodução assexuada|assexuada]], também chamada de reprodução clonal, ocorre em antozoários (Classe Anthozoa) e principalmente na forma polipoide de medusozoários (Classes Scyphozoa, Hydrozoa, Cubozoa e Staurozoa).
[[Imagem:201208 Hydra.png|201208 Hydra|thumb|253pxpx| Esquema de hidra sofrendo brotamento.]]
[[Imagem:201208 Hydra.png|201208 Hydra|thumb|253pxpx| Esquema de hidra sofrendo brotamento]]
Os gametas dos cnidários são produzidos em regiões específicas da gastroderme e/ou mesogleia, como os mesentérios ou as bolsas gástricas, denominadas gônadas. As gônadas são formadas a partir da diferenciação de células do interstício de origem endodérmica presentes na gastroderme. Apesar do nome, as gônadas não configuram um órgão ou tecido verdadeiro, visto que esse tipo de estrutura só aparece em ramos posteriores da árvore filogenética dos animais.<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Morandini|primeiro=André Carrara|data=1999-09-13|titulo=Gametogênese e desenvolvimento embrionário de Nausithoe aurea (Scyphozoa, Coronatae) do canal de São Sebastião - SP.|doi=10.11606/d.41.1999.tde-02042001-102624|url=http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41133/tde-02042001-102624/}}</ref>
Os gametas dos cnidários são produzidos em regiões específicas da gastroderme e/ou mesogleia, como os mesentérios ou as bolsas gástricas, denominadas gônadas. As gônadas são formadas a partir da diferenciação de células do interstício de origem endodérmica presentes na gastroderme. Apesar do nome, as gônadas não configuram um órgão ou tecido verdadeiro, visto que esse tipo de estrutura só aparece em ramos posteriores da árvore filogenética dos animais.<ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=Morandini|primeiro=André Carrara|data=1999-09-13|titulo=Gametogênese e desenvolvimento embrionário de Nausithoe aurea (Scyphozoa, Coronatae) do canal de São Sebastião - SP.|doi=10.11606/d.41.1999.tde-02042001-102624|url=http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41133/tde-02042001-102624/}}</ref>


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 O processo de gametogênese pode ser bastante longo, durando vários meses (como o caso de alguns corais) ou ser mais rápido (como em algumas medusas).
 O processo de gametogênese pode ser bastante longo, durando vários meses (como o caso de alguns corais) ou ser mais rápido (como em algumas medusas).


=== '''Anthozoa''' ===
=== Anthozoa ===
Em antozoários não ocorre alternância de gerações, existindo apenas a fase polipoide. Os animais desse grupo podem ser tanto dioicos tanto hermafroditas. Normalmente o tipo de sexualidade é mantida ao longo das espécies, embora existam espécies com indivíduos hermafroditas e dioicos. <ref>{{citar livro|título=DISCOVERING SCOTT REEF|ultimo=Gilmour|primeiro=|editora=woodside|ano=2013|local=|páginas=|acessodata=}}</ref><ref name=":1">BRUSCA, R.C. & G.J. BRUSCA, 2007. Invertebrados. Segunda edição. Editora Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro. 968 pp</ref>
Em antozoários não ocorre alternância de gerações, existindo apenas a fase polipoide. Os animais desse grupo podem ser tanto dioicos tanto hermafroditas. Normalmente o tipo de sexualidade é mantida ao longo das espécies, embora existam espécies com indivíduos hermafroditas e dioicos.<ref>{{citar livro|título=DISCOVERING SCOTT REEF|ultimo=Gilmour|primeiro=|editora=woodside|ano=2013|local=|páginas=|acessodata=}}</ref><ref name=":1">BRUSCA, R.C. & G.J. BRUSCA, 2007. Invertebrados. Segunda edição. Editora Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro. 968 pp</ref>
* '''Reprodução sexuada'''
* '''Reprodução sexuada'''
As gônadas desses animais se formam nos mesentérios, local onde células da gastroderme se diferenciam em gametas. Os gametas então caem na cavidade gastrovascular (também chamada celenteron) e são posteriormente liberadas pela boca. Tipicamente a fecundação é externa e não há cuidado parental. Exceções, contudo, existem. Em algumas espécies o gameta masculino é ingerido e a fecundação se dá dentro da cavidade gastrovascular, por exemplo no coral ''Isopora brueggemanni''. A larva se desenvolve dentro do corpo do progenitor e a plânula é liberada já em estágio avançado de desenvolvimento.


As espécies podem ou não ter um período específico do ano para reprodução e podem ou não apresentar sincronia na liberação de gametas. O exemplo mais bem conhecido de sincronia são de espécies de corais formadores de recifes que liberam seus gametas em determinadas noites do ano, com base em temperatura, fotoperíodo e outras variáveis. Em espécies sem período especifico de reprodução, os gametas podem ser liberados o ano todo. Via de regra, espécies de fecundação externa tendem a ter maior sincronia, maximizando assim as chances de gametas se encontrarem.
As [[Gónada|gônadas]] desses animais se formam nos mesentérios, local onde células da [[gastroderme]] se diferenciam em [[gametas]]. Os [[Gâmeta|gametas]] então caem na [[cavidade gastrovascular]] (também chamada de "celêntero") e são posteriormente liberadas pela boca. Tipicamente a [[fecundação]] é [[Fecundação externa|externa]] e não há cuidado parental. Exceções, contudo, existem. Em algumas espécies o [[Gâmeta|gameta]] masculino é ingerido e a [[fecundação]] se dá dentro da cavidade gastrovascular, a exemplo do coral ''[[Isopora brueggemanni]]''. A larva se desenvolve dentro do corpo do progenitor e a [[plânula]] é liberada já em estágio avançado de desenvolvimento.
 
As espécies podem ou não ter um período específico do ano para [[reprodução]] e podem ou não apresentar sincronia na liberação de [[Gâmeta|gametas]]. O exemplo mais bem conhecido de sincronia são de espécies de [[Coral|corais]] formadores de [[Recife de coral|recifes]] que liberam seus [[Gâmeta|gametas]] em determinadas noites do ano, com base em temperatura, [[Fotoperiodismo|fotoperíodo]] e outras variáveis. Em espécies sem período especifico de [[reprodução]], os [[Gâmeta|gametas]] podem ser liberados o ano todo. Via de regra, espécies de [[fecundação externa]] tendem a ter maior sincronia, maximizando assim as chances de [[Gâmeta|gametas]] se encontrarem.
* '''Reprodução assexuada'''
* '''Reprodução assexuada'''
A reprodução assexuada ocorre na vasta maioria dos antozoários, embora existam espécies na qual não ocorre (por exemplo, Pseudocorynactis sp.). Esse tipo de reprodução é a responsável pela formação de grandes colônias e aglomerados de corais, coralimorfários, anêmonas, zoantídeos, gorgônias entre outros. Existe uma vasta quantidade de formas diferentes pelas qual a reprodução assexuada pode ocorrer e isto se deve em parte a grande capacidade de regeneração dos cnidários. As formas mais comuns de reprodução são:


1-   Brotamento: processo no qual surgem novos indivíduos a partir da base ou da lateral de um pólipo já existente. No brotamento, a parede do corpo, logo epiderme, mesogleia e gastroderme, evaginam formando uma extrutura como uma verruga. A região apical da “verruga” então diferencia boca e tentáculos. Quando desenvolvido, o novo indivíduo se destaca ou não do corpo parental.
A [[reprodução assexuada]] ocorre na vasta maioria dos [[Anthozoa|antozoários]], embora existam espécies na qual não ocorre (por exemplo, [[Pseudocorynactis sp.]]). Esse tipo de [[reprodução]] é a responsável pela formação de grandes colônias e aglomerados de [[Coral|corais]], [[coralimorfários]], [[Anêmona-do-mar|anêmonas]], [[zoantídeos]], [[Alcyonacea|gorgônias]] entre outros. Existe uma vasta quantidade de formas diferentes pelas qual a [[reprodução assexuada]] pode ocorrer e isto se deve em parte à grande capacidade de [[Regeneração (biologia)|regeneração]] dos cnidários. As formas mais comuns de reprodução são:


2-   Estolões: no qual há uma projeção da parede do corpo da base ou da lateral do pólipo, a qual dá origem a um ou mais pólipos.
1-   Brotamento: processo no qual surgem novos indivíduos a partir da base ou da lateral de um [[pólipo]] já existente. No brotamento, a parede do corpo, logo [[Epiderme (zoologia)|epiderme]], [[mesogleia]] e [[gastroderme]], evaginam formando uma estrutura como uma [[verruga]]. A região apical da “verruga” então diferencia [[boca]] e [[tentáculo]]s. Quando desenvolvido, o novo indivíduo se destaca ou não do corpo parental.


3-   Fissão longitudinal: na qual o animal começa a se estrangular ao longo do eixo oral-aboral, dividindo a boca, disco basal e cavidade gastrovascular em dois. Em vista oral, o animal lembra a figura de um número "8" durante o processo.
2-   Estolões: no qual há uma projeção da parede do corpo da base ou da lateral do [[pólipo]], a qual dá origem a um ou mais pólipos.


4-   Pelaceração: processo pelo qual o animal, ao se locomover lentamente pelo substrato, deixa para trás pedaços de seu disco basal. Esses pedaços então regeneram boca e tentáculos e se tornam um novo indivíduo.
3-   Fissão longitudinal: na qual o animal começa a se estrangular ao longo do eixo oral-aboral, dividindo a [[boca]], disco basal e [[cavidade gastrovascular]] em dois. Em vista oral, o animal lembra a figura de um número "8" durante o processo.


5-   Laceração: processo muito utilizado por criadores comerciais, no qual o animal é fendido em duas ou mais partes. As partes então se regeneram em novos indivíduos. Na natureza pode ocorrer como resultado de ataque de predadores.
4-   Pelaceração: processo pelo qual o animal, ao se locomover lentamente pelo [[Substrato (ecologia)|substrato]], deixa para trás pedaços de seu disco basal. Esses pedaços então [[Regeneração (biologia)|regeneram]] [[boca]] e tentáculos e se tornam um novo indivíduo.


6-   Fragmentação: processo muito utilizado por criadores comerciais, no qual a colônia (eg. Acropora sp. ou Sarcophyton sp.) é fragmentada em duas ou mais partes. As partes então se regeneram em novas colônias. Na natureza pode ocorrer como resultado de ataque de predadores.
5-   Laceração: processo muito utilizado por criadores comerciais, no qual o animal é partido em duas ou mais partes. As partes então se [[Regeneração (biologia)|regeneram]] em novos indivíduos. Na natureza pode ocorrer como resultado de ataque de [[Predação|predadores]].
 
6-   Fragmentação: processo muito utilizado por criadores comerciais, no qual a colônia (eg. Acropora sp. ou Sarcophyton sp.) é fragmentada em duas ou mais partes. As partes então se [[Regeneração (biologia)|regeneram]] em novas colônias. Na natureza pode ocorrer como resultado de ataque de [[Predação|predadores]].


=== Medusozoa ===
=== Medusozoa ===
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* '''Reprodução na forma polipoide'''
* '''Reprodução na forma polipoide'''
As formas polipoides podem se reproduzir assexuadamente gerando outros pólipos ou gerando medusas. Quando geram outros pólipos, as formas de reprodução são parecidas com as mencionadas para antozoários: brotamento, estolões, fissão, laceração e fragmentação. Além dessas, há a forma de reprodução chamada estrobilização ou fissão transversal, responsável por produzir medusas.
As formas polipoides podem se reproduzir assexuadamente gerando outros pólipos ou gerando medusas. Quando geram outros pólipos, as formas de reprodução são parecidas com as mencionadas para antozoários: brotamento, estolões, fissão, laceração e fragmentação. Além dessas, há a forma de reprodução chamada estrobilização ou fissão transversal, responsável por produzir medusas.
[[Imagem:Strobila of Aurelia.jpg|thumb| Estrobilização de ''Aurelia sp''.]]
[[Imagem:Strobila of Aurelia.jpg|thumb|Estrobilização de ''Aurelia sp'']]
Na estrobilização, a porção oral do pólipo passa por um processo de reabsorção e modificação até que finalmente se metamorfoseia em uma medusa jovem, denominada éfira. A medusa então se destaca e ganha a coluna d’água. Cada pólipo pode geral uma medusa apenas, como ocorrem em cubozoa, ou inúmeras, como ocorrem em hydrozoa e cifozoa. Uma forma mais complexa de estrobilização ocorre em determinados grupos. Nessa forma, várias éfiras vão sendo formadas sequencialmente, com os estágios mais iniciais do processo de estrobilização mais próximos da região aboral. Assim, o pólipo fica com uma aparência de pilha de pratos.<ref name=":1" />
Na estrobilização, a porção oral do pólipo passa por um processo de reabsorção e modificação até que finalmente se metamorfoseia em uma medusa jovem, denominada éfira. A medusa então se destaca e ganha a coluna d’água. Cada pólipo pode geral uma medusa apenas, como ocorrem em cubozoa, ou inúmeras, como ocorrem em hydrozoa e cifozoa. Uma forma mais complexa de estrobilização ocorre em determinados grupos. Nessa forma, várias éfiras vão sendo formadas sequencialmente, com os estágios mais iniciais do processo de estrobilização mais próximos da região aboral. Assim, o pólipo fica com uma aparência de pilha de pratos.<ref name=":1" />
* '''Reprodução em medusas'''
* '''Reprodução em medusas'''
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Inúmeras variações ocorrem no plano básico de alternância de gerações em medusozoários. Em pólipos coloniais de alguns hidrozoários há a possibilidade de divisão de tarefas entre os diferentes indivíduos ou bocas. Umas podem se dedicar apenas a alimentação, enquanto outras apenas a estrobilização. Em algumas espécies as medusas jovens não se destacam do pólipo durante a estrobilização. Assim a medusa se desenvolve e reproduz ligada à colônia mãe.
Inúmeras variações ocorrem no plano básico de alternância de gerações em medusozoários. Em pólipos coloniais de alguns hidrozoários há a possibilidade de divisão de tarefas entre os diferentes indivíduos ou bocas. Umas podem se dedicar apenas a alimentação, enquanto outras apenas a estrobilização. Em algumas espécies as medusas jovens não se destacam do pólipo durante a estrobilização. Assim a medusa se desenvolve e reproduz ligada à colônia mãe.


Há espécies que perderam completamente a fase de medusa, como ''Hydra sp.'', ou a fase de pólipo, como alguns cifozoários. Nesses animais, o pólipo é responsável pela produção de gametas ou há o desenvolvimento direto da larva plânula para uma medusa. Há, ainda, a curiosa ''Turritopsis dohrnii'', a água-viva imortal, uma espécie de hidrozoário o qual a forma de medusa pode se desdiferenciar em pólipo, dependendo das condições ambientais. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Hasegawa|primeiro=Yoshinori|ultimo2=Watanabe|primeiro2=Takashi|ultimo3=Takazawa|primeiro3=Masaki|ultimo4=Ohara|primeiro4=Osamu|ultimo5=Kubota|primeiro5=Shin|data=2016-08-01|titulo=De Novo Assembly of the Transcriptome of Turritopsis, a Jellyfish that Repeatedly Rejuvenates|jornal=Zoological Science|volume=33|numero=4|paginas=366–371|issn=0289-0003|doi=10.2108/zs150186|url=http://www.bioone.org/doi/10.2108/zs150186}}</ref><ref name=":1" />
Há espécies que perderam completamente a fase de medusa, como ''Hydra sp.'', ou a fase de pólipo, como alguns cifozoários. Nesses animais, o pólipo é responsável pela produção de gametas ou há o desenvolvimento direto da larva plânula para uma medusa. Há, ainda, a curiosa ''Turritopsis dohrnii'', a água-viva imortal, uma espécie de hidrozoário o qual a forma de medusa pode se desdiferenciar em pólipo, dependendo das condições ambientais.<ref name=":1" /><ref>{{Citar periódico|ultimo=Hasegawa|primeiro=Yoshinori|ultimo2=Watanabe|primeiro2=Takashi|ultimo3=Takazawa|primeiro3=Masaki|ultimo4=Ohara|primeiro4=Osamu|ultimo5=Kubota|primeiro5=Shin|data=2016-08-01|titulo=De Novo Assembly of the Transcriptome of Turritopsis, a Jellyfish that Repeatedly Rejuvenates|jornal=Zoological Science|volume=33|numero=4|paginas=366–371|issn=0289-0003|doi=10.2108/zs150186|url=http://www.bioone.org/doi/10.2108/zs150186}}</ref>


== Desenvolvimento ==
== Desenvolvimento ==
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Evolutivamente o padrão de clivagem anárquico tem sido reconhecido como ancestral em relação aos demais tipos de clivagem. Nos cnidários, independentemente do tipo de clivagem, ela origina duas formas comuns de blástula: uma celoblástula oca ou uma estereoblástula sólida. A partir do estágio de blástula, o zigoto sofre a gastrulação na extremidade do polo animal. A gastrulação pode pode ocorrer de várias maneiras como a invaginação, ingressão unipolar, ingressão multipolar, delaminação ou epibolia. Na gastrulação ocorre a formação da endoderme (que se diferenciará em gastroderme) e ectoderme (que se diferenciará em epiderme). O desenvolvimento do zigoto dá origem a uma larva planctônica, denominada plânula.
Evolutivamente o padrão de clivagem anárquico tem sido reconhecido como ancestral em relação aos demais tipos de clivagem. Nos cnidários, independentemente do tipo de clivagem, ela origina duas formas comuns de blástula: uma celoblástula oca ou uma estereoblástula sólida. A partir do estágio de blástula, o zigoto sofre a gastrulação na extremidade do polo animal. A gastrulação pode pode ocorrer de várias maneiras como a invaginação, ingressão unipolar, ingressão multipolar, delaminação ou epibolia. Na gastrulação ocorre a formação da endoderme (que se diferenciará em gastroderme) e ectoderme (que se diferenciará em epiderme). O desenvolvimento do zigoto dá origem a uma larva planctônica, denominada plânula.


A plânula é a larva típica de cnidários. Ela apresenta um formato tipicamente ovóide e revestimento externo monoflagelado de epiderme com um preenchimento interno de endoderme. A plânula pode ser oca ou maciça. Uma boca pode ou não estar presente, embora, via de regra, a plânula não se alimente enquanto planctônica. Estruturas como tentáculos podem ou não estar presentes ao redor da boca. <ref name=":0" /><ref name=":1" />
A plânula é a larva típica de cnidários. Ela apresenta um formato tipicamente ovoide e revestimento externo monoflagelado de epiderme com um preenchimento interno de endoderme. A plânula pode ser oca ou maciça. Uma boca pode ou não estar presente, embora, via de regra, a plânula não se alimente enquanto planctônica. Estruturas como tentáculos podem ou não estar presentes ao redor da boca.<ref name=":0" /><ref name=":1" />


O eixo de natação da plânula é posterior-anterior, isto é, ela nada com a parte que dará origem à região aboral à frente. Quando é findo o tempo na coluna d’água, a larva assenta e passa por uma metamorfose, transformando-se em pólipo.
O eixo de natação da plânula é posterior-anterior, isto é, ela nada com a parte que dará origem à região aboral à frente. Quando é findo o tempo na coluna d’água, a larva assenta e passa por uma metamorfose, transformando-se em pólipo.


== Regeneração ==
== Regeneração ==
Os Cnidários, de uma forma geral, tem grande capacidade de regenerar tecidos e partes do corpo, ou mesmo um novo corpo! Isto é particularmente evidente diversas de suas formas de reprodução assexuada, como a laceração, laceração do pé e fragmentação, bem como na contínua predação que sofrem, por exemplo, os recifes de corais em seu ambiente natural. Dentre as formas de vida do filo, a forma polipoide apresenta maior potencial de regeneração. As formas de medusa regeneram tentáculos, braços e pedaços da umbrela perdidos, mas em geral numa magnitude menor do que pólipos. Já foram descrito a regeneração total de pólipos de pólipos de cubozoários seccionados transversalmente,<ref>{{citar periódico|ultimo=Fischer|primeiro=Ayako|data=2004|titulo=Budding, bud morphogenesis, and regeneration in Carybdea marsupialis Linnaeus, 1758 (Cnidaria: Cubozoa)|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> bem como a regeneração de medusas seccionadas longitudinalmente.<ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Abrams|primeiro=Michael J.|ultimo2=Basinger|primeiro2=Ty|ultimo3=Yuan|primeiro3=William|ultimo4=Guo|primeiro4=Chin-Lin|ultimo5=Goentoro|primeiro5=Lea|data=2015-06-30|titulo=Self-repairing symmetry in jellyfish through mechanically driven reorganization|jornal=Proceedings of the National Academy of Sciences|volume=112|numero=26|paginas=E3365–E3373|issn=0027-8424|pmid=26080418|doi=10.1073/pnas.1502497112|url=http://www.pnas.org/content/112/26/E3365|idioma=en}}</ref>
Os Cnidários, de uma forma geral, tem grande capacidade de regenerar tecidos e partes do corpo, ou mesmo um novo corpo. Isto é particularmente evidente diversas de suas formas de reprodução assexuada, como a laceração, laceração do pé e fragmentação, bem como na contínua predação que sofrem, por exemplo, os recifes de corais em seu ambiente natural. Dentre as formas de vida do filo, a forma polipoide apresenta maior potencial de regeneração. As formas de medusa regeneram tentáculos, braços e pedaços da umbrela perdidos, mas em geral numa magnitude menor do que pólipos. Já foram descrito a regeneração total de pólipos de pólipos de cubozoários seccionados transversalmente,<ref>{{citar periódico|ultimo=Fischer|primeiro=Ayako|data=2004|titulo=Budding, bud morphogenesis, and regeneration in Carybdea marsupialis Linnaeus, 1758 (Cnidaria: Cubozoa)|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> bem como a regeneração de medusas seccionadas longitudinalmente.<ref name=":2">{{Citar periódico|ultimo=Abrams|primeiro=Michael J.|ultimo2=Basinger|primeiro2=Ty|ultimo3=Yuan|primeiro3=William|ultimo4=Guo|primeiro4=Chin-Lin|ultimo5=Goentoro|primeiro5=Lea|data=2015-06-30|titulo=Self-repairing symmetry in jellyfish through mechanically driven reorganization|jornal=Proceedings of the National Academy of Sciences|volume=112|numero=26|paginas=E3365–E3373|issn=0027-8424|pmid=26080418|doi=10.1073/pnas.1502497112|url=http://www.pnas.org/content/112/26/E3365|idioma=en}}</ref>


Estudos de regeneração em cnidários datam tão cedo quanto 1744. Nesse ano Abraham Trembley inicialmente publicou seu trabalho com experimentação em Hydra sp.<ref>{{citar livro|título=Mémoires pour servir à l'histoire d'un genre de polypes d'eau douce|ultimo=Trembley|primeiro=Abrahan|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref> Seus experimentos incluem feitos como virar uma hidra ao avesso e prende-la nessa posição. De forma surpreendente, o animal continuou vivo e bem. <ref>{{citar periódico|ultimo=GALLIOT|primeiro=BRIGITTE|data=2002|titulo=Cnidarians as a Model System for Understanding Evolution and Regeneration|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>Estudos hidra continuaram e continuam sendo realizados, visto que o animal se tornou um modelo para estudo de regeneração, senescência e outros processos biológicos.<ref name=":3">{{citar periódico|ultimo=Bosch|primeiro=Thomas|data=2007|titulo=Why polips regenerate and we don't: Towards a cellular and molecular framework for hydra regeneration|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>
Estudos de regeneração em cnidários datam tão cedo quanto 1744. Nesse ano Abraham Trembley inicialmente publicou seu trabalho com experimentação em Hydra sp.<ref>{{citar livro|título=Mémoires pour servir à l'histoire d'un genre de polypes d'eau douce|ultimo=Trembley|primeiro=Abrahan|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref> Seus experimentos incluem feitos como virar uma hidra ao avesso e prende-la nessa posição. De forma surpreendente, o animal continuou vivo e bem.<ref>{{citar periódico|ultimo=GALLIOT|primeiro=BRIGITTE|data=2002|titulo=Cnidarians as a Model System for Understanding Evolution and Regeneration|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> Estudos hidra continuaram e continuam sendo realizados, visto que o animal se tornou um modelo para estudo de regeneração, senescência e outros processos biológicos.<ref name=":3">{{citar periódico|ultimo=Bosch|primeiro=Thomas|data=2007|titulo=Why polips regenerate and we don't: Towards a cellular and molecular framework for hydra regeneration|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>


Apesar de não se poder estender todo o conhecimento obtido para a hidra para os outros cnidários, é razoável acreditar que os mesmos processos fisiológicos e biomoleculares, em algum grau, são compartilhados por outros animais do filo. Em medusas, processos mecânicos talvez tenham também uma importância relevante para a regeneração.<ref name=":2" />
Apesar de não se poder estender todo o conhecimento obtido para a hidra para os outros cnidários, é razoável acreditar que os mesmos processos fisiológicos e biomoleculares, em algum grau, são compartilhados por outros animais do filo. Em medusas, processos mecânicos talvez tenham também uma importância relevante para a regeneração.<ref name=":2" />
* '''Regeneração em hidra'''
* '''Regeneração em hidra'''
As hidras de água doce têm grande poder de regeneração. Como já mencionado, podem sobreviver inversão completa de seus corpos, além de poder se regenerar completamente seu corpo se partidas. A capacidade de regeneração é tão grande que ocorre mantendo a orientação dos eixos corporais se seccionadas longitudinalmente, transversalmente ou diagonalmente, uma ou mesmo muitas vezes, dado um número mínimo de algumas centenas de células em cada pedaço. Se as células forem dissociadas e colocadas juntas, as hidras ainda conseguem se regenerar.<ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=Govindasamy|primeiro=Niraimathi|ultimo2=Murthy|primeiro2=Supriya|ultimo3=Ghanekar|primeiro3=Yashoda|data=2014-12-15|titulo=Slow-cycling stem cells in hydra contribute to head regeneration|jornal=Biology Open|volume=3|numero=12|paginas=1236–1244|issn=2046-6390|pmid=25432513|doi=10.1242/bio.201410512|url=http://bio.biologists.org/content/3/12/1236|idioma=en}}</ref><ref name=":3" /> Existe evidências fósseis para a regeneração dentro de grupos extintos de cnidários, como os Rugosa. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Rozhnov|primeiro=S. V.|data=2014-12-01|titulo=Bilateral symmetry in ontogeny and regeneration of solitary Rugosa (Cnidaria; Paleozoic)|jornal=Paleontological Journal|volume=48|numero=11|paginas=1183–1193|issn=0031-0301|doi=10.1134/S0031030114110094|url=https://link.springer.com/article/10.1134/S0031030114110094|idioma=en}}</ref>
As hidras de água doce têm grande poder de regeneração. Como já mencionado, podem sobreviver inversão completa de seus corpos, além de poder se regenerar completamente seu corpo se partidas. A capacidade de regeneração é tão grande que ocorre mantendo a orientação dos eixos corporais se seccionadas longitudinalmente, transversalmente ou diagonalmente, uma ou mesmo muitas vezes, dado um número mínimo de algumas centenas de células em cada pedaço. Se as células forem dissociadas e colocadas juntas, as hidras ainda conseguem se regenerar.<ref name=":3" /><ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=Govindasamy|primeiro=Niraimathi|ultimo2=Murthy|primeiro2=Supriya|ultimo3=Ghanekar|primeiro3=Yashoda|data=2014-12-15|titulo=Slow-cycling stem cells in hydra contribute to head regeneration|jornal=Biology Open|volume=3|numero=12|paginas=1236–1244|issn=2046-6390|pmid=25432513|doi=10.1242/bio.201410512|url=http://bio.biologists.org/content/3/12/1236|idioma=en}}</ref> Existe evidências fósseis para a regeneração dentro de grupos extintos de cnidários, como os Rugosa.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Rozhnov|primeiro=S. V.|data=2014-12-01|titulo=Bilateral symmetry in ontogeny and regeneration of solitary Rugosa (Cnidaria; Paleozoic)|jornal=Paleontological Journal|volume=48|numero=11|paginas=1183–1193|issn=0031-0301|doi=10.1134/S0031030114110094|url=https://link.springer.com/article/10.1134/S0031030114110094|idioma=en}}</ref>


A regeneração inicial em hidra se dá principalmente sem novas divisões celulares.<ref>{{citar periódico|ultimo=Holstein|primeiro=|data=2003|titulo=Cnidarians: An Evolutionarily Conserved Model System for Regeneration?|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> Quando há lesão, as células próximas ao local começam a migrar e se diferenciar em resposta lesão. O fechamento de uma lesão transversal total demora de 1h a 3h. A regeneração total da parte perdida, até 36h. Qualquer parte da coluna do animal pode regenera um animal novo; se isolados, entretanto, disco oral e pedal não conseguem regenerar. Diversos estudos apontam que no local da lesão ocorre intensa regulação gênica e produção de peptídeos sinalizadores.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Tucker|primeiro=Richard P.|ultimo2=Hess|primeiro2=John F.|ultimo3=Gong|primeiro3=Qizhi|ultimo4=Garvey|primeiro4=Katrina|ultimo5=Shibata|primeiro5=Bradley|ultimo6=Adams|primeiro6=Josephine C.|data=2013-02-15|titulo=A thrombospondin in the anthozoan Nematostella vectensis is associated with the nervous system and upregulated during regeneration|jornal=Biology Open|volume=2|numero=2|paginas=217–226|issn=2046-6390|pmid=23430283|doi=10.1242/bio.20123103|url=http://bio.biologists.org/content/2/2/217|idioma=en}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Krishna|primeiro=Srikar|ultimo2=Nair|primeiro2=Aparna|ultimo3=Cheedipudi|primeiro3=Sirisha|ultimo4=Poduval|primeiro4=Deepak|ultimo5=Dhawan|primeiro5=Jyotsna|ultimo6=Palakodeti|primeiro6=Dasaradhi|ultimo7=Ghanekar|primeiro7=Yashoda|data=2013-01-01|titulo=Deep sequencing reveals unique small RNA repertoire that is regulated during head regeneration in Hydra magnipapillata|jornal=Nucleic Acids Research|volume=41|numero=1|paginas=599–616|issn=0305-1048|pmid=23166307|doi=10.1093/nar/gks1020|url=https://academic.oup.com/nar/article/41/1/599/1146895/Deep-sequencing-reveals-unique-small-RNA}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Petersen|primeiro=Hendrik O.|ultimo2=Höger|primeiro2=Stefanie K.|ultimo3=Looso|primeiro3=Mario|ultimo4=Lengfeld|primeiro4=Tobias|ultimo5=Kuhn|primeiro5=Anne|ultimo6=Warnken|primeiro6=Uwe|ultimo7=Nishimiya-Fujisawa|primeiro7=Chiemi|ultimo8=Schnölzer|primeiro8=Martina|ultimo9=Krüger|primeiro9=Marcus|data=2015-08-01|titulo=A Comprehensive Transcriptomic and Proteomic Analysis of Hydra Head Regeneration|jornal=Molecular Biology and Evolution|volume=32|numero=8|paginas=1928–1947|issn=0737-4038|pmid=25841488|doi=10.1093/molbev/msv079|url=https://academic.oup.com/mbe/article/32/8/1928/2925538/A-Comprehensive-Transcriptomic-and-Proteomic}}</ref>
A regeneração inicial em hidra se dá principalmente sem novas divisões celulares.<ref>{{citar periódico|ultimo=Holstein|primeiro=|data=2003|titulo=Cnidarians: An Evolutionarily Conserved Model System for Regeneration?|jornal=|doi=|url=|acessadoem=}}</ref> Quando há lesão, as células próximas ao local começam a migrar e se diferenciar em resposta lesão. O fechamento de uma lesão transversal total demora de 1h a 3h. A regeneração total da parte perdida, até 36h. Qualquer parte da coluna do animal pode regenera um animal novo; se isolados, entretanto, disco oral e pedal não conseguem regenerar. Diversos estudos apontam que no local da lesão ocorre intensa regulação gênica e produção de peptídeos sinalizadores.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Tucker|primeiro=Richard P.|ultimo2=Hess|primeiro2=John F.|ultimo3=Gong|primeiro3=Qizhi|ultimo4=Garvey|primeiro4=Katrina|ultimo5=Shibata|primeiro5=Bradley|ultimo6=Adams|primeiro6=Josephine C.|data=2013-02-15|titulo=A thrombospondin in the anthozoan Nematostella vectensis is associated with the nervous system and upregulated during regeneration|jornal=Biology Open|volume=2|numero=2|paginas=217–226|issn=2046-6390|pmid=23430283|doi=10.1242/bio.20123103|url=http://bio.biologists.org/content/2/2/217|idioma=en}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Krishna|primeiro=Srikar|ultimo2=Nair|primeiro2=Aparna|ultimo3=Cheedipudi|primeiro3=Sirisha|ultimo4=Poduval|primeiro4=Deepak|ultimo5=Dhawan|primeiro5=Jyotsna|ultimo6=Palakodeti|primeiro6=Dasaradhi|ultimo7=Ghanekar|primeiro7=Yashoda|data=2013-01-01|titulo=Deep sequencing reveals unique small RNA repertoire that is regulated during head regeneration in Hydra magnipapillata|jornal=Nucleic Acids Research|volume=41|numero=1|paginas=599–616|issn=0305-1048|pmid=23166307|doi=10.1093/nar/gks1020|url=https://academic.oup.com/nar/article/41/1/599/1146895/Deep-sequencing-reveals-unique-small-RNA}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Petersen|primeiro=Hendrik O.|ultimo2=Höger|primeiro2=Stefanie K.|ultimo3=Looso|primeiro3=Mario|ultimo4=Lengfeld|primeiro4=Tobias|ultimo5=Kuhn|primeiro5=Anne|ultimo6=Warnken|primeiro6=Uwe|ultimo7=Nishimiya-Fujisawa|primeiro7=Chiemi|ultimo8=Schnölzer|primeiro8=Martina|ultimo9=Krüger|primeiro9=Marcus|data=2015-08-01|titulo=A Comprehensive Transcriptomic and Proteomic Analysis of Hydra Head Regeneration|jornal=Molecular Biology and Evolution|volume=32|numero=8|paginas=1928–1947|issn=0737-4038|pmid=25841488|doi=10.1093/molbev/msv079|url=https://academic.oup.com/mbe/article/32/8/1928/2925538/A-Comprehensive-Transcriptomic-and-Proteomic}}</ref>


Todas as células epiteliais de hidra da região da coluna são células tronco. Assim, todas as células têm potencial de se dividir e renovar a sua população, bem como de se diferenciar em outros tipos celulares.<ref name=":3" /> As células intersticiais apresentam maior poder de diferenciação, podendo se diferenciar em praticamente qualquer tipo celular que o animal possua. O animal possui ainda duas populações diferentes de células troncos: uma que está em constante e rápida renovação e outra que tem um ciclo de renovação mais lento. Entende-se que a presença de duas populações celulares distintas contrabalanceie os efeitos deletérios que as rápidas taxas de renovação podem ter, como a acumulação de mutações genéticas e geração de tumores. Essas células de ciclo lento seriam preferencialmente recrutadas no processo de regeneração.<ref name=":4" />
Todas as células epiteliais de hidra da região da coluna são células-tronco. Assim, todas as células têm potencial de se dividir e renovar a sua população, bem como de se diferenciar em outros tipos celulares.<ref name=":3" /> As células intersticiais apresentam maior poder de diferenciação, podendo se diferenciar em praticamente qualquer tipo celular que o animal possua. O animal possui ainda duas populações diferentes de células troncos: uma que está em constante e rápida renovação e outra que tem um ciclo de renovação mais lento. Entende-se que a presença de duas populações celulares distintas contrabalanceie os efeitos deletérios que as rápidas taxas de renovação podem ter, como a acumulação de mutações genéticas e geração de tumores. Essas células de ciclo lento seriam preferencialmente recrutadas no processo de regeneração.<ref name=":4" />


As células epiteliais das hidras estão constantemente se renovando. O sentido de renovação é do meio do corpo para as extremidades, isto é, do meio da coluna em direção as regiões oral e aboral. Evidências experimentais por meio de marcação in vivo com proteínas fluorescente demonstraram esse sentido de renovação, bem como a grande capacidade dessas células de se diferenciarem em tipos celulares específicos como, por exemplo, um cnidocito de tentáculo. Além disso, aparentemente, essas divisões podem acontecer incessantemente sem desencadear sintomas de senescência.<ref name=":3" />
As células epiteliais das hidras estão constantemente se renovando. O sentido de renovação é do meio do corpo para as extremidades, isto é, do meio da coluna em direção as regiões oral e aboral. Evidências experimentais por meio de marcação in vivo com proteínas fluorescente demonstraram esse sentido de renovação, bem como a grande capacidade dessas células de se diferenciarem em tipos celulares específicos como, por exemplo, um cnidocito de tentáculo. Além disso, aparentemente, essas divisões podem acontecer incessantemente sem desencadear sintomas de senescência.<ref name=":3" />
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<div style="float:right; width:auto; border:solid 1px silver; padding:2px; margin:2px; font-size:90%">
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{{clade
 
  |label1=[[Metazoa]]
{{Clade | style=font-size:100%;line-height:100%
  |1={{clade
|label1=[[Animalia]]<ref>Roberto Feuda et al. 2017, [http://www.cell.com/current-biology/fulltext/S0960-9822(17)31453-7 Improved Modeling of Compositional Heterogeneity Supports Sponges as Sister to All Other Animals] Current Biology, Volume 27, Issue 24, p3864–3870.e4</ref><ref>{{citar periódico|último =Laumer |primeiro =Christopher E. |último2 =Gruber-Vodicka |primeiro2 =Harald |último3 =Hadfield |primeiro3 =Michael G. |último4 =Pearse |primeiro4 =Vicki B. |último5 =Riesgo |primeiro5 =Ana |último6 =Marioni |primeiro6 =John C. |último7 =Giribet |primeiro7 =Gonzalo |ano=2018 |título=Support for a clade of Placozoa and Cnidaria in genes with minimal compositional bias |periódico=eLife |volume=2018;7 |páginas=e36278 |doi=10.7554/eLife.36278 |pmid=30373720 |pmc=6277202 }}</ref>
    |1=[[Hexactinellida]]<br>(esponjas-vítreas)
| 1={{Clade
    |2={{clade
  |1=[[Porifera]] [[Imagem:A Guantanamo sponge -a.jpg|70px]]
      |1=[[Demospongiae]]<br>(outras esponjas)
  |label2=[[Eumetazoa]]
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            |label1='''Cnidaria'''
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              |1=[[Anthozoa]]<br>(anémonas-do-mar e corais)
 
              |label2=[[Medusozoa]]
</div>Cladograma mostrando a posição filogenética dos Cnidaria.<ref name="Collins2002PhylogenyOfMedusozoa">
              |2={{clade
{{citar periódico
                |1=[[Hydrozoa]]<br>(''[[Hydra (género)|Hydra]]'', [[sifonóforo]]s, etc.)
|autor      = Collins, A.G.
                |2={{clade
|data        = maio de 2002
                  |1={{clade
|título    = Phylogeny of Medusozoa and the Evolution of Cnidarian Life Cycles
                    |1=[[Cubozoa]]<br>(cubozoários)
|periódico  = Journal of Evolutionary Biology
                    |2=[[Staurozoa]]<br>(medusas fixas)
|volume      = 15
                  }}
|número    = 3
                  |2="[[Scyphozoa]]"<br>(medusas, excluindo [[Staurozoa]])
|páginas    = 418–432
                }}
|doi        = 10.1046/j.1420-9101.2002.00403.x
              }}
|url         = http://cima.uprm.edu/~n_schizas/CMOB_8676/Collins2002.pdf
            }}
|formato    = PDF
            |2={{clade
|acessodata  = 2008-11-27
              |1=[[Placozoa]]
|arquivourl  = https://web.archive.org/web/20060922080742/http://cima.uprm.edu/~n_schizas/CMOB_8676/Collins2002.pdf
              |label2=[[Bilateria]]
|arquivodata = 2006-09-22
              |2={{clade
|urlmorta    = yes
                |1=[[Myxozoa]]
                |2=Outros Bilateria mais complexos
              }}
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      }}
    }}
  }}
}}
}}
</div>Cladograma mostrando a posição filogenética dos Cnidaria.<ref name="Collins2002PhylogenyOfMedusozoa">{{citar periódico
</ref><ref name="WallbergEtAl2004PhylogeneticPositionOfCtenophora">{{citar periódico
|autor =Collins, A.G.|data=maio de 2002
|título=Phylogeny of Medusozoa and the Evolution of Cnidarian Life Cycles
|periódico=Journal of Evolutionary Biology| volume=15|número=3|páginas=418–432
| doi=10.1046/j.1420-9101.2002.00403.x
| url=http://cima.uprm.edu/~n_schizas/CMOB_8676/Collins2002.pdf|formato=PDF|acessodata=2008-11-27
}}</ref><ref name="WallbergEtAl2004PhylogeneticPositionOfCtenophora">{{citar periódico
|autor =Wallberg, A. |autor2 =Thollesson, M. |autor3 =Farris, J.S. |autor4 =Jondelius, U. |last-author-amp=yes
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|título=The phylogenetic position of the comb jellies (Ctenophora) and the importance of taxonomic sampling
|título=The phylogenetic position of the comb jellies (Ctenophora) and the importance of taxonomic sampling
Linha 162: Linha 150:
| doi=10.1111/j.1096-0031.2004.00041.x
| doi=10.1111/j.1096-0031.2004.00041.x
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* [[Polypodium hydriforme|Polypodiozoa]] - Compreende apenas a espécie ''[[Polypodium hydriforme]]'', organismo polipóide parasita
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Edição atual tal como às 00h28min de 9 de junho de 2022

Como ler uma infocaixa de taxonomiaCnidaria
cnidários (medusas, anémonas e similares)
Ocorrência: Ediacariano - Recente
Medusa.
Classificação científica
Domínio: Eucaryota
Reino: Animalia
Filo: Cnidaria
Hatschek, 1888
Classes

Arquivo:Chrysaora quinquecirrha-Sea nettle (jellyfish).ogg Cnidaria (grego: κνίδη knidē 'urtiga' + latim: aria, sufixo plural) é um filo de animais exclusivamente aquáticos, agrupando os organismos conhecidos pelo nome comum de cnidários, entre os quais estão as medusas e as alforrecas (ou águas-vivas), as caravelas, as anémonas-do-mar, os corais-moles e as hidras de água doce.[2] São organismos multicelulares, com estrutura simples, caracterizados pela presença de uma estrutura celular chamada cnida, na maioria marinhos e na maioria de vida livre, habitando costas, fundos e as águas abertas dos oceanos, bem como parasitas.[3][4] O taxon inclui atualmente mais de 11 000 espécies extantes.[5] Alguns cnidários, como a espécie Polypodium hydriforme e os Myxozoa, evoluíram para formas parasitas. Os cnidários foram incluídos durante muito tempo em conjunto com os Ctenophora (ctenóforos) no filo Coelenterata (os celenterados), embora essa classificação há muito já tenha sido abandonada, deixando o nome obsoleto.[6][7][8]

Anatomia

Esquema do plano geral de Cnidaria com boca, coluna e tentáculos

Os cnidários apresentam tipicamente duas formas adultas distintas: o pólipo e a medusa.[2] Assim, tem o ciclo de vida chamado metagenético, ou de alternância de gerações. Ambas as formas apresentam simetria externa radial. O plano corporal básico é simples: o corpo é saculiforme (em forma de saco), com apenas uma abertura circundada por tentáculos: a boca. A região contrária à boca, denominada aboral, é fixa ao substrato nos pólipos, formando um pé; ou é livre nas medusas, formando o topo da umbrela, o domo típico das águas-vivas. Há organização a nível tecidual é simples existindo essencialmente apenas o revestimento externo, a epiderme, e um revestimento interno, a gastroderme. Esses são separados por uma matriz extracelular rígida na qual se ancoram, denominada mesogleia. A mesogleia é o que dá a consistência mais firme e borrachuda em águas-vivas.

Os cnidários não apresentam tecido muscular verdadeiro. A movimentação do animal é realizado pelas células epiteliais. As presentes na epiderme são denominadas epiteliomusculares, e as presentes na gastroderme são as nutritivomusculares. Não há sistema nervoso concentrado, mas uma rede difusa de neurônios multipolares, isto é, que disparam em mais de um sentido.

Reprodução

Os cnidários são notórios por possuírem vastas diferentes formas de reprodução. Todas as classes podem se reproduzir tanto de forma sexuada quanto de forma assexuada, embora existam exceções em cada classe. A forma de reprodução sexuada tipicamente ocorre em alternância de gerações, com uma fase séssil, chamada polipoide, e uma fase livre nadante, a medusa. A reprodução assexuada, também chamada de reprodução clonal, ocorre em antozoários (Classe Anthozoa) e principalmente na forma polipoide de medusozoários (Classes Scyphozoa, Hydrozoa, Cubozoa e Staurozoa).

Esquema de hidra sofrendo brotamento

Os gametas dos cnidários são produzidos em regiões específicas da gastroderme e/ou mesogleia, como os mesentérios ou as bolsas gástricas, denominadas gônadas. As gônadas são formadas a partir da diferenciação de células do interstício de origem endodérmica presentes na gastroderme. Apesar do nome, as gônadas não configuram um órgão ou tecido verdadeiro, visto que esse tipo de estrutura só aparece em ramos posteriores da árvore filogenética dos animais.[9]

De forma geral, as gônadas que já descritas se desenvolvem entre o epitélio gastrovascular e a matriz da mesogleia e têm formato aproximadamente esférico ou são tem forma difusa. A espermatogênese se dá de forma concêntrica, com as espermatogônias localizadas mais externas, em contato com a mesogleia e o epitélio gastrovascular. Os espermatócitos se encontram mais interiores, com as espermátides e, centralmente, os espermatozoides mais interiores. Os espermatozoides de cnidária, diferentemente da maioria dos outros animais, não contém acrossomos. A oogênese ocorre de forma relativamente parecida. Uma célula de origem endodérmica se diferencia em oócito e passa a acumular vitelo, migrando para o interior da gônada. Dependendo da espécie e grupo, o oócito pode estar acompanhado de células produtoras de vitelo ou estar solitário imerso em matriz da mesogleia.[9][10]

Desenho de larva plânula típica

 O processo de gametogênese pode ser bastante longo, durando vários meses (como o caso de alguns corais) ou ser mais rápido (como em algumas medusas).

Anthozoa

Em antozoários não ocorre alternância de gerações, existindo apenas a fase polipoide. Os animais desse grupo podem ser tanto dioicos tanto hermafroditas. Normalmente o tipo de sexualidade é mantida ao longo das espécies, embora existam espécies com indivíduos hermafroditas e dioicos.[11][12]

  • Reprodução sexuada

As gônadas desses animais se formam nos mesentérios, local onde células da gastroderme se diferenciam em gametas. Os gametas então caem na cavidade gastrovascular (também chamada de "celêntero") e são posteriormente liberadas pela boca. Tipicamente a fecundação é externa e não há cuidado parental. Exceções, contudo, existem. Em algumas espécies o gameta masculino é ingerido e a fecundação se dá dentro da cavidade gastrovascular, a exemplo do coral Isopora brueggemanni. A larva se desenvolve dentro do corpo do progenitor e a plânula é liberada já em estágio avançado de desenvolvimento.

As espécies podem ou não ter um período específico do ano para reprodução e podem ou não apresentar sincronia na liberação de gametas. O exemplo mais bem conhecido de sincronia são de espécies de corais formadores de recifes que liberam seus gametas em determinadas noites do ano, com base em temperatura, fotoperíodo e outras variáveis. Em espécies sem período especifico de reprodução, os gametas podem ser liberados o ano todo. Via de regra, espécies de fecundação externa tendem a ter maior sincronia, maximizando assim as chances de gametas se encontrarem.

  • Reprodução assexuada

A reprodução assexuada ocorre na vasta maioria dos antozoários, embora existam espécies na qual não ocorre (por exemplo, Pseudocorynactis sp.). Esse tipo de reprodução é a responsável pela formação de grandes colônias e aglomerados de corais, coralimorfários, anêmonas, zoantídeos, gorgônias entre outros. Existe uma vasta quantidade de formas diferentes pelas qual a reprodução assexuada pode ocorrer e isto se deve em parte à grande capacidade de regeneração dos cnidários. As formas mais comuns de reprodução são:

1-   Brotamento: processo no qual surgem novos indivíduos a partir da base ou da lateral de um pólipo já existente. No brotamento, a parede do corpo, logo epiderme, mesogleia e gastroderme, evaginam formando uma estrutura como uma verruga. A região apical da “verruga” então diferencia boca e tentáculos. Quando desenvolvido, o novo indivíduo se destaca ou não do corpo parental.

2-   Estolões: no qual há uma projeção da parede do corpo da base ou da lateral do pólipo, a qual dá origem a um ou mais pólipos.

3-   Fissão longitudinal: na qual o animal começa a se estrangular ao longo do eixo oral-aboral, dividindo a boca, disco basal e cavidade gastrovascular em dois. Em vista oral, o animal lembra a figura de um número "8" durante o processo.

4-   Pelaceração: processo pelo qual o animal, ao se locomover lentamente pelo substrato, deixa para trás pedaços de seu disco basal. Esses pedaços então regeneram boca e tentáculos e se tornam um novo indivíduo.

5-   Laceração: processo muito utilizado por criadores comerciais, no qual o animal é partido em duas ou mais partes. As partes então se regeneram em novos indivíduos. Na natureza pode ocorrer como resultado de ataque de predadores.

6-   Fragmentação: processo muito utilizado por criadores comerciais, no qual a colônia (eg. Acropora sp. ou Sarcophyton sp.) é fragmentada em duas ou mais partes. As partes então se regeneram em novas colônias. Na natureza pode ocorrer como resultado de ataque de predadores.

Medusozoa

Os medusozoários compreendem os animais das classes Hydrozoa, Scyphozoa, Cubozoa e Staurozoa e tipicamente apresentam alternância de gerações. Nesse grupo, toda a imensa diversidade de ciclos reprodutivos em cnidária existe. O plano básico de ciclo de vida se dá a partir do assentamento de uma larva plânula que se metamorfoseia em um diminuto pólipo. Esse pólipo pode então se reproduzir assexuadamente dando origem a outros pólipos ou a medusas. As medusas são, via de regra, livre natantes e são a geração produtora de gametas.

  • Reprodução na forma polipoide

As formas polipoides podem se reproduzir assexuadamente gerando outros pólipos ou gerando medusas. Quando geram outros pólipos, as formas de reprodução são parecidas com as mencionadas para antozoários: brotamento, estolões, fissão, laceração e fragmentação. Além dessas, há a forma de reprodução chamada estrobilização ou fissão transversal, responsável por produzir medusas.

Estrobilização de Aurelia sp

Na estrobilização, a porção oral do pólipo passa por um processo de reabsorção e modificação até que finalmente se metamorfoseia em uma medusa jovem, denominada éfira. A medusa então se destaca e ganha a coluna d’água. Cada pólipo pode geral uma medusa apenas, como ocorrem em cubozoa, ou inúmeras, como ocorrem em hydrozoa e cifozoa. Uma forma mais complexa de estrobilização ocorre em determinados grupos. Nessa forma, várias éfiras vão sendo formadas sequencialmente, com os estágios mais iniciais do processo de estrobilização mais próximos da região aboral. Assim, o pólipo fica com uma aparência de pilha de pratos.[12]

  • Reprodução em medusas

A medusa é a fase gametogênica e é responsável pela reprodução sexuada. Os gametas se forma a partir das gônadas de origem endodérmica, embora em hidrozoários possa haver migração para a epiderme. A fecundação pode ser externa, interna ou ocorrer dentro do corpo do parental, como em antozoários, podendo ou não haver incubação. Uma forma curiosa de reprodução para cnidários é a transferência direta de espermatozoides que ocorre em cubozoários e em alguns cifozoários. O resultado da fertilização é um embrião que se torna a típica larva plânula. A larva então se assenta e metamorfoseia em pólipo.

A reprodução assexuada em medusas é menos comum, mas existente. Os principais processos de reprodução assexuada em medusas são os já mencionados brotamento e a fissão longitudinal e ocorrem principalmente, se não restritos apenas, a hidrozoários.

  • Exceções e variações

Inúmeras variações ocorrem no plano básico de alternância de gerações em medusozoários. Em pólipos coloniais de alguns hidrozoários há a possibilidade de divisão de tarefas entre os diferentes indivíduos ou bocas. Umas podem se dedicar apenas a alimentação, enquanto outras apenas a estrobilização. Em algumas espécies as medusas jovens não se destacam do pólipo durante a estrobilização. Assim a medusa se desenvolve e reproduz ligada à colônia mãe.

Há espécies que perderam completamente a fase de medusa, como Hydra sp., ou a fase de pólipo, como alguns cifozoários. Nesses animais, o pólipo é responsável pela produção de gametas ou há o desenvolvimento direto da larva plânula para uma medusa. Há, ainda, a curiosa Turritopsis dohrnii, a água-viva imortal, uma espécie de hidrozoário o qual a forma de medusa pode se desdiferenciar em pólipo, dependendo das condições ambientais.[12][13]

Desenvolvimento

Diferentes padrões de clivagem encontrados em Obelia loveni: a. clivagem sincicial, b. clivagem radial, c. clivagem "pseudoradial", d. clivagem anarquica, e. clivagem desigual
Diferentes padrões de clivagem encontrados em Obelia loveni

Os oócitos de cnidários só completam sua divisão mitótica quando fertilizados. O primeiro sulco de clivagem se inicia no polo animal, que posteriormente se tornará a região oral da larva plânula. Os cnidários demonstram uma grande variedade de padrões de clivagem do zigoto, sendo caracterizadas pela irregularidade. Os zigotos de diferentes espécies ou até mesmo da mesma espécie podem possuir um padrão de clivagem diferente. 

Em hidrozoários, a clivagem apresenta um padrão de indeterminação no desenvolvimento. Blastômeros isolados de um zigoto de 2, 16 ou até mesmo 32 células são capazes de se desenvolver em uma larva plânula normal, porém com menor tamanho. Além disso o desenvolvimento não é afetado pela reorganização artificial dos blastômeros. 

Em cifozoários também é possível observar uma grande variação no arranjo dos blastômeros, sendo muitas vezes impossível de se encontrar dois zigotos com disposição semelhante dos blastômeros. 

Evolutivamente o padrão de clivagem anárquico tem sido reconhecido como ancestral em relação aos demais tipos de clivagem. Nos cnidários, independentemente do tipo de clivagem, ela origina duas formas comuns de blástula: uma celoblástula oca ou uma estereoblástula sólida. A partir do estágio de blástula, o zigoto sofre a gastrulação na extremidade do polo animal. A gastrulação pode pode ocorrer de várias maneiras como a invaginação, ingressão unipolar, ingressão multipolar, delaminação ou epibolia. Na gastrulação ocorre a formação da endoderme (que se diferenciará em gastroderme) e ectoderme (que se diferenciará em epiderme). O desenvolvimento do zigoto dá origem a uma larva planctônica, denominada plânula.

A plânula é a larva típica de cnidários. Ela apresenta um formato tipicamente ovoide e revestimento externo monoflagelado de epiderme com um preenchimento interno de endoderme. A plânula pode ser oca ou maciça. Uma boca pode ou não estar presente, embora, via de regra, a plânula não se alimente enquanto planctônica. Estruturas como tentáculos podem ou não estar presentes ao redor da boca.[9][12]

O eixo de natação da plânula é posterior-anterior, isto é, ela nada com a parte que dará origem à região aboral à frente. Quando é findo o tempo na coluna d’água, a larva assenta e passa por uma metamorfose, transformando-se em pólipo.

Regeneração

Os Cnidários, de uma forma geral, tem grande capacidade de regenerar tecidos e partes do corpo, ou mesmo um novo corpo. Isto é particularmente evidente diversas de suas formas de reprodução assexuada, como a laceração, laceração do pé e fragmentação, bem como na contínua predação que sofrem, por exemplo, os recifes de corais em seu ambiente natural. Dentre as formas de vida do filo, a forma polipoide apresenta maior potencial de regeneração. As formas de medusa regeneram tentáculos, braços e pedaços da umbrela perdidos, mas em geral numa magnitude menor do que pólipos. Já foram descrito a regeneração total de pólipos de pólipos de cubozoários seccionados transversalmente,[14] bem como a regeneração de medusas seccionadas longitudinalmente.[15]

Estudos de regeneração em cnidários datam tão cedo quanto 1744. Nesse ano Abraham Trembley inicialmente publicou seu trabalho com experimentação em Hydra sp.[16] Seus experimentos incluem feitos como virar uma hidra ao avesso e prende-la nessa posição. De forma surpreendente, o animal continuou vivo e bem.[17] Estudos hidra continuaram e continuam sendo realizados, visto que o animal se tornou um modelo para estudo de regeneração, senescência e outros processos biológicos.[18]

Apesar de não se poder estender todo o conhecimento obtido para a hidra para os outros cnidários, é razoável acreditar que os mesmos processos fisiológicos e biomoleculares, em algum grau, são compartilhados por outros animais do filo. Em medusas, processos mecânicos talvez tenham também uma importância relevante para a regeneração.[15]

  • Regeneração em hidra

As hidras de água doce têm grande poder de regeneração. Como já mencionado, podem sobreviver inversão completa de seus corpos, além de poder se regenerar completamente seu corpo se partidas. A capacidade de regeneração é tão grande que ocorre mantendo a orientação dos eixos corporais se seccionadas longitudinalmente, transversalmente ou diagonalmente, uma ou mesmo muitas vezes, dado um número mínimo de algumas centenas de células em cada pedaço. Se as células forem dissociadas e colocadas juntas, as hidras ainda conseguem se regenerar.[18][19] Existe evidências fósseis para a regeneração dentro de grupos extintos de cnidários, como os Rugosa.[20]

A regeneração inicial em hidra se dá principalmente sem novas divisões celulares.[21] Quando há lesão, as células próximas ao local começam a migrar e se diferenciar em resposta lesão. O fechamento de uma lesão transversal total demora de 1h a 3h. A regeneração total da parte perdida, até 36h. Qualquer parte da coluna do animal pode regenera um animal novo; se isolados, entretanto, disco oral e pedal não conseguem regenerar. Diversos estudos apontam que no local da lesão ocorre intensa regulação gênica e produção de peptídeos sinalizadores.[22][23][24]

Todas as células epiteliais de hidra da região da coluna são células-tronco. Assim, todas as células têm potencial de se dividir e renovar a sua população, bem como de se diferenciar em outros tipos celulares.[18] As células intersticiais apresentam maior poder de diferenciação, podendo se diferenciar em praticamente qualquer tipo celular que o animal possua. O animal possui ainda duas populações diferentes de células troncos: uma que está em constante e rápida renovação e outra que tem um ciclo de renovação mais lento. Entende-se que a presença de duas populações celulares distintas contrabalanceie os efeitos deletérios que as rápidas taxas de renovação podem ter, como a acumulação de mutações genéticas e geração de tumores. Essas células de ciclo lento seriam preferencialmente recrutadas no processo de regeneração.[19]

As células epiteliais das hidras estão constantemente se renovando. O sentido de renovação é do meio do corpo para as extremidades, isto é, do meio da coluna em direção as regiões oral e aboral. Evidências experimentais por meio de marcação in vivo com proteínas fluorescente demonstraram esse sentido de renovação, bem como a grande capacidade dessas células de se diferenciarem em tipos celulares específicos como, por exemplo, um cnidocito de tentáculo. Além disso, aparentemente, essas divisões podem acontecer incessantemente sem desencadear sintomas de senescência.[18]

Classificação

Cladograma mostrando a posição filogenética dos Cnidaria.[25][26][26][27][28][29][30]

O filo Cnidaria está dividido em sete classes de organismos atuais e mais uma de fósseis:

Referências

  1. Schuster, Ruth (20 de novembro de 2015). «Microscopic parasitic jellyfish defy everything we know, astonish scientists». Haaretz. Consultado em 4 de abril de 2018 
  2. 2,0 2,1 .ColégioSãoFrancisco.com – Filo Cnidaria[ligação inativa]
  3. P. A. Meglitsch. Zoología de Invertebrados. (1986). Pirámide. Páxina 117. ISBN 84-368-0316-7.
  4. Ruppert, E.E., Fox, R.S., and Barnes, R.D. (2004). Invertebrate Zoology (7 ed.). Brooks / Cole. ISBN 0-03-025982-7.
  5. Marymegan Daly, Mercer R. Brugler, Paulyn Cartwright, Allen G. Collin, Michael N. Dawson, Daphne G. Fautin, Scott C. France, Catherine S. McFadden, Dennis M. Opresko, Estefania Rodriguez, Sandra L. Romano & Joel L. Stake: The phylum Cnidaria: A review of phylogenetic patterns and diversity 300 years after Linnaeus. Zootaxa, 1668: 127–182, Wellington 2007 ISSN 1175-5326 Abstract - PDF
  6. Encyclopædia Britannica (ver Classification) Ctenophore Citação: "Os ctenóforos e cnidários eram antes situados conjuntamente no filo Coelenterata. As autoridades modernas, porém, separaram os cnidários dos ctenóforos..."
  7. Tree of Life web project (ver a secção Discussion of Phylogenetic Relationships) Cnidaria Citação: "A sua estrutura diploblástica e a sua única abertura corporal e cavidade levaram a que fossem associados os cnidários com os ctenóforos. De facto, até tempos relativamente recentes o filo Coelenterata considerava-se como incluindo os animais hoje situados em Cnidaria e Ctenophora."
  8. Steven H.D. Haddock. A golden age of gelata: past and future research on planktonic ctenophores and cnidarians. (2004). Hydrobiologia 530/531: 549–556, 2004. Gelata Arquivado em 26 de outubro de 2005, no Wayback Machine.. Citação: "O nome 'coelenterata' foi utilizado durante longo tempo como uma forma conveniente de descrever os organismos dos filos Ctenophora e Cnidaria. Como isso implica um grau de parentesco que se considera hoje inexacto, este termo é normalmente evitado em contexto taxonómico ou filogenético rigoroso".
  9. 9,0 9,1 9,2 Morandini, André Carrara (13 de setembro de 1999). «Gametogênese e desenvolvimento embrionário de Nausithoe aurea (Scyphozoa, Coronatae) do canal de São Sebastião - SP.». doi:10.11606/d.41.1999.tde-02042001-102624 
  10. Shikina, Shinya; Chen, Chieh-Jhen; Liou, Jhe-Yu; Shao, Zi-Fan; Chung, Yi-Jou; Lee, Yan-Horn; Chang, Ching-Fong (27 de julho de 2012). «Germ Cell Development in the Scleractinian Coral Euphyllia ancora (Cnidaria, Anthozoa)». PLOS ONE. 7 (7): e41569. ISSN 1932-6203. PMID 22848529. doi:10.1371/journal.pone.0041569 
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  12. 12,0 12,1 12,2 12,3 BRUSCA, R.C. & G.J. BRUSCA, 2007. Invertebrados. Segunda edição. Editora Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro. 968 pp
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Bibliografia

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Ligações externas

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