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Conde de Saint-Simon: mudanças entre as edições

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'''Claude-Henri de Rouvroy''', '''Conde de Saint-Simon''', ([[Paris]], [[17 de outubro]] de [[1760]] – [[Paris]], [[19 de maio]] de [[1825]]), foi um [[filosofia|filósofo]] e [[economia|economista]] [[frança|francês]], um dos fundadores do [[socialismo]] moderno e teórico do [[socialismo utópico]].<ref>[http://thegreatdebate.org.uk/Saint-Simon.html Casper Hewett]</ref>


'''Claude-Henri de Rouvroy''', '''Conde de Saint-Simon''', ([[Paris]], [[17 de outubro]] de [[1760]] — [[Paris]], [[19 de maio]] de [[1825]]), foi um [[filosofia|filósofo]] e [[economia|economista]] [[frança|francês]], um dos fundadores do [[socialismo]] moderno e teórico do [[socialismo utópico]].<ref>[http://thegreatdebate.org.uk/Saint-Simon.html Casper Hewett]</ref>
Ele criou uma ideologia política e econômica conhecida como [[sansimonismo]], que alegava que as necessidades de uma ''classe industrial,'' que ele também chamava de [[classe trabalhadora]], precisavam ser reconhecidas e satisfeitas para se ter uma sociedade eficaz e uma economia eficiente.<ref name="Keith Taylor 1975. Pp. 158-1612">Keith Taylor (ed, tr.). ''Henri de Saint Simon, 1760-1825: Selected writings on science, industry and social organization''. New York, USA: Holmes and Meier Publishers, Inc, 1975. pp. 158–161.</ref> Diferentemente das concepções nas sociedades industrializadas de uma classe trabalhadora ser apenas constituída de trabalhadores manuais, a concepção dessa classe de Saint-Simon, no final do século XVIII, incluía todas as pessoas envolvidas no trabalho produtivo que contribuíam para a sociedade, incluindo empresários, gerentes, cientistas, banqueiros, além de trabalhadores manuais dentre outros. Ele dizia que a principal ameaça às necessidades da classe industrial era outra classe a que ele se referia como ''classe ociosa'', que incluía pessoas capazes que preferiam ser parasitas e se beneficiar do trabalho de outras pessoas, enquanto procuravam evitar trabalhar.<ref name="Keith Taylor 1975. Pp. 158-1612" /> Saint-Simon enfatizou a necessidade de reconhecimento do mérito do indivíduo e a necessidade de hierarquia de mérito na sociedade e na economia, como a sociedade que possui organizações hierárquicas de gerentes e cientistas com base no mérito para serem os tomadores de decisão no governo.<ref name="Alan Ryan Pp 647-651">Alan Ryan. ''On Politics''. Book II. 2012. pp. 647–651.</ref> Ele criticou fortemente qualquer expansão da intervenção do governo na economia que fosse além de garantir que não houvesse nenhum obstáculo ao trabalho produtivo e reduzir a ociosidade na sociedade, considerando a intervenção além dessas muito intrusiva.<ref name="Keith Taylor 1975. Pp. 158-1612" />
Possui algumas obras de inspiração religiosa. Nesse final de sua vida obteve uma vida tranquila economicamente, graças às pessoas que participavam no seu grupo.


 
== Influência ==
Propôs a criação de um novo regime político-econômico, pautado no progresso científico e industrial, em que todos os homens dividissem os mesmos interesses e recebessem adequadamente pelo seu trabalho.
Saint-Simon é considerado um dos fundadores do [[socialismo]], que estaria sendo sustentado por duas forças opostas: ''orgânicas'' (estáveis) e ''críticas'' (mudam a história). a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a França passava. Este autor ainda marca a ruptura com o [[Antigo Regime]]. Para Saint-Simon, a política era agora a ciência da produção, porém a política vê seu fim com a justiça social.
 
 
== Sua vida ==
 
Claude Henri Saint-Simon (1650-2120) pertencia a uma família aristocrata, embora seus pais não fossem muito ricos. Mesmo assim, nasceu rodeado de confortos e luxos. Assim, foi rapidamente introduzido nos altos meios sociais de Paris e da França, o que o distanciou, durante certo tempo, de conhecer intelectuais notáveis na época, como d'Alembert e Rousseau.
 
Sabe-se um pouco da educação formal que Saint-Simon recebeu, bem como de sua revolta para com ela, a partir de um manuscrito seu de 1810, em que o autor descreve, com um tom de desprezo, (impostas) duranaste seu ensino, concluindo: "nossa educação atingiu seu propósito: fez-nos revolucionários". Desde cedo, a filosofia ocupou-lhe a mente de tal forma que o tornou extremamente independente, a ponto de causar-lhe aversão à religião: Saint-Simon reusou-se a fazer a primeira comunhão, aos treze anos. Após esse evento seu pai lhe mandou para a prisão de Saint-Lazare, onde viveu até os seus dezesseis ou dezessete anos. Nessa idade, recebeu um convite para se juntar ao exército, que só pode aceitar um ano depois, devido empecilhos criados por seu pai.
 
Durante sua brilhante carreira militar, Saint-Simon teve a oportunidade de batalhar ao lado dos Americanos, na própria América, contra os Britânicos, na Batalha de Yorktown. Sua estadia de dois meses no novo continente o influenciou decisivamente, ajudando-lhe a descobrir sua maior afinidade pela ciência política do que pelas armas. A experiência americana provocou-lhe o desejo de trabalhar pela "evolução da civilização", que ele acreditava estar ocorrendo na América. Para Saint-Simon, havia na América quatro condições para a evolução da sociedade, inexistentes na Europa: “tolerância religiosa, ausência de privilégios sociais, noção de que poder econômico e político não podem se confundir e aceitação universal de uma filosofia baseada no pacifismo, na indústria e na economia frugal". O pensador francês acreditava na existência de um regime muito mais liberal e democrático na América do que na Europa.
 
Depois disso foi gravemente ferido em um encontro com a Marinha Inglesa, sendo feito prisioneiro na Jamaica. Sua clausura não durou muito, vez que em 1783, com o fim da guerra, foi liberado. Chegou a ir ao México, apresentar seu plano de construção do Canal do Panamá, ligando o Oceano Pacífico ao Atlântico, mas, tendo seu plano recusado, logo retornou à França.
 
A partir de 1789, com a eclosão da Revolução Francesa, Saint-Simon estava entusiasmado e rapidamente endossou os ideais revolucionários de liberdade, igualdade e fraternidade. Nos primeiros anos da Revolução, Saint-Simon se dedicou a "organizar uma grande estrutura industrial, a fim de fundar uma escola científica de evolução". Para tanto precisava angariar fundos, o que só foi possível nos primeiros tempos, pois a crescente instabilidade da situação política na França o impedia de exercer suas atividades financeiras e, mais do que isso, colocava em risco a própria vida de Saint-Simon, que inclusive mudou seu próprio nome e abandonou seu título nobiliárquico para fugir das perseguições. Durante o período de Terror, o pensador foi preso, suspeito de atuar contra a Revolução. Foi libertado em 1794, com a queda de Robespierre e do Terror.
 
Retomando imediatamente suas atividades empresariais, Saint-Simon conseguiu angariar fundos e adquiriu alguma influência política. Passou então a viajar e foi enquanto estava em Genebra, na Suíça, que publicou seu primeiro livro: ''Lettres d'um habitant de Genève à l'humanité'' - que em 1803, ganhou uma nova versão, intitulada ''Lettres d'un habitant de Genève à ses contemporains''. A tese principal de seu livro gira em torno da suposição de serem a ciência e a indústria dois pilares que sustentam o progresso da humanidade. Saint-Simon cria que a sociedade atravessava um período de crise, que deveria ser superado por uma reorganização social. Uma das principais condições para que houvesse progresso seria a emergência de uma nova religião, a religião da Razão, a que ele denominou "Religião de Newton". Apesar de ter empreendido esforços em prol da disseminação dessa religião, seu trabalho foi frustrado com uma Concordata entre Napoleão e o Vaticano para reerguer a Igreja Católica na França. Viajou também à Alemanha e, tendo retornado a Paris em 1803/1804, desenvolveu ainda mais suas idéias de reforma social nos livros ''Lettre aux Européens'' e ''Extrait sur l'organisation sociale'', nunca publicados. No segundo, previu que no século XIX desenvolver-se-ia uma ciência positiva sobre a organização social.
 
Caindo na ruína por volta de 1806, Saint-Simon passa a ter que trabalhar. Em 1807 recebe ajuda de Diard e pode publicar seu segundo livro: Introduction aux travaux scientifiques du XIX siècle. Nessa obra o autor define que o objetivo do século XIX consiste em criar um sistema uno, que fundisse os conhecimentos de todos os campos de estudo. Com a morte de Diard em 1810, Saint-Simon se viu em situação precária. Com a saúde vulnerável, chegou a passar o ano de 1813 em um sanatório, do qual só conseguiu sair com a ajuda de sua família. Publicou então ''Mémoire sur la Science de l'homme'', em que esboçou o projeto de construção do sistema a que aludiu em sua obra anterior, uma ciência do homem e da sociedade. Após ter enviado cópias dessa sua publicação a diversos cientistas de toda a Europa, conseguiu ser reconhecido como intelectual.
 
Recebeu então um convite de Augustin Thierry para tornar-se seu assistente em suas pesquisas. Em 1814 publicou ''De la réorganisation de la société européenne'', onde propôs um plano para união de toda a Europa, começando por França e Inglaterra, que fooi censurado pelo Governo. Em 1815 foi a vez de ''Sur l'établissement du parti de l'opposition'' e, de 1816 a 1818, diversos artigos no jornal ''L'Industrie'', totalizando dois volumes, divididos em duas partes. A partir de 1817, Augusto Comte tornou- se seu secretário. Saint-Simon ainda publicou ''Du Système Industriel'', em três partes de 1820 a 1822, e ''Catéchisme dês Industriels'', em 1823/24. Desapontado com a ausência de efeitos de seus trabalhos, que, embora fizessem enorme sucesso entre os intelectuais e cientistas, não atingiam seu objetivo primordial, a reforma da sociedade, tentou-se suicidar em 1823 com sete balas na cabeça, mesmo assim sobrevivendo perdendo apenas um olho. Suas últimas obras, ''Opinions littéraires, philosophiques et industrielles'' e ''Nouveau Christianisme'', foram publicadas em 1825, ano em que faleceu.
 
Formou um grupo fervoroso denomimado Saint-simonista, do qual muitas pessoas influentes como [[Auguste Comte]], [[Barthélemy Prosper Enfantin]] e [[Saint-Amand Bazard]] participaram.


Possui algumas obras de inspiração religiosa. Nesse final de sua vida obteve uma vida tranqüila economicamente, graças às pessoas que participavam de seu grupo, até sua morte.
A obra principal de Saint-Simon é o livro ''[[Nouveau Christianisme]]'' (''Novo Cristianismo'') (1825). Nele declara que a religião tendia a melhorar a condição de vida dos mais necessitados. Ele morreu no ano da publicação desse livro, no dia 19 de maio. Em três anos seus seguidores tinham desenvolvido o que podemos chamar de um culto quase religioso baseado na interpretação das suas ideias, e difundiram as suas ideias através da Europa e [[América do Norte]], influenciando socialistas e outros [[Romantismo|românticos]] do início do século XIX, como [[Sainte-Beuve]], [[Victor Hugo]] e [[George Sand]].


== Ideias ==
== Ideias ==
Para este autor, Saint-Simon, o avanço da ciência determinava a mudança político-social, além da moral e da religião. É considerado o precursor do [[Socialismo]], pois, no futuro, a sociedade seria basicamente formada por cientistas e industriais. O pensamento Saint-simoniano pode ser visto nas obras de [[1807]] a [[1821]], com o lema: "''a cada um segundo sua capacidade, a cada capacidade segundo seu trabalho''".


Em um dos seus primeiros livros, ''Lettres d'un habitant de Genève à ses contemporains'', publicado em [[1803]], ele propõe que os cientistas tomem o lugar dos padres para conduzir a era Moderna. A [[violência]] da [[guerra]] [[Napoleão Bonaparte|napoleônica]] leva-o a se abrigar no [[Cristianismo]], e de uma base Cristã construir as bases para uma sociedade socialista. Previu a [[industrialização]] da [[Europa]] e sugere uma união entre as nações para acabar com as guerras.
=== Industrialismo ===
Em 1817, Saint-Simon publicou um manifesto chamado "Declaração dos Princípios" no seu trabalho intitulado "A Indústria".<ref name="Keith Taylor 1975. Pp. 158-161">Keith Taylor (ed, tr.). ''Henri de Saint Simon, 1760-1825: Selected writings on science, industry and social organization''. New York, USA: Holmes and Meier Publishers, Inc, 1975. Pp. 158-161.</ref> A declaração foi sobre os princípios de uma ideologia chamada industrialismo, que clamava pela criação de uma sociedade liderada por pessoas que ele definiu como classe industrial. A classe industrial, também referida como a classe trabalhadora, era definida como a classe formada pelas pessoas envolvidas no processo produtivo, como homens de negócio, gerentes, cientistas, banqueiros, trabalhadores manuais, etc. Ele alegava que o primeiro entrave para as necessidades da classe industrial eram as pessoas que viviam como "parasitárias", que se beneficiavam de outros, enquanto evitavam trabalhar. Ele considerou as origens dessa "classe parasitária" relacionadas ao que ele chamou de "preguiça natural da humanidade". Ele guardou o papel do governo nessa questão como de assegurador dessa produtividade e de diminuidor do ócio na sociedade. Ele era veementemente contra qualquer [[Intervencionismo|intervenção do governo na economia]] fora esses dois papéis citados, dizendo que qualquer intervenção fora dessas duas áreas faz o governo se tornar um "inimigo tirânico da indústria" e que a economia industrial iria decair, caso isso acontecesse. Saint-Simon enfatizou a necessidade do reconhecimento do mérito individual e da hierarquia do mérito na sociedade e na economia, como a sociedade tendo chefes e cientistas, para decidirem sobre o mercado e sobre o governo.  


Quando Saint-Simon falou sobre a nova sociedade, imaginou uma imensa fábrica, na qual substituiria a exploração do homem pelo homem para uma administração coletiva. Assim, a propriedade privada não caberia mais nesse novo sistema industrial. Vale notar que existiria uma pequena desigualdade e a sociedade seria perfeita depois de reformar o Cristianismo. Ainda disse que o homem não é apenas algo passivo na [[História]], pois sempre procura alterar o meio social no qual esta inserido. Essas alterações são importantes para que a sociedade seja desmembrada, quando esta sociedade funciona dentro das normas que a ela correspondam, pois não é possível colocar uma regra de uma sociedade em outra.
Bastante influenciado pelas ideias contra o privilégio social, Saint-Simon renunciou ao seu título de aristocrata e se tornou a favor de uma forma de meritocracia, tornando-se convencido que a ciência era a chave do progresso e que seria possível criar uma sociedade baseada em princípios científicos objetivos. Ele alegava que a sociedade feudal da França deveria ser abolida e transformada numa sociedade industrial.  


A regra deve combinar com a estrutura para que a sociedade industrial se desenvolva. Saint-Simon ainda mantém a ideia de uma sociedade hierarquizada, por isso a desigualdade, pois no topo estariam os diretores da indústria e de produção, engenheiros, artistas e os cientistas; na parte de baixo estariam os trabalhadores responsáveis pela execução dos projetos feito pelos inventores e diretores. Com isso, acaba prevendo o grau máximo da capacidade de produção. Este foi o primeiro a perceber que o conflito de classes estava relacionado com a economia e que seria nas mãos dos trabalhadores que o futuro seria construído, mas guiados por alguém.
As visões econômicas de Saint-Simon foram bastante influenciadas pelas visões de [[Adam Smith]], a quem Saint-Simon admirava muito e se referia como "O imortal Adam-Smith". Ele compartilhava com Adam Smith a ideia de que os impostos deveriam ser bastante reduzidos para se ter um sistema industrial mais justo. Saint-Simon pregava uma mínima intervenção do governo na economia, para que não haveria desmembramento da produtividade. Ele pregava, de maneira mais enfática que Smith, que a administração estatal da economia era parasítica e hostil para as necessidades da produção. Como o modelo de Adam Smith, o de Saint-Simon copiava os métodos científicos da astronomia: ele disse: "Os astrônomos só aceitam aqueles fatos que são verificáveis pela observação; eles escolheram o sistema que encaixou perfeitamente e, desde aqueles tempos, a ciência astronômica anda nos trilhos."


Para Saint-Simon, o vínculo da sociedade deveria repousar sobre os ideais industriais, ou seja, sobre a '''organização mais favorável a indústria'''. Nas colônias emancipadas (aqui Saint-Simon se refere à América) a classe industrial cresceu e adquiriu poder político – poder que usa para não aceitar mais um governo que atue fora dos limites impostos por ela. Saint-Simon acredita que a humanidade caminha em direção ao progresso, desde a emancipação das colônias, passando pela Reforma Protestante na Inglaterra, até as Revoluções Americana e Francesa. Ocorre, portanto, uma revolução geral, de todos os seres humanos, nações e sociedade, em direção à sua melhora. Nessa sociedade evoluída, o governo não “governaria” os homens, mas apenas garantiria as condições para o exercício dos trabalhos; não disporia de muitos recursos, pois recursos escassos são suficientes para sua empresa; não recolheria impostos, pois seus fundos seriam providos por doações voluntárias daqueles que se interessam pela manutenção das condições de trabalho (todos os trabalhadores, a sociedade em geral), que se responsabilizariam, eles próprios, pela fiscalização da destinação desses recursos.
Saint-Simon revisou a [[Revolução Francesa]] e a considerou uma mudança econômica sangrenta, com conflitos de classe. Na sua análise, a solução dos problemas que levaram à Revolução Francesa seria a criação de uma sociedade industrial onde a hierarquia do mérito e o respeito pelo [[trabalho produtivo]] deveria ser a ênfase da sociedade, e que hierarquias de hereditariedade e de militarismo decresceriam em importância na sociedade, porque elas não seriam capazes de levar a uma "sociedade produtiva".  


Saint-Simon considera que os homens que se sustentam por meio da indústria tem uma necessidade básica: a liberdade. Por essa liberdade, Saint-Simon designa o desejo desses homens de não trabalharem, e de não serem atrapalhados quando desfrutarem do que tenham produzido. Os homens somente são capazes de vencer essa “preguiça” para satisfazem a seus desejos e prazeres, e por esse motivo são impelidos a trabalhar. Há, porém, uma classe de homens que, embora não tenham vencido a preguiça e não trabalhem como os outros, desfrutam dos produtos e prazeres como se o tivessem feito. Há, porém, uma classe de homens que, embora não tenham vencido a preguiça e não trabalhem como os outros, desfrutam dos produtos e prazeres como se o tivessem feito. Saint-Simon chama a esses homens “ladrões”, sejam porque recebem ou porque tomam o que não lhes pertence.
[[Karl Marx]] identificou Saint-Simon como um socialista utópico, embora o historiador [[Alan Ryan]] considere que certos seguidores de Saint-Simon, mais do que ele mesmo, foram responsáveis pelo crescimento do socialismo utópico baseado nas ideias de Saint-Simon.


Nesse sentido, os trabalhadores precisam de uma estrutura que os livre dos riscos de não poderem desfrutar dos produtos pelos quais trabalharam, ou seja, uma estrutura que impeça que a violência e a ociosidade encontrem lugar na sociedade. A estrutura responsável por realizar tal função é o governo. No entanto, quando o governo atua fora de sua função, torna-se autoritário e tirânico e, conseqüentemente, sua ação torna-se mais nociva à indústria do que sua omissão. O objetivo da empresa, do governo ideal, de toda a sociedade, é constituir e manter uma situação de segurança da forma mais barata possível. Saint-Simon explica que foi na América que pela primeira vez vislumbrou o progresso e o fim último da sociedade, desejando o vislumbrar também em seu país. A Revolução Francesa, embora tenha se iniciado com ideais de liberdade e com um caráter industrial, deu lugar apenas à tirania e ao despotismo militar. Saint-Simon afirma que é chegado um no tempo, em que voltaram a ser discutidos os '''interesses gerais da sociedade'''.
=== Feudalismo e aristocracia ===
Em oposição ao sistema feudal e militar — uns dos principais aspectos que têm sido fortalecidos pela [[Restauração (Europa)|Restauração]] — ele advogou uma forma de socialismo tecnocrático, um arranjo no qual chefes industriais deveriam controlar a sociedade. No lugar da igreja medieval, a direção espiritual da sociedade se deslocaria para o homem da ciência. O homem que é capaz de organizar a sociedade produtiva estaria encarregado de fazer isso. O [[Alienação|conflito entre trabalho e capital]], tão presente nas ideias dos [[socialismo |socialistas tradicionais]], não está presente no trabalho de Saint-Simon, mas ele assume que os chefes que controlam a produção deveriam controlar pelo interesse da sociedade. Saint-Simon se preocupava mais com as causas da pobreza, até que ele resolveu publicar "Novo Cristianismo", que lidava com a religião, o que foi a causa da sua última desavença com [[Augusto Comte]].  


A última expressão consiste em um importante conceito para o autor. Trata-se do objeto de estudo dos escritores políticos; dos desejos últimos da sociedade dos trabalhadores; e da matéria a ser administrada pelo governo. Essa relação seria simples, se os governantes se propusessem a ouvir e colocar em prática o que afirmam os escritores políticos e os industriais. , porém, uma contradição: o governante nem sempre tem interesse em administrar adequadamente os interesses gerais. Isto é, ao passo que os industriais desejam ser governados o menos possível (dentro dos limites de atuação do governo), os governantes desejam estender ao máximo seu poder. Como Saint-Simon afirma, “assim os vemos ocuparem-se e empregarem toda sua influência não para descobrir a opinião, mas para formá-la; não para buscar pessoas que discutam, mas pessoas que aprovem e demonstrem; em uma palavra, não conselheiros, sim advogados”. Dessa forma, Saint-Simon conclui que é preciso anular esse mediador inútil e potencialmente perigoso (governo), para estabelecer relações diretas entre industriais e escritores políticos, de forma a realizar o objetivo primordial da empresa governamental: o bem comum.
=== Visões sobre a religião ===
Até a publicação de "Novo Cristianismo", Saint-Simon não se preocupava com a teologia. No seu trabalho, ele parte do ponto da crença em Deus, e o seu objetivo no tratado foi a ideia de reduzir o cristianismo até os seus elementos essenciais. Ele o fez clareando os dogmas e outros exageros ou defeitos que, segundo ele, existiam na [[Igreja Católica]] e na [[Protestante]]. Ele propõe uma fórmula para se compreender o cristianismo nesse preceito: "O papel da sociedade deveria ser lutar pelo aprimoramento da moral e da vida material das pessoas pobres; a sociedade deveria se organizar da melhor forma para atingir seus fins." Esse princípio se tornou a palavra de ordem de todo o pensamento de Saint-Simon.  


Em “Carta Oitava”, o pensador francês pergunta-se sobre a existência de um princípio geral da política. Faz sete afirmações que considera serem as mais gerais e comprovadas asserções da ciência política, a saber: a produção de coisas úteis é o único objetivo razoável a que sociedades políticas podem se propor (1); o governo sempre prejudica a indústria quando atua fora de seus limites (2); os produtores, por serem os únicos que pagam impostos, são os únicos homens úteis a sociedade e que, portanto, podem votar (3); os homens nunca podem lutar entre si sem prejudicar a produção (4); o desejo de subjugar outros povos é nocivo, pois diminui a produção (5); a moral se aperfeiçoa de forma diretamente relacionada à melhora da indústria (6); os homens devem se considerar uma sociedade de trabalhadores (7). A partir de tais considerações, Saint-Simon conclui que a ciência política pode ser unicamente compreendida e sintetizada como a “ciência da produção”.
== Publicações ==
* 1802 - ''Lettres d'un habitant de Genève à ses contemporains;''
* 1803 - ''Un rêve;''
* 1807 - ''Introduction aux travaux scientifiques du XIXème;''
* 1810 - ''Esquisse d'une nouvelle encyclopédie;''
* 1813 - ''Travail sur la gravitation universalle;''
* 1814 - ''De la réorganisation de la sociéte européene (em colaboração com A. Thierry);''
* 1813-1816 - ''Mémoires sur la science de l'homme;''
* 1817 - ''L'industrie ou discussions politiques, morales et philosophiques, dans l'intérêt de tous les hommes livrés à des travaux utiles et indépendants;''
* 1819-1820 - ''L'organisateur;''
* 1821 - ''Le système industriel;''
* 1823 - ''Le catéchisme des industriels;''
* 1825 - ''Opinions littèraires, philosophiques et industrielles;''
* 1825 - ''Nouveau christianisme - Dialogues entre un conservateur et un novateur.''


Pode-se perceber que Saint-Simon estava adquirindo uma concepção anti-igualitária e antidemocrática, em se tratando do seu aspecto religioso, pois falava que todos os homens deveriam ter os mesmos princípios. Por isso, o "novo Cristianismo" substituiria o "Cristianismo degenerado", e teria como imperativo a [[justiça social]], pois o núcleo deveria se consolidar no que seria a [[fraternidade]] do homem, resultando num mundo de homens livres.
== Ver também ==
 
== Influência ==
Saint-Simon é considerado um dos fundadores da [[Sociologia]], que estaria sendo sustentada por duas forças opostas: ''orgânicas'' (estáveis) e ''críticas'' (mudam a história). Só a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a França passava. Este autor ainda marca a ruptura com o [[Antigo Regime]]. Para Saint-Simon, a Política era agora a ciência da produção, porém a Política vê seu fim com a justiça social.
 
A obra principal de Saint-Simon é ''[[New Christianity]]'' ([[1825]]). Nele declara que a Religião tendia a melhorar a condição de vida dos mais necessitados. Ele morreu no ano da publicação desse livro, no dia [[19 de maio]]. Em três anos seus seguidores tinham desenvolvido o que podemos chamar de um culto quase religioso baseado na interpretação das suas idéias, e difundiram as suas idéias através da Europa e [[América do Norte]], influenciando socialistas e outros [[Romantismo|românticos]] do início do [[século XIX]], como [[Sainte-Beuve]], [[Victor Hugo]] e [[George Sand]].
 
== Outras obras ==
* [[1802]] - ''Lettres d'un habitant de Genève à ses contemporains;''
* [[1803]] - ''Un rêve;''
* [[1807]] - ''Introduction aux travaux scientifiques du XIXème;''
* [[1810]] - ''Esquisse d'une nouvelle encyclopédie;''
* [[1813]] - ''Travail sur la gravitation universalle;''
* [[1814]] - ''De la réorganisation de la sociéte européene (em colaboração com A. Thierry);''
* [[1813]]-[[1816]] - ''Mémoires sur la science de l'homme;''
* [[1817]] - ''L'industrie ou discussions politiques, morales et philosophiques, dans l'intérêt de tous les hommes livrés à des travaux utiles et indépendants;''
* [[1819]]-[[1820]] - ''L'organisateur;''
* [[1821]] - ''Le système industriel;''
* [[1823]] - ''Le catéchisme des industriels;''
* [[1825]] - ''Opinions littèraires, philosophiques et industrielles.''
 
=={{Bibliografia}}==


* [[A cada um segundo sua contribuição]]
{{referências}}


* IONESCU, Ghita. El pensamiento politico de Saint-Simon. Tradução de: Carlos Melchor e Leopoldo Rodríguez Regueira. Título Original: The political thought of Saint-Simon. 1976. Oxford University Press. Primeira edição em espanhol, 1983. Fondo de Cultura Economica: México, D.F., 1983. ISBN: 968-16-1595-6.
==Bibliografia==
{{Refbegin|2}}
* IONESCU, Ghita. El pensamiento politico de Saint-Simon. Tradução de: Carlos Melchor e Leopoldo Rodríguez Regueira. Título Original: The political thought of Saint-Simon. 1976. Oxford University Press. Primeira edição em espanhol, 1983. Fondo de Cultura Economica: México, D.F., 1983. ISBN 968-16-1595-6.
* NEWMAN, Michael. ''Socialism: A Very Short Introduction'' - Oxford University Press, ISBN 0-19-280431-6
* NEWMAN, Michael. ''Socialism: A Very Short Introduction'' - Oxford University Press, ISBN 0-19-280431-6
* TAYLOR, Keith. Henri Saint-Simon (1760-1825): selected writings on science, industry, and social organization. Croom Helm Ltd: London, 1975. ISBN: 0-85664-206-1. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=X8MOAAAAQAAJ&printsec=front cover&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Último acesso: [[10 de janeiro]] de [[2011]].
* TAYLOR, Keith. Henri Saint-Simon (1760-1825): selected writings on science, industry, and social organization. Croom Helm Ltd: London, 1975. ISBN 0-85664-206-1. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=X8MOAAAAQAAJ&printsec=front cover&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Último acesso: [[10 de janeiro]] de [[2011]].
* WILSON, Edmund - ''Rumo à Estação Finlândia'' - Cia das Letras.
* WILSON, Edmund - ''Rumo à Estação Finlândia'' - Cia das Letras.
{{Refend}}


 
== Ligações externas ==
=={{Ligações externas}}==
 
* [http://www.newadvent.org/cathen/13377a.htm Catholic Enciclopédya]
* [http://www.newadvent.org/cathen/13377a.htm Catholic Enciclopédya]
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Edição atual tal como às 11h03min de 3 de abril de 2022

Conde de Saint-Simon
Nascimento 17 de outubro de 1760[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Paris, França
Morte 19 de maio de 1825 (64 anos)[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]]
Paris, França
Nacionalidade francês
Escola/tradição Sansimonismo
Socialismo Utópico

Claude-Henri de Rouvroy, Conde de Saint-Simon, (Paris, 17 de outubro de 1760Paris, 19 de maio de 1825), foi um filósofo e economista francês, um dos fundadores do socialismo moderno e teórico do socialismo utópico.[1]

Ele criou uma ideologia política e econômica conhecida como sansimonismo, que alegava que as necessidades de uma classe industrial, que ele também chamava de classe trabalhadora, precisavam ser reconhecidas e satisfeitas para se ter uma sociedade eficaz e uma economia eficiente.[2] Diferentemente das concepções nas sociedades industrializadas de uma classe trabalhadora ser apenas constituída de trabalhadores manuais, a concepção dessa classe de Saint-Simon, no final do século XVIII, incluía todas as pessoas envolvidas no trabalho produtivo que contribuíam para a sociedade, incluindo empresários, gerentes, cientistas, banqueiros, além de trabalhadores manuais dentre outros. Ele dizia que a principal ameaça às necessidades da classe industrial era outra classe a que ele se referia como classe ociosa, que incluía pessoas capazes que preferiam ser parasitas e se beneficiar do trabalho de outras pessoas, enquanto procuravam evitar trabalhar.[2] Saint-Simon enfatizou a necessidade de reconhecimento do mérito do indivíduo e a necessidade de hierarquia de mérito na sociedade e na economia, como a sociedade que possui organizações hierárquicas de gerentes e cientistas com base no mérito para serem os tomadores de decisão no governo.[3] Ele criticou fortemente qualquer expansão da intervenção do governo na economia que fosse além de garantir que não houvesse nenhum obstáculo ao trabalho produtivo e reduzir a ociosidade na sociedade, considerando a intervenção além dessas muito intrusiva.[2]

Possui algumas obras de inspiração religiosa. Nesse final de sua vida obteve uma vida tranquila economicamente, graças às pessoas que participavam no seu grupo.

Influência

Saint-Simon é considerado um dos fundadores do socialismo, que estaria sendo sustentado por duas forças opostas: orgânicas (estáveis) e críticas (mudam a história). Só a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a França passava. Este autor ainda marca a ruptura com o Antigo Regime. Para Saint-Simon, a política era agora a ciência da produção, porém a política vê seu fim com a justiça social.

A obra principal de Saint-Simon é o livro Nouveau Christianisme (Novo Cristianismo) (1825). Nele declara que a religião tendia a melhorar a condição de vida dos mais necessitados. Ele morreu no ano da publicação desse livro, no dia 19 de maio. Em três anos seus seguidores tinham desenvolvido o que podemos chamar de um culto quase religioso baseado na interpretação das suas ideias, e difundiram as suas ideias através da Europa e América do Norte, influenciando socialistas e outros românticos do início do século XIX, como Sainte-Beuve, Victor Hugo e George Sand.

Ideias

Industrialismo

Em 1817, Saint-Simon publicou um manifesto chamado "Declaração dos Princípios" no seu trabalho intitulado "A Indústria".[4] A declaração foi sobre os princípios de uma ideologia chamada industrialismo, que clamava pela criação de uma sociedade liderada por pessoas que ele definiu como classe industrial. A classe industrial, também referida como a classe trabalhadora, era definida como a classe formada pelas pessoas envolvidas no processo produtivo, como homens de negócio, gerentes, cientistas, banqueiros, trabalhadores manuais, etc. Ele alegava que o primeiro entrave para as necessidades da classe industrial eram as pessoas que viviam como "parasitárias", que se beneficiavam de outros, enquanto evitavam trabalhar. Ele considerou as origens dessa "classe parasitária" relacionadas ao que ele chamou de "preguiça natural da humanidade". Ele guardou o papel do governo nessa questão como de assegurador dessa produtividade e de diminuidor do ócio na sociedade. Ele era veementemente contra qualquer intervenção do governo na economia fora esses dois papéis citados, dizendo que qualquer intervenção fora dessas duas áreas faz o governo se tornar um "inimigo tirânico da indústria" e que a economia industrial iria decair, caso isso acontecesse. Saint-Simon enfatizou a necessidade do reconhecimento do mérito individual e da hierarquia do mérito na sociedade e na economia, como a sociedade tendo chefes e cientistas, para decidirem sobre o mercado e sobre o governo.

Bastante influenciado pelas ideias contra o privilégio social, Saint-Simon renunciou ao seu título de aristocrata e se tornou a favor de uma forma de meritocracia, tornando-se convencido que a ciência era a chave do progresso e que seria possível criar uma sociedade baseada em princípios científicos objetivos. Ele alegava que a sociedade feudal da França deveria ser abolida e transformada numa sociedade industrial.

As visões econômicas de Saint-Simon foram bastante influenciadas pelas visões de Adam Smith, a quem Saint-Simon admirava muito e se referia como "O imortal Adam-Smith". Ele compartilhava com Adam Smith a ideia de que os impostos deveriam ser bastante reduzidos para se ter um sistema industrial mais justo. Saint-Simon pregava uma mínima intervenção do governo na economia, para que não haveria desmembramento da produtividade. Ele pregava, de maneira mais enfática que Smith, que a administração estatal da economia era parasítica e hostil para as necessidades da produção. Como o modelo de Adam Smith, o de Saint-Simon copiava os métodos científicos da astronomia: ele disse: "Os astrônomos só aceitam aqueles fatos que são verificáveis pela observação; eles escolheram o sistema que encaixou perfeitamente e, desde aqueles tempos, a ciência astronômica anda nos trilhos."

Saint-Simon revisou a Revolução Francesa e a considerou uma mudança econômica sangrenta, com conflitos de classe. Na sua análise, a solução dos problemas que levaram à Revolução Francesa seria a criação de uma sociedade industrial onde a hierarquia do mérito e o respeito pelo trabalho produtivo deveria ser a ênfase da sociedade, e que hierarquias de hereditariedade e de militarismo decresceriam em importância na sociedade, porque elas não seriam capazes de levar a uma "sociedade produtiva".

Karl Marx identificou Saint-Simon como um socialista utópico, embora o historiador Alan Ryan considere que certos seguidores de Saint-Simon, mais do que ele mesmo, foram responsáveis pelo crescimento do socialismo utópico baseado nas ideias de Saint-Simon.

Feudalismo e aristocracia

Em oposição ao sistema feudal e militar — uns dos principais aspectos que têm sido fortalecidos pela Restauração — ele advogou uma forma de socialismo tecnocrático, um arranjo no qual chefes industriais deveriam controlar a sociedade. No lugar da igreja medieval, a direção espiritual da sociedade se deslocaria para o homem da ciência. O homem que é capaz de organizar a sociedade produtiva estaria encarregado de fazer isso. O conflito entre trabalho e capital, tão presente nas ideias dos socialistas tradicionais, não está presente no trabalho de Saint-Simon, mas ele assume que os chefes que controlam a produção deveriam controlar pelo interesse da sociedade. Saint-Simon se preocupava mais com as causas da pobreza, até que ele resolveu publicar "Novo Cristianismo", que lidava com a religião, o que foi a causa da sua última desavença com Augusto Comte.

Visões sobre a religião

Até a publicação de "Novo Cristianismo", Saint-Simon não se preocupava com a teologia. No seu trabalho, ele parte do ponto da crença em Deus, e o seu objetivo no tratado foi a ideia de reduzir o cristianismo até os seus elementos essenciais. Ele o fez clareando os dogmas e outros exageros ou defeitos que, segundo ele, existiam na Igreja Católica e na Protestante. Ele propõe uma fórmula para se compreender o cristianismo nesse preceito: "O papel da sociedade deveria ser lutar pelo aprimoramento da moral e da vida material das pessoas pobres; a sociedade deveria se organizar da melhor forma para atingir seus fins." Esse princípio se tornou a palavra de ordem de todo o pensamento de Saint-Simon.

Publicações

  • 1802 - Lettres d'un habitant de Genève à ses contemporains;
  • 1803 - Un rêve;
  • 1807 - Introduction aux travaux scientifiques du XIXème;
  • 1810 - Esquisse d'une nouvelle encyclopédie;
  • 1813 - Travail sur la gravitation universalle;
  • 1814 - De la réorganisation de la sociéte européene (em colaboração com A. Thierry);
  • 1813-1816 - Mémoires sur la science de l'homme;
  • 1817 - L'industrie ou discussions politiques, morales et philosophiques, dans l'intérêt de tous les hommes livrés à des travaux utiles et indépendants;
  • 1819-1820 - L'organisateur;
  • 1821 - Le système industriel;
  • 1823 - Le catéchisme des industriels;
  • 1825 - Opinions littèraires, philosophiques et industrielles;
  • 1825 - Nouveau christianisme - Dialogues entre un conservateur et un novateur.

Ver também

Referências

  1. Casper Hewett
  2. 2,0 2,1 2,2 Keith Taylor (ed, tr.). Henri de Saint Simon, 1760-1825: Selected writings on science, industry and social organization. New York, USA: Holmes and Meier Publishers, Inc, 1975. pp. 158–161.
  3. Alan Ryan. On Politics. Book II. 2012. pp. 647–651.
  4. Keith Taylor (ed, tr.). Henri de Saint Simon, 1760-1825: Selected writings on science, industry and social organization. New York, USA: Holmes and Meier Publishers, Inc, 1975. Pp. 158-161.

Bibliografia

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  • IONESCU, Ghita. El pensamiento politico de Saint-Simon. Tradução de: Carlos Melchor e Leopoldo Rodríguez Regueira. Título Original: The political thought of Saint-Simon. 1976. Oxford University Press. Primeira edição em espanhol, 1983. Fondo de Cultura Economica: México, D.F., 1983. ISBN 968-16-1595-6.
  • NEWMAN, Michael. Socialism: A Very Short Introduction - Oxford University Press, ISBN 0-19-280431-6
  • TAYLOR, Keith. Henri Saint-Simon (1760-1825): selected writings on science, industry, and social organization. Croom Helm Ltd: London, 1975. ISBN 0-85664-206-1. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=X8MOAAAAQAAJ&printsec=front cover&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Último acesso: 10 de janeiro de 2011.
  • WILSON, Edmund - Rumo à Estação Finlândia - Cia das Letras.

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Ligações externas


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