Vivendo e Não Aprendendo | |||||||
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Ira!.jpg | |||||||
Álbum de estúdio de Ira! | |||||||
Lançamento | 25 de agosto de 1986 | ||||||
Gravação | faixas 1 a 8 gravadas no estúdio Nas Nuvens (Rio de Janeiro) em maio e junho de 1986; faixas 9 e 10 gravadas ao vivo na Brodway (São Paulo) em 3 de maio de 1986. | ||||||
Gênero(s) | Mod revival, pós-punk,[1] rock alternativo | ||||||
Duração | 48:00 | ||||||
Idioma(s) | (em português) | ||||||
Formato(s) | LP, K7, CD [1] | ||||||
Gravadora(s) | WEA [1] | ||||||
Produção | Pena Schimdt, Liminha, Vitor Farias, Paulo Junqueiro e Ira! [1] | ||||||
Cronologia de Ira! | |||||||
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Singles de Vivendo e Não Aprendendo | |||||||
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Vivendo e Não Aprendendo é o segundo álbum da banda de rock brasileira Ira!, lançado pela WEA em agosto de 1986. O álbum foi gravado entre maio e junho de 1986, no estúdio Nas Nuvens, (Rio de Janeiro) e as faixas 9 e 10 gravadas ao vivo na Brodway, em (São Paulo) em 3 de maio de 1986.[2][3] Posteriormente, em dezembro de 2000, foi remasterizado e lançado em CD (foi a 2ª edição do disco no referido formato).[4] Na época, era vendido por 85,00 Cz$ (cruzados). Este álbum entrou na lista dos 100 maiores discos da música brasileira pela Rolling Stone Brasil. ficando na 94ª posição.[5]
História
Considerado por muitos fãs como seu melhor álbum, e também por especialistas como o melhor álbum nacional dos anos 80 (por conter muitas faixas que se tornariam grandes sucessos), Vivendo e Não Aprendendo era o mais famoso e o também o mais bem sucedido comercialmente disco da banda até o lançamento do Acústico MTV em 2004. O disco de 1986, segundo o jornalista Ricardo Alexandre em seu livro Dias de Luta (cujo nome foi tirado, obviamente, de um dos sucessos deste álbum), vendeu 180 mil exemplares à época de seu lançamento, apesar de outras fontes divergirem quanto à isto (estimando as vendagens entre 150 e 250 mil cópias). Por mais de dez anos, foi o único álbum do Ira! a ter alcançado o status de disco de ouro.[6][7]
O Ira! não teve relação fácil com o produtor Liminha durante as gravações do seu segundo disco no estúdio Nas Nuvens no Rio de Janeiro. O grupo desejava para o álbum um padrão sonoro que lembrasse o do conjunto inglês The Jam, uma de suas mais notórias influências, porém Liminha julgava como "desafinada" a sonoridade que Edgard Scandurra e cia. queriam como referência. Essa combinação de discordância estética, provocações e de constante interferência do produtor no processo criativo do grupo gerou uma relação tão tensa em estúdio que foi preciso transferir os trabalhos restantes de gravação e a mixagem para São Paulo, ficando sob a supervisão do velho conhecido Pena Schmidt.[7][8]
"Gritos na Multidão" e "Pobre Paulista", gravadas para o obscuro compacto de estreia da banda em 1984, reapareceriam em Vivendo e Não Aprendendo, porém, em versões gravadas durante um show. A WEA tinha pretensões de lançar ambas como músicas de trabalho do disco, e pediu para que o grupo as regravasse. O Ira! recusou o pedido inicialmente, mas acabou por registrar novamente as canções, só que não em estúdio. O argumento era de que não seria possível fazer playback, recurso muito usual em programas televisivos da época, de canções que eram registradas ao vivo. Uma demo de "Pobre Paulista" aparece como faixa bônus da segunda edição em CD do álbum, lançada em 2000.
O show do lançamento do LP se deu em uma efusiva apresentação na Praça do Relógio, no campus da USP em 11 de Outubro de 1986 (citado como um dos cem melhores shows já feitos no Brasil em uma edição especial da revista Bizz, em 2005), diante de uma plateia estimada em 40 mil pessoas, entre elas, estavam Renato Russo, líder da Legião Urbana e Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, artistas da mesma geração do Ira!, com abertura das bandas Vultos e Violeta de Outono. O êxito do disco é atribuído a três faixas: "Envelheço na Cidade", "Dias de Luta" e, especialmente, "Flores em Você". Construída a partir de um arranjo de um quarteto de cordas e um violão tocado por Edgard acompanhando o vocal de Nasi, foi tema de abertura da novela global O Outro, tendo sido a 13ª canção mais executada nas rádios brasileiras no ano de 1987.[9] "Flores em Você" tem um arranjo altamente influenciado por "Eleanor Rigby" dos Beatles e por "Smithers-Jones" do The Jam.[10] Terá sido justamente por causa de sua gravação que o grupo rompeu definitivamente com Liminha. Quando Nasi gravou os vocais da canção, o produtor perguntou como quem queria escarnecer da sonoridade do grupo: "e aí, qual é a sensação de cantar acompanhado de um conjunto afinado?", se referindo ao quarteto de cordas.
Ficou célebre, neste período, o boicote do grupo ao especial de Natal de 1986 do programa Cassino do Chacrinha. Na época, Vivendo e Não Aprendendo já estava atingindo a marca de 100 mil cópias vendidas, devido aos sucessos de "Envelheço na Cidade" e "Dias de Luta", e a banda foi convidada para fazer um playback usando famigerados gorros de Papai Noel. Em sua biografia A Ira de Nasi, publicada em 2012, o vocalista comenta que a gota d'água pra banda não participar no especial, foi ver o cantor romântico Byafra levando uma bronca de Chacrinha, porque durante sua aparição no programa, o crooner tirou o gorrinho da cabeça. No programa também participaram as bandas Titãs, Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Zero, entre outros artistas.
Também houve a polêmica apresentação feita na primeira edição do festival Hollywood Rock, na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, em 6 de Janeiro de 1988. Quando chegou ao Rio, o Ira! se prepararia para ensaiar no estúdio Nas Nuvens (que era de propriedade de Liminha, o desafeto da banda àquela época), porém os componentes perceberam que os Titãs, escalados para tocar no mesmo dia, já ocupavam o local, o que já deixou a banda com sinais de nervosismo, fator que lhes acompanharia ao longo do espetáculo (iniciado com 35 minutos de atraso). A pouca receptividade do público e os problemas relacionados ao retorno de som também atrapalharam o desempenho do Ira! no palco. A situação piorou quando os amplificadores foram desligados antes de a banda executar "Pobre Paulista", que costumava ser a música de encerramento de seus shows. Edgard, insatisfeito, atirou a própria guitarra contra o palco com força, destruindo o instrumento diante da plateia. Já na apresentação feita em São Paulo pelo mesmo festival, uma semana depois, a banda se empenhou em fazer um bom show e o mesmo ocorreu sem maiores transtornos. Até à sua aparição na terceira edição do Rock In Rio, ocorrida em 2001, essa seria a última apresentação do Ira! em um grande festival de música.[11]
Capa
A capa do disco traz quatro desenhos de cada um dos integrantes, cada um assinado por uma pessoa diferente: Ana Ciça (André Jung), Dora Longo Bahia (Edgard), Paulo Monteiro (Ricardo Gaspa) e Camila Tajber (Nasi). A ilustração de Ana foi a primeira a ser feita, seguida pela de Dora; foi só aí que a banda decidiu encomendar ilustrações dos outros dois integrantes e compor uma capa com elas.[12]
A fonte usada no encarte imita a fonte usada pela editora Ebal em suas publicações de quadrinhos. Também no encarte, trechos da partitura usada pelo quarteto de cordas em "Flores em Você" estão espalhados.[12]
Na reprodução da letra de "Nas Ruas", a palavra "cifrão" aparece grafada como "$ifrão"; originalmente, a banda havia redigido a letra achando que "cifrão" era com "s" em vez de "c". Para disfarçar, desenharam traços em cima do "s" para imitar o símbolo financeiro.[12]
O nome do disco aparece somente na contracapa.[12]
A polêmica sobre "Pobre Paulista"
Lado A do compacto, "Pobre Paulista" foi composta por Edgard Scandurra aos 17 anos, consistindo numa crítica à opressão dos governantes de sua cidade natal. Mas a canção desperta dúvidas (ou o furor) de pessoas quanto aos versos da terceira estrofe que, numa interpretação superficial, passam a ideia de bairrismo e preconceito contra as populações de migrantes provenientes de outras regiões do Brasil que encontram residência e trabalho em São Paulo - notadamente, indivíduos oriundos das regiões Norte e Nordeste [7][13]
“ Não quero ver mais essa gente feia / Não quero ver mais os ignorantes / Eu quero ver gente da minha terra / Eu quero ver gente do meu sangue.[14] ”
Edgard e Nasi desmentem tal versão, atestando que não há conotações ao fascismo no trecho, e sim uma crítica "camuflada" às pessoas que apoiavam a ditadura - seriam essas as "feias e ignorantes", e não pessoas de outras cidades.[13][15][16][17]
Alinhamento de faixas
Todas as faixas compostas por Edgard Scandurra, exceto onde estiver indicado.
Lado A
Lado B
Faixas bônus (Edição remasterizada, 2000)
Formação
- Nasi - vocal
- Edgard Scandurra - guitarra e violão
- Ricardo Gaspa - baixo
- André Jung - bateria
Participações especiais
- Mathias Capovilla: Trombone (em "Nas Ruas")
- Ana Maria Machado: Guitarra (em "Gritos na Multidão" e em "Pobre Paulista")
- Sergio Luiz: guitarra solo
Cordas em Flores em Você
- Jaques Morelenbaum: Violoncelo
- Michel Bessler: Violoncelo
- Bernardo Bessler: Violoncelo
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 Discogs. «Ira! – Vivendo E Não Aprendendo (CD)». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Mundo Ira!. «Vivendo e Não Aprendendo (1986)». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Discogs. «Ira! – Vivendo E Não Aprendendo» (em inglês). Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ CD Universe. «Ira - Vivendo E Nao Aprendendo Audio CD» (em inglês). Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Rolling Stones Brasil (13 de outubro de 2007). «Os 100 maiores discos da música brasileira». Arquivado do original em 8 de fevereiro de 2008
- ↑ Luiz Felipe Carneiro (26 de março de 2009). SRZD http://www.sidneyrezende.com/noticia/34267. Consultado em 27 de janeiro de 2013 Em falta ou vazio
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(ajuda) - ↑ 7,0 7,1 7,2 Lucas Troglio (30 de julho de 2012). «Vivendo e Não Aprendendo - Ira». Whiplash.net. Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ beatrix.pro.br. «225 - Ira! - Vivendo e Não Aprendendo». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Listagem do Ano
- ↑ Violeta de Outono. «Biografia Cronológica : Family Tree». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Alzer, Luiz André (2004). Almanaque anos 80. 8. [S.l.]: Ediouro Publicações. p. 125. 296 páginas. ISBN 8500015322
- ↑ 12,0 12,1 12,2 12,3 «Arte na Capa / Vivendo E Não Aprendendo - Ira!». Canal Brasil. Grupo Globo. 24 de outubro de 2017. Consultado em 12 de fevereiro de 2021
- ↑ 13,0 13,1 R7 Entretenimento (25 de janeiro de 2011). «Veja artistas que homenagearam SP». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Letras.mus.br. «Pobre Paulista». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Revista Trip. «Entrevista de Nasi a Revista Trip» (html). Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ Projeto Autobahn. «Notorious: Ira! - Vivendo e Não Aprendendo». Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ SPresso SP (13 de julho de 2012). «Dia Mundial do Rock: O rock sobre São Paulo». Consultado em 27 de janeiro de 2013
Bibliografia
- DAPIEVE, Arthur. BRock - O Rock Brasileiro dos Anos 80. 3a. Ed. São Paulo: Editora 34, 2000.
- ALEXANDRE, Ricardo. Dias de Luta. São Paulo: DBA Artes Gráficas, 2002.
Ligações externas
- «Vivendo e Não Aprendendo no site Mundo Ira» (em português)