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Umbigada

Umbigada é uma dança afro-brasileira praticada nos quilombos, criada em meados do século XIX.[1] Seu nome apresenta a dança, os escravizados que possuíam roupas curtas, geralmente os mais adultos (com as roupas mais apertadas) eram os que mais sabiam dançar, logo os que dançavam estavam sempre de umbigo de fora.

Atualmente, no Estado de São Paulo nomeia-se umbigada à dança comemorativa ou tributo de terreiro, praticada pelos remanescentes das "Assombrosas" Senzalas Paulistas. Organizados em duas fileiras, dispostas frente à frente, inicialmente bem separadas por até 10 metros, os dançadores de ambos os sexos evoluem em reverência, até um ligeiro contato físico dos quadris.

História

A Umbigada é uma dança que chegou ao o Brasil a partir do Século XVII, junto com os negros africanos, trazidos à força como escravizados pelos Colonizadores portugueses. Nessa época, os portugueses aplicavam o termo batuque qualquer tipo de música percussiva ou dança praticada pela comunidade negra.

A coreografia apresenta passos com nomes específicos: "visagens" ou "micagens", "peão parado" ou "corrupio", "garranchê", "vênia", "leva-e-traz" ou "cã-cã". Os passos são executados por pares soltos que, saindo em fileiras, circulam livremente pelo terreiro. Mas, o elemento principal da coreografia é a "umbigada", ou seja, quando o ventre da mulher bate à altura do ventre do homem. Os dançadores dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços e, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o corpo para trás e dão vigorosas batidas com os ventres. Esse gesto é repetido ao fim de todos os passos. No batuque não há batidas de pés e um batuqueiro não dança sempre com a mesma batuqueira. Segundo a tradição, Após três umbigadas ele deve dançar com outra. Os batuqueiros primeiramente dão três umbigadas, e voltam aos seus lugares primitivos, depois são as mulheres que vão até os homens para dar umbigadas. Um ponto ou "moda" é cantado e dançado durante 10 a 20 minutos. Como é uma dança ritual de procriação, tradicionalmente não é permitido que o pai dance com a filha. Também não é aconselhável se dançar: - pai com filha, padrinho com afilhada, compadre com comadre, madrinha com afilhado, avó com neto ou batuqueiro jovem. Se, por descuido, um batuqueiro bate uma umbigada na afilhada, essa lhe diz: "Sua bênção padrinho!".

Neste caso, o batuqueiro "parente" da as mãos alternadamente para a parente, até perto da fileira onde estão os batuqueiros, sem batucar. O encerramento ou último parte da dança é chamada de "leva-e-traz". O casal de batuqueiros evolui de uma fileira a outra (ida e volta) até a mudança de par.

Um batuqueiro solista que também e chamado de "modista" faz "poesia" ou "décima". Outras vezes, cantando em determinada "linha", em dado momento quanto os demais começam a repetir aquela quadra ou "linhada dupla de versos". A fileira de dançadores homens é levado pelo "modista" até onde estão as mulheres. Essas aprendem logo a melodia e palavras. Quando "afirmam o ponto", ou seja, decoram, repetindo texto e música, o primeiro a dar umbigada é o "modista'. Os demais batuqueiros começam a dançar. Dão umbigadas sempre presos ao ritmo dos instrumentos de percussão que acompanha a cantoria: O tambu, Quinjengue e matraca que são tocados freneticamente. O Modista empunha um instrumento, espécie de chocalho chamado "Guaiá" que marca o rítimo das trovas.

Semba - Origem do Samba

Segundo a descrição de Alfredo Sarmento, em Luanda e outros distritos de Angola, "o batuque consiste também num círculo formado pelos dançadores, indo para o meio um homem ou uma mulher, que, depois de executar vários passos, vão dar uma umbigada, a que chamam de "semba", na pessoa que escolhe, a qual vai para o meio do círculo, substituindo-o". Foi essa umbigada ou "semba" de onde provavelmente se originou o termo "samba", de início tomado como sinônimo de batuque. Nos primeiros tempos da escravidão, a dança profana dos negros escravizados era o similar perfeito do primitivo batuque africano, descrito pelos viajantes e pesquisadores. Batuque e samba tornaram-se dois termos generalizados para designar a dança profana dos negros, no Brasil. Mas, em outros pontos, tomavam designações regionais, por influência desta ou daquela tribo negra, que forneceu um maior contingente de escravizados a esses pontos.

Ainda nos dias atuais podemos encontrar o Batuque Paulista ou Batuque de Umbigada com mais intensidade nas cidades da região Campineira do Estado de São Paulo: Tietê, Capivari, Piracicaba e Rio Claro, e na Grande São Paulo, em Barueri, que resgatou recentemente esta manifestação que era praticada pelo Mestre Aggêo Pires (1908-1977)nos anos de 1970 no município.

Fontes pesquisadas

  • ANDRADE, Mário de. Ensaios sobre a música brasileira. São Paulo: Martins, 1962.
  • ANDRADE, Mário de. O baile das quatro artes. 3. ed. São Paulo: Martins; Brasília: INL, 1975.
  • ANDRADE, Mário de. Música de feitiçaria no Brasil. 2. ed. Organização e notas de Oneyda Alvarenga. Belo Horizonte: Itatiaia, 1983.
  • ANDRADE, Mário de. Os cocos. 2. ed. Organização e notas de Oneyda Alavarenga. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.
  • VOLPATO, Rosane. Folguedos Tradicionais
  • CARNEIRO, Edison. Samba de umbigada. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1961.
  • CARNEIRO, Edison. Folguedos tradicionais. 2. ed. Rio de Janeiro: FUNARTE/INF, 1982
  • CARNEIRO, Edison. Antologia do negro brasileiro. Ediouro
  • CARNEIRO, Edison. Ladinos e Crioulos. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira. Série Retratos do Brasil, vol. 28
  • CARNEIRO, Edison. A sabedoria popular. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura / Instituto Nacional do Livro, 1957. Biblioteca de Divulgação Cultural, série A, XI
  • CARNEIRO, Sandra Maria Corrêa de Sá. Balão no céu, alegria na terra. Rio de Janeiro, FUNARTE, 1986. Cadernos de folclore, 35
  • RAMOS, Arthur. O folclore negro do Brasil. 2. ed. São Paulo: Livraria-Editora da Casa do Estudante do Brasil, 1954.
  • RAMOS, Arthur. Introdução à antropologia brasileira: as culturas negras. Rio de Janeiro: CEB/Guanabara,1971. (Coleção Arthur Ramos, 3).
  • RAMOS, Arthur. Folclore Nacional II
  • ARAÚJO, Alceu Maynard. Do batuque às Escolas de Samba
  • MUNIZ Jr., J. Folclore de São Paulo
  • TINHORÃO, J. R. Os sons dos negros no Brasil - cantos, danças, folguedos: origens,
  • LIMA, Rossini Tavares de [2]

Referências

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