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Uanhenga Xitu

Predefinição:Info/Escritor Uanhenga Xitu é o pseudónimo literário do escritor angolano Agostinho André Mendes de Carvalho (Ícolo e Bengo, Angola, 29 de Agosto de 1924 - Luanda, Angola, 13 de Fevereiro de 2014).[1][2] Nos últimos anos, tem sido objeto de estudos científicos e homenagens, e recebeu homenagens em território angolano e outros países.[3]

Biografia

Nascido na sanzala de Calomboloca, no município de Ícolo e Bengo, província de Luanda[4], Agostinho fez os seus estudos primários e secundários em Luanda.[2] Mais tarde, ainda em Luanda, forma-se em enfermagem, tendo exercido a profissão durante vários anos no posto administrativo de Mungo.[2][5]

Além da enfermagem, sua profissão formal, exerceu clandestinamente atividades políticas, visando a independência de Angola, no âmbito daquilo que viria a ser chamado o "Processo dos 50".[6][7] Por conseguinte, foi preso pela PIDE em 1959, no seguimento da detenção no aeroporto de Luanda.[2] Foi desterrado para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde ficou de 1962 a 1970.[2]

Foi julgado pelo Tribunal Militar e condenado a doze anos de prisão maior, medidas de segurança de seis meses a três anos prorrogáveis e perda de direitos políticos por quinze anos. Na prisão começou a escrever as suas histórias.

Em liberdade, manteve a sua actividade politica e depois de alcançada a independência de Angola, exerceu as funções de Ministro da Saúde[4], Comissário provincial de Luanda e Embaixador da República Popular de Angola na Polónia[3] e na RDA[8][2] - onde, por sinal, chegou a estudar Ciências Políticas. Foi, ainda, deputado à Assembleia Nacional pelo MPLA[4], posteriormente vindo a ser "reformado" por motivos de idade não mais compatível ao exercício da função.[3]

Em 13 de Fevereiro de 2014, aos 89 anos, Uaenhenga Xitu morre por motivo de doença.[4]

Origem do pseudónimo

Em entrevista com Ana Lopes de Sá, Agostinho Mendes de Carvalho explicou que o nome Uanhenga Xitu é de origem quimbunda, sendo que xitu significa literalmente «carne» e uanhenga significa «andar com alguma coisa ao pendurão», sendo que a expressão «uanhenga xitu» veicula uma noção idiomática de «os poderosos contam sempre com inimigos à espreita» ou de que «o poder desperta o ódio nos outros».[5]

Bibliografia

Eminente contador de ‘histórias’ populares, a narrativa de Uanhenga Xitu, está despida do rigor literário, pois a preocupação primária do autor é estabelecer uma ligação semiótica com o seu povo, que o estimula a escrever.

Uanhenga Xitu, enquanto escritor, nasce na prisão, impelido pelo desejo de preservação memorialística do passado para conhecimento das gerações futuras[9], bem como pelo encorajamento dos companheiros de cela, para que escrevesse. Os textos escritos no cárcere, assestam um tempo e um espaço primordiais para o autor: a infância ou a juventude, na sua terra natal, assim como as histórias presenciadas por si, em primeira mão, e as estórias escutadas, na tradição oral local.[10].

Foram estas vivências na senzala transformou-o num homem solidário e interessado com as necessidades humanas. Numa entrevista, Uanhenga Xitu afirmou que "o que me preocupa é a situação social do povo".[1]

Em 2006, recebe a distinção do Prémio de Cultura e Artes na categoria de literatura pela qualidade do conjunto da sua obra literária, causando-lhe uma enorme surpresa e dando-lhe lugar na lista de melhores autores da história literária angolana.[1]

Obras

  • Mestre Mestre Tamoda Tamoda (1974)
  • Mestre Tamoda e Outros Contos (1977)
  • Manana (1974)
  • Maka na Sanzala (1979)
  • Vozes na Sanzala (Kahitu) (1976)
  • Mungo: Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem (1980)[6]
  • Os Discursos de "Mestre" Tamoda (1984)[11]
  • Bola com Feitiço (1974)
  • O Ministro (1989)
  • Cultos Especiais (1997)
  • Meu Discurso (1974)

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 Venâncio, José Carlos (1 de dezembro de 2013). «Laudatio de Agostinho André Mendes de Carvalho (Uanhenga Xitu), escritor e nacionalista angolano». Revista Angolana de Sociologia (12): 117–123. ISSN 1646-9860. doi:10.4000/ras.773. Consultado em 1 de maio de 2022 
  2. 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 Infopédia. «Uanhenga Xitu - Infopédia». Infopédia - Porto Editora (em português). Consultado em 1 de maio de 2022 
  3. 3,0 3,1 3,2 Venâncio, José Carlos (1 de dezembro de 2013). «Laudatio de Agostinho André Mendes de Carvalho (Uanhenga Xitu), escritor e nacionalista angolano». Revista Angolana de Sociologia (12): 117–123. ISSN 1646-9860. doi:10.4000/ras.773. Consultado em 13 de maio de 2022 
  4. 4,0 4,1 4,2 4,3 RDP-África, RTP, Rádio e Televisão de Portugal-. «Morreu Agostinho Mendes de Carvalho `Uanhenga Xitu` - Noticias Africa - RDP África». www.rtp.pt (em português). Consultado em 1 de maio de 2022 
  5. 5,0 5,1 Santos Nascimento, Washington (2013). Gentes do Mato: Os "Novos Assimilados" em Luanda (1926 - 1961) (PDF). São Paulo: Universidade de São Paulo. p. 80. 235 páginas 
  6. 6,0 6,1 Sá, Ana Lúcia (2012). A ruralidade na narrativa Angolana do século XX: elemento de construção da nação (em português). Kilombelombe, Angola: Kilombelombe. p. 75. 698 páginas. ISBN 9898368233 
  7. Cunha, Anabela (1 de dezembro de 2011). «"Processo dos 50": memórias da luta clandestina pela independência de Angola». Revista Angolana de Sociologia (em português) (8): 87–96. ISSN 1646-9860. doi:10.4000/ras.543. Consultado em 1 de maio de 2022 
  8. Sá, Ana Lúcia (2012). A ruralidade na narrativa Angolana do século XX: elemento de construção da nação (em português). Kilombelombe, Angola: Kilombelombe. p. 218. 698 páginas. ISBN 9898368233 
  9. Sá, Ana Lúcia (2012). A ruralidade na narrativa Angolana do século XX: elemento de construção da nação (em português). Kilombelombe, Angola: Kilombelombe. p. 217. 698 páginas. ISBN 9898368233 
  10. Sá, Ana Lúcia (2012). A ruralidade na narrativa Angolana do século XX: elemento de construção da nação (em português). Kilombelombe, Angola: Kilombelombe. p. 13. 698 páginas. ISBN 9898368233 
  11. Xitu, Uanhenga (1984). Os discursos do "Mestre" Tamoda. Luanda: Mayamba. 188 páginas. ISBN 9789898370105 

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