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Textualidade

Textualidade é um conjunto de características que fazem com que um texto seja considerado como tal, e não como um amontoado de palavras e frases. Uma definição alternativa apontaria textualidade como uma premissa adotada pelo interlocutor (nessa instância o termo não é ligado ao texto, mas aos agentes do processo comunicativo), baseada em seus prévios conhecimentos estruturais e funcionais de texto, que permite através da consideração de vários fatores realizar a textualização de uma mensagem em determinada situação comunicativa.

Dois blocos de sete fatores, segundo Beaugrande e Dressler, são os responsáveis pela textualidade de qualquer discurso:

  • Fatores semântico/formal (coerência e coesão);

A coerência é o que faz um texto ser lógico. Ela não está pronta no texto: deve ser construída pelos interlocutores. Essa construção depende dos fatores pragmáticos, explicados abaixo. Da mesma forma, a coesão também passa por um processo de co-construção, na medida em que o interlocutor relaciona os elementos linguísticos para dar significado ao texto. Coesão está mais ligada aos elementos linguísticos e coerência às ideias. Se o leitor conseguir textualizar o texto da maneira como o autor pretendia ao escrevê-lo, pode-se dizer que ele é coerente e coeso. Se as ideias fizerem sentido naquele contexto para o público a que se destina, o texto está coerente e coeso.

  • Fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade).

A intencionalidade de um texto é aquilo a que ele se propõe: qual o objetivo do que o autor está escrevendo?

Em contrapartida existe a aceitabilidade: o leitor aceitará, ou seja, entenderá (ou não) aquilo que o autor pretendia comunicar por meio de seu texto?

A situacionalidade é o contexto em que o texto é escrito e em que será veiculado. O autor precisa considerar as particularidades de época e de lugar para escrever seu texto, de modo que ele fique adequado a determinada situação. Esse fator é um exemplo de como todos os outros fatores estão relacionados: o texto só terá aceitabilidade, caso ele esteja adequado à situação para a qual foi escrito.

A informatividade consiste no grau de novidade que o texto apresenta. É preciso que o texto seja escrito por um motivo, ou seja, para transmitir algum tipo de informação. O leitor terá tanto mais interesse no texto - e, assim, irá aceitá-lo melhor - à medida que ele lhe fornecer informações novas. Por outro lado, se o índice de informatividade de um texto é muito alto, corre-se o risco de que haja uma rejeição por parte do leitor, que poderá não conseguir processar todas as informações colocadas ali.

A intertextualidade consiste em textos conversarem entre si: são as referências, explícitas ou não, que o autor faz em seu texto. É preciso que o leitor entenda as referências que o autor faz em seu texto. É a característica segundo a qual um texto é produzido a partir de vários outros textos. Toda a bagagem cultural, intelectual e pessoal que o autor possui estarão presentes em seu texto, sob a forma da intertextualidade.

A Lingüística Textual (LT) começou a se desenvolver na Europa a partir do final do anos 60, sobretudo entre os anglo-germânicos, e tem se dedicado a estudar os princípios constitutivos do texto e os fatores envolvidos em sua produção e recepção. Paralelamente ao desenvolvimento dessa teoria, do final da década de 60 até nossos dias, têm se fortalecido e se ampliado, no campo da Lingüística, os estudos voltados para fenômenos que ultrapassam os limites da frase, como o texto e o discurso, e interessados menos nos produtos e mais nos processos – a enunciação, a interlocução e suas condições de produção. Parece propício, portanto, neste momento, retomar o conceito de textualidade e repensá-lo, levando em conta contribuições advindas de lugares diferentes, como a Análise do Discurso, as teorias da enunciação, a Pragmática, a Análise da Conversação, os estudos sobre a língua falada, que nos convidam a incluir no campo de nossas reflexões fenômenos antes não considerados como propriamente lingüísticos.

Para atingir esse objetivo, um bom começo pode ser fazer um rápido panorama das tendências mais marcantes no interior da própria Lingüística Textual. Já em 1977, Maria-Elisabeth Conte apontou, no desenvolvimento da LT, três “momentos tipológicos”, isto é, três perspectivas de estudo, mais do que três etapas cronológicas, já que muitas reflexões e discussões ocorreram até simultaneamente, embora privilegiando enfoques e objetos diferentes.

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