Eclesiástico ou Sirácida[1] é um dos livros deuterocanônicos da Bíblia,[2][3] de composição atribuída a Jesus filho de Sirach (Jesus Ben Sirac ou Ben Sirá, ou, em grego Sirácida [4]). O livro, formado por reflexões pessoais do autor, era comumente lido em templos cristãos, aliás o nome Eclesiástico (Livro da Igreja ou da Assembleia[5]) provém do uso oficial que a Igreja cristã faz desse livro, em contraposição à Sinagoga judaica, que não o aceita como Palavra de Deus [6]. Tal designação vem desde a época de São Cipriano de Cartago[5]. O livro foi originalmente escrito em hebraico, entre 190 e 124 a.C.[6][7], possui 51 capítulos e, posteriormente, foi traduzido para o grego por um neto de Jesus filho de Sirach, em 123 a.C.[6].
Aceitação no Mundo Cristão
O Eclesiástico é livro sagrado por grande parte das Igrejas cristãs: Igreja Católica Romana, Igrejas Católicas Orientais e Igrejas Ortodoxas, sendo aceito também pelos protestantes anglicanos, embora não universalmente nas duas últimas, embora seja considerado útil para leitura e edificação [8] [9]. O Eclesiástico é reconhecido no judaismo pelo seu valor histórico; porém, não é parte do Tanakh, o compêndio de livros sagrados da religião. Grupos protestantes usam hoje em dia o princípio judaico para não o incluírem em seu cânone.
Conteúdo do livro e contexto histórico
No início do século II a.C., a Palestina passou do domínio dos Ptolomeus (Egito) para o dos Selêucidas (Síria). A fim de unificar o império, exposto a conflitos internos, os selêucidas promoveram uma política de assimilação, e procuraram impor aos povos dominados a cultura, a religião e os costumes gregos - um imperialismo cultural que ameaçava destruir a identidade cultural e religiosa dos dominados[6].
Parte dos judeus aceitava adaptar o judaísmo a uma civilização mais universal, entretanto outra parte buscava preservar a identidade e salvaguardar a fé e a vocação de Israel, testemunha do Deus vivo para todas as nações. Ben Sirac escreveu então este livro, uma espécie de longa meditação sobre a fidelidade hebraica. Ele procura reavivar a memória e a consciência histórica do seu povo, a fim de mostrar sua identidade própria e o valor perene de suas tradições. O autor, porém, não é intransigente, pois em seu livro mostra ter já assimilado diversos aspectos da cultura grega, iniciando o caminho de uma síntese que culminará no Livro da Sabedoria[6], ou seja, o livro dirige-se a todo aquele que queria se comportar como judeus em um mundo que mudava, trata-se de uma obra de um conservador lúcido, que quer preservar o essencial, sabendo que não se deve ignorara as situações novas[10].
O centro do livro está no cap. 24, em que o autor identifica a Sabedoria com a Lei de Moisés (24,23), presente nos cinco livros do Pentateuco que, em hebraico, se chamam Torá = Lei. Esta, na visão do autor, constitui a Sabedoria de Israel.
Com efeito, a narração toda do Pentateuco mostra a experiência básica de todo homem e de qualquer povo: a sabedoria que nasce da experiência concreta e conduz à vida[6].
Existência do texto em hebraico
São Jerônimo afirmava tê-lo conhecido em sua língua original.
Aproximadamente dois terços de uma antiga cópia do texto em hebraico provenientes de uma Sinagoga no Cairo foram encontrados em 1896.
Alguns fragmentos também foram encontrados nas grutas de Qumrã (Manuscritos do Mar Morto) e outros fragmentos foram encontrados em Massada[4].
Ver também
- Antigo Testamento
- Livros deuterocanônicos
- Ben Sira em hebraico בן סירא
- Bíblia dos Capuchinhos, Ben Sira
- Sabedoria de Salomão
Referências
- ↑ A Tradução Ecumênica da Bíblia Ed. Loyola, São Paulo, 1994, p 1.711, denomina esse livro como Sirácida
- ↑ Echegary, J. González et ali (2000). A Bíblia e seu contexto. 2 2 ed. São Paulo: Edições Ave Maria. 1133 páginas. ISBN 978-85-276-0347-8
- ↑ Pearlman, Myer (2006). Através da Bíblia. Livro por Livro 23 ed. São Paulo: Editora Vida. 439 páginas. ISBN 978-85-7367-134-6
- ↑ 4,0 4,1 Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 1.139
- ↑ 5,0 5,1 Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 1.711
- ↑ 6,0 6,1 6,2 6,3 6,4 6,5 Eclesiástico Arquivado em 11 de dezembro de 2009, no Wayback Machine., Edição Pastoral da Bíblia, acessado em 09 de agosto de 2010
- ↑ A Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 1.711-1.712 diz que o livro foi escrito aproximadamente em 180 AC, e antes de 167 AC
- ↑ 39 artigos de Religião a Igreja Anglicana
- ↑ The Longer Catechism of The Orthodox, Catholic, Eastern Church
- ↑ Tradução Ecumênica da Bíblia, cit., p 1.712