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Revolta Paulista de 1924

Revolta Paulista de 1924
Tenentismo
Cotonifício Crespi em 1924 visto de cima.jpg
Cotonifício Crespi danificado pelo bombardeio
Data 5 de julho de 1924 - 28 de julho de 1924
Local Estado de São Paulo
Desfecho Vitória militar do exército legalista

Inicio da Coluna Prestes

Beligerantes
Militares revoltosos Apoiadores civis da revolta Exército legalista, leal a Artur Bernardes e Carlos de Campos
  • Polícia Militar de São Paulo
  • Jagunços
Comandantes
Isidoro Dias Lopes Fernando Prestes de Albuquerque
Baixas
503 mortos 4 846 feridos
Predefinição:Info/AuxMapa

A Revolta Paulista de 1924, também chamada de Revolução Esquecida, Revolução do Isidoro, Revolução de 1924 e de Segundo 5 de julho, foi a segunda revolta tenentista. A capital paulista foi palco do maior conflito urbano da história do Brasil, em cenas que lembravam a Primeira Guerra Mundial, com explosões de bombas, moradias e prédios destruídos, bombardeios por aviões, soldados com metralhadoras, população fugindo pelas ruas, tanques de guerra cruzando a cidade e trincheiras abertas nas ruas. Teve início na madrugada de 5 de julho e terminou em 28 de julho de 1924.[1] A revolta foi motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de São Paulo e Minas Gerais.[2]

Antecedentes

Após a Primeira Guerra Mundial, o Brasil passa por uma grande industrialização, pois com as economias europeias focadas na guerra, a indústria local preencheu o vazio no mercado prosperando. Com a industrialização muitas pessoas passaram a se aglomerar nas cidades facilitando a divulgação e a realização de movimentos, que contestavam a ordem vigente vindos de industriais e de operários. Ao mesmo tempo ideias liberais radicais e socialistas se espalhavam pelas cidades através de imigrantes italianos e espanhóis. Tudo isso incentivou e influenciou os militares originários de classes sociais menos favorecidas a se rebelarem contra o governo oligárquico.[3][4]

Comandada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, contou com a participação de vários tenentes, dentre os quais Joaquim do Nascimento Fernandes Távora (que faleceu na revolta), Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes, Índio do Brasil e João Cabanas. O objetivo principal do levante era depor o presidente Artur Bernardes (considerado inimigo dos militares desde a crise das cartas falsas). Entre as reivindicações estava o voto secreto, a justiça gratuita e a instauração do ensino público obrigatório.[5][6]

A batalha

Deflagrada na capital paulista em 5 de julho de 1924, a revolta ocupou a cidade por 23 dias, após ter tomado a cidade pegando as tropas legalistas de surpresa, forçando o presidente do estado, Carlos de Campos, a fugir para o bairro da Penha, em 9 de julho,[7] depois de ter sido bombardeado, pelos revoltosos, o Palácio dos Campos Elísios, sede do governo paulista na época. Carlos de Campos ficou instalado em um vagão adaptado na estação Guaiaúna, da Central do Brasil, onde se encontravam as tropas federais vindas de Mogi das Cruzes.

A principal reação ao movimento foi feita pelo 4° Batalhão da Força Publica que percebeu o que estava ocorrendo, e se preparou para destruir a revolta, porem Miguel Costa percebeu o que estava ocorrendo, e atacou a tropa pela retaguarda concretizando os planos rebeldes.[8]

No interior do estado de São Paulo aconteceram rebeliões em várias cidades, com tomada de prefeituras no estado de São Paulo.

Os revoltosos então entraram em contato com o vice-presidente do estado coronel Fernando Prestes de Albuquerque em Itapetininga, convidando-o para assumir o governo revolucionário em São Paulo. O coronel Prestes que já organizara um batalhão em defesa da legalidade, na região da Estrada de Ferro Sorocabana, e respondeu aos revoltosos:

Bônus de guerra utilizado pelos revolucionários de 1924.

A cidade de São Paulo foi bombardeada por aviões do Governo Federal. O exército legalista ao governo de Artur Bernardes se utilizou do chamado "bombardeio terrificante", atingindo vários pontos da cidade, em especial bairros operários como Mooca, Ipiranga, Brás, Belenzinho e Centro, que foram seriamente afetados pelos bombardeios. Centenas de edificações foram destruídas ou gravemente danificadas pelos canhões enviados de trem, do Rio de Janeiro. As ruas se encheram de escombros. O socorro às vítimas foi extremamente penoso. Depois das três semanas que durou a revolução, o saldo de mortos foi de 503, com 4 846 feridos,[5] fez com que cerca de 250 000 habitantes da cidade fugissem para outras cidades por segurança.[10]

Sem artilharias nem aviões para enfrentar as tropas legalistas, os tenentes rebeldes se retiraram para Bauru na madrugada de 28 de julho, onde Isidoro Dias Lopes ouvira a notícia de que o exército legalista se concentrava na cidade de Três Lagoas, no atual Mato Grosso do Sul. Às 10 horas da manhã de 28 de julho Carlos de Campos retornou ao seu gabinete no Palácio do Governo.

Uma tarefa importante para a revolta foi a da Coluna da Morte, um destacamento revoltoso liderado por João Cabanas, que segurou as tropas legalista permitindo a retirada dos civis e militares revoltosos, usando da estratégia de espalhar boatos, que superestimavam a força revoltosa, além de ter capturado muitas armas e munições.[8]

Isidoro Dias Lopes e Juarez Távora planejaram, então, um ataque àquela cidade. A derrota em Três Lagoas, no entanto, foi a maior derrota de toda esta revolta. Um terço das tropas revoltosas morreu, feriram-se gravemente, ou foram capturadas. Os tenentistas recuaram rumo ao sul do Brasil, na cidade de Foz do Iguaçu, unindo-se aos oficiais gaúchos comandados por Luís Carlos Prestes, no que veio a ser o maior feito guerrilheiro no Brasil até então: a Coluna Prestes.

O general de divisão Abílio Noronha, comandante da 2ª Região Militar, que abrangia São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, acusou políticos de estarem por trás da revolta, incitando os militares a aderirem à revolução tenentista. Outro general, o general Noronha, criticou a retirada precipitada da capital paulista, do presidente do estado e das tropas leais a ele, alegando que o governo paulista tinha condições de ter resistido e vencido os revoltosos, logo no início da revolta, e dentro da cidade de São Paulo.

Consequências

Muitos coronéis do interior que faziam oposição a Carlos de Campos apoiaram o movimento de julho.

Os tenentes e demais militares que participaram desta revolta e das demais revoltas da década de 1920 receberam anistia dada por Getúlio Vargas logo após a vitória da Revolução de 1930.

No bairro de Perdizes, a revolução de 1924 ainda é comemorada anualmente.[11]

Ver também

Referências

  1. COHEN, Ilka Stern. Bombas sobre São Paulo, A Revolução de 1924. pág. 138. [S.l.]: Editora Unesp, 2006 
  2. «::: Exposição Virtual - A Revolução de 1924:::». 200.144.6.120. Consultado em 24 de maio de 2021 
  3. VICENTINO, José Bruno e Claudio (2019). Telaris Historia 9° ano. São Paulo: Ática. p. 91-92. ISBN 978-85-08-19352-3 
  4. Brasil na Primeira Guerra Mundial | Nerdologia (em português), consultado em 15 de novembro de 2021 
  5. 5,0 5,1 Os noventa anos da revolução de 1924. Página acessada em 10 de novembro de 2015.
  6. «Revolução de 24: guerra em SP por reformas políticas - noticias - Estadao.com.br - Acervo». Estadão - Acervo. Consultado em 24 de maio de 2021 
  7. COHEN, Ilka Stern, idem, pág. 37.
  8. 8,0 8,1 «Revolução de 1924 - Exército Brasileiro - Braço Forte e Mão Amiga». Exército Brasileiro (em português). Consultado em 26 de setembro de 2021 
  9. S. Paulo triumphante, Folha do Povo, Ano I, número I, Itapetininga, 6 de agosto de 1924.
  10. Moacir Assunção (03/09/2015). São Paulo deve ser destruída: A história do bombardeio à capital na revolta de 1924 . Registro. ISBN 978-85-01-10391-8
  11. Junior, Gonçalo (2007). «A revolução que São Paulo esqueceu». revistapesquisa.fapesp.br (em português). Revista FAPESP. Consultado em 25 de março de 2019 

Bibliografia

  • ——, Revista da Semana, número extraordinário, São Paulo, edição de agosto de 1924.
  • ——, S. Paulo triumphante, in "Folha do Povo", Ano I, número I, Itapetininga, 6 de agosto de 1924.
  • ALVES SOBRINHO, Rufino, São Paulo Triunfante: depoimento e subsídio para a história das revoluções de 22, 24, 30 e 32, no Brasil, São Paulo, Edição do autor, 1932.
  • AMERICANO, Jorge, A lição dos fatos - Revolta de 5 de julho de 1924, Editora Saraiva, 1924.
  • CABANAS, João, A Columna da Morte Sob o commando do Tenente Cabanas, Livraria Editora Almeida & Torres, Rio de Janeiro, 1927.
  • CABRAL, C. Castilho, Batalhões Patrióticos na Revolução de 1924, Editora Livraria Liberdade, 1927.
  • CAMARGO, Ayres de, Patriotas Paulistas no Columna Sul, Editora Liberdade, 1925.
  • CARNEIRO, Glauco, História das Revoluções Brasileiras, 2 Volumes, Editora O Cruzeiro, 1965.
  • CINTRA, Assis, O Presidente Carlos de Campos e a Revolução de 5 de Julho de 1924, Editora São Paulo, 1952.
  • COHEN, Ilka Stern, Bombas sobre São Paulo, A Revolução de 1924, Editora Unesp, 2006.
  • CORRÊA, Anna Maria Martinez, A rebelião de 1924 em São Paulo, Editora Hucitec, 1976.
  • CORREA DAS NEVES, Siqueira Campos na Zona Nordeste: Subsídio para a História da Revolução de 1924, Editora Typ. J. M. C.
  • COSTA, Ciro, e GOES, Eurico de, Sob a Metralha....São Paulo - 1924, São Paulo, Editora Monteiro Lobato & Cia., 1924.
  • DUARTE, Paulo, Agora Nós! Chronica da Revolução Paulista, Editora São Paulo, 1927.
  • FIGUEIREDO, Antônio dos Santos, 1924 - Episódios da Revolução em São Paulo, Editora Empresa Gráfica Porto, s/d.
  • GEENEN, Aventuras de uma Família de São Paulo durante a Revolução de 1924, Editora Romero e Comp., 1925.
  • LANDUCI, Ítalo, Cenas e Episódios da Coluna Prestes e da Revolução de 1924, Editora Brasiliense, 1952.
  • LEITE, Aureliano, Dias de pavor, Editora Rochéa, 1925.
  • MACEDO SOARES, Gerson, Acção da Marinha na Revolução Paulista de 1924, Editora Guanabara, 1932.
  • MACEDO SOARES, José Carlos de, Justiça - A Revolta Militar em São Paulo, Editora Impr. Paul Dupont – Paris, 1925.
  • MEIRELLES, Domingos, A noite das Grandes Fogueiras, São Paulo, Editora Record, 2001.
  • NOGUEIRA, Edmundo Prestes, Heroísmo desconhecido, Editora Gráfica Regional, Itapetininga, 1987.
  • NORONHA, General de Divisão Abílio, Narrando a verdade, São Paulo, Editora Monteiro Lobato & Cia, 1924.
  • IDEM, O Resto da Verdade, Editora Rochéa, 1925.
  • OLIVEIRA, Nelson Tabajara de, 1924: A Revolução de Isidoro, Companhia Editora Nacional, 1956.
  • POLÍCIA DE SÃO PAULO, Movimento Subversivo de Julho, São Paulo, Casa Garraux, 1925.
  • PRESTES DE ALBUQUERQUE, Júlio, 1924 - Um Depoimento, Editora Imesp, 1981.
  • RIBEIRO, Álvaro, Falsa Democracia: A Revolta de São Paulo em 1924, Editora F. de Piro, 1927.
  • VIAINO, Bruno, Reportagem da Revista Superinteressante, A rebelião esquecida que destruiu São Paulo em 1924, texto de 22 maio 2019.
  • SANTOS, Tenente Almícar Salgado dos, A Brigada Potyguara, Editora Rochéa, 1925.
  • SEGATTO, José Antônio, A Light e a Revolução de 1924, Editora Eletropaulo, 1987.
  • TÁVORA, Juarez, À Guisa de Depoimento Sobre a Revolução Brasileira de 1924, Editora O Combate, São Paulo, 1927.

Ligações externas

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