Patrice Lumumba | |
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Patrice Lumumba | |
Primeiro-ministro da República do Congo | |
Período | 24 de Junho de 1960 a 14 de Setembro de 1960 |
Antecessor(a) | Cargo estabelecido |
Sucessor(a) | Joseph Iléo |
Dados pessoais | |
Nascimento | 2 de julho de 1925[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]] Onalua, Congo-Cassai, Congo Belga |
Morte | 17 de janeiro de 1961 (35 anos)[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]] Lubumbashi, Catanga |
Cônjuge | Pauline Opango |
Partido | Movimento Nacional Congolês |
Patrice Émery Lumumba, nascido como Élias Okit'Asombo (Onalua, Congo Belga, 2 de Julho de 1925 – Catanga, 17 de Janeiro de 1961), foi um líder anticolonial e político quinxassa-congolês.
Em sua curta e tumultuada carreira política, ele optou por se alinhar aos valores anti-imperialistas e do pan-africanismo, defendendo consistentemente a solidariedade entre os povos da África para além dos limites de nação, etnia, cultura, classe e gênero, encorajando a luta não-violenta contra o colonialismo e convocando ao diálogo os países desenvolvidos e em desenvolvimento.[1]
Fundador do Movimento Nacional Congolês (MNC), ele foi a principal liderança na luta contra a dominação colonial belga no Congo, tendo participação decisiva na libertação do seu país do jugo imperialista europeu.[2][3]
Foi eleito primeiro-ministro de seu país em 1960, mas ocupou o cargo apenas por 12 semanas, pois seu governo foi derrubado por um golpe de estado liderado pelo coronel Joseph Mobutu em meio à crise política do Congo. Ao tentar fugir para o leste do país, Lumumba seria capturado algumas semanas mais tarde. Seu assassinato, que ocorreu em janeiro de 1961, teve participação do governo dos Estados Unidos e da Bélgica, que viam o líder quinxassa-congolês como alinhado à União Soviética.[2][3]
Biografia
Filho de uma família camponesa e com quatro irmãos, Lumumba nasceu numa aldeia chamada Onalua, localizada no Território de Katako-Kombe, na região de Sankuru (ainda Congo-Cassai), em 1925, numa época a qual sua nação estava sob domínio colonial da Bélgica. Ele era um membro do pequeno grupo étnico batetela, fato que tornou-se significativa em sua vida política depois.Predefinição:Nota de rodapé Após receber uma educação rudimentar dos pais humildes, que lhe infundiu valores comunais e humanistas africanos, ele frequentou inicialmente uma escola de missionários católicos e, aos 13 anos, ingressou em uma escola de protestante mantida por metodistas suecos, que o expôs aos valores cristãos coloniais.[1] Era a única forma possível para os congoleses terem acesso ao sistema educacional colonial, que era precário e visava à formação de operários em vez de mão de obra mais qualificada.[2][3]
Depois de concluir seus estudos básicos, Lumumba deixou a zona rural de Sankuru aos 18 anos e conseguiu um emprego na companhia Symaf (Syndicat Minier Africain), na cidade de Kindu. Admirado por seus patrões brancos, o jovem Lumumba ganhou um Certificat d'immatriculation, um documento que permitia a nativos quinxassa-congoleses poder frequentar círculos europeus e desfrutar de certas comodidades.[1] Frequentador ativo no clube dos évolués (africanos que receberam educação ocidental), ele começou a escrever ensaios e poemas para jornais locais.[4]
Depois, Lumumba mudou-se para Stanleyville, onde ele trabalhou como empregado do serviço de correios local por vários anos e continuou a contribuir para a imprensa quinxassa-congolesa.[4] Em 1954, obteve da administração colonial belga um documento que equivalia a uma cidadania belga aos quinxassa-congoleses. No ano seguinte, ele iniciou suas atividades políticas ao se tornar presidente de um sindicato regional puramente de funcionários públicos congoloses que não era afiliado, assim como os outros sindicatos, a uma das duas federações sindicais belgas (a socialista ou a católica). Ele também se filiou ao Partido Liberal da Bélgica. Em 1956, Lumumba foi convidado com os outros colegas para uma visita de cunho acadêmico à Bélgica, sob os auspícios do ministro das colônias, mas em seu retorno, ele foi preso sob a acusação de fraudar o sistema dos Correios colonial. Sentenciado a dois anos de encarceramento, sua pena foi convertida a 12 meses após várias reduções.[4]
Após Lumumba deixar a prisão, ele se tornou ainda mais ativo na política. Ele mudou-se em 1957 para Léopoldville (capital do Congo Belga), onde conseguiu um trabalho na cervejaria Bracongo. Sem ter cursado o ensino superior, Lumumba foi um intelectual autodidata e dedicado a extensas leituras de história mundial e pensamento político, bem como de sua aguçada observação das práticas estratégias e opressivas dos colonos belgas no Congo.[1] Com essa experiência, ele lançou em outubro de 1958, juntamente com outros dirigentes quinxassa-congoleses, o Movimento Nacional Congolês (MNC), o primeiro partido político nativo, e participou em dezembro da primeira Conferência Pan-africana do Povo, em Acra, onde se encontrou com lideranças nacionalistas de todo o continente africano.[4] Inspirado pelos ideais do pan-africanismo, sua visão e seu vocabulário assumiram um teor do nacionalismo militante, optando pela ideologia anticolonial do "neutralismo positivo" e defendendo a unidade nacional entre as diferentes etnias que compunham o Congo e da libertação do domínio belga.[1][4]
A liderança de Lumumba desagradava os colonialistas belgas, que buscaram dividir e instigar as rivalidades étnicas da região.[2] No início de 1959, uma onda de protestos em Léopoldville fez com que o governo colonial anunciasse eleições locais e um plano de cinco anos para transição para independência. Mas o gesto foi visto pelo MNC como uma tentativa dos belgas ganharem tempo para instalar políticos fantoches antes de uma retirada oficial e o movimento nacionalista anunciou que boicotaria o pleito. Lumumba liderou novas manifestações de desobediência civil e pela independência imediata do Congo. Em 30 de outubro de 1959, o líder revolucionário foi preso após um ato político em Stanleyville, cujo saldo foi de 30 manifestantes mortos.[5]
Com Lumumba preso, o MNC decidiu mudar de tática e entrou nas eleições locais, tendo uma vitória arrasadora em Stanleyville (90% dos votos). Em janeiro de 1960, o governo belga convocou uma conferência em Bruxelas com todos os partidos quinxassa-congoleses para discutir a transição política, mas o MNC se recusou a participar sem Lumumba, que iria para julgamento no dia 18 daquele mês. O governo belga teve de tirá-lo da cadeia diretamente para o avião. Na fase final das negociações, já com a presença de Lumumba, foram assinados os protocolos que detalhavam a transição do poder para um governo quinxassa-congolês, com as eleições nacionais em maio de 1960 e a data para a independência em 30 de junho daquele ano.[6]
Porém, um ano antes da independência nacional o partido de Lumumba, o MNC, sofre uma cisão (motivada por disputas ideológicas entre a ala nacionalista radical lumumbista e a ala federalista) com a maioria do partido continuando sob comando de Lumumba, chamado informalmente de MNC-Lumumba (ou MNC-L), enquanto que uma fração menor é formada sob comando de Albert Kalonji, o MNC-Kalonji (ou MNC-K).[6] Nas eleições parlamentares de maio de 1960, que seriam definidoras do futuro governo do novo país independente, o MNC-L liderado por Lumumba recebeu a maioria dos votos, mas foi obrigado a formar uma coalizão governista que incluiu o Partido da Solidariedade Africana, o Centro de Reagrupamento Africano e a "Associação dos Bacongos para a Unificação, a Conservação e o Desenvolvimento da Língua Congo" (Abako), além de grupamentos políticos menores.[6] Lumumba foi confirmado como primeiro-ministro.[6] Enquanto isso, o Senado e a Assembléia Nacional, elegeram Joseph Kasa-Vubu do regionalista e conservador Abako como presidente do país.[6]
Poucos dias após a conquista da independência, Lumumba enfrentou diversas rebeliões dentro do país e uma declaração de independência da então província de Catanga, conduzida pelo rival político Moïse Tshombe, com apoio de empresas de exploração de minas e pelo governo belga.[6] O governo do Congo acabou se aproximando da União Soviética, que enviou alimentos, remédios e também armamentos para combater o levante rebelde. Os Estados Unidos, a França e a Bélgica começaram a articular a deposição de Lumumba. O presidente Kasa-Vubu dissolveu o governo do líder nacionalista três meses após assumir o poder, mas o primeiro-ministro contestou a legalidade das ações presidenciais e, em retaliação, depôs o presidente e conquistou o voto de confiança do senado quinxassa-congolês.[6] Mas a crise política do Congo estava instalada e abriu caminho para que o coronel Joseph Mobutu liderasse um golpe de Estado, em setembro, incapacitando Lumumba.[6]
Colocado em prisão domiciliar e sob vigilância de tropas das Nações Unidas (ONU), Lumumba tentou fugir da residência em direção a Stanleyville, mas terminou capturado na fuga em dezembro de 1960. Nenhuma medida foi autorizada às forças de paz da ONU pelo secretário-geral da entidade, Dag Hammarskjöld, apesar dos apelos para que as tropas locais salvassem-no e do pedido da União Soviética para que o ex-premier fosse liberado. Em 17 de janeiro de 1961, Lumumba foi transferido à força para a cidade de Lubumbashi, em Catanga, onde foi torturado e morto por um pelotão de fuzilamento comandado pelo líder rebelde Moïse Tshombe, ao lado de oficiais belgas. Os corpos nunca foram encontrados.[7]
No ano 2000, um ex-polícial belga, Gerard Soete, confessou à AFP a sua participação na execução de Lumumba e afirmou que os corpos do líder anticolonial e dos seus colaboradores foram dissolvidos em ácido. Não restou quase nada, apenas alguns dentes, acrescentou Soete, que faleceu pouco depois do depoimento. O ex-agente guardou um dos dentes, que permaneceu durante anos na posse da sua família na Bélgica como um troféu. Em junho de 2022, o procurador belga Frederic Van Leeuw entregou aos familiares de Lumumba uma pequena caixa azul que continha um dente — tudo que restou do herói assassinado — numa cerimônia transmitida pela televisão.[8]
Responsabilidade estrangeira
No início dos anos 2000, após a publicação do livro "O assassinato de Lumumba", a Bélgica criou uma comissão parlamentar, que apontou que o governo belga teve uma parcela de culpa e responsabilidade moral nos eventos que desencadearam a morte do líder político. O governo belga pediu desculpas parciais para a família de Lumumba e para o povo da República Democrática do Congo.[9]
Em 2007, documentos secretos tornados públicos revelam que a CIA também tinha planos para assassinar Lumumba sem a utilização de força física. Depois de 53 anos do assassinato, o governo dos Estados Unidos reconheceu que o país se envolveu tanto na destituição política como na morte do líder quinxassa-congolês.
Em 2013 também foi revelada a participação do Reino Unido na trama para derrubar Lumumba.[10]
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 Abiola Irele; Biodun Jeyifo (2010). The Oxford Encyclopedia of African Thought (em English) 5 ed. [S.l.]: Oxford University Press. p. 79. 1024 páginas. ISBN 978-0195334739
- ↑ 2,0 2,1 2,2 2,3 Max Altman (17 de janeiro de 2010). «Hoje na História: Patrice Lumumba é assassinado no Congo» (em português). Opera Mundi. Consultado em 25 de outubro de 2014
- ↑ 3,0 3,1 3,2 Brazil África (13 de julho de 2014). «O sonho de união de Patrice Lumumba» (em português). Gelades. Consultado em 25 de outubro de 2014
- ↑ 4,0 4,1 4,2 4,3 4,4 «Patrice Lumumba» (em English). Britannica.com. Consultado em 25 de outubro de 2014
- ↑ Karen Bouwer (2010). Gender and Decolonization in the Congo. The Legacy of Patrice Lumumba (em English) 5 ed. [S.l.]: Palgrave Macmillan. p. 28. 262 páginas. ISBN 978-0230615571
- ↑ 6,0 6,1 6,2 6,3 6,4 6,5 6,6 6,7 Margarido, Alfredo. A Revolução Congolesa (PDF). [S.l.]: Universidade Federal de Minas Gerais. p. 2-8. Consultado em 5 de julho de 2022
- ↑ Lumumba, Hammarskjöld and the Cold War in the Congo. African Magazine. 17 de janeiro de 2017.
- ↑ «Bélgica devolve dente do herói da independência da República Democrática do Congo à família»
- ↑ «World Briefing | Europe: Belgium: Apology For Lumumba Killing» (em English). The New York Times. 6 de fevereiro de 2002. Consultado em 25 de outubro de 2014
- ↑ Hasan Suroor (1 de abril de 2013). «British peer reveals MI6 role in Lumumba killing» (em English). The Hindu. Consultado em 25 de outubro de 2014 [ligação inativa]
Ligações externas
- Patrice Emery Lumumba - Historical Biography (em inglês)
- The unquiet death of Patrice Lumumba (em inglês)
- Patrice Lumumba (em inglês)
- Patrice Lumumba e o destino falhado da República Democrática do Congo (em português)
- Patrice Lumumba, Royal Museum for Central Africa
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