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Os muras são um grupo indígena brasileiro que habita o centro e o leste do estado do Amazonas, mais precisamente nas áreas indígenas Boa Vista, Capivara, Cuia, Cunha, Gavião, Guapenu, Itaitinga, Lago Aiapoá, Murutinga, Natal/Felicidade, Onça, Padre, Paracuhuba, Recreio/São Félix, São Pedro, Tracajá, Trincheira, Méria, Miratu, Tabocal, Pantaleão e Setemã.
A etnia indígena mura possui ampla participação na história brasileira, remontando ao período da colônia, quando já eram citados em documentos nos quais ficavam visíveis a sua personalidade arredia e seu espírito de resistência frente ao domínio da civilização portuguesa.
Segundo Engrácia de Oliveira (1986), em relato histórico dos muras: Página Predefinição:Quote/styles.css não tem conteúdo.
Sabe-se que eles, os quais faziam das canoas suas casas, que como‘índios de corso’ abrangeram uma grande área da ação que se estendia da fronteira do Peru até o Trombetas, que se destacaram nas tentativas de rechaçar a invasão dos civilizados em seus territórios, sendo aguerridos, destemidos e usando táticas especiais de ataque, que, enfim, com suas incursões e ‘correrias’ atemorizaram a Amazônia do século XVIII...
Os muras, considerados "incivilizáveis", foram atacados por três sucessivas e sangrentas "expedições punitivas", sofrendo muitas perdas por epidemias como sarampo e varíola, tendo sido contra eles pedida uma devassa e a solicitação de "guerra justa" entre 1737 e 1738, mas que não foi concedida. Sem condições de enfrentarem a forte pressão, procuraram a paz em 1786, mas não suspenderam totalmente as investidas contra os portugueses.
Em 1835, voltam à luta ao se aliarem aos cabanos. Muras e tapuios fazem da Cabanagem um espaço de reconstrução da liberdade perdida e de apropriação de poder. No caso dos muras, o desejo por liberdade custou muitas vidas e sofrimentos. Segundo Moreira Neto (1988), o ponto culminante dos conflitos entre os muras e a sociedade regional foi a sua participação na Cabanagem, ao lado dos rebeldes (Cf.110). Diz ainda que "provavelmente, nenhum dos grandes grupos indígenas da Amazônia pagou preço maior do que os muras ao esforço contínuo de dizimá-los e de expulsá-los de suas praias e lagos tradicionais" (p. 110).
A partir de 1863, os muras deixam de ser citados nos relatórios oficiais, o que significa o não envolvimento em conflitos. É o que atesta o autor: "a subtribo mura, os mura-pirarrã, que eram considerados, no século XIX, como os mais arredios e agressivos membros do grupo e que permanecem, ainda hoje, monolíngues e em estado de isolamento"(p. 113). O modo como descreve os muras, no entanto, parece indicar uma resistência que não se extinguiu, mas que apenas se expressa em linguagem diferente que cultiva obstáculos à comunicação com os brancos.
Atualmente, a única língua mura conhecida é a pirarrã, tendo sido todas as outras variantes extintas.
Os muras na literatura
Em 1785 o português Henrique João Wilkens escreveu a Muhuraida: ou o triumfo da fé (título em original), foi entregue ao governador Pereira Caldas em 24 de maio de 1789. Em 1819 foi publicado em Lisboa pela cura do padre Cipriano Pereira Alho, desde então só voltou a ser editado em 1993 com o apoio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, do governo do estado do Amazonas e da Universidade Federal do Amazonas, sendo também a primeira edição feita no Brasil. Este é o primeiro poema épico escrito sobre e na região amazônica. O poema está dividido em seis cantos e 1072 versos e 134 oitavas, sendo que os cantos II e VI possuem 23 oitavas e os demais em 22, conforme o manuscrito original.
Ver também
Referências
- ↑ «Quadro Geral dos Povos». Instituto Socioambiental. Consultado em 2 de setembro de 2017