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Modelo Olami-Feder-Christensen

Na área de sistemas dinâmicos, o modelo Olami-Feder-Christensen (também conhecido como modelo OFC) foi inicialmente proposto por Z. Olami, H. J. S. Feder e K. Christensen como um modelo simplificado para a propagação de terremotos e como um exemplo da criticalidade auto-organizada (SOC).

O modelo

O modelo OFC é um autômato celular, normalmente definido em uma rede de células quadrada de lado (embora existam generalizações em que o modelo é definido em um grafo) contínuo, ou seja, os estados das células e o tempo são definidos por valores contínuos e não por valores discretos. A evolução do modelo se dá por iterações que ocorrem em duas etapas, chamadas de acúmulo de tensão e relaxamento (ou avalanche, que representa o terremoto propriamente dito).

Os estados das células são definidos por uma variável real , chamada de tensão. Vamos primeiramente escolher um intervalo para essa variável. Sem perda de generalidade (isso fica mais claro depois) podemos escolher . Também precisamos escolher um valor , chamado de tensão crítica que também é arbitrário e é normalmente escolhido como 1 e um último parâmetro que tem relação com a dissipação.

No acúmulo de tensão, as células (também chamadas de sítios) obedecem a seguinte regra:

onde é a rede inteira, representada por e é a tensão do sítio

Essa regra permite definir uma variável temporal para o modelo e que evoluiria nessa etapa como:

Isso equivale a dizer que a tensão vai se acumulando em todos os sítios com:

até que algum sítio atinja a tensão

Os sítios que após o acúmulo de tensão tem tensão igual a são chamados epicentros da iteração (ou epicentros do terremoto).

No relaxamento, os sítios obedecem a seguinte regra enquanto houver sítios com tensão maior ou igual a (também chamados de sítos críticos):

Sejam todos os sítios críticos da rede

vizinho de para cada um dos

onde vizinho tem aqui o significado usualmente usado para uma rede e os são variáveis auxiliares.

As formas de tratar os vizinhos dos sítios da borda definem diferentes versões do modelo (as formas de tratar as bordas são chamadas condições de contorno e serão abordadas adiante). Essa regra, assim como a do acúmulo da tensão tem uma interpretação simples. As tensões saem dos blocos críticos e se espalham para seus vizinhos, isso pode gerar uma reação em cadeia, pois os vizinhos de um bloco crítico que não fossem críticos podem passar a serem críticos depois de receber mais tensão.

Essa reação em cadeia é o que representa o terremoto no modelo OFC. Isso torna interessante definir duas variáveis, o tamanho de um terremoto e a sua energia liberada . A primeira é definida como sendo o número de sítios que se tornaram críticos durante a iteração e a outra é a soma de toda a tensão que foi "relaxada", ou seja, a soma das tensões dos sítios que se tornaram críticos (a tensão é somada a toda vez que um sítio relaxa, de forma que não vale que seja um máximo de )

Condições de contorno

Para o modelo definido em uma rede quadrada temos duas condições de contorno principais:

Que são impostas apenas definido quais são os vizinhos de cada sítio na borda. No primeiro caso, os sítios são vizinhos dos e os sítios são vizinhos dos para . No segundo caso, os sítios das quinas tem apenas dois vizinhos e os outros sítios de borda três vizinhos.

A interpretação das duas condições de contorno é bastante simples. A primeira é equivalente a um modelo definido em uma rede plana infinita, mas com uma regularidade de período L em ambas as direções da rede (vertical e horizontal). Como em uma rede infinita não existe o problema de ter que tratar as bordas de forma diferente, isso equivale a não usar bordas no modelo. Essa abordagem é muito comum em vários problemas de mecênica estatística e em outros autômatos celulares cujas evoluções precisam ser calculadas numericamente.

Já as condições de contorno livres são como se a tensão que saísse da borda não pudesse mais voltar para ela. Essa condição é claramente inspirada na condição de contorno do modelo da pilha de areia BTW e pode ser interpretada como a existência de um tipo diferente de sítio, cuja tensão vale sempre 0 (ou seja, ele obedece a uma regra diferente de evolução dos sítios comuns e acaba atuando como um sorvedouro de tensão). Esses sítios são convenientemente chamados de bordas e os sítios que obedecem às regras normais são chamados blocos (por causa do modelo de Burridge-Knopoff). Nesse caso teríamos uma rede quadrada de lado em que os sítios mais externos são bordas e os outros sítios são blocos.

O parâmetro de conservação

A evolução do modelo depende de um parâmetro , chamado de parâmetro de conservação. Note que se um bloco crítico tem tensão , ele transfere para os seus sítios vizinhos uma tensão e perde toda a tensão que ele possuía. Logo, se nenhum dos sítios vizinhos desse bloco for uma borda, a variação de tensão na rede inteira por causa desse relaxamento é , se alguma borda é vizinha do sítio essa variação é sempre menor que esse valor. Se sempre que nenhum vizinho é borda, o modelo é dito conservativo (pois esse tipo de relaxamento conserva a tensão total). Ou seja, se o modelo conserva a tensão total em um relaxamento. Se o modelo é dito não-conservativo (pois a tensão total sempre diminui em um relaxamento).

Como o caso implica num acréscimo de tensão ele não tem interesse para a modelagem de terremotos, pois ele equivaleria a um aumento da energia mecânica do sistema sem nenhuma influência externa (isso pode ser visto pela analogia desse modelo com o de Burridge-Knopoff). Porém no caso de condições periódicas de contorno, como não temos sítios que são bordas, todo relaxamento aumenta a tensão total do sistema. Logo a partir do momento em que a tensão total for maior que não existem mais configurações da rede que consigam sair da etapa de relaxamento, o que implica que as tensões dos sítios, o tamanho e a energia do terremoto divergem para . Além disso, a tensão excede esse limite em um máximo de relaxamentos.

O modelo com condições periódicas possui outra propriedade, se o modelo entra em um regime periódico. Em especial, a partir de um certo ponto, se , e divergem, mesmo com a tensão se mantendo constante e os sítios são relaxados periodicamente com período .

Por essa razão, o modelo com condições de contorno livres é o mais estudado e as principais questões são quais são as diferenças de comportamento entre o modelo conservativo e o não-conservativo e se o modelo exibe realmente SOC.

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