Michal Kalecki | |
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Michał Kalecki (AFI: [ˈmixau̯ kaˈlɛt͡ski]; Lodz, 22 de junho de 1899 — Varsóvia, 18 de abril de 1970) foi um economista marxista polonês, especializado em macroeconomia.
Na maior parte da sua vida, ele trabalhou no Instituto de Pesquisas de Conjuntura Econômica e Preços de Varsóvia. Foi professor da London School of Economics, Universidade de Cambridge, Universidade de Oxford e da Escola de Economia de Varsóvia.
Foi também assessor econômico dos governos de Cuba, Israel, México e India. Foi também vice-diretor do Departamento de Assuntos Econômicos das Nações Unidas, em Nova York. É referido com um dos economistas mais destacados do século XX e às vezes lembrado como o "Keynes da esquerda", pois desenvolveu muitas das teorias de Keynes antes de Keynes e de um ponto de vista marxista. Todavia, por ter publicado suas obras em polonês, essa precedência não foi reconhecida, e ele continua a ser bem menos conhecido no mundo anglófono.
Trabalho
Entre 1933 e 1935, as obras de Kalecki introduziram muitos dos princípios estabelecidos na Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de Keynes (livro publicado em fevereiro de 1936). Como as obras de Kalecki foram publicadas em polonês (e algumas delas em francês), são mais desconhecidas e mal-reconhecidas. Em 1936 teve publicado um artigo reivindicando a sua precedência sobre Keynes. Mas o artigo, escrito em polonês, não teve repercussão, pois não foi traduzido para o inglês.
Somente suas últimas obras foram publicadas em inglês, porém o atraso nas traduções lhes custou muita notoriedade. Por fim, as teorias de Kalecki sobre o ciclo econômico (1935, 1937, 1939, 1943, 1954), adquiriram alguma notoriedade pelos avanços no uso da matemática em economia. Ele foi um dos primeiros economistas a aplicar modelos matemáticos e dados estatísticos a problemas econômicos. Em suas obras, usou conceitos clássicos e marxistas, confiando extensivamente os conceitos de conflito de classes, distribuição de renda e concorrência imperfeita.
Kalecki exerceu altos postos na ONU na segunda metade da década de 1940 e depois no governo da Polônia. Defendia o resgate da democracia operária para a Polônia socialista, inclusive na administração da economia estatizada, por meio dos conselhos operários. Ele acabará afastado de cargos de governo após o levante popular de 1968 contra o regime stalinista.
Kalecki tinha como interlocutores três grandes economistas, que frequentemente cita em suas obras, com fortes influências mútuas: a britânica Joan Robinson, o italiano Piero Sraffa e o polonês Oskar Lange. Segundo seus biográfos e depoimentos de pessoas próximas (incluindo Joan Robinson), aparentemente Kalecki e Keynes nunca trocaram impressões sobre a similaridade e convergência entre suas teorias e muito menos discutiram sobre quem as teria formulado primeiro. Como escreve Robinson:
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A reivindicação de Michał Kalecki de prioridade da publicação é indiscutível. Com a dignidade academicamente adequada (que, contudo, é infelizmente bastante rara entre os acadêmicos) ele nunca mencionou esse fato. E, de fato, exceto para os autores em questão, não é particularmente interessante saber quem primeiro imprimiu. O interessante é dois pensadores, com pontos de partida políticos e intelectuais tão diversos, terem chegado à mesma conclusão. Para nós, em Cambridge, foi reconfortante.[1]
Ideias
O pensamento de Kalecki sobre o funcionamento do sistema econômico capitalista e a demanda efetiva tem influências de autores como Rosa Luxemburgo e Mikhail Tugan-Baranovski, além de Lênin e Marx, a partir da questão dos esquemas de reprodução, das teorias de transformação de valores em preços e das explicações marxistas sobre a causa das crises do capitalismo.
Assim como os keynesianos, Kalecki fala sobre as flutuações econômicas, relacionando-as com as oscilações no patamar da demanda efetiva da economia, enfatizando a importância da sobreacumulação e do subinvestimento na determinação do nível da demanda efetiva frente à demanda potencial, isto é, a variação do nível do estoque de capital e do investimento na determinação do nível de produto nacional da economia.
Keynes fala da determinação do nível de investimento pelas expectativas dos agentes econômicos, principalmente dos empresários que formam o estoque de capital. Essa expectativa por sua vez é determinada pelo grau de incerteza e pela aversão ao risco — aquilo que Keynes denominou "espírito animal". Ele também destaca a importância do mercado financeiro e do gasto público sobre a demanda efetiva e na reversão das expectativas dos agentes.
Kalecki também defende que no capitalismo, as flutuações econômicas seriam em geral, cíclicas. O chamado ciclo econômico refere-se às flutuações recorrentes e periódicas da atividade econômica a longo prazo, determinadas pela variação do nível de lucro dos empresários e de investimento na expansão ou reposição do estoque de capital.
Michal Kalecki também estabelece que há uma relação entre o ciclo econômico e a tendência da economia, isto é, nível de investimento, produto nacional e desenvolvimento das forças produtivas. Assim, a sucessão de ciclos no longo prazo, tomados de maneira agregada, faz com que se possa apontar uma tendência no funcionamento da economia e na variação direcional do produto nacional. Essa tendência por sua vez, é determinada por fatores tecnológicos, político-econômicos e pela luta de classes.
Principais obras editadas no Brasil
- Teoria da Dinâmica Econômica - considerada a sua maior obra, na qual Kalecki realiza uma síntese de seu desenvolvimento teórico acerca do funcionamento da economia capitalista, especialmente da demanda efetiva. Formular também a relação entre ciclo econômico e tendência.
- Teoria do Crescimento em Economia Socialista - apresenta uma formulação teórica acerca do funcionamento da economia socialista. Trata-se de uma coletânea de artigos escritos durante sua participação no governo polaco.
- Kalecki (Coleção Grandes Cientistas Sociais) - coletâna de artigos organizada pelo economista brasileiro Jorge Miglioli, que traz uma panorâmica geral sobre a obra de Kalecki. O livro é parte da coleção Grandes Cientistas Sociais, organizada por Florestan Fernandes.
- Crescimento e Ciclo das Economia Capitalista - coletânea de artigos organizada também por Jorge Miglioli.
Referências
- ↑ Michał Kalecki’s claim to priority of publication is indisputable. With proper scholarly dignity (which, however, is unfortunately rather rare among scholars) he never mentioned this fact. And, indeed, except for the authors concerned, it is not particularly interesting to know who first got into print. The interesting thing is that two thinkers, from completely different political and intellectual starting points, should come to the same conclusion. For us in Cambridge it was a great comfort. Joan Robinson in "Collected economics papers"
Ligações externas
- Kalecki Distribution Cycle
- The Influence of Michal Kalecki on Joan Robinson’s Approach to Economics, por Geoffrey C. Harcourt e Peter Kriesler. The University of New South Wales. Australian School of Business Research Paper No. 2010 ECON 21.
- Michal Kalecki on capitalism (resenha), por Peter Kriesler e B. McFarlane.
- Keynes, Kalecki and the Japanese Economy, por Toshihiro Kanao.
- A Keynes-Kalecki Model of Cyclical Growth with Agent-Based Features, por Mark Setterfield e Andrew Budd. Trinity College Department of Economics, setembro de 2010
- Alberto Chilosi "Kalecki's Theory of Income Determination: A Reconstruction and an Assessment"