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Melanismo em felinos

Onça-preta (Panthera onca)

Melanismo em felinos refere-se a variantes na coloração da pelagem de membros da família Felidae em que uma grande acumulação do pigmento melanina lhes confere a cor preta. Além do gato doméstico, variantes melânicas ocorrem no leopardo (chamado nesse caso pantera-negra), onça-pintada (onça-preta), jaguarundi e outras onze espécies selvagens.[1][2]

Recentemente, um estudo mostrou que o melanismo em felinos é o resultado de ao menos quatro diferentes mutações genéticas que ocorreram de maneira independente entre si nas várias linhagens da família Felidae.[1] Melanismo na família Felidae tem sido associado à camuflagem, termorregulação e resistência a parasitas. Uma análise comparativa de modelos evolutivos indicou evolução do melanísmo associada à comunicação visual intraespecífica sob condições de baixa luminosidade.[2]

Melanismo e pseudo-melanismo

Tigre-de-bengala branco, com pseudo-melanismo. suas listras são mais largas que o natural

Melanismo é o aumento concentrado e considerável de pigmentação preta, que ocorre por mutação genética em animais, e ocorre no corpo inteiro. O pseudomelanismo ocorre apenas parcialmente e forma manchas ou listras negras maiores, mais largas e mais escuras.

Onça-preta

Onça-preta com rosetas visíveis na pelagem escura. "Manchas fantasmas"

A onça-preta, também conhecida por jaguar-preto, é uma variação melânica da onça-pintada (ou jaguar). Antes se pensava que poderiam tratar-se de espécies diferentes, mas sabe-se hoje que a onça-preta e a onça-pintada são da mesma espécie, Panthera onca. Observando-se atentamente, são visíveis as rosetas e pintas típicas da onça-pintada contra o fundo negro da pelagem da onça-preta.

A variante negra da onça-pintada é rara. Onças-pretas ocorrem na América do Sul, incluindo vários estados do Brasil e ainda na Venezuela, Paraguai, Peru, Guiana e Equador.[3] Onças-pretas também poderiam existir na América Central e México, mas a ocorrência desta variante nestas regiões não está confirmada.[3]

Na onça-preta, o melanismo é uma característica dominante, e estudos genéticos mostram que este fenótipo está associado a uma mutação no gene do Receptor de melanocortina 1 (MCR1), que regula a síntese de melanina nos melanócitos da epiderme.[1]

Pantera-negra (leopardo-preto)

Pantera-negra (Panthera pardus - Leopardo melânico)

A pantera-negra ou leopardo-negro é a variante melânica do leopardo (Panthera pardus). Como no caso da onça-preta, o padrão de rosetas e pintas da pelagem do leopardo também é visível contra o fundo negro do pelo do leopardo-negro.

A pantera-negra é rara na natureza, sendo muito pouco comum na África e grande parte da Ásia. Nas selvas do sudeste asiático, porém, a variante é mais comum, sendo particularmente abundante na Malásia.[4] A alta frequência da pantera-negra nessa região poderia ser devido simplesmente a uma melhor camuflagem no ambiente escuro da selva, mas também poderia estar relacionada à resistência a doenças, uma vez que variantes de coloração muitas vezes estão associadas a mutações em receptores de membrana que também poder atuar como receptores para a entrada de vírus nas células.[4]

Ao contrário das onças-pretas, o melanismo em leopardos é causado por um alelo recessivo. Isso implica que leopardos não-melânicos podem dar à luz filhotes negros.[4]

Jaguarundi

Jaguarundi de pelagem escura no Zoológico de Berlim.

O jaguarundi (Puma yagouaroundi) é um felino americano que pode ter várias cores de pelagem, desde o marrom-escuro e cinza até o avermelhado. Um estudo genético mostrou que a cor escura da pelagem está associada a uma mutação no gene MCR1, o mesmo que está mutado nas onças-pretas. As mutações, porém, são diferentes em cada espécie, o que indica que se originaram de maneira independente.[1]

Indivíduos heterozigotos para a mutação em MCR1 são mais escuros que indivíduos que não possuem alelos mutados, o que indica um padrão de dominância incompleta para os alelos do jaguarundi. Nas populações selvagens, a cor escura é mais comum que a avermelhada, o que indica que, nessa espécie, o alelo mutado de MCR1 substituiu em grande parte o alelo ancestral ao longo da evolução.[1]

Gato-doméstico

Ver artigo principal: Gato preto
Gato-preto doméstico. Gato com melanismo.

O gato-doméstico (Felis silvestris catus) também possui variantes melânicas da cor da pelagem. Tal variante é geneticamente recessiva e é causada por uma deleção de duas pares de bases no gene Agouti signaling protein (ASIP).[1] Essa mutação é exclusiva de gato doméstico e está totalmente ausente em felinos selvagens, indicando que provavelmente surgiu após o processo de domesticação do gato-da-líbia (Felis silvestris lybica), o ancestral do gato-doméstico.

Folclore

No folclore europeu, gato preto é considerado sinônimo de má-sorte, além de ser associado à magia negra e bruxaria.[4]

Ver também

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 Eizirik, E.; Yuhki, N.; Johnson, W. E.; Menotti-Raymond, M.; Hannah, S. S., O’Brien, S. J. (2003). «Molecular genetics and evolution of melanism in the cat family» (PDF). Current Biology. 13 (5): 448–453. PMID 12620197. doi:10.1016/S0960-9822(03)00128-3 
  2. 2,0 2,1 Graipel, Maurício Eduardo; Bogoni, Juliano André; Giehl, Eduardo Luís Hettwer; Cerezer, Felipe O.; Cáceres, Nilton Carlos; Eizirik, Eduardo (18 de dezembro de 2019). «Melanism evolution in the cat family is influenced by intraspecific communication under low visibility». PLOS ONE. 14 (12): e0226136. ISSN 1932-6203. doi:10.1371/journal.pone.0226136 
  3. 3,0 3,1 Meyer, John R. (1994). «Black jaguars in Belize?: A survey of melanism in the jaguar, Panthera onca». Belize Explorer Group. biological-diversity.info 
  4. 4,0 4,1 4,2 4,3 Sunquist, F. (2007). «Malaysian Mystery Leopards». National Wildlife Magazine. 45 (1). Consultado em 29 de maio de 2011. Arquivado do original em 16 de janeiro de 2008 

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