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Manto de gelo da Antártida Ocidental

O manto de gelo da Antártida Ocidental (MGAO) é a porção do manto de gelo antártico que cobre a Antártida Ocidental, a parte da Antártida situada a oeste dos Montes Transantárticos. O MGAO é um manto de gelo cuja base se situa abaixo do nível do mar e cujas margens fluem em direção a plataformas de gelo flutuantes. O MGAO encontra-se limitado pela plataforma de gelo Ross, plataforma de gelo de Filchner-Ronne e glaciares de descarga que drenam para o Mar de Amundsen. Estima-se que contenha aproximadamente 29 milhões de quilómetros cúbicos de gelo.

Descrição

Mosaico de imagens de satélite da Antártida

O peso do gelo antártico é tão grande que afundou literalmente a Antártica 1 km na crusta terrestre. Sob as forças maciças do seu próprio peso, os mantos de gelo deformam-se e movimentam-se em direção ao seu exterior. O gelo interior flui lentamente sobre uma base rochosa rugosa.

Desde o interior o gelo é canalizado para correntes de gelo, que levam o gelo do centro do continente em direção ao mar. Estas correntes encontram-se separadas umas das outras por cristas de gelo que flui mais lentamente. Estas cristas encontram-se congeladas até à base enquanto que nas correntes de gelo a base consiste de argilas saturadas de água. As argilas foram depositadas antes do manto de gelo ocupar a região, numa altura em que grande parte da Antártida Ocidental se encontrava sob as águas do mar.

Quando as correntes de gelo finalmente atingem a costa e se estendem pelo oceano adentro, elas passam sobre terrenos rochosos irregulares, os quais servem de âncora. O gelo continuará a expandir-se em direção ao mar. O resultado é uma grande plataforma de gelo flutuante presa ao continente.[1]

Potencial colapso do MGAO

Em Janeiro de 2006, num estudo pedido pelo governo do Reino Unido, o chefe do British Antarctic Survey, Chris Rapley, avisou que o manto de gelo da Antártida pode estar no início dum processo de desintegração, a qual poderia elevar os níveis do mar pelo menos 5 metros (outras estimativas aponta para elevações entre os 6 e os 15 metros). Rapley disse ainda que um estudo anterior publicado pelo IPCC, que dizia não haver necessidade de verdadeira preocupação relativamente à estabilidade do MGAO, deveria ser revisto. Ele escreveu: O último relatório do IPCC caracterizava a Antártida como sendo um gigante adormecido em termos de mudança climática. Eu diria que é agora um gigante acordado. Há reais motivos para preocupação.[2]

Numa outra comunicação pública Rapley disse: Partes do manto de gelo antártico cuja base se situa abaixo do nível do mar, começaram a descarregar gelo [no mar] a uma velocidade suficientemente alta, ao ponto de poder existir uma contribuição significativa para a elevação do nível do mar. Torna-se urgente compreender a razão desta alteração, de forma a podermos ser capazes de prever a quantidade de gelo que poderá ser descarregada e em quanto tempo. Os modelos computacionais atuais não incluem o efeito da água líquida no escorregamento e fluxo dos mantos de gelo, fornecendo apenas estimativas conservadoras do seu comportamento futuro.[3]

Por seu lado, Jim Hansen, um cientista da NASA e um dos principais conselheiros sobre clima do governo dos Estados Unidos, disse que os resultados eram profundamente preocupantes: Uma vez iniciado o processo de desintegração de um manto de gelo, este pode atingir o ponto de rotura a partir do qual a fragmentação é explosivamente rápida.[4]

Indicações de que as mudanças climáticas podem estar a afetar o MGAO proveem de três glaciares incluindo o glaciar de Pine Island e o Thwaites. Os dados mostram que estes glaciares perdem atualmente mais gelo (sobretudo através do desprendimento de icebergues) que aquele que neles se acumula através da queda de neve. Segundo uma análise preliminar, o balanço de massa é deficitário em cerca de 40%. Estima-se que o derretimento de apenas estes três glaciares possa contribuir para uma elevação anual do nível do mar da ordem de 0,25 mm.[2]

Impacto da fusão do manto de gelo da Groenlândia

Apesar dos modelos preverem a ocorrência de uma fusão significativa do manto de gelo da Gronelândia com uma subida das temperaturas de Verão no Ártico da ordem dos 3 a 5 °C, a maioria dos modelos prevê que os mantos de gelo antárticos permaneçam mais estáveis. Contudo, os dados históricos mostram que da última vez que a Gronelândia esteve tão quente, a subida do nível do mar produzida pela fusão do seu manto de gelo desestabilizou o gelo antártico. Isto significa que os modelos de subida do nível do mar utilizados para prever um aumento de até 1 metro em 2100 podem ter subestimado significativamente a sua verdadeira magnitude, a qual poderia ser tão grande como 6 metros.[5]

Esta conclusão emergiu de um estudo que utilizou dados de antigos recifes de coral, testemunhos de gelo e outros registos naturais para reconstruir o clima durante o último período interglaciar (há 129 000 a 116 000 anos). Os cientistas utilizaram modelos computacionais para demonstrar que a água produzida pela fusão do manto de gelo da Gronelândia provocou uma subida do nível do mar de aproximadamente 3,5 metros, mas os registos dos corais mostraram que a subida total se situou entre os 4 e os 6 metros. A explicação mais provável é a fusão dos mantos de gelo antárticos: enquanto o nível do mar subia, a probabilidade das plataformas de gelo ao largo da costa do continente se partirem aumentou. Esta quebra teria permitido aos glaciares aumentarem a quantidade de gelo descarregada no mar a partir do interior do continente.[5]

Referências

  1. Ice Shelves, Antarctic and Southern Ocean Coalition,
  2. 2,0 2,1 Jenny Hogan, "Antarctic ice sheet is an 'awakened giant'", New Scientist, February 2, 2005
  3. "West Antarctic ice sheet: Waking the sleeping giant?", Symposium, February 19, 2006
  4. Jonathan Leake and Jonathan Milne, "Focus: The climate of fear", The Sunday Times - Britain, February 19, 2006
  5. 5,0 5,1 "London 'under water by 2100' as Antarctica crumbles into the sea", The Times (UK), March 24, 2006

Ligações externas

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