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Mania das tulipas

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Panfleto da tulipamania neerlandesa, impresso em 1637.

Mania das tulipas, tulipomania, tulipamania, febre da tulipa ou crise das tulipas são expressões referentes a um episódio da História dos Países Baixos que deu origem à primeira bolha especulativa conhecida.[1] Hoje, tais termos são aplicados metaforicamente a qualquer bolha especulativa em grande escala.

As tulipas foram introduzidas nos Países Baixos no século XVII. Suas flores, muito apreciadas por sua beleza, passaram a ser muito procuradas, favorecendo o aumento dos preços. Com o passar dos anos, os preços aumentavam cada vez mais rápido, tornando o comércio de bulbos de tulipas bastante lucrativo. Pessoas de todas as classes vendiam propriedades para investir em tulipas, e em meados da década de 1630 surgiram contratos de futuros para negociar os bulbos antes mesmo da colheita. Em 1637, devido a diversos fatores, houve uma perda de confiança em tais títulos, levando muitos a uma corrida para o resgate de seus investimentos. Consequentemente, os preços caíram subitamente, e inúmeros negociantes foram à falência.

História

Charles de l'Écluse
Aquarela de um pintor holandês anônimo do século XVII mostra a Semper Augustus, o bulbo mais famoso de tulipa, que foi vendido por preço recorde.[2]

A tulipa foi introduzida na Europa durante a metade do século XVI à época do Império Otomano. Imagina-se que seu cultivo nas Sete Províncias tenha começado em 1593, quando Charles de l'Écluse criou mudas de tulipa capazes de tolerar as ásperas condições climáticas nos Países Baixos, a partir de bulbos que lhe haviam sido enviados da Turquia por Ogier de Busbecq. No começo do século XVII, a flor já era muito usada na decoração de jardins e também na medicina.

Apesar de não terem perfume e florescerem apenas por uma ou duas semanas ao ano, os jardineiros holandeses apreciavam as tulipas por sua beleza. Muitos mercadores, artesãos e colecionadores preferiam colecionar e pintar tulipas a quadros.[3]

Rapidamente a popularidade das flores aumentou. Mudas especiais recebiam denominações exóticas ou nomes de almirantes da marinha holandesa. As mais espetaculares e altamente desejadas tinham cores vívidas, linhas e pétalas flamejantes. A tulipa se tornara um cobiçado artigo de luxo e símbolo de status social e estabelece-se a competição entre membros das altas classes pela posse das variedades mais raras. Os preços disparam.

Em 1623, um simples bulbo de uma variedade famosa de tulipa poderia custar muitos milhares de florins neerlandeses. Tulipas foram trocadas por terras, animais valiosos. Algumas variedades podiam custar mais que uma casa em Amsterdã. Dizia-se que um bom negociador de tulipas conseguia ganhar seis mil florins por mês, quando a renda média anual, à época, era de 150 florins. Um bulbo de tulipa passou a ser vendido pelo preço equivalente a 24 toneladas de trigo.[4] Por volta de 1635, a venda de 40 bulbos por 100.000 florins foi um recorde. Para efeito de comparação, uma tonelada de manteiga custava algo em torno de 100 florins e oito porcos graúdos custavam 240 florins.[5] O recorde foi a venda de um dos mais famosos bulbos, o Semper Augustus, por 6.000 florins, em Haarlem.

Em 1636, tulipas eram vendidas nas bolsas de valores de numerosas cidades holandesas. O comércio das flores era encorajado por todos os membros da sociedade; muitas pessoas vendiam ou negociavam suas posses no intuito de especular no mercado de tulipas. Alguns especuladores tiveram muito lucro, enquanto outros perderam tudo ou quase tudo o que tinham.

Negociantes passaram a vender bulbos das tulipas que tinham acabado de plantar ou ainda que intencionavam plantar (os chamados contratos futuros de tulipa) - apesar de um édito de 1610 ter proibido esse tipo de negócio. O fenômeno foi chamado windhandel ("negócio de vento") e ganhou espaço sobretudo em tavernas de cidades pequenas, onde se usava uma espécie de lousa para indicar as ofertas de preço.

Em fevereiro de 1637, os comerciantes de tulipas não conseguiam mais inflacionar os preços de seus bulbos e então começaram a vendê-los. A bolsa de valores estourou. Começou-se a suspeitar que a demanda por tulipas não duraria e isso propagou o pânico no mercado. Alguns deixaram de segurar contratos para compra de tulipas, estabelecidos a preços que agora eram dez vezes maiores que os preços de mercado; outros acharam-se na posse de bulbos cujo preço era muito inferior ao que haviam pago. Consequentemente, milhares de holandeses, incluindo executivos e membros da alta sociedade, ruíram financeiramente.

Aquarela de uma tulipa, publicada na revista Harper's New Monthly Magazine, em 1876. Pintura de Pierre-Joseph Redouté.

Tentativas de resolver a situação fracassaram. Os juízes consideraram os débitos como contratados através de especulação e portanto, sem corroboração legal. Assim, as pessoas permaneceram abarrotadas de bulbos comprados antes da quebra, já que nenhuma Corte determinaria a execução do pagamento desses contratos.

Versões menores da tulipamania também ocorreram em outras partes da Europa, entretanto nunca chegaram ao nível da que ocorreu nos Países Baixos. Na Inglaterra de 1800, era comum pagar cinquenta guinéus por um único bulbo de tulipa. Esta soma poderia manter um trabalhador e sua família com comida, roupa e aluguel por seis meses.

Os fatos foram relembrados, mais de dois séculos depois, no livro Memorando de extraordinários engodos populares e a loucura das multidões,[6] escrito pelo jornalista inglês Charles Mackay, em 1843. Mackay, no entanto, omitiu-se de mencionar que no mesmo período, os Países Baixos foram também atingidos por uma epidemia de peste bubônica, entre outros contratempos, durante a Guerra dos Trinta Anos. Possuir tulipas no lar era um meio de impressionar e quando a riqueza rolava escada-social abaixo então, todos clamavam por tulipas. Charles Mackay conta uma história da época: Predefinição:Quotation[6]

No século XX descobriu-se que as pétalas repletas de babados e cores vicejantes, que davam a essa flor um ar apoteótico, eram, de fato, resultado de uma infecção causada por um vírus que só atingia tulipas, conhecido como vírus do mosaico da tulipa.[7] A flor saudável era considerada sólida, macia e monótona.

Ver também

Referências

  1. Paul Strathern (2003). Uma breve história da economia. [S.l.]: Jorge Zahar Editor. ISBN 978-85-7110-732-8 
  2. (em inglês) Anonymous Dutch Artist. «Collectios». Norton Simon Museum. Consultado em 13 de Fevereiro de 2008 
  3. Simon Kuper. «Petal power». The Financial Times. Consultado em 18 de Maio de 2007 
  4. Véronique Dumas. «As rosas não falam (mas contam a história)». Consultado em 26 de abril de 2008. Arquivado do original em 14 de abril de 2015 
  5. Aline Sullivan. «8 Fat Swine for a Tulip: A Brief History of Bursts». International Herald Tribune. Consultado em 18 de maio de 2007 
  6. 6,0 6,1 Charles Mackay. «The Tulipomania». Memoirs of Extraordinary Popular Delusions and the Madness of Crowds. Consultado em 18 de maio de 2007 
  7. S. Phillips, 1986. «Tulip breaking potyvirus». Plant Viruses Online. Consultado em 18 de maio de 2007. Arquivado do original em 20 de fevereiro de 2009 

Referências extras

  • (em inglês) Dash, Mike (1999). Tulipomanoa. The Story of the World's Most Coveted Flower and the Extraordinary Passions It Aroused. [S.l.: s.n.] ISBN 0-575-06723-3 
  • (em inglês) Garber, Peter M. (1989). Tulipmania. The Journal of Political Economy 97 ed. [S.l.: s.n.] pp. 535–560 
  • (em inglês) Garber, Peter M. (2000). Famous First Bubbles. The Fundamentals of Early Manias. Cambridge, MA: MIT Press 
  • (em inglês) Goldgar, Anne (2007). Tulipmania. Money, Honor, and Knowledge in the Dutch Golden Age. Chicago, IL: University of Chicago Press 
  • (em inglês) Kindleberger, Charles P. (2000). Manias, Panics, and Crashes. A History of Financial Crises. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0-471-38945-3 
  • (em inglês) Harper's New Monthly Magazine (Abril de 1876). The Tulip Mania. Vol. LII No. CCCXL ed. [S.l.]: Harper's New Monthly Magazine  Verifique data em: |ano= (ajuda)
  • (em inglês) Pavord, Anna (2004). The Tulip. [S.l.: s.n.] ISBN 0-7475-7190-2 
  • (em inglês) Pollan, Michael (2001). The Botany of Desire. [S.l.: s.n.] ISBN 0-375-76039-3 

Ligações externas

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