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Macro-jê

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Línguas jês propriamente ditas (amarelo-claro) e outras línguas macro-jês (amarelo escuro) na atualidade. A área sombreada indica aproximadamente a provável área de extensão no passado

Macro-jê, também referido pelo etnônimo brasílico Macro-Jê, [1] é um tronco linguístico cuja constituição ainda permanece consideravelmente hipotética. Em tese, está distribuído pelas regiões não litorâneas e mais centrais do Brasil, incluindo partes de todos os seus estados, exceto Amazonas, Amapá, Roraima e Acre, no Norte - bem como pequenos grupos dispersos em partes do Paraguai e da Bolívia.[2]

Histórico

A partir do descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500, os europeus passaram a ter um grande contato com as tribos tupi-guaranis que estavam espalhadas por praticamente toda a costa brasileira. Os tupis-guaranis chamavam os indígenas de fala diversa à sua de tapuia – que, em sua língua, significava "inimigo". Este vocábulo foi incorporado pelos europeus, que passaram a considerar que, no país, havia apenas duas grandes nações indígenas: a tupi-guarani e a tapuia.

Os tapuias, considerados pelos europeus como mais primitivos e de catequese e conquista mais difíceis, foram duramente combatidos e exterminados – e muitos dos povos e tribos então existentes desapareceram de forma tão completa que sequer existe registro direto de sua existência.

No século XIX, o cientista alemão Carl Friedrich Philipp von Martius percorreu grande parte do território brasileiro e propôs uma divisão dos índios brasileiros segundo um critério linguístico. Baseado nesse critério, ele criou o grupo gê, que englobava tribos que falavam línguas semelhantes e que costumavam autodenominar-se utilizando a partícula , que significava "pai", "chefe" ou "antepassado"'. Um nome alternativo, segundo o próprio Martius, seria cram, pois, nesse grupo, também era muito utilizada a partícula cran ("filho", "descendente") para a nomeação das tribos. Grande parte das antigas tribos tapuias estava englobada pelo grupo gê.[3]

Já no começo do século XX, os antropólogos passaram a rejeitar o nome "tapuia" e adotaram a denominação de "gês" para este outro grupo de famílias linguísticas. Em 1953, a Associação Brasileira de Antropologia adotou a forma "jê" em substituição a "gê".[4] Com a reforma ortográfica, que preconizava o uso de "j" em vez de "g" para os termos oriundos das línguas indígenas do Brasil, a palavra "gê" passou a ser grafada "jê".

Povos e línguas do tronco macro-jê

Jolkesky (2016)

Classificação interna do tronco macro-jê (Jolkesky 2016):[5]

(† = língua extinta)


Macro-jê
  • Borum
  • Ofaye
  • Rikbaktsa
  • Yate
  • Bororo
    • Bororo
    • Otuke †
    • Umutina †
  • Maxakali
    • Malali †
    • Maxakali-Pataxo
      • Maxakali
      • Pataxo †
  • Kamakã †
    • Masakara †
    • Kamakã-Menien †
      • Kamakã †
      • Menien †
  • Kariri †
    • Dzubukua †
    • Kipea †
    • Xoko †
  • Macro-jê nuclear
    • Besiro (Chiquitano)
    • Arikapu; Jeoromitxi
    • Karaja: Javae; Karaja; Xambioa
      • Jê central
        • Akroa †
        • Xakriaba †
        • Xavante
        • Xerente
        • Jeiko †
      • Jê meridional
        • Ingain: Ingain †; Kimda †
        • Kaingang-Xokleng
          • Kaingang: Kaingang; Kaingang Paulista
          • Xokleng
      • Jê setentrional
        • Apinaje
        • Kayapo: Mẽbengokre; Xikrin
        • Panara
        • Suya; Tapayuna
        • Timbira: Apãniekra; Kraho; Krẽje †; Krĩkati; Parkateje; Pykobje; Ramkokamekra

Nikulin (2020)

Classificação interna do tronco Macro-Jê (Nikulin 2020):[6]

Macro-Jê

Influência na língua portuguesa

As línguas do tronco macro-jê legaram algumas palavras para a língua portuguesa, embora não de modo tão expressivo quanto as línguas do tronco tupi. Geralmente, são topônimos da Região Sul do Brasil com origem na língua caingangue, como Goioerê, Xanxerê, Erechim, Chapecó, Erebango, Campo Erê, Goioxim, Nonoai etc.[7]

Vocabulário

Alguns conjuntos de cognatos nas línguas macro-jê (Nikulin & Carvalho 2019: 263):[8]

(Língua) filho dente barriga fome semente cabeça osso cinza
Xavante ’ra /ʔraː/ ’wa /ʔwa/ di(’i) /niʔ/ mra(m) /mrʌ̃m̚/ dzö; nhama /jʌm/ ’rã(i) /ʔrʌ̃j/ hi /hi/ ’ru(i) /ʔrúj/
Proto-Jê Central *kraː *kwa *di(ki) *mrʌ̃(m) *ɲʌ̃mʌ̃ *ɟʌ; *krʌ̃(j) *hi (?)
Proto-Cerrado *kra *jwa *tik *prʌ̃m̚ *cɨm *krʌ̃j *ci *mbrɔ
Proto-Jê *kra *jɔ *tik *prʌ̃m̚ *cɨm *krɨ̃ɲ *ci *mbrʌ
Proto-Maxakali-Krenak *kruk *juɲ *tɛk *prɨm *jam *krɨ̃ɲ *jɛt ~ *jɛk *proŋ
Maxakali kutok /ktuk/ xox /cuc/ tex /tɛk/ putup /ptɨp/ xap /cap/ putox /ptuc/ kup /kɨp/ putohok /ptuk/


Comparação lexical (Rodrigues 1986):[9]

Português um braço flecha mel fígado cinza marido
Apinayé par pitxi pa mèñ ma mrò mien
Xavánte paara pano pa
Kaingáng pẽn pir pẽ (puñ) mỹng ta-mẽ mrẽi mèn
Maxakalí pata pytxèt pói pang pytok pen
Kamakã wade weto wãi
Purí txapere i-páin pun
Botocudo putxik pâng ku-pagn
Yatê fe, fet- fathowa felowa (feto)
Kipeá by, byri- bihe bo buiku bydi
Karajá waa wyhy bâdi baa bry-by
Boróro byre (mito) (boi-) (imedo)
Ofayé fara fyk fa
Guató pagwa
Rikbaktsá pyry txi-pa mẽk- mari-kta

Reconstrução

Ver artigo principal: Proto-macro-jê

Comparações

Ver artigo principal: Proto-macro-jê#Comparações

Ver também

Referências

  1. Dicionário Houaiss: 'macro-jê' (etnm.br.: Macro-Jê)
  2. Gomes, Raíssa (24 de fevereiro de 2021). «Tese sobre consolidação histórica do tronco linguístico Macro-Jê é reconhecida internacionalmente». UnB Ciência. Brasília. Consultado em 7 de setembro de 2021 
  3. CHAIM, M. Aldeamentos Indígenas (Goiás 1749-1811). Segunda edição. São Paulo: Nobel, 1983. p. 47
  4. RODRIGUES, A. D. Línguas Brasileiras. Edições Loyola: São Paulo, 1986. pp.10,11
  5. Jolkesky, Marcelo Pinho De Valhery. 2016. Estudo arqueo-ecolinguístico das terras tropicais sul-americanas. Doutorado em Linguística. Universidade de Brasília.
  6. Nikulin, Andrey. 2020. Proto-Macro-Jê: um estudo reconstrutivo. Tese de Doutorado em Linguística, Universidade de Brasília.
  7. A língua kaingang. Disponível em http://portalkaingang.org/Lgua_Kaingang.pdf. Acesso em 27 de dezembro de 2013.
  8. Nikulin, Andrey; Fernando O. de Carvalho. 2019. Estudos diacrônicos de línguas indígenas brasileiras: um panorama. Macabéa – Revista Eletrônica do Netlli, v. 8, n. 2 (2019), p. 255-305. (PDF)
  9. Rodrigues, Aryon Dall'Igna. 1986. Línguas brasileiras: Para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola. (PDF)

Bibliografia

Ligações externas

Wikilivros
O Wikilivros tem um livro chamado Civilização macrojê

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