As línguas mixe-zoqueanas constituem uma família linguística cujos membros vivos são falados no istmo de Tehuantepec, México e sua vizinhança. O governo mexicano reconhece três línguas mixe-zoque como línguas oficiais: mixe ou ayook com 188 000 falantes, zoque ou o'de püt com 88 000 falantes, e as línguas de Popoluca, das quais algumas são mixeanas e outras zoqueanas, com 69 000 falantes. Porém, a diversidade interna de cada um destes três grupos é grande e o Ethnologue contabiliza dezasseis línguas diferentes e a actual classificação das línguas mixe-zoque de Wichmann (1995) contabiliza doze línguas e onze dialectos. Entre as línguas extintas da família mixe-zoqueana inclui-se o tapachulteco, que era falado na costa sudeste de Chiapas.
História
Historicamente a família mixe-zoque pode ter sido muito mais abrangente em termos geográficos, estendendo-se até à costa pacífica da Guatemala (i.e. a região de Soconusco). Terrence Kaufman e Lyle Campbell propuseram[1], baseando-se em várias palavras emprestadas recorrentes em outras línguas mesoamericanas, ser possível que os olmecas, geralmente vistos como a mais antiga cultura dominante da Mesoamérica, falassem uma língua mixe-zoque. Kaufman, juntamente com John Justeson, reivindicou haver decifrado a escrita ístmica (também designada epi-olmeca), baseando-se no seu ponto de vista de que se encontrava escrita numa língua mixe-zoque.
Ambas as propostas acima têm sido criticadas: Michael D. Coe e David Stuart argumentam que o reduzido número de exemplares conhecidos de escrita ístmica é insuficiente para sustentar qualquer proposta de decifragem. A sua tentativa de aplicação das decifragens de Kaufman e Justeson a outros materiais de proveniência ístmica não obteve resultados significativos. Wichmann (1995) critica algumas das supostas palavras mixe-zoqueanas emprestadas às línguas mesoamericanas, por serem apenas zoqueanas, mas não mixeanas, o que significa o que significa que o período em que ocorreu o empréstimo é muito posterior ao período durante o qual a cultura olmeca se encontrava no seu auge, pois durante este período o proto-mixe-zoqueano era uma única língua.
Mais tarde em 2001 Kaufman, de novo baseando-se em empréstimos mixe-zoqueanos a outras línguas mesoamericanas, defendeu a existência de uma presença mixe-zoqueana em Teotihuacan, e atribui ao mixe-zoqueano um papel importante na disseminação das caracteríticas linguísticas que se tornaram definidoras da área linguística mesoamericana.
Pensa-se que as línguas mixe-zoque não estão relacionadas com qualquer outro grupo linguístico,apesar de no início do século XX Edward Sapir as haver incluído na superfamília das línguas penutianas.
Genealogia do mixe-zoque
A classificação das línguas mixe-zoqueanas de Søren Wichmann (1995):
Classificação das línguas mixe-zoqueanas | |||||
Família | Grupos | Língua | Território | ||
Línguas mixe-zoqueanas | Mixeano | Mixe de Oaxaca | Variedades mixeanas da Sierra de Juárez | Sierra de Juárez (Oaxaca) | |
Mixe do Golfo | Popoluca de Sayula | Veracruz | |||
Popoluca de Oluta | Veracruz | ||||
Zoqueano | Zoque do Golfo | Popoluca de Texistepec | Veracruz | ||
Popoluca de Soteapan | Veracruz | ||||
Zoque dos Chimalapas | Zoque de San Miguel Chimalapa | Los Chimalapas (Oaxaca) | |||
Zoque de Sta. María Chimalapa | |||||
Zoque de Chiapas | Variedades zoques de Chiapas | Ocidente de Chiapas |
Fonologia das línguas mixe-zoqueanas
A lista de fonemas do proto-mixe-zoqueano conforme a reconstrução de Wichmann (1995) pode parecer relativamente simples, mas muitas das línguas modernas inovaram e algumas tornaram-se bastante ricas em vogais e algumas também introduziram o contraste do tipo fortis/lenis nas séries de oclusivas. O fonema lateral /l/ é encontrado em muito poucas palavras em algumas das línguas e a sua origem é provavelmente onomatopeica.
Sílabas
As línguas mixe-zoque são caracterizadas por núcleos silábicos complexos formados por combinações de vogais juntamente com paragem glotal e /h/ na protolíngua.
Os núcleos silábicos do proto-mixe-zoqueano podiam ser:
- V - vogal curta
- V' - vogal curta com paragem glotal
- VV - vogal longa
- V'V - vogal longa com paragem glotal média
- VV' - vogal longa com paragem glotal final
- Vh - vogal curta com h
Características gramaticais das línguas mixe-zoqueanas
As línguas mixe-zoque são caracterizadas pela marcação do núcleo das sentenças, são polissintéticas com verbos morfologicamente complexos e substantivos simples. Nelas são marcados tanto os sujeitos gramaticais como os objectos. Usam um alinhamento ergativo e apresentam sistemas do tipo directo/inverso originados pela animácia e topicalidade. Os verbos distinguem os afixos pessoais dependendo do tipo de cláusula em que ocorrem. Existem dois tipos de marcadores de aspecto, um utilizado em cláusulas dependentes e outro utilizado em cláusulas independentes. São distinguidos três aspectos em cada tipo de cláusula: incompletivo, completivo e irrealis.
Classificação do Ethnologue e códigos-ISO do SIL
O Ethnologue ainda utiliza a classificação anterior a Wichmann como base para o seu trabalho.
- Línguas mixe -- Estimados 90 0000 falantes nativos.
- Mixe Oriental - Estimados 72,000 falantes nativos
- Dialectos:Coatlán (mco), Istmo(mir), Quetzaltepec(pxm),Juquila(mxq), e Mazatlán(mzl)
- Mixe de Veracruz - Estimados 4 000 falantes nativos
- Dialectos: Oluta (plo) quase extinto - apenas 100 falantes, Sayula (pos)
- Mixe Ocidental
- Estimados 10 000 falantes nativos
- Dialectos: Totontepec (mto), Tlahuitoltepec (mxp)
- Línguas zoque -- Estimam-se 60 000 falantes nativos
- Zoque de Chiapas - Estimados 22 000 falantes nativos
- Zoque de Oaxaca - Estimam-se 4 500 falantes nativos
- Dialecto: Chimalapa (zoh)
- Zoque de Veracruz - Estimam-se 30 000 falantes nativos
- Dialectos: Terras altas (poi), Texistepec (poq) quase extinto - apenas 450 falantes, Tabasco (zoq) quase extinto - apenas 40 falantes
Notas
- ↑ Campbell and Kaufman (1976).
Referências
- (em inglês) Campbell, L., and T. Kaufman (1976), "A Linguistic Look at the Olmecs", American Antiquity, 41 pp. 80-89.
- Justeson, John S., and Kaufman, Terrence, (1997),"A Newly Discovered Column in the Hieroglyphic Text on La Mojarra Stela 1: a Test of the Epi-Olmec Decipherment", Science, 07/11/97, Vol. 277 Issue 5323, p. 207.
- (em inglês) Justeson, John S., and Kaufman, Terrence (2001) Epi-Olmec Hieroglyphic Writing and Texts.
- (em inglês) Kaufman, Terrence, (2001) Nawa linguistic prehistory, published at website of the Mesoamerican Language Documentation Project
- (em inglês) Wichmann, Søren, 1995, The Relationship Among the Mixe-Zoquean Languages of Mexico. University of Utah Press. Salt Lake City. ISBN 0-87480-487-6
- (em inglês) Brigham Young University press release on behalf of Brigham Young University archaeologist Stephen Houston and Yale University professor emeritus Michael Coe disputing Justeson/Kaufman findings.
Ligações externas
- (em inglês) Entrada mixe-zoque no Ethnologue
- (em inglês) Mixe-Zoque language family