Língua cristã Papiá kristáng | ||
---|---|---|
Falado(a) em: | Singapura, Malásia | |
Total de falantes: | 5.500[1] | |
Família: | Crioulos de base portuguesa Crioulos malaio-portugueses Malásia Língua cristã | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | nenhum(a) região/país | |
Regulado por: | sem regulação oficial | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
| |
ISO 639-2: | --- | |
ISO 639-3: | mcm
|
A língua cristã, português de Malaca, crioulo de Malaca, papiá kristáng ou simplesmente papiá, é uma língua crioula de base portuguesa com estrutura gramatical próxima do malaio, falado na Malásia e em Singapura pelos descendentes dos descobridores portugueses e suas famílias miscigenizadas. Papiá é a pronúncia crioula de papear, i.e., falar, conversar, dizer. Kristáng é a pronúncia de "cristão", posto que a maioria dos falantes do citado crioulo seguiam a religião cristã, oficial em Portugal e seus domínios coloniais ultramarinos.
Distribuição
A língua tem cerca de 5.500 falantes em Malaca e outros 400 em Singapura. Cerca de 80% dos antigos kristáng em Malaca falam-na regularmente. Há também alguns falantes em Kuala Lumpur e Singapura devido à emigração. O kristáng é também falado por alguns imigrantes e seus descendentes no Reino Unido, para onde alguns se mudaram após a independência, e também na Austrália, em particular na cidade de Perth, que é um destino popular de retornados na comunidade. Em Pulau Tikus havia mais falantes em 1997 que em 1987.
História
Interessados em dominar o estratégico estreito de Malaca, por onde escoavam as especiarias oriundas das Filipinas, de Timor-Leste, das Ilhas Molucas e de Macau, os portugueses se apossaram da região em 1511, estabelecendo uma feitoria e um forte, posteriormente tomados pelos Países Baixos por iniciativa da Companhia das Índias Orientais. Ulteriormente toda a região e zonas próximas cairiam sob administração britânica, assim permanecendo até a Segunda Guerra Mundial, quando esteve sob fortes ataques da expansão nipónica no sueste asiático. Atualmente faz parte da Malásia.
Ao chegarem a Malaca, os portugueses se depararam com a cultura Penang, fruto da mestiçagem entre comerciantes chineses e malaias. Paulatinamente, o português se mesclou com o malaio e palavras de origem chinesa. Desta fusão das três línguas surge o papiá kristáng, crioulo de base portuguesa com influências fonéticas e gramaticais dos substratos chinês e malaio. A comunidade de falantes descende principalmente de casamentos entre navegadores portugueses e mulheres locais malaias, assim como de um certo número de migrantes vindos de Goa, eles próprios de ascendência indo-portuguesa.
O kristáng teve uma influência substancial no Patuá macaense, a língua crioula falada em Macau, dado à migração substancial de Malaca após a região ser ocupada pelos holandeses. Mesmo após Portugal perder Malaca e quase todo o contacto em 1641, a comunidade kristáng largamente preservou a sua língua. Devido a melhores condições de vida e trabalho em Singapura, centenas de falantes de Papiá kristáng fixaram-se no país vizinho e levaram o crioulo consigo; porém, com os casamentos com singapureanos a tendência é ao desaparecimento do kristáng em Singapura. Em Malaca a comunidade crioulófona falante de papiá kristáng conta com escola e associação. Foi publicado um dicionário de português-papiá kristáng, e o crioulo e sua comunidade foram tema de um artigo da Revista de Cultura do Instituto da Cultura de Macau.
Curiosidades
Diferentemente do que se diz nas histórias da comunidade kristáng em Malaca, a dança do vira não foi introduzida pelos primeiros colonizadores portugueses chegados nas caravelas, mas sim por padres lusitanos enviados nas décadas de 40 e 50 pelo governo português para assistir religiosamente a comunidade crioula e transmitir-lhes um pouco da cultura portuguesa metropolitana.
Estrutura
O dialecto kristang oferece uma simplicidade a língua portuguesa com relação conjugação dos verbos. Os advérbios "já" e "ainda" tornam se partículas que põem o verbo em tempo passado e presente respectivamente, pondo o verbo no infinitivo,. Exemplos:
- Yo já comer = eu (já) comi.
- Yo ainda comer = eu (ainda) comerei.
Expressões Comuns
- Mutu merseh (port. Muito obrigado)
- Teng bong? (port. Estás bem?)
- Bong pamiang (port. Bom dia)
- Bong atadi (port. Boa tarde)
- Bong anuti (port. Boa noite)
- yo (port. eu)
- bos (port. vós)
- bolotudu (port. vós todos, vocês todos)
- mai (port. mãe)
- pai (port. pai)
- muleh (port. mulher)
- maridu (port. marido)
- bela (port. velha)
- belu (port. velho)
- Quenino ou Kenino (Port. Pequenino)
- godru (port. gordo)
- Bonitu (port. bonito)
- festa (port. festa)
- ungua, dos, tres, kuatu, singku, sez, seti, oitu, novi, des (port. um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez)
Poema de Malacca
- Keng teng fortuna ficah na Malaka,
- Nang kereh partih bai otru tera.
- Pra ki tudu jenti teng amizadi,
- Kontu partih logo ficah saudadi.
- Ó Malaka, tera di San Francisku,
- Nten otru tera ki yo kereh.
- Ó Malaka undi teng sempri fresku,
- Yo kereh ficah atih moreh.
Tradução em português:
- Quem tem fortuna fica em Malaca,
- Não quer partir para outra terra.
- Por aqui toda a gente tem amizade,
- Quando partir logo fica a saudade.
- Ó Malaca, terra de São Francisco,
- Não há outra terra que eu quero.
- Ó Malaca, onde tem sempre ar fresco,
- Eu quero ficar até morrer.