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Katádesmos

Aventuras mitológicas e deuses sempre fizeram parte do mundo grego, do cotidiano da Grécia Antiga, percebidos através dos rituais religiosos, onde destacamos a prática religiosa oficial que visava o bem comum, o bem da pólis, e uma outra prática também religiosa, mas que nos sugere interesses individuais. Esta prática é denominada a prática de fazer mal ao inimigo (CANDIDO, 2004, p. 18) através dos katádesmos, katádesmoi (em grego) ou defixios (em latim).

Características

Exemplo de um katádesmos

Estes katádesmoi se caracterizam por serem finas lâminas de chumbo (metal frio e maleável) que traziam gravadas além do desejo do solicitante e dos nomes das pessoas que desejava prejudicar, os nomes de divindades ctônicas, deuses que tinham contato com o Mundo Subterrâneo – lugar dos mortos, com a terra, a vegetação. As lâminas traduzidas para o português correspondem em grande quantidade ao período clássico de Atenas, Século V a.C. e Século VI a.C. e nelas encontramos maior freqüência da presença de Hermes, sozinho e às vezes com outros deuses na mesma lâmina. Estes outros deuses são Hécate, Hades, Perséfone, Gaia, Tétis e Cérbero.

Essas lâminas eram depositadas em templos do deuses ctônios, nos poços d'água, nas fendas das casas do inimigo/adversário e nos corpos dentro dos túmulos no cemitério do Cerâmico.

As lâminas apresentam uma linguagem própria, que permite uma classificação como a que faz Cândido, a saber: imprecação contra os ofícios, “lâminas de rivalidade comercial” (2004, p. 41)e uma grande classificação como faz Ogden (2004, p. 47) com base em outros estudiosos:

  1. Litígio (incluindo política)
  2. Competição
  3. Ofício
  4. Erótica (separação e atração)
  5. Orações por justiça

Funcionamento

Pedindo permissão ao Deus selecionado, o mago podia então, usar as almas de pessoas especiais, pessoas que morreram fora do ciclo de vida determinado pelas Moiras ao ateniense: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer e morrer. Essas almas eram as de mulheres mortas durante o parto, crianças, suicidas, pessoas assassinadas. Os guerreiros jovens mortos em batalhas não entram nesta classificação porque tiveram uma bela morte, são heróis. Assim o inimigo ou adversário teria sua língua, sua mente, suas mãos, seus pés, seu sexo, seu corpo inteiro imobilizado, e impedido assim, de continuar uma competição, ou seu ofício, ou ainda sua oratória no tribunal.

Platão na República (364 a-e) fala sobre os magos, e alguns testemunhos romanos do Século I d.C. confirmam a funcionalidade das lâminas.

Conclusões

Peter Jones nos mostra o ambiente do período Clássico como agitado: "O jurado de Aristófanes desesperado por uma condenação, Apolodoro ameaçado de ruína social e econômica, os tribunais como instrumento para atrapalhar os inimigos políticos – tudo isso sugere emocionantes dramas em salas de tribunais." (JONES, 1997, p. 225). A prática do katádesmos era sutilmente incentivada pelo modo como a pólis estava agindo nos tribunais no início do século IV a.C.: "A regra de prejudicar o inimigo ultrapassava a esfera jurídica e aproximava-se da violência privada, e, no início do IV século pairava o descrédito na justiça promovida pela pólis" (CANDIDO, 2004, p. 33). Podemos juntar a este descrédito na justiça que a pólis aparentava, a honra violada e a vergonha perante os amigos do indivíduo que perdia metade de seus bens para um sicofantas (CANDIDO, 2004, p. 22).

Ver também

Bibliografia

  • CANDIDO, Maria Regina. Katádesmos: a magia entre os atenienses do V ao III século a.C.. Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS/PPGHIS, 2001.
  • CANDIDO, Maria Regina. A feitiçaria na Atenas Clássica. Rio de Janeiro: Ed. Letra Capital, 2004.
  • FLINT, Valerie; GORDON, Richard; LUCK, Georg; OGDEN, Daniel. Witchcraft and Magic in Europe: Ancient Greece and Rome. London: The Athlone Press, 1999.
  • JONES, Peter V., O Mundo de Atenas: Uma introdução à cultura Clássica Ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
  • PLATÃO. A República. Rio de Janeiro: Ed. Martin Claret, 2001.

Documentação Textual

  • Defixio n° 6 (lâmina Willemsen in Kovasovics, Kerameikos, 2, 1990, n°2).
  • JIMENO, Maria del Amor Lopez. Las Tabellae defixiones griegas. 1999.

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