Predefinição:Info/Arquiteto José Rafael Santos Nunes Botelho (Lisboa, 13 de Março de 1923 — ), é um arquiteto e urbanista português.
Pertence à 3ª geração de arquitetos modernistas portugueses, a par de Manuel Tainha, Fernando Távora ou Nuno Teotónio Pereira.[1]
Arquiteto pela Escola de Belas Artes de Lisboa e com sólida formação internacional em urbanismo, Botelho tem realizado uma obra multifacetada que abarca ambas as áreas. Entre as décadas de 1950 e 1970 teve ação particularmente marcante na área do planeamento, sendo responsável por trabalhos de referência como o Plano de Olivais Sul (1961), o Plano Diretor do Parque Nacional da Península de Setúbal (1963) ou o Plano Diretor da cidade do Funchal (1969).
Biografia / Obra
Filho do pintor Carlos Botelho.
Licenciou-se em arquitetura na Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1952.[2]
Entre 1952 e 1954 frequentou o curso de urbanismo no Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris (concluído em 1961 com defesa da tese).
Iniciou atividade profissional no ateliê de Keil do Amaral[3] e colaborou no ateliê de Raul Chorão Ramalho.
Venceu o 1º Prémio, Concurso Lusalite, 1951.[4]
Estagia em Inglaterra como bolseiro do British Council (1956-57), contactando com o planeamento britânico do pós-guerra; visita parques nacionais e cidades novas. Em 1964 faz permanências na Holanda e Inglaterra como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, centrando-se uma vez mais nas questões do planeamento, com particular atenção aos problemas do recreio de massa e do turismo. [5]
Entre 1955 e 1961 dirige o Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal de Almada; elabora uma Proposta de Criação de um Parque Nacional da Península de Setúbal (colaboração de António Pinto Freitas e Celestino de Castro, entre outros).[6]
Em 1959 ingressa no Gabinete Técnico da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa (até 1962); lidera a elaboração do Plano de Olivais Sul, Lisboa (colaboração de Carlos Duarte, António Pinto Freitas, Celestino de Castro e Mário Bruxelas).[7] Este plano assinala um deliberado distanciamento dos princípios da Carta de Atenas. Referenciando-se à sua própria experiência profissional e a novos modelos de planeamento,[8] Botelho optou por um modelo celular, capaz de viabilizar uma maior participação dos autores dos projetos no desenho urbano e encorajando a mistura de tipos e formas de agrupamento ("a diversidade impondo-se à unidade").[9]
Também no GTH, elabora o Plano Base de Chelas, Lisboa (com Francisco Silva Dias, coordenador do plano definitivo, e J. Reis Machado).[7]
À frente de uma equipa multidisciplinar que integrava profissionais da área da arquitetura – António Pinto Freitas e Francisco Silva Dias –, arquitetura paisagista, geologia, silvicultura, climatologia, etc., elabora o Plano Diretor do Parque Nacional da Península de Setúbal (1964) e o Plano de Conservação e Valorização da Zona da Arrábida (1965), dando sequência à anterior Proposta de Criação de um Parque Nacional da Península de Setúbal (nenhum destes planos seria implementado). [5][6]
Entre 1965 e 1970 realiza o Plano de Urbanização da cidade do Funchal, Madeira (tendo como colaboradores Pitum Keil do Amaral e José Luís Zuquete, entre outros); segundo Victor Mestre, esse plano é considerado uma "referência nacional". Paralelamente, promove e participa ativamente no Colóquio de Urbanismo (Funchal, 1969), onde foram abordadas questões abrangentes de planeamento e aberta a discussão pública em torno do caso concreto do Funchal, "desencadeando um maior interesse e participação coletiva, de técnicos e população em geral". [10][11]
Entre 1972 e 1974 lidera o Gabinete de Planeamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, elaborando a Proposta-base do Plano de Ordenamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada (colaboração de Pitum Keil do Amaral, Luís Moreira e João Maia Macedo, entre outros). Com o objetivo de criar condições favoráveis a uma "participação pública tão efetiva e operante quanto possível" na elaboração do futuro plano, foi realizada a exposição Bases Preliminares para uma Participação no Planeamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, Ponta Delgada, Dezembro de 1973. O processo de planeamento seria interrompido em 1974. [12][13]
Na segunda metade da década de 1970 José Rafael Botelho colabora nos serviços do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local) e no Ministério da Agricultura; lidera ainda um gabinete de planeamento na Câmara Municipal de Lisboa (1978-80).
A partir do final dos anos de 1970 a sua atividade desvia-se, para se centrar sobretudo na arquitetura, que sempre praticara em paralelo com o planeamento. Realiza o plano urbanístico e projetos de arquitetura (conjuntos habitacionais, creche e igreja) para o bairro da Nazaré, Funchal (com Pedro Botelho e Manuel Botelho); é autor de agências da Caixa Geral de Depósitos; projeta diversos edifícios para o Instituto Politécnico de Beja; etc.
Foi docente na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa entre Fevereiro de 1958 e Outubro de 1959 (afastado por razões de índole política).[14]
Entre os colóquios e conferências em que participou podem destacar-se: Colóquio sobre Urbanismo, Lisboa, 1961 (Ministério das Obras Públicas);[15] Colóquio Sobre a Proteção aos Lugares Históricos e da Paisagem, 1968 (delegado do Sindicato Nacional dos Arquitetos);[16] Colóquio sobre Política da Habitação, Lisboa, 1969 (Ministério das Obras Públicas); Colóquio de Urbanismo, Câmara Municipal do Funchal, Funchal, 1969.[17]
Entre 1955 e 1974 integrou os órgãos dirigentes do Sindicato Nacional dos Arquitetos.[18]
Em 1994 foi eleito Membro Honorário da Associação dos Arquitetos Portugueses (atual Ordem dos Arquitetos).[19] No dia 12 de junho de 2017 a Câmara Municipal do Funchal decidiu, por unanimidade, atribuir a Medalha de Mérito de Grau Ouro ao arquiteto José Rafael Botelho, que será alvo desta alta distinção no dia do concelho, que se assinala a 21 de agosto.[20]
Alguns planos e projetos
- Plano de urbanização e projetos de edifícios de habitação, Unidade Residencial Satélite, Alfragide, Lisboa.[21]
- 1961 – Plano de Olivais Sul, Lisboa. [7]
- 1962 – Plano Base de Chelas, Lisboa. [7]
- 1964 – Plano Diretor do Parque Nacional da Península de Setúbal.[6]
- 1965 – Plano de Conservação e Valorização da Zona da Arrábida (homologado em 1967; não implementado).[6]
- 1969 – Plano Diretor da Cidade do Funchal, Madeira. [11]
- 1974 – Plano de Ordenamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada – Proposta-base.
- 1978-83 – Plano urbanístico e projetos de arquitetura (edifícios de habitação; escola; igreja; etc.), Bairro da Nazaré, Funchal.[22]
- Outros projetos de arquitetura – Piscinas Oceânicas, Lido, Funchal; Teatro e edifícios de habitação, Azeitão; Agência da Caixa Geral de Depósitos, Portimão (1976-79);[23] Agência da Caixa Geral de Depósitos, São Martinho do Bispo, Coimbra; Agência da Caixa Geral de Depósitos, Chamusca; edifício sede da Câmara Municipal de Aljustrel; Escola Superior de Educação, Beja; Edifício dos Serviços Comuns (refeitório, biblioteca, etc.), Instituto Politécnico de Beja.
Instituto Politécnico de Beja
Algumas publicações
- Botelho, José Rafael – "A crítica e o melindre: os preconceitos de classe e a falta de moral social". In: revista Arquitetura, Agosto de 1952. [24]
- Botelho, José Rafael – "A exposição de arquitetura portuguesa em Londres". In: revista Arquitetura, Jan.-Fev. 1957. [24]
- Botelho, José Rafael – "As novas cidades inglesas ". Revista Binário, Jan. 1959.
- Botelho, José Rafael – "Problemas de urbanização: sua realização ao nível da organização municipal". In: A.A.V.V. – Colóquio sobre Urbanismo. Lisboa: Ministério das Obras Públicas/Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização/Centro de Estudos de Urbanismo, 1961, p. 172-192. Também publicado na Revista Arquitetura nº 71, separata, Jul. 1961.
- Botelho, José Rafael – "Problemas de recreio e cultura no planeamento nacional". In: A.A.V.V. – Colóquio sobre Urbanismo. Lisboa: Ministério das Obras Públicas/Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização/Centro de Estudos de Urbanismo, 1961, p. 250-268. Também in: revista Binário, Abril de 1961.
- Botelho, José Rafael; Dias, F. Silva; Machado, J. Reis. “Plano de Chelas: antecedentes”. In: boletim GTH (Gabinete Técnico da Habitação, Câmara Municipal de Lisboa), Março/Abril 1965.
- Botelho, José Rafael; Freitas, António Pinto de; Dias, Francisco da Silva; Barreto, Viana; Rego, Manuel Sena – "Développement Touristique et Mise en Valeur de la Côte d´Arrábida". Urbanisme, nº 87, 1965.
- Botelho, José Rafael – "Plano diretor do Parque Nacional da Península de Setúbal". Revista Arquitetura, Dez. 1965.[24]
- Botelho, José Rafael – "Desenvolvimento turístico e valorização da costa da Arrábida". In: revista Binário, Lisboa, Outubro de 1965.[24]
- Botelho, José Rafael – "Desenvolvimento turístico e valorização da costa da Arrábida". In: revista Binário, Lisboa, Novembro-Dezembro de 1965. [24]
- Botelho, José Rafael – "O plano diretor da cidade do Funchal". In: revista Arquitetura, Jan.-Mar.-Abril. 1970.
- Botelho, José Rafael – "Agência da Caixa Geral de Depósitos em Portimão". In: revista Arquitetura, Julho-Agosto 1983.
Bibliografia
- A.A.V.V. (1987). Guia Urbanístico e Arquitetónico de Lisboa. Lisboa: Associação dos Arquitetos Portugueses
- A.A.V.V. (2006). Inquérito à Arquitetura do Século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitetos. ISBN 972-8897-14-6
- França, José Augusto (1991). Arte em Portugal no Século XX. Lisboa: Bertrand Editora. ISBN 972-25-0045-7
- Mestre, Victor – "Um Plano Visionário de Rafael Botelho". In: arq./a, revista de arquitetura e arte, nº 19, Maio/Junho de 2003, p. 18.
- Tostões, Ana – Os verdes anos na arquitetura portuguesa dos anos 50. Porto: Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 1997. ISBN 9729483302
Ver também
Ligações externas
- «Cerimónia de Homenagem pelos 50 anos do GTH de Lisboa» (em português). 50 anos da criação do Gabinete Técnico de Habitação (GTH), com uma sessão de homenagem aos ex-colaboradores do GTH e uma exposição sobre o trabalho pioneiro deste organismo da Câmara Municipal de Lisboa
- «JM Madeira» (em português). Cafôfo entregou medalha a Rafael Botelho em Lisboa
- «Porta33, Funchal, Madeira, 13-12-2014» (em português). Carta de Pitum lida por Maria Lira
Referências
- ↑ Predefinição:Harvnb
- ↑ Botelho, José Rafael Santos Nunes. 3. [S.l.]: Temas e Debates Lda e Larousse/VUEF. 2007. p. 1154. ISBN 978-972-759-923-3
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sem|sobrenome1=
em Authors list (ajuda); - ↑ A.A.V.V. – Keil do Amaral arquiteto: 1910-1975. Lisboa: Associação dos Arquitetos Portugueses, 1992, p. 26
- ↑ "Concurso Lusalite", revista Arquitectura, Maio de 1951
- ↑ 5,0 5,1 Botelho, José Rafael – "Plano diretor do Parque Nacional da Península de Setúbal". Revista Arquitetura, Dez. 1965.
- ↑ 6,0 6,1 6,2 6,3 «Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida, Relatório» (PDF). Fevereiro de 2003. Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ 7,0 7,1 7,2 7,3 Predefinição:Harvnb
- ↑ Entrevista de Catarina Portas a José Rafael Botelho. In: Torres, Helena; Portas, Catarina; Freire, Adriana – Olivais: Retrato de um Bairro. Lisboa: Liscenter, 1995, p. 69, 72. ISBN 972-96764-0-2
- ↑ Portas, Nuno "A habitação coletiva nos ateliês da Rua da Alegria". In: 'Antologia 1981-2004, Jornal Arquitetos, nº 218-219, Janeiro-Junho 2005, p. 262
- ↑ Mestre, Victor – "Um Plano Visionário de Rafael Botelho". In: arq./a, revista de arquitetura e arte, nº 19, Maio/Junho de 2003, p. 18.
- ↑ 11,0 11,1 Predefinição:Harvnb
- ↑ Botelho, José Rafael – Plano de Ordenamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada – Proposta-base. Lisboa: Gabinete de Planeamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, 1974
- ↑ Botelho, José Rafael. In: Catálogo, Exposição: bases preliminares para uma Participação no Planeamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, Gabinete de Planeamento Territorial do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, 1973
- ↑ Gonçalo Esteves de Oliveira do Canto Moniz (Julho de 2011). «O ensino moderno da arquitetura (Tese de Doutoramento em Arquitetura)» (PDF). Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ A.A.V.V. – Colóquio sobre Urbanismo. Lisboa: Ministério das Obras Públicas/Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização/Centro de Estudos de Urbanismo, 1961
- ↑ Secção Regional do Sul da Ordem dos Arquitectos – Exposição Bibliográfica, Arq, Francisco Keil do Amaral, 1910-1975[ligação inativa]
- ↑ A.A.V.V. – Colóquio de Urbanismo. Funchal: Câmara Municipal do Funchal, 1969
- ↑ A.A.V.V. – Arquitetura Popular em Portugal (tomo 1). Lisboa: Sindicato Nacional dos Arquitetos, 1961, pág. V
- ↑ «Membros honorários». Ordem dos Arquitectos. Consultado em 16 de Novembro de 2011
- ↑ «Câmara do Funchal homenageia arquiteto Rafael Botelho no dia do concelho». Diário de Notícias. Consultado em 12 de junho de 2017
- ↑ A.A.V.V. – Exposição Raul Chorão Ramalho, arquiteto. Almada: Casa da Cerca, 1997, p. 123
- ↑ «Paróquia da Nazaré». Igreja da Nazaré (Funchal). Consultado em 27 de janeiro de 2013. Arquivado do original em 1 de novembro de 2013
- ↑ «Um projeto inglês, A influência da arquitetura anglo-saxónica nas Torres de Alfragide» (PDF). ISCTE-IUL. Consultado em 27 de janeiro de 2013
- ↑ 24,0 24,1 24,2 24,3 24,4 «Botelho, José Rafael». Biblioteca de Arte, Fundação Calouste Gulbenkian. Consultado em 27 de janeiro de 2013