João Apolinário | |
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Foto de João Apolinário na redação do jornal Última Hora, em São Paulo, no ano de 1972 | |
Nome completo | João Apolinário Teixeira Pinto |
Nascimento | 18 de janeiro de 1924 Belas, Sintra, Portugal |
Morte | 22 de outubro de 1988 (64 anos)[[Categoria:Predefinição:Categorizar-ano-século-milénio/1]] Marvão, Portugal |
Nacionalidade | Predefinição:PRTn |
Ocupação | Poeta |
Magnum opus | Morse de sangue (1955) |
João Apolinário Teixeira Pinto (Sintra, Belas, 18 de Janeiro de 1924 — Marvão, 22 de Outubro de 1988) foi um poeta e jornalista português. Combateu o fascismo tanto em sua terra natal, quanto em seus anos de exílio no Brasil. Colaborou em inúmeras publicações importantes nos dois países. É, no entanto, mais conhecido por seus poemas,[1] musicados pelo filho João Ricardo e apresentados pelo conjunto Secos e Molhados.[2]
Infância e formação
Viveu parte da infância no Vale da Pomba, propriedade familiar em Lebução, Chaves, onde fez o curso primário. Depois estudou em Lisboa, no Colégio Valsassina e no Liceu Camões e cursou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Mas já surgira a poesia.
Jornalista
Aos 21 anos, optando por não advogar, poeta já assíduo da Brasileira do Chiado e jornalista, foi para a França como correspondente da Agência Logos. Viver os terríveis últimos tempos da Segunda Guerra Mundial marcou-o definitiva e cruamente. Depois de alguns anos em Paris — frequentou Artes Gráficas na Sorbonne, conheceu Sartre, Simone de Beauvoir, os intelectuais do Café de Flore, Antonin Artaud, Jean Genet, Marcel Marceau, Édith Piaf, viu o teatro de rua de Henri Gheon — voltou a Portugal. Sequelas de um acidente ocorrido nos únicos quatro meses de prestação do serviço militar no Batalhão de Artilharia Um, de Lisboa, levaram-no a mudar radicalmente os planos, após meses de um tratamento severo em Genebra. Acabou a recuperação na casa da mãe, D. Helena Teixeira Pinto. Iniciou a carreira de jurista. Casou-se pela primeira vez, teve dois filhos, João Ricardo e Maria Gabriela. Integrou grupos de intelectuais, poetas e jornalistas. Foi cofundador do Teatro Experimental do Porto e com este o gênio e a modernidade de Marcel Marceau e de Jean Genet chegaram ao país.
Exílio
A prática cultural, nunca partidária, de João Apolinário, na poesia, no teatro, no jornalismo, especialmente na crítica e na reportagem; a acutilância de suas ideias antifascistas e não colonialistas, mais ações de real proteção a quem delas necessitasse, resultaram em prisões, torturas e, pior, tempos dolorosos de afastamento dos filhos, João Ricardo e Maria Gabriela.
Publicou Morse de Sangue, livro memorizado numa cela subterrânea de Peniche, durante cinco dias e cinco noites; Primavera de Estrelas, O Guardador de Automóveis, A Arte de Dizer. Foi secretário, na delegação do Porto, da Associação Portuguesa de Escritores, durante a presidência de Aquilino Ribeiro. Recebeu companhias teatrais brasileiras, como a de Cacilda Becker, atriz maior em língua portuguesa. Como resultado disso, em 1963, começou a viver o exílio imposto pela polícia política do regime. Partiu para São Paulo em dezembro daquele ano.
Durante três meses, de Janeiro a Abril, na redação do jornal Última Hora, de São Paulo, usufruiu, pela primeira vez, do privilégio da liberdade de expressão e de uma vida diária sem pressões político-policiais. Em Abril de 1964 teve início um período longo de ditadura militar no Brasil. O poeta, jornalista a tempo inteiro agora, voltou a escrever nas entrelinhas. Para não ter seu pensamento alterado por um qualquer diretor de jornal, mesmo que amigo, suas críticas de teatro,[3] na Última Hora e no jornal O Globo, não foram pagas. Ele assim o decidiu e fez. Assimilou a cultura brasileira. E por ela deixou-se assimilar. Tanto que sofreu ameaças de morte do CCC: Comando de Caça aos Comunistas. Era nacionalista num país em que foi crime, desde sempre, sê-lo.
Em São Paulo ainda foi editor de artes e chefe de redação de dois jornais, num período de doze anos. Casou-se pela segunda vez. Viajou pelo país e pela América Latina: Uruguai, Argentina, Colômbia. Conviveu com intelectuais e artistas num forte novo mundo. Teve amigos chilenos, intelectuais atuantes, mortos pelo regime de Pinochet.
Fundou, com outros jornalistas, a APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte. É uma referência incontornável na crítica teatral brasileira por ter o espetáculo como sujeito. Ensaiou uma ideia nova de teatro e não teve tempo de experimentá-la.
Volta
Houve poesia. Muito do que está contido no Poeta Descalço. Viveu, no dia 25 de Abril de 1974, a enorme alegria, por um tempo breve, sim, mas pode vivê-la, de ver Portugal livre do fascismo.[4] Em Setembro visitou o país. E numa semana de Dezembro escreveu Apátridas, poema exultante e exaltante de sua obra, Integrada em diversas edições da História da Literatura Portuguesa. Em Abril de 1975 voltou a Portugal. Por razões várias, inesperadas, não deixou de ser jurista, como pretendia. Dividiu-se novamente. No entanto, seu trabalho poético cresceu e publicou AmorfazerAmor, Poemas Cívicos, O Poeta Descalço e Eco Húmus Homem Lógico. De 1980 a 1988 escreveu Sonetos Populares Incompletos, ainda inédito. Ser poeta, não poeta bissexto, como dizia, não chegou a sê-lo. A morte surpreendeu-o a 22 de Outubro de 1988, justamente quando havia reencontrado, na vila de Marvão, o silêncio e o tempo para ver mudar a cor das flores.
Bibliografia
Livros publicados
Poesia
- Morse de Sangue, Porto 1955
- O Guardador de Automóveis , Porto 1956, capa e uma gravura de Gastão Seixas, ed do autor em 500 exemplares…
- Primavera de Estrelas, Porto 1961
- Apátridas , São Paulo, 1975
- AmorfazerAmor , Lisboa 1978
- O Poeta Descalço, Lisboa, 1978
- Poemas Cívicos , Lisboa 1979
- Eco Humus Homem Lógico , Lisboa 1981
Teatro
- A Arte de Dizer, Porto
Reportagem
- Ensaio para uma nova ideia de Teatro — Jornal Última Hora de São Paulo
- Portugal - Revolução Modelo, Rio de Janeiro 1974
Canções
Poemas de João Apolinário, música de João Ricardo gravadas originalmente pelo conjunto musical Secos e Molhados:
- A Primavera nos Dentes - (Morse de Sangue):
“ | E envolto em tempestade, decepado, |
” |
- Urgente…Mais Flores ou A Luta Necessária – (Morse de Sangue);
- Sei (Eu sei) - (Poeta Descalço);
- Doce Doçura - (Poeta Descalço);
- Os metálicos Senhores Satânicos - (Poeta Descalço);
- Minha namorada - (Poeta Descalço);
- Angústia - (Poeta Descalço);
- Voo - (Primavera de Estrelas);
- Flores Astrais - (Primavera de Estrelas);
- Amor - (Poeta Descalço).
Poema de João Apolinário, música de João Ricardo , gravado por João Ricardo
- Os Portugueses lançam o Império ao Mar
Poema de João Apolinário, música de Francisco Fanhais e outros:
- Urgente…Mais Flores ou A Luta Necessária – (Morse de Sangue).
Poema de João Apolinário, música de Luis Cília:
- "É preciso avisar toda a gente" - (La poesie portugaise de nos jours et de toujours 1)- 1967
- "Recuso-me" - (La poesie portugaise de nos jours et de toujours 1)- 1967
- "Sei que me espera" - (contra a ideia da violência a violência da ideia)- 1973
Poema de João Apolinário, música de Luís Cília, interpretação de Avaruuslintu
- "Tiëdan sä odotat" - na coletânea "Uusi laulu 2"
Sobre
- Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, " A Crítica de João Apolinário: Memória do Teatro Paulista de 1964 a 1971. Ed.Imagem, Conteúdo e Formas, 2013, 2 vols.[5]
- Acervo - O acervo foi doado por sua família para o "Arquivo Edgard Leuenroth" da UNICAMP.[6]
Referências
- ↑ Jorge de Sena (1983). Líricas Portuguesas. [S.l.: s.n.] pp. 177, vol.2
- ↑ Página Secos & Molhados
- ↑ Oswaldo Mendes (1997). Ademar Guerra-O Teatro de Um Homem Só. [S.l.]: SENAC. 66 páginas. 85-7359-027-0
- ↑ José Celso Martinez Correa (1998). Primeiro Ato-Cadernos, Depoimentos, Entrevistas - 1958-1974. [S.l.]: Editora 34. 290 páginas. 85-7326-088-2
- ↑ «Obra reune críticas de teatro de João Apolinário entre 1964 e 1971». Folha de S.Paulo. 6 de junho de 2013. Consultado em 2 de maio de 2014
- ↑ ALESSANDRO SILVA (3 de junho de 2013). «O crítico que avisava toda a gente». Jornal da Unicamp. Consultado em 2 de maio de 2014
Ligações externas
- Disco
- Cliquemusic
- http://www.luiscilia.com Em falta ou vazio
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