Predefinição:Info/Personagem fictícia Jeca Tatu é uma personagem criada por Monteiro Lobato em sua obra Urupês, que contém 14 histórias baseadas no trabalhador rural paulista. Simboliza a situação do caipira, abandonado pelos poderes públicos brasileiros, às doenças, ao atraso econômico, educacional e à indigência política.[1]
"O Jeca Tatu não é assim, ele está assim". A frase de Monteiro Lobato, sobre um dos seus mais populares personagens, refere sua obra para além das histórias infantis e incomoda a elite intelectual da época, acostumada a uma visão romântica do homem do campo. Jeca Tatu, um caipira de barba rala e calcanhares rachados – porque não gostava de usar sapatos, era pobre, ignorante e avesso aos hábitos de higiene urbanos. Morava na região do Vale do Paraíba Paulista, distinta por seu atraso.[1]
O personagem Jeca Tatu e a análise dele feita por Monteiro Lobato no conto Urupês e no artigo "Velha Praga" de Monteiro Lobato é assim explicado pelo folclorista Cornélio Pires, quando analisa o caipira caboclo:[2][3]
“ | Coitado do meu patrício!, (o caipira caboclo), Apesar dos governos os outros caipiras se vão endireitando à custa do próprio esforço, ignorantes de noções de higiene… Só ele, o caboclo, ficou mumbava, sujo e ruim! Ele não tem culpa… Ele nada sabe. Foi um desses indivíduos que Monteiro Lobato estudou, criando o Jeca Tatu, erradamente dado como representante do caipira em geral! | ” |
Movimento sanitarista
O trabalho do escritor voltado para várias questões sociais, dentre elas a saúde pública no país, repercute na política e na campanha sanitarista da década de 1920, denunciando a precariedade da saúde das populações rurais, com impacto na redefinição das atribuições do governo no campo da saúde.[3]
Num primeiro momento, em artigos publicados no jornal O Estado de S. Paulo, (1914), Lobato pensa o caboclo como uma praga nacional: funesto parasita da terra (…) homem baldio, inadaptável à civilização (…), responsabilizando-o pelos problemas da agricultura.[1]
A história do Jeca Tatu relaciona-se com a de Lobato. Segundo seus biógrafos, em 1911, ele herda do avô a fazenda Buquira, no Vale do Paraíba (SP), tornando-se fazendeiro. Desentende-se com empregados e cria uma figura desqualificada do caipira, tomando o caipira caboclo como protótipo do caipira, considerando-o preguiçoso demais para promover melhorias no seu modus vivendi.[3]
Em 1912, os cientistas Belisário Pena e Artur Neiva investigam a fauna e a flora de regiões brasileiras e investigam, além da flora e da fauna, a condição sanitária da população rural do Brasil. As informações, publicadas em Relatório Médico-Científico (1916) pelo Instituto Oswaldo Cruz, promove campanhas em favor do saneamento, estimula a criação da Liga Pró-Saneamento do Brasil" (1918). Monteiro Lobato aderiu à campanha com o seu personagem Jeca Tatu.[4]
No bojo das campanhas sanitaristas, Monteiro Lobato modifica sua análise do problema: Pobre Jeca. Como és bonito no romance e feio na realidade., transformando-o num novo símbolo de brasilidade. Não por acaso, em 1924, foi criado o personagem radiofônico Jeca Tatuzinho, que ensinava noções de higiene e saneamento às crianças.[5]
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 «Agência Fiocruz de Notícias — Editora SENAC.. "Monteiro Lobato e a gênese do Jeca Tatu"». Consultado em 23 de julho de 2013. Arquivado do original em 10 de junho de 2007
- ↑ PIRES, Cornélio, Conversas ao Pé do Fogo, IMESP, 1984
- ↑ 3,0 3,1 3,2 Guia do Estudante — Editora Abril S.A. ""Urupês" - resumo e análise da obra de Monteiro Lobato"
- ↑ Fundação Getúlio Vargas (FGV) — "Movimento Sanitarista"
- ↑ GOMES, M. L. — "Vendendo saúde! Revisitando os antigos almanaques de farmácia." — História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 13, n. 4, p. 1007-18, out.-dez. 2006.