𝖂𝖎ƙ𝖎𝖊

História ambiental

Predefinição:Manutenção/Categorizando por assunto

A História Ambiental é o estudo do impacto humano no meio ambiente ao longo do tempo, enfatizando o papel ativo que a natureza exerce em influenciar as questões humanas e vice-versa.

A história ambiental emergiu inicialmente do movimento ecologista nos Estados Unidos durante a década de 1960 e 1970, e muito do seu impeto ainda tem como fonte a preocupação contemporâneo com os problemas ambientais.[1] O campo foi fundado sobre questões conservacionistas, mas ampliou seu escopo para incluir elementos mais gerais de história social e científica and abordar questões como as cidades, população e sustentabilidade. Como toda história acontece no mundo natural, a história ambiental tende à focar em escalas de tempo particulares, regiões geográficas, e temas chave. É também um assunto fortemente multidisciplinar que absorve influências tanto das humanidades como das ciências naturais.

O assunto de interesse da história natural pode ser dividido em três componentes principais.[2] O primeiro, a própria natureza e suas mudanças ao longo do tempo, o que inclui o impacto físico dos humanos na terra. A segunda categoria, como os humanos usam a natureza, inclui as consequências ambientais de uma população crescente, tecnologias mais efetivas e padrões em mudança de produção e consumo.[3]

Historiografia

Apesar da preocupação como algo correlato aos problemas ambientais serem presentes no pensamento ocidental desde o século XVIII,[4] o surgimento da História ambiental como entendemos hoje se deu apenas no século XX.

Mas é nos anos 1980 e 90, que o campo ganha status cientifico e institucional, com a criação de cursos de pós-graduação, de periódicos (Environmental History) e de uma sociedade, a American Society for Environmental History, principalmente nos Estados Unidos. (Stewart, 1998). Na Europa, em 1999, é fundada a European Society for yEnvironmental Histor e a revista Environmental and History. Essas eventos nos mostram que o esforço por parte dos historiadores de estabelecer esta especialidade, procurando institucionalizar as discussões teóricas e metodológicas da nova abordagem.

Os precursores dessa nova História são encontrados entre os autores da chamada História das Civilizações, onde se destacam autores como Arthur Toynbee ( Mankind and Mother Earth: A Narrative History of the World) e Gordon Childe (Man Makes Himself). Esses autores analisaram como sociedades tiveram sua existência vinculada ao uso dos recursos naturais (Drummond, 1991).

Na Europa, Marc Bloch e Lucien Febvre lançaram a "Revue des Annales" que deu origem à chamada "Nova História". Esta nova corrente historiográfica propunha a construção de uma história recorrendo a tudo o que estivesse relacionado ao homem, incluindo a natureza. Em seu estudo sobre a vida rural na França, Bloch, assim como Febvre, deu uma atenção especial ao meio-ambiente (Freire, 2004).

Mas foi Fernand Braudel e a sua concepção de que o ambiente molda a vida humana, quem mais contribuiu e continua influenciando os historiadores dessa nova modalidade. Na sua obra sobre o mundo Mediterrânico ele estuda a história "do homem em relação ao seu meio", ou como o próprio Braudel chamava, uma "geo-história" (Dosse, 1992:133-143). Em sua visão, a geo-história é a história que o meio impõe aos homens por suas constantes ou leves variações. Essas variações não são percebidas ou acabam sendo negligenciadas na "curta medida do homem". (Dosse, 1992; Aguirre Rojas, 2000, Burke 1997, Drummond, 1991, Worster, 1991).

A geo-história se preocupa em estudar os vínculos homem-natureza, pensada na forma de uma ação e reação ao longo do tempo. Braudel divide os processos históricos segundo suas diferentes velocidades, cabendo à história lenta, quase imóvel, as relações do homem e o seu meio, sendo a base onde as outras duas histórias, a social e a individual são desenvolvidas. Assim Essa nova história "rejeita a premissa de que a experiência humana se desenvolveu sem restrições naturais, de que as consequências ecológicas de seus feitos passados podem ser ignoradas" e tem como objetivo "entender como os seres humanos foram afetados pelo ambiente natural e inversamente como eles afetaram esse ambiente e com que resultados" (Worster, 1991:01).

Bases teóricas

Mundo natural e mundo humano

A História ambiental entende a humanidade como parte de uma relação com o meio ambiente, dependendo diretamente de um complexo sistema de inter-relações entre processos físicos, químicos e biológicos.[5] Essa visão contrasta com o que geralmente entendemos pela visão moderna de homem e natureza, sendo o primeiro o sujeito que observa o segundo, que é o objeto do conhecimento. A Natureza, dessa forma é entendida como um recurso, um meio para se atingir um fim. O homem, o sujeito, é colocado, ao mesmo tempo em oposição e como dominador do objeto, no caso o mundo natural. É o que chama-se de antropocentrismo [6]. A ruptura entre homem e Natureza acelera-se ao mesmo tempo que inicia a "mecanização do planeta" [7]. Esse fenômeno de caracterizar o que é humano em contrapartida do que é natural, também pode ser verificado em outros conceitos como arte versus natureza, técnica versus natureza, sociedade versus natureza.[8]

Para alguns autores, como Terry Eagleton, a relação entre o mundo humano e o mundo natural é mais complexa do que apenas a oposição conceitual. Para ele, a própria ideia de cultura existe a partir da ideia de natureza. Na origem da palavra cultura, ela está em concordância com a ideia de lavoura e cultivo, sendo então derivada do vínculo entre os homens e a produção agrícola sobre a natureza.[9] Assim, a cultura, a produção humana, refere-se diretamente ao natural, é a natureza que permite a criação da cultura, que também pode ser instrumento para alterá-la.[10]

Contudo, é ainda no século final do século XIX que as Ciências Naturais começam a questionar o postulado de que não era necessário mais que alguns poucos milênios para investigar e conceitualizar as sociedade humanas, normalmente associada com a escrita. As ciências naturais se propunham a investigar processos onde o "tempo cultural" não era mais suficiente. Assim as ciências Naturais lançam mão do "tempo geológico", que jogava luz sobre o papel do ambiente na história da evolução humana, e que empurrava a história da humanidade para muitos milênios antes da escrita (Drummond, 1991:3).

No caso específico da História a adoção desse paradigma também repousa na própria definição do campo de atuação: o estudo da trajetória humana e da formação e transformações das civilizações através do tempo (Ribeiro 2005:15). O que implica uma visão de superioridade dos seres humanos em relação à natureza. Consequentemente, o período em que supostamente estivemos mais subordinados à Natureza torna-se parte da Pré-História, objeto de estudo da arqueologia. Contudo, os problemas ambientais, a emergência dos movimentos ecológicos e a percepção da amplitude da ação humana no ambiente, levaram as ciências humanas, a partir segunda metade do século XX, a uma mudança de postura, principalmente no que diz respeito às relações entre o seu objeto, os humanos, e o ambiente natural. No rastro destas tendências, as ciências humanas iniciam várias frentes de aproximação com as ciências naturais. Como por exemplo, o aparecimento a partir da década de trinta, da Ecologia Cultural, tendo à frente Julian Steward e da Ecologia Humana da Escola de Chicago.

É nesse contexto que a História Ambiental começa a se desenvolver.

A História Ambiental como Campo de estudo

Vários autores (Stewart, 1998, Worster, 1991, Drummond, 1991, 1997) concordam em afirmar que a História Ambiental tem sido feita, de modo geral, em três categorias de análises: reconstrução de ambientes naturais do passado, estudo dos modos humanos de produção e seu impacto sobre o ambiente; e a análise da história das ideias, das percepções e dos valores sobre o mundo natural. Esses níveis podem aparecer integrados, como no estudo sobre a mata Atlântica de Warren Dean (1996) ou de forma separadas, como no estudo das ideias conservacionistas de Pádua (2002) em "Um sopro de destruição".[11] Embora possa haver maior ênfase neste ou naquele plano, há a preocupação entre a maior parte dos estudos de evitar uma "racionalização das necessidades do estômago" ou um extremado ideacionismo, evitando a dicotomia "Barriga" e "Pensée".

A necessidade da integração de diferentes níveis de análises fez com que uma das principais características da História Ambiental seja o diálogo com outras disciplinas como a geologia, biologia, geografia, antropologia e, principalmente, a ecologia. Worster (1991:06) qualifica esse diálogo da seguinte maneira:

No seu conjunto as ciências naturais são instrumentos indispensáveis para o historiador ambiental, que precisa sempre começar com a reconstrução de paisagens do passado, verificando como eram e como funcionavam antes que as sociedades humanas as penetrassem e as modificassem. Trata-se de colocar a natureza na História (Cronom, 1983), ou ir mais além, "colocar a história humana no contexto da natureza não-humana" (Soffiati, s/d).

Bibliografia

  • AGUIRRE ROJAS, C. A. Os Annales e a historiografia francesa: tradições críticas de Marc Bloch a Michel Foucault. Maringá: Eduem, 2000.
  • BRAUDEL, Fernand (2002): Geohistória. IN: Entre passado e futuro. Nº 1. São Paulo: Maio.
  • BURKE, P. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da Historiografia. São Paulo: Fundação Editora da Unesp. 1997.
  • CRONON, W. Changes in the land: indians, colonists and ecology of New England. New York: Hill and Wang, 1983.
  • Crosby, Alfred W. (1986): Ecological imperialism: the biological expansion of Europe, 900 - 1900. Cambridge: Cambridge University Press. (Studies in environment and history).
  • DEAN, Warren. A Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. Trad. São Paulo, Cia. Das Letras, 1996.
  • DOSSE, F. A história em migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Ensaio. Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1992.
  • DRUMMOND, José Augusto. A História Ambiental e o choque das civilizações. In Ambiente e Sociedade, Ano III, n5, 2ª Semestre, 1999.
  • ________________________. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa. In Estudos Históricos, RJ, vol.4, n. 8. 1997 Abstracts, Texto integral
  • GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (Des) Caminhos do Meio Ambiente. São Paulo: Ed. Contexto, 1998.
  • MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. 1º capítulo, seguido das teses sobre Feuerbach. Trad. de Álvaro Pina. Lisboa: Avante, 1981. (Biblioteca do Marxismo-Leninismo/16)
  • OLIVEIRA, Ana Maria de. Relação Homem/Natureza no Modo de Produção Capitalista. In Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografia Y Ciencias Sociales. Vol. VI, n. 119 (18), 1 de Agosto de 2002.
  • Pádua, José Augusto (2002). Um sopro de destruição : pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista, 1786-1888. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. OCLC 51534931 
  • PONTING, Clive. Uma História Verde do Mundo. RJ: Civilização Brasileira, 1995.
  • RIBEIRO, Ricardo Ferreira. Florestas anãs do Sertão – O Cerrado na História de Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
  • Shepard Krech III, J.R. McNeill, and Carolyn Merchant (Editors)(2004): Encyclopedia of World Environmental History. New York: Routledge.
  • SILVA, E. R. DA. & SCHRAMM, F. R. A questão ecológica: entre a ciência e a ideologia de uma época. Cad. Saúde Publica, 13(3): 255-382, RJ. 1997
  • SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (1997): História das paisagens. IN: CARDOSO, Ciro Flamarion et VAINFAS, Ronaldo (orgs.) Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus.
  • SOFFIATI, A. Destruição e proteção da Mata Atlântica no Rio de Janeiro: ensaio bibliográfico acerca da eco-história. (texto eletrônico), s/d.
  • STEWART, M.A. Environmental History: Profile of a developing Field. IN The History Teacher, vol. 31, nº 3, 1998.
  • Winiwarter, Verena (1998): Was ist Umweltgeschichte? Ein Überblick. (= Social Ecology Working Paper 54). Wien: Institut für Soziale Ökologie, Fakultät für Interdisziplinäre Forschung und Fortbildung IFF.
  • WORSTER, D. Para fazer História Ambiental. In Estudos Históricos, vol. 4, n. 8, 1991.
  • ____________. Transformações da Terra: Para uma Perspectiva Agroecológica na História. Ambiente e Sociedade. V.5, n.2 . Campinas, 2003

Referências

Bibliografia

Ligações externas

talvez você goste