Predefinição:Formatar referências Predefinição:Não confundir Gerundismo é uma locução verbal que consiste no uso sistemático de verbos no gerúndio, cujo emprego é relativamente recente no português, particularmente o brasileiro.[1] A concordância da construção com a sintaxe do português não é ponto pacífico, sendo, por vezes, considerada um vício de linguagem.[2][3][4] O gerundismo foi estigmatizado graças ao seu emprego constantemente impreciso semanticamente e ao preconceito linguístico.[2]
Há contextos em que a construção ir + estar + gerúndio é vista pela gramática normativa como correta. Isso ocorre quando enuncia-se uma ação a ser praticada no futuro e que deverá ocorrer simultaneamente a outra ação, também futura. Por exemplo: "Amanhã, quando você estiver fazendo a prova, eu vou estar viajando para Recife".
O erro se verifica quando construções como "vou estar viajando" são empregadas para substituir o simples futuro do presente. Em lugar de dizer "Amanhã vou viajar (ou viajarei) para Recife", diz-se: "Amanhã vou estar viajando para Recife".
É visto como um erro porque a construção é empregada fora do contexto que a legitima e é usada para uma finalidade que a tradição e as normas vigentes da língua não lhe atribuem, qual seja a de indicar uma simples ação futura.
Origem
O gerundismo pode ter tido sua origem em traduções literais do inglês de expressões empregando o futuro contínuo desta língua,[3][5][6] sem atenção para a semântica e sintaxe originais[7] e ao fato de que este tempo verbal inglês é construído com o particípio presente, uma das formas infinitivas do verbo, que muitas vezes deve ser traduzido para o infinitivo português e não para o seu gerúndio:[3]
- "Walking [particípio presente ou gerúndio] is to live [infinitivo]" é corretamente traduzido para "Andar é viver" e não para "Andando é viver".
No exemplo acima a tradução correta do gerúndio inglês é dada pelo infinitivo português, o mesmo sendo necessário nas traduções do futuro contínuo.[3]
Outra vertente afirma ser mera coincidência que o português e inglês compartilhem da mesma construção como forma válida de expressar o futuro, considerando-a semântica e gramaticalmente correta, uma construção perifrástica cuja finalidade seja exprimir continuidade ou progressividade.[1]
Sintaxe e semântica
O gerúndio exprime uma ação em curso ou simultânea, ou a ideia de progressão indefinida. Sua combinação com verbos auxiliares define uma ação durativa, cuja significação é determinada pelo auxiliar.[4] A frase "Estou almoçando" indica que estou executando a ação durativa de almoçar neste exato e rigoroso momento, por exemplo. Já a expressão "A vida foi passando" denota uma ação durativa realizada progressivamente.
O abuso do gerúndio, ou gerundismo, ocorre, normalmente, na tentativa de expressar ações de execução imediata no tempo futuro com emprego do verbo auxiliar (normalmente estar) e o gerúndio, tais como "vou estar telefonando", "vamos estar publicando", esquecendo-se da caracterização durativa acarretada pelo uso do gerúndio.[3][4]
O emprego correto do gerúndio em expressões de ações futuras ocorre quando realmente se pretende exprimir uma ação durativa, um processo que terá uma duração ou estará em curso, tal qual "Estaremos jogando futebol na tarde de amanhã", ou simultaneidade, como em "Eu estarei trabalhando enquanto eles brincam", perfeitamente caracterizadas pelo uso do gerúndio:[3][4][5] Na primeira frase um grupo de pessoas jogará futebol durante a tarde de amanhã, período durante o qual eles, corretamente, estarão jogando. A segunda frase indica que, enquanto um grupo de pessoas brinca, o sujeito da frase, neste mesmo período (duração de tempo), trabalhará.
Ocorrência e disseminação
A construção é particular do português brasileiro, uma vez que em Portugal costuma-se substituir o gerúndio pela construção a + infinitivo ("estou cantando" por "estou a cantar").[1] O emprego excessivo do recurso, especialmente por operadores de telemarketing, estigmatizou seu uso e provocou muita polêmica quanto a sua correção. A presença maciça da construção num dos setores que mais emprega no Brasil contribuiu fortemente para a disseminação do gerundismo,[6] que hoje se encontra nos diversos níveis sociais e até mesmo em falas do então Ministro da Saúde, José Serra, que pronunciou numa entrevista: ..."outra vacina que vamos estar aplicando amanhã".[2]
Recentemente operadores de telemarketing passaram a receber orientação para evitar gerundismos em virtude de diversos fatores tais como tornar-se conclusivo evitando ser ambíguo, não usar uma construção que é desagradável ao cliente, buscar clareza de expressão, entre outros.[6]
Ver também
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=polemica/docs/transferirtransferindo
- ↑ 2,0 2,1 2,2 «Cópia arquivada». Consultado em 13 de junho de 2007. Arquivado do original em 21 de fevereiro de 2007
- ↑ 3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 «Cópia arquivada». Consultado em 29 de novembro de 2007. Arquivado do original em 19 de fevereiro de 2008
- ↑ 4,0 4,1 4,2 4,3 http://falabonito.wordpress.com/2007/01/22/gerundio-e-gerundismo/
- ↑ 5,0 5,1 http://www.terra.com.br/istoe/1922/entrevista/1922_vermelhas_01.htm
- ↑ 6,0 6,1 6,2 «Cópia arquivada». Consultado em 12 de maio de 2008. Arquivado do original em 20 de fevereiro de 2008
- ↑ http://www.englishpage.com/verbpage/futurecontinuous.html