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A Fortaleza de São Miguel de Luanda com ordem militar localiza-se no antigo monte de São Paulo, actualmente denominado de Morro da Fortaleza, nas proximidades da ponte da Ilha de Luanda, em Angola. Foi a primeira fortificação a ser erguida em Luanda, no século XVI, durante o governo de Paulo Dias de Novais, primeiramente construída em barro. Esse material será depois substituído em 1638 por taipa e adobe, com obras acabadas em 1689 sob a direcção de D. João de Lencastre[1]. Nessa época apresentava a forma de uma estrela com quatro pontas, com o sistema abaluartado, segundo os métodos italianos mais atualizados da época, sobretudo os do mestre Benedetto da Ravenna.
Depois da ocupação holandesa, começou a ser construída em alvenaria em 1705 a mando do governador D. Lourenço de Almada[1], fazendo parte das obras obrigatórias dos sucessivos governadores. Finalmente, no governo de D. Francisco de Sousa Coutinho (1764–1772), as obras terminam, com a construção de uma bateria do cavaleiro, armazéns à prova de bomba e uma cisterna que ficou conhecida como Cova da Onça, seguindo o estilo barroco militar, na base da ambiguidade, pluralidade e descentramento.
Os muros foram-se consolidando em pedra e cal em diferentes épocas, concluindo-se já no século XX. Ficava assim engenharia militar de Angola. Do ponto de vista urbano, a fortaleza foi sempre um marco ordenador do espaço da cidade. Nos primeiros tempos, foi o limite do aglomerado que se desenvolvia para sudoeste, em direção à Praia do Bispo. Mais tarde, cerca de 1648, quando a Barra da Corimba ficou assoreada, a cidade passou a desenvolver-se para o lado norte, do outro lado do morro, mantendo desta forma o seu papel ordenador. Actualmente encontra-se instalado na fortaleza o Museu Nacional de História Militar.[2]
História
Erguida por determinação do primeiro Governador, Paulo Dias de Novais, em 1575, é a primeira estrutura defensiva construída em Luanda e em Angola.
No contexto da Dinastia Filipina, a cidade de São Paulo de Luanda foi alçada à categoria de capital administrativa da região de Angola em 1627. Para a sua defesa, foi erguida uma nova fortificação, concluída em 1634.
O forte e a cidade caíram em mãos da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais no período de 24 de Agosto de 1641 a 15 de Agosto de 1648, quando foram recuperadas para a Coroa Portuguesa por uma expedição armada na Capitania do Rio de Janeiro, no Brasil, por Salvador Correia de Sá e Benevides. Durante o período de ocupação Neerlandesa foi denominado como Fort Aardenburgh. Em 1650 o governador Salvador Correia de Sá e Benevides apresentou ao Conselho Ultramarino os novos planos de fortificação de Luanda, a cargo do engenheiro francês Pedro Pelique, que trouxera do Rio de Janeiro[3]. O forte, que até à invasão holandesa se chamara de São Paulo, teve o seu nome trocado para São Miguel, santo da particular devoção de Salvador Correia de Sá.[4]
Sob o governo de Francisco de Távora (1669–1676) ou a seguir de D. Lourenço de Almada, 9.º conde de Avranches[1], fazendo parte das obras obrigatórias dos sucessivos governadores, o forte foi reconstruído em alvenaria, ficando concluídos um baluarte e duas cortinas. Sob o governo de César Meneses (1697–1701) foi erguida, no interior da fortificação, a casa da pólvora.
Em 1846, o major engenheiro Francisco Xavier Lopes foi encarregado pelo Governador Pedro Alexandrino a inspeccionar a fortaleza. Foram identificados vários defeitos que podiam comprometer a defesa em caso de combate. Os baluartes eram pouco espaçosos, limitando as manobras das tropas. A casa do governador tinha sido construída de uma forma que impedia a comunicação entre os dois baluartes. A fortaleza tinha 131 canhoneiras.[5]
A Portaria de 15 de Setembro de 1876 estabeleceu o Depósito de Degredados de Angola, nas dependências da fortaleza. Entretanto, a instituição só começou a funcionar em 1881, sendo realizadas algumas obras de adaptação para esse fim, como a construção de um edifício de dois pavimentos.
No século XX, com a extinção do Depósito de Degredados, por Portaria de 8 de Setembro de 1938, do ministro das Colónias Francisco José Vieira Machado, a fortaleza foi classificada como Monumento Nacional por Decreto Provincial de 2 de Dezembro do mesmo ano. Nela veio a instalar-se, no ano seguinte, o Museu de Angola, criado pela portaria n.º 6, tendo sido feitas as necessárias obras de adaptação, como a colocação de painéis de azulejos numa casamata com cenas da história de Angola e de exemplares da fauna e flora nativos.
Em 1961 o acervo do museu foi retirado por completo e a fortaleza voltou a assumir funções militares, nela tendo ficado sediado o Comando das Forças Militares Portuguesas.
Após a Independência, em 1978 as dependências da fortaleza passaram a albergar o Museu das Forças Armadas.
Em 1995 sofreu intervenções de conservação no exterior do edifício.
Entre 2009 e 2013, realizaram-se obras de reabilitação da fortaleza. Construiu-se um espaço subterrâneo com 1200 m², onde estão instalados um auditório, uma galeria e o panteão dos heróis. Na casamata central foram restaurados os painéis de azulejos.[6] Os antigos armazéns acolheram um laboratório, uma sala de audiovisual e uma cafetaria, bem como a área administrativa do museu. Na casa da pólvora foram instaladas salas de estudo e uma biblioteca. No exterior, construiu-se um parque de exposições onde se encontra a bandeira monumento.[7]
De propriedade do Estado, está afectada ao Ministério da Defesa e ao Ministério da Cultura.
Cronologia
Acontecimento | Data |
---|---|
Provisão real galardoando quem construísse «hum castello» | 12 de Abril 1574 |
Partida de Paulo Dias de Novais de Lisboa | 23 de Out.1574 |
Chegada de Paulo Dias de Novais à Ilha de Luanda | 11 de Fev.1575 |
Passagem de Paulo Dias de Novais para Morro de S. Paulo | 30/Jun/1576?
25/Jan/1576(?) 15/Dez/1576(?) |
Morte de Paulo Dias de Novais | 09 Mai/1589(?)
Out/1588(?) |
Aparecimento na Costa de Angola de 4 corsários | 1599/1600 |
Memorial afirmado que Luanda não tem fortaleza ou fortificação | 09/Jul/1616 |
Aparecimento de corsários holandeses,que foram batidos pelos navios portugueses | 1623 |
Entrada do porto de Luanda de corsários holandeses | Out/1624 |
Abandono da Ilha de Luanda pelos holandeses | 07/Dez/1624 |
Nomeação real de uma comissão para estudo da fortificação de Luanda | 22/Ago/1625 |
Envio para Lisboa do Relatório sobre a fortificação de Luanda | 28/Dez/1626 |
Relatório do sindicante António Bezerra Fajardo solicitando para que no morro de Sam-Paulo se faça um forte | 29/Fev/1629 |
Manuscrito de Fernão de Sousa (1624 a 1629) mencionando «fiz outro bo Môrro de Sam-Paulo» | 1624 a 1629 |
Início da construção da fortaleza no morro de S. Paulo | 1636 (?) ou 1638 (?) |
Envio de um técnico militar para estudar a fortificação de Luanda | (1639) |
Aparecimento da equerda holandesa, desembarque e ocupação de Luana | Agosto/1641 |
Desembarque de Salvador Correia de Sá | 15 de Agosto de 1648 |
Entrada das forças portuguesas no forte de S. Paulo | 24 (?) de Agosto de 1648 |
Entrada triunfal da imagem de S. Miguel no forte de S. Paulo que desde então se passou a designar por São Miguel | 24(?) de Agosto de 1648 |
Início das construções de alvenaria na fortaleza de S. Miguel | 1672 (?) |
Conclusão, em alvenaria, de um baluarte e de duas cortinas | 1675 (?) |
Conclusão de um segundo baluarte, em taipa e de outras obras | 1685 (?) |
Construção da «Casa da Pólvora» | 1700 |
Ofício para o Rei informando que a fortaleza estava arruinada a inútil | 10 de Janeiro de 1726 |
Ofício para o Rei informando que as Fortalezas de Luanda já estavam reparadas | 27 de Fevereiro de 1728 |
Construção, a cantaria de um segundo baluarte | 1737 |
Construção de «hum lanço de cortina» e das obras exteriores» | 1738 a 1748 |
Construção de «huma praça baixa» | 1753 a 1758 |
Elaboração, pelo Sargento-mor Magalhães e Bragança de «um códice» com a planta de todas as fortalezas de Luanda | 1755 |
Construção da cisterna | 1766 a 1772 |
Construção do «Cavaleiro» | 1768 |
Adaptação da «bataria-baixa» a fundição de canhões | 1770 (?) |
Primeira fundição de canhões em Luanda | 1771 |
Transferência dos armazéns da «Casa da Pólvora» e adaptação do edifício a prisão | 1760 a 1770 |
Envio ao Rei de uma planta da Fortaleza | 25 de Novembro de 1768 |
Terraplanagem da esplanada | 1795 (?) |
Envio para Lisboa de uma planta das Fortaleza | Dezembro de 1799 |
Motim militar em que os soldados do Regimento de Linha foram à fortaleza libertar o seu comandante | 1822 |
Ofício para o Rei informando que a cisterna da fortaleza secara, «facto este que não há memória» | 2 de Fevereiro de 1817 |
Rebelião do Batalhão Expedicionário aquartelado na fortaleza | 1823 |
Entrada na fortaleza de «soldadesca desenfreada» que assassinou o respectivo comandante | 30 de Agosto de 1836 |
Movimento constitucional da «Atochada» | 1834 |
Queda de um raio sobre o cavalheiro, danificando a abóbada | Março de 1843 |
Melhoramento da estrada de acesso e reparação do revelim | 1861 |
Criação do Depósito de Degredados de Angola, Portaria de | 15 de Setembro de 1876 |
Grandes obras de adaptação da fortaleza ao Depósito de Degredados, com destruição de muitas das seculares caractéristicas | 1882 |
Extinção do Depósito de Degredados | 8 de Setembro de 1938 |
Adaptação da Fortalezas ao Museu de Angola, Portaria de | 8 de Setembro de 1938 |
Descerramento de um lápide alusiva à vista Presidencial | 30 de Julho de 1939 |
Festas comemorativas de Restauração de Angola e descerramento de uma lápide | 25 de Agosto de 1948 |
Surto de terrorismo em Angola | 15 de Março de 1961 |
Ocupação da fortaleza pelo Batalhão de Páraquedistas | 1961 |
Homenagem dos Município às Forças Armadas, com o descerramento de uma lápide | 2 de Maio de 1964 |
Última cerimónia do arrear da Bandeira Portuguesa em Angola | 10 de Novembro de 1975 |
Inauguração do Museu Central das Forças Armadas | 31 de Julho de 1978 |
Incluído na Lista Indicativa a Património Mundial da UNESCO | 1996 |
A fortaleza volta a ter uma utilização militar (parcial) sendo integrado no sistema de defesa área de pontos sensíveis da capital angolana | 2001/2005 (?) |
Inauguração do Museu Nacional de História Militar | 4 de Abril de 2013 |
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 Ensaios sobre a statistica das possessões portuguezas na Africa occidental e oriental; na Asia occidental; na China, e na Oceania, Imprensa nacional, 1844, p. 141
- ↑ Machado, Miguel (2 de Julho de 2013). «MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA MILITAR – ANGOLA». Consultado em 11 de Outubro de 2013
- ↑ Santos, Nuno (1967). A Fortaleza de São Migue. Luanda: [s.n.] 22 páginas
- ↑ O Mundo Português, Volume VIII, 1941, p. 283
- ↑ Trés Fortalezas de Luanda em 1846, p. 43-44
- ↑ Moreira, João (2009). «Azulejos da Fortaleza de Luanda». Consultado em 11 de outubro de 2018
- ↑ «Angola Magazine - Reinaugurado o Museu nacional de de história militar». Nova Angola. 11 de abril de 2013. Consultado em 11 de outubro de 2018
- ↑ A Fortaleza de S. Miguel, p. 105-107
Bibliografia
- BOXER, C. R.. Salvador de Sá and the Struggle for Brazil and Angola, 1602-1686. (1952)
- SANTOS, Nuno. A Fortaleza de São Miguel. Luanda: Instituto de Investigação Científica de Angola, 1967.
- XAVIER, Francisco. Trés fortalezas de Luanda em 1846. Museu de Angola, 1954.
- MATTOSO, José. Património de origem portuguesa no mundo, Volume II, África/Mar Vermelho/Golfo Pérsico. Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
Ver também
Ligações externas
- «Forte de São Miguel in: Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana» (em português)
- «Fortress of S. Miguel - UNESCO World Heritage Centre». (em inglês)
- «Museu Nacional de História Militar» (em português)
- «Sistema de Informação para o Património Arquitectónico». (em português)