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Florentino de Carvalho

Florentino de Carvalho
Fotografia tirada durante uma de suas passagens pela polícia.
Nascimento 3 de março de 1883
Campomanes, Espanha
Morte 24 de março de 1947
Marília, Brasil
Nacionalidade hispano-brasileiro
Ocupação policial, portuário, tipógrafo, professor e militante anarcossindicalista
Escola/tradição anarquismo
Religião ateu

Predefinição:Socialismo libertário

Florentino de Carvalho, na verdade o pseudônimo de Primitivo Raymundo Soares (Campomanes, província de Oviedo, 3 de março de 1883Marília?, 24 de março de 1947) foi um anarcossindicalista nascido na Espanha que viveu no Brasil.

Biografia

Primeiros anos, vinda para o Brasil e envolvimento com o anarquismo

Nascido Primitivo Raymundo Soares em 3 de maio de 1883, em Campomanes, província de Oviedo, na Espanha, era filho de José Soares e Francisca Alves. Veio com sua família para o Brasil em 1889, estabelecendo-se em São Paulo. Seu pai, que na Espanha exercera o magistério, iniciou atividade no comércio. Primitivo, por sua vez, iniciou e concluiu os estudos primários no Liceu do Sagrado Coração de Jesus. Procurou continuar os estudos, tentando matricular-se em um escola normal, mas como os recursos de sua família eram poucos, não conseguiu concretizar seu intento. Seu pai, católico fervoroso, tentou convencer o filho a ingressar no seminário de Lorena, no intuito de torná-lo sacerdote, ideia que foi rejeitada por Primitivo.[1]

Por não conseguir continuar os estudos e por não lhe agradar a ideia do sacerdócio, Primitivo ingressou na Força Pública do Estado de São Paulo em 1898, onde logo foi promovido a cabo, recebendo elogios de seus superiores. Pretendendo dedicar-se à veterinária, conseguiu transferência para a enfermaria dos animais quando ainda estava no Corpo de Cavalaria, onde passou dez meses até ser transferido para o 1º Batalhão.[1] Foi promovido a sargento e, em 1901, ao entrar em uma livraria, deparou-se com um exemplar de A Conquista do Pão, de Piotr Kropotkin. A leitura desta obra causou-lhe forte impacto, e Primitivo pediu baixa da Força Pública.[2]

Ao dar baixa da Força Pública, Primitivo mudou-se para Santos com seu pai para trabalhar nas docas, dando início à sua militância junto aos trabalhadores das docas. Seu físico frágil não lhe permitia, porém, suportar o esforço físico exigido pela profissão, e Primitivou passou a exercer, então, o ofício de tipógrafo. A partir daí, iniciou seus estudos, como autodidata, em torno dos problemas sociais.[3] Logo tornou-se um militante anarquista e organizador destacado, e passou a ser visado pela polícia. Envolveu-se na greve dos portuários de 1906, e no ano seguinte teve duas passagens pela polícia, uma em 10 de outubro por publicação de manifesto anarquista, e outra em 1º de dezembro por porte de arma. Em 1908, em São Paulo, registraram-se mais duas passagens pela polícia, ambas por publicação de manifesto anarquista.[4]

Deportações

No final de 1910, Primitivo foi apontado como uma das lideranças da greve dos portuários de Santos naquele ano, junto do também anarquista e espanhol João Perdigão Gutierrez.[5] Além da sua participação em comícios, protestos e greves, Primitivo também havia fundado uma Escola Moderna no período. Sob o risco de ser deportado, fugiu para a Argentina, onde empreendeu algumas ações junto ao movimento operário argentino e passou a ser visado pela polícia local.[6] Realizou uma série de viagens clandestinas ao Brasil,[5] e em seguida foi preso pela polícia paulista. Como tinha chegado ao Brasil procedente da Argentina, foi enviado de volta. Ao desembarcar, e como também estava sendo procurado pela polícia argentina, foi imediatamente preso e embarcado em um navio para ser deportado à Europa. Como o navio argentino fizera uma escala nas docas de Santos, os trabalhadores da cidade, ao tomarem conhecimento da presença de Primitivo a bordo, iniciaram uma campanha para libertá-lo, provando que ele fez parte da Força Pública paulista entre 1898 e 1901 e salvando-o da deportação. A partir deste acontecimento, adotou o pseudônimo Florentino de Carvalho.[6]

De volta à Santos, Florentino teve um papel ativo no movimento sindical. Junto de outros militantes como Perdigão Gutierrez, Miguel Garrido, Carlos Zabalo e Antonio Vidal, ajudou a dar um caráter explicitamente anarquista ao movimento operário santista.[7] A Federação Operária Local de Santos (FOLS), em 1912, se declarava abertamente anarquista, enquanto a maioria das associações e militantes anarquistas do Brasil, seguindo uma orientação sindicalista revolucionária, adotavam a neutralidade política como um princípio para a ação sindical.[8] O envolvimento nas greves dos estivadores em julho de 1912 fez com que Florentino fosse novamente deportado, e dessa vez, as autoridades ignoraram a proteção outorgada pela Lei Adolfo Gordo que impedia a expulsão de estrangeiros que tivessem pelo menos dois anos ininterruptos de residência no Brasil.[5] Florentino de Carvalho afirmou que sua detenção, aprisionamento e posterior expulsão não passaram por nenhuma instância jurídica. Em fins de 1912, retornou clandestinamente ao Brasil.[7]

Referências

  1. 1,0 1,1 Nascimento 2000, p. 21.
  2. Dulles 1980, p. 20-21.
  3. Nascimento 2000, p. 21-22.
  4. Nascimento 2000, p. 22.
  5. 5,0 5,1 5,2 Dulles 1980, p. 30.
  6. 6,0 6,1 Nascimento 2000, p. 23.
  7. 7,0 7,1 Nascimento 2000, p. 24.
  8. Oliveira 2018, p. 221.

Bibliografia

  • Dulles, John W. F. (1980). Anarquistas e Comunistas no Brasil, 1900-1935. Rio de Janeiro: Nova Fronteira 
  • Oliveira, Tiago Bernardon (2018). «"Anarquismo e Revolução": militância anarquista e a estratégia do sindicalismo revolucionário no Brasil da Primeira República». In: Santos, Kauan Willian; Silva, Rafael Viana (org.). História do anarquismo e do sindicalismo de intenção revolucionária no Brasil: novas perspectivas. Curitiba: Prismas. pp. 207–242 
  • Nascimento, Rogério H. Z. (2000). Florentino de Carvalho: pensamento social de um anarquista. Rio de Janeiro: Achiamé 

Predefinição:NF

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