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Escritor-fantasma

Escritor-fantasma (inglês: ghostwriter), também conhecido em francês como nègre littéraire ("negro literário") ou simplesmente nègre ("negro"), é como se chama a pessoa que, tendo escrito uma obra ou texto, não recebe os créditos de autoria - ficando estes com aquele que o contrata ou compra o trabalho.[1]

Profissionalização

Algumas editoras disponibilizam o serviço de autoria oculta como incentivo para a publicação de novas obras[2] ou, noutras, o escritor se oferece para dar corpo a um livro quando percebe que há uma boa história. Geralmente são profissionais que já escreveram suas próprias obras autorais e a experiência acumulada os permitem estar aptos a escrever para os outros.

O trabalho de redação de livros chega a ser oferecido publicamente, junto ao de revisão, voltado ao público que "não tenha tempo" para escrever um livro em que o "escritor-fantasma ajudará o autor a redigir uma biografia, autobiografia, romances, livros técnicos, etc."[3]

Casos

Ted Sorensen, escritor-fantasma de John Kennedy.

Em alguns lugares, como o Canadá, o serviço de escritor-fantasma é reconhecido e apoiado por entidades como The Writers' Union of Canada[4]

Nos Estados Unidos há uma variação para os escritores de discursos, chamados ali de speechwriters (escritores de discursos, numa tradução livre). Dentre estes, um dos mais proeminentes foi Ted Sorensen, assessor do Presidente Kennedy, e autor da célebre frase do discurso de posse, onde dizia "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país"[5][6]

George Lucas serviu-se da redação de Alan Dean Foster para a versão em livro de Star Wars.[6]

No Brasil, o Chalaça foi escritor-fantasma de D. Pedro I, e a ex-prostituta Bruna Surfistinha serviu-se da escrita de Jorge Tarquini para a formatação do best-seller "O Doce Veneno do Escorpião - O Diário de uma Garota de Programa".[7]

Na política

O uso de escritores-fantasma por políticos é comum, na escrita dos seus discursos. A frase do escritor-fantasma do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek, Autran Dourado, é famosa no meio: "Eu era apenas a mão que escrevia".[8]

Assessores políticos chegam mesmo a escrever sobre pontos de vista opostos, para adequar os textos aos clientes e seus discursos. É comum, ainda, adequar o texto ao nível de conhecimento e estilo daquele que contrata o escritor fantasma.[8]

Casos

A diferença entre o discurso lido e o de improviso pode gerar discrepância no estilo. Esta falha é apontada, por exemplo, nas falas do ex-presidente Lula.[9]

Conta-se que um político mineiro, sem efetuar uma pré-leitura do texto feito pelo "fantasma", leu a frase "de Minas, quiçá do Brasil" como "Minas, cuíca do Brasil", gerando constrangimento e pilhéria.[8] Por isso é tão importante que o contratante participe, mesmo que minimamente, da construção do texto. Só assim é possível haver coerência com o que foi escrito [10]

A Winston Churchill é atribuída a crítica ao seu adversário, Clement Attlee, dizendo dele que "Era um político tão medíocre que escrevia os próprios discursos".[8]

Outro caso foi o livro O Doce Veneno do Escorpião – O Diário de uma Garota de Programa, de Bruna Surfistinha. A autora optou pelo auxílio de um escritor-fantasma para redigir suas histórias. Após um tempo, o escritor-fantasma processou a garota de programa alegando direitos autorais. A justiça negou o processo.[11]

Questão ética

Um caso recente envolveu uma publicação científica e um artigo derivado de pesquisa por uma indústria farmacêutica, nos Estados Unidos. A fim de ter o seu trabalho publicado, a indústria tentou contratar uma especialista para redigi-lo, mas esta recusou a oferta; tendo outro profissional efectuado a redacção, a sua publicação foi recusada por uma revista médica - e em seu lugar foi publicado um texto da especialista que recusara o trabalho, condenando a prática. A indústria defendeu-se, com o argumento de que era comum a prática de uso da autoria oculta, levantando ao questionamento dos limites éticos para a prática.[12]

Esta prática de comércio autoral contudo, segundo a pesquisadora Maria Christina Anna Grieger, que apreciou os casos da indústria farmacêutica e de monografias feitas por outrem, "é uma realidade que pode interferir negativamente na formação ética, científica e profissional de graduandos e pós-graduandos, bem como na produção científica, falseando dados e informações da literatura."[13]

Nas artes

Legalidade

A figura do escritor-fanstasma não é prevista no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, as normas referentes a essa atividade são regidas pelo direito autoral.[18]

Ver também

  • Pseudônimo - quando o autor adopta um nome fictício para assinar a obra.
  • Plágio - quando um autor reproduz integral ou parcialmente a obra de outrem.
  • Revisão - quando outra pessoa efectua o trabalho de encontrar erros e imprecisões numa obra.

Referências

  1. Dicionário Aurélio, verbete "escritor-fantasma".
  2. Vila Romana - Bureau de Letras www.usinadetextos.com.br de serviço de escritor-fantasma(página acessada em 2014)
  3. Anúncio dos trabalhos de ghost-writer por uma editora (página acessada em outubro de 2008)
  4. Página de The Writers' Union Arquivado em 14 de julho de 2008, no Wayback Machine., onde o serviço é oferecido - em inglês. (acessada em outubro de 2008)
  5. Tradução livre para "Ask not what your country can do for you; ask what you can do for your country"
  6. 6,0 6,1 Anúncio de serviços de escritor-fantasma, em inglês; a página traz exemplos de vários escritores ocultos (página acessada em outubro de 2008)
  7. 7,0 7,1 Revista Paradoxo, "Escritores-fantasmas: eles existem!", por Márcio Lima, ed. 18/04/2006 (acessada em outubro de 2008)
  8. 8,0 8,1 8,2 8,3 Correio Braziliense, Fernanda Lambach in Bastidores do Poder: Os fantasmas escrevem (ed. Brasília, domingo, 29 de junho de 2003 - página acessada em outubro de 2008)
  9. Observatória da Imprensa, Milton Coelho da Graça (O Globo, 8 de janeiro de 2007), página acessada em outubro de 2008.
  10. Victor Rocha - www.rochavictor.com
  11. «Bruna Surfistinha: Justiça decide que ghost writer Jorge Tarquini não tem direito autoral sobre livro». Jornal Opção (em português). 18 de fevereiro de 2015. Consultado em 30 de março de 2019 
  12. Artigo, "O escritor-fantasma e a Ética na Comunicação", por Mário Ernesto Humberg (página acessada em outubro de 2008).
  13. Artigo, Escritores-fantasma e comércio de trabalhos científicos na internet: a ciência em risco, GRIEGER, Maria Christina Anna. in: Revista da Associação Médica Brasileira, v.53, n.3, São Paulo maio/jun. 2007, ISSN 0104-4230 (página do artigo integral acessada em outubro de 2008)
  14. IMDB, ficha contendo informes do filme (acessada em outubro de 2008)
  15. ficha do filme, página acessada em outubro de 2008
  16. Notícia, página acessada em outubro de 2008
  17. http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-05-08-Os-fantasmas-que-escrevem-os-livros-dos-famosos
  18. Algarve, Luís Marcelo (2018). Direitos Autorais e Ghostwriter. Rio de Janeiro: Lumen Juris 
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