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ext2

Predefinição:Info/Sistema de Arquivos

O ext2 (do inglês: second extended file system, em português: segundo sistema de arquivos estendido) é um sistema de arquivos para o núcleo do Linux. Foi inicialmente desenvolvido por Rémy Card como um substituto para o extended file system (ext). Projetado de acordo com os mesmos princípios do Berkeley Fast File System do BSD, foi o primeiro sistema de arquivos de nível comercial para Linux.[1]

A implementação da Canonical do ext2 é o controlador (driver) do sistema de arquivos "ext2fs" no kernel do Linux. Outras implementações (de qualidade e completude variadas) existem no GNU Hurd, no MINIX 3, em alguns núcleos do BSD, no MiNT e como drivers Microsoft Windows e macOS de terceiros.

O ext2 era o sistema de arquivos padrão em várias distribuições Linux, incluindo o Debian e o Red Hat Linux, até ser suplantado pelo ext3, que é quase totalmente compatível com o ext2 e é um sistema de arquivos de registro. O ext2 ainda é o sistema de arquivos de escolha para mídia de armazenamento baseada em flash (como cartões SD e unidades flash USB) porque a falta de um registro (journal) aumenta o desempenho e minimiza o número de gravações, e os dispositivos flash têm um número limitado de ciclos de gravação. No entanto, os núcleos do Linux recentes suportam um modo sem registro do ext4, que fornece benefícios não encontrados no ext2.

História

Esta seção é baseada no texto de Card, Ts'o e Tweedie [1994].

Linus Torvalds adaptou o sistema de arquivos do MINIX, de Andrew Tanenbaum, para o Linux. Entretanto, aquele sistema tinha várias limitações, como o tamanho do volume suportado (máximo de 64 MiB) e nome de arquivos (até 14 caracteres).

Após a inclusão do VFS (Virtual Filesystem) no núcleo inicialmente escrito por Chris Provenzano, depois reescrito por Torvalds, Rémy Card criou o Ext em 1992, que foi incluído no Linux 0.96c. Esse sistema de arquivos estendeu o limite do volume para 2 GiB e o tamanho do nome de arquivo para 255 caracteres.

O Ext ainda tinha alguns problemas, como a falta de suporte a modificação em nós-i e no tempo de modificação do arquivo. E com o uso, o sistema ficava fragmentado e lento. No início de 1993 foram disponibilizados 2 novos sistemas: o XiaFS, de Frank Xia, também baseado no Minix; e o Ext2, que tornou-se o sistema de arquivos padrão para instalações Linux.

Características técnicas

Ext2 foi projetado e implementado para corrigir as deficiências do Ext e prover um sistema que respeitasse a semântica UNIX. A influência do UNIX pode ser vista, por exemplo, na utilização de grupos de blocos, que são análogos aos grupos de cilindros utilizados pelo FFS [CARD, TS'O & TWEEDIE, 1994]. A versão original do FFS originou o que é hoje conhecido como UFS1 (Unix File System 1) [MCKUSIC & NEVILLE-NEIL, 2005].

O bloco, que consiste num conjunto de setores (cada setor tem 512 bytes), é a menor unidade de alocação para o Ext2. O tamanho pode ser de 1024, 2048 ou 4096 bytes e é definido na formatação. [BOVET e CESATI, 2005, p. 739].

O tamanho máximo de um volume Ext2 é de 8 TiB [MINGMING CAO et al, 2005]. Embora o superbloco (v. abaixo) contenha um campo de 32 bits que determina o número de blocos (s_blocks_count), o que permitiria armazenar até 16 TiB, o tamanho é limitado pelo número de grupos de bloco, que é de 65 536 (determinado pelo campo s_block_group_nr), pois o campo ocupa dois bytes (16 bits). Assim, caso o volume seja formatado usando blocos de 4 KiB, cada grupo de blocos tem até 32 768 blocos; com 65 536 blocos obtém-se o limite indicado (4 KiB * 32 768 * 65 536 = 8 589 934 592 KiB = 8 TiB).

As subseções a seguir descrevem, resumidamente, as estruturas do Ext2 (superbloco, nó-i, grupos de blocos, mapas de bits de blocos e de nós-i e tabelas de nós-i), que são mostradas com mais profundidade e detalhamento por Carrier [2005, pp. 449–460], Bovet & Cesati [2005, pp. 741–746] e, principalmente, no código fonte do Linux—neste texto foi usado como referência a versão 2.6.28.8 (de março de 2009) [TORVALDS et al, 2009].

Superbloco

O superbloco é a estrutura básica do Ext2. Ocupa 1024 bytes e inicia no terceiro setor do volume.

Bytes Campo Descrição Bytes Campo Descrição
0-3 s_inodes_count Número de nós-i 68-71 s_checkinterval Intervalo entre verificações
4-7 s_blocks_count Número de blocos 72-75 s_creator_os Criador (SO)
8-11 s_r_blocks_count Número de blocos reservados 76-79 s_rev_level Versão maior
12-15 s_free_blocks_count Número de blocos não alocados 80-81 s_def_resuid UID do dono dos blocos reservados
16-19 s_free_inodes_count Número de nós-i não alocados 82-83 s_def_resgid GID do dono dos blocos reservados
20-23 s_first_data_block Primeiro bloco do grupo 0 84-87 s_first_ino Primeiro nó-i não reservado
24-27 s_log_block_size Tamanho do bloco 88-89 s_inode_size Tamanho do nó-i
28-31 s_log_frag_size Tamanho do fragmento 90-91 s_block_group_nr Número deste grupo de blocos [1]
32-35 s_blocks_per_group Número de blocos por grupo 92-95 s_feature_compat Sinalizadores de compatibilidade
36-39 s_frags_per_group Número de fragmentos por grupo 96-99 s_feature_incompat Sinalizadores de incompatibilidade
40-43 s_inodes_per_group Número de nós-i por grupo 100-103 s_feature_ro_compat Indicadores de somente leitura
44-47 s_mtime Tempo da última montagem 104-119 s_uuid ID do sistema de arquivos
48-51 s_wtime Tempo da última alteração 120-135 s_volume_name Nome do volume
52-53 s_mnt_count Contador de montagens 136-199 s_last_mounted Caminho da última montagem
54-55 s_max_mnt_count Número máximo de montagens 200-203 s_algorithm_usage_bitmap Algoritmo de uso de mapa de bits
56-57 s_magic Assinatura (0xef53) 204 s_prealloc_blocks Número de blocos pré-alocados para arquivos
58-59 s_state Estado do sistema de arquivos 205 s_prealloc_dir_blocks Número de blocos pré-alocados para diretórios
60-61 s_errors Método de manipulação de erros 206-231 Sem uso para Ext2
62-63 s_minor_rev_level Versão menor 232-235 s_last_orphan Cabeçalho da lista de nós-i órfãos
64-67 s_lastcheck Tempo da última verificação 236-1023 Sem uso
Estrutura do superbloco [TORVALDS et al, 2009].

Observações sobre a tabela:

[1] O superbloco possui cópia(s) espalhadas no volume, e este número identifica o grupo de blocos em que o superbloco está contido.

Nó-i

Um arquivo é descrito (a menos do seu nome e seu diretório pai) por um nó-i (inode ou index node). O nó-i é uma estrutura de dados com tamanho padrão de 128 bytes. O tamanho é definido na formatação (mke2fs -I tamanho). Alguns parâmetros são obrigatórios (ou essenciais), como as permissões, o tamanho do arquivo e o endereçamento dos blocos alocados. Outros, embora úteis e quase sempre definidos, são opcionais, como o UID, GID, rótulos de tempo, etc. A tabela seguinte mostra sua estrutura.

Bytes Campo Descrição Bytes Campo Descrição
0-1 i_mode Permissões e atributos [1] 40-87 i_block 12 endereços de blocos
2-3 i_uid UID: 16 bits menos significativos 88-91 i_block Um endereço de bloco indireto simples
4-7 i_size Tamanho do arquivo [2] 92-95 i_block Um endereço de bloco indireto duplo
8-11 i_atime Último acesso ao arquivo 96-99 i_block Um endereço de bloco indireto triplo
12-15 i_ctime Última modificação do nó-i 100-103 i_generation Número de geração (NFS)
16-19 i_mtime Última modificação do arquivo 104-107 i_file_acl Atributo estendido (ACL) do arquivo
20-23 i_dtime Tempo de remoção do arquivo 108-111 i_dir_acl ACL de diretório ou tamanho de arquivo [3]
24-25 i_gid GID: 16 bits menos significativos 112-117 i_faddr Informações de fragmentos [4]
26-27 i_links_count Contador de links 118-119 Não usado
28-31 i_blocks Contador de setores 120-121 l_i_uid_high UID: 16 bits mais significativos
32-35 i_flags Sinalizadores 122-123 l_i_gid_high GID: 16 bits mais significativos
36-39 Reservado 124-127 Não usado
Estrutura do nó-i [TORVALDS et al, 2009].

Observações sobre a tabela:

[1] Contém sinalizadores (flags) de permissão e tipo: nove bits de permissão “rwx” - leitura, escrita e execução para o dono, grupo e outros; três bits definem o sticky bit, SGID e SUID; quatro bits identificam os tipos de arquivo (regular, diretório, dispositivo, link simbólico, etc.).

[2] Se o arquivo tiver menos que 4 GiB; caso contrário, mostra os 32 bits mais significativos do tamanho—v. [3].

[3] Caso o arquivo tenha 4 GiB ou mais, este campo mostra os 32 bits mais significativos do tamanho—v. [2].

[4] O Ext2 não usa fragmentos.

O nó-i contém dois registros para contar o tamanho do arquivo: (i) i_size, que mostra o tamanho em bytes (definido por dois campos de 32 bits); (ii) i_blocks, que, apesar do nome, mostra o número de setores ocupados pelo arquivo. O registro i_size permite um valor de 8 EiB ((263 - 1) bytes pois, segundo Bovet e Cesati [2005, p. 746], um dos bits não é usado). O número máximo de setores definido por i_blocks é 4 294 967 295 (232 - 1); como um setor tem 512 bytes, o valor suportado é de 2 TiB. Portanto, o Ext2 suporta arquivos com, no máximo, 2 TiB de tamanho.

São usados 48 bytes para o endereçamento direto de 12 blocos. Caso o arquivo ocupe mais espaço, os quatro bytes seguintes do nó-i endereçam um bloco indireto simples, que contém endereços de blocos de dados; se ainda não for suficiente, mais quatro bytes identificam um bloco indireto duplo (o qual endereça blocos indiretos simples); finalmente, quatro bytes apontam para um bloco indireto triplo (que endereça blocos indiretos duplos). Nesse esquema, usando-se blocos de 4 KiB, podem-se alocar mais de 4 TiB para um arquivo, embora o limite para o tamanho do arquivo seja menor, como visto anteriormente.

Existem quatro campos (i_atime, i_ctime, i_mtime, i_dtime), cada um com 32 bits, para contar o tempo em segundos, a partir de 00:00:00 de primeiro de janeiro de 1970. Os quatro tempos marcados são: access time – atime (marca o último acesso ao arquivo); change time – ctime (tempo de alteração do nó-i); modification time – mtime (tempo de modificação do arquivo); deletion time (marca quando o arquivo foi apagado, enquanto o nó-i não for reaproveitado).

Grupos de blocos

Um volume (partição ou unidade lógica) Ext2 é dividido em grupos de blocos de mesmo tamanho (à exceção do último, que pode ser menor). Com um tamanho de bloco de 4 KiB, um grupo contém 32 768 blocos.

Cada grupo de blocos possui uma tabela de descritores que endereçam os mapas de bits dos blocos e dos nós-i e a tabela de nós-i. O primeiro grupo contém o superbloco, que possui cópia em alguns outros grupos. No mapa de bits de blocos, cada byte mapeia 8 blocos (um por bit). O bit menos significativo identifica o bloco de menor número. O mapa de bits de nós-i é análogo.

Mapa de bits de blocos

Um mapa de bits de bloco é usado para mostrar quais os blocos que, dentro do grupo, estão livres ou alocados. Quando o tamanho de bloco é de 4 KiB, podem ser mostrados 32 768 blocos (4096 * 8). Um bit "1" indica que o bloco correspondente está alocado e um bit "0" indica que o bloco está livre. O primeiro byte do bloco mostra os primeiros 8 blocos do grupo; o bit menos significativo mostra o primeiro bloco e o bit mais significativo mostra o oitavo bloco.

Mapa de bits de nós-i

Um mapa de bits de nós-i é usado para indicar a alocação de nós-i, de modo análogo à alocação de blocos vista anteriormente. Como o número de nós-i é, geralmente, menor que o número de blocos, somente uma parte do bloco é usada.

Tabela de nós-i

A tabela de nós-i é formada por blocos consecutivos após os mapas de bits. Cada entrada na tabela é um nó-i; assim, um bloco de 4 KiB pode conter até 32 nós-i.

Alocação de blocos

Quando é realizada uma operação de escrita em um arquivo, o Ext2 tenta, sempre que possível, alocar blocos de dados no mesmo grupo que contém o nó-i. Esse comportamento reduz o movimento da(s) cabeça(s) de leitura-gravação da unidade de disco.

Em um sistema de arquivos ocorrem dois tipos de fragmentação: (i) a fragmentação interna (ou de espaço) é causada pelo fato do tamanho do arquivo geralmente não ser múltiplo do tamanho do bloco (portanto o último bloco terá um espaço não utilizado) -- a consequência é a perda de espaço; (ii) a fragmentação externa (ou de arquivo) decorre da impossibilidade do sistema determinar, a priori, qual o tamanho do arquivo (p.ex., arquivos de texto e de logs são muito modificados, e o seu tamanho pode aumentar ou diminuir) -- assim um arquivo pode alocar blocos não contíguos, prejudicando o desempenho.

Para diminuir o impacto do primeiro tipo, existem duas estratégias básicas. A primeira, mais simples, é determinar, na formatação, o menor tamanho de bloco possível. O Ext2 permite tamanhos de blocos de 1024, 2048 e 4096 bytes. Um tamanho de bloco pequeno, como 1024 bytes, diminui a fragmentação e perda de espaço, mas em contrapartida gera um impacto negativo no desempenho, pois acarreta o gerenciamento de uma maior quantidade de blocos. O tamanho de bloco padrão para volumes grandes é de 4096 bytes.

A segunda estratégia é alocar a parte final de um arquivo, menor que o tamanho de um bloco, juntamente com pedaços de outros arquivos. O Reiserfs chama esse método de tail packing; o UFS usa fragmentos, que são submúltiplos do tamanho do bloco. Apesar do Ext2 possuir, no superbloco, a previsão para uso de fragmentos, esse método não foi implementado.

Para diminuir o impacto da fragmentação externa, o Ext2 pré-aloca (reserva) até oito blocos quando um arquivo é aberto para gravação. Esses blocos reservados, quando possível, são adjacentes ao último bloco utilizado pelo arquivo. [CARD, TS'O e TWEEDIE, 1994]

Ver também

Referências

  1. BOVET, Daniel P.; CESATI, Marco. Understanding the Linux kernel. 3.ed. Sebastopol: O'Reilly. 2005.
  2. CARD, Rémy; TS'O, Theodore; TWEEDIE, Stephen. Design and implementation of the Second Extended Filesystem. Proceedings of the First Dutch International Symposium on Linux. 1994. Disponível em <http://web.mit.edu/tytso/www/linux/ext2intro.html>. Acessado em 01 out. 2007.
  3. CARRIER, Brian. File system forensic analysis. Upper Saddle River: Addison-Wesley. 2005.
  4. TORVALDS, Linus et al. Linux kernel v. 2.6.28.8: include/linux/ext2_fs.h. The Linux Kernel Archives. 2009. Disponível em <http://www.kernel.org/pub/linux/kernel/v2.6/>. Acesso em 19 mar. 2009.
  5. MCKUSIC, Marshall K.; NEVILLE-NEIL, George V. The design and implementation of the FreeBSD operating system. Upper Saddle River: Addison-Wesley, 2005.
  6. MINGMING CAO et al. State of the art: where we are with the Ext3 filesystem. Ottawa Linux Symposium. 2005. v. 1, pp. 69–96 Disponível em <http://www.linuxsymposium.org/2005/> Acessado em 28 dez. 2008.
  7. TS'O, Theodore; TWEEDIE, Stephen. Planned extensions to the Linux Ext2/Ext3 Filesystem. USENIX 2002 Annual Technical Conference. [2002]. Disponível em <http://www.usenix.org/publications/library/proceedings/usenix02/tech/freenix/full_papers/tso/tso.pdf>. Acessado em 17 dez. 2009.

Predefinição:Sistema de ficheiros

  1. Mauerer, Wolfgang (2010). Professional Linux Kernel Architecture. [S.l.]: John Wiley & Sons 

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