Donna Haraway | |
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Donna Haraway (Denver, Colorado, 6 de setembro de 1944) é uma filósofa e zóologa estadunidense, professora emérita no Departamento de História da Consciência e no Departamento de Estudos Feministas na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, Estados Unidos da América[1]. Ela é uma acadêmica reconhecida nas áreas de estudos da ciência e tecnologia, como tecnociência, primatologia, feminismo e estudos pós-coloniais. Foi descrita no ínicio da década de 1990 como "feminista pós-moderna"[2].
Haraway é autora de diversos livros e ensaios fundamentais que relacionam temas da ciência e do feminismo. Dois exemplos proeminentes são 1) "Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX" (1985)[3], traduzido ao português no Brasil em 2009[4], em que ela redefine a figura do ciborgue para abordar um cenário de relação humano-máquina que questiona o discurso naturalista e suas relações com o capitalismo; e através dessa figura híbrida desfazer a oposição binária entre natural/vida e tecnológico/morte [5][6][7]; e 2) "Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial" (1988)[8] traduzido ao português no Brasil em 2009[9], no qual a questão de lugar de fala e identidade é aplicada aos saberes científicos, questionando a premissa de neutralidade, objetividade e universalidade incondicional do discurso científico. Ambos textos ressaltados são capítulos do livro "Simians, Cyborgs and Women: The reinvention of nature" (1991), sem tradução integral ao português no Brasil.
Além disso, sobre suas contribuições na intersecção de informação sobre tecnologia e teoria feminista, Haraway é frequentemente citada em trabalhos relacionados a Interação Humano-Computador (Human-Computer Interaction - HCI). Os seus textos supracitados, "Saberes localizados" e "Manifesto Ciborgue", especialmente dispararam discussões com a comunidade IHC (HCI) considerando o posicionamento no qual as pesquisas são feitas e os sistemas são desenhados. Ela também é uma pesquisadora coordenadora na área de ecofeminismo contemporâneo, associado com movimentos pós-humanistas (Post-Humanism)[10] e neomaterialistas (New Materialism)[11].
Sua produção acadêmica critica o antropocentrismo ao destacar a potência de autoorganização em processos não humanos e explora relações dissonantes entre estes processos e práticas culturais, repensando questões éticas[12]. Haraway critica o Antropoceno porque normaliza a ideia do ser humano como uma espécie. No entanto, ela também reconhece a importância desta ideia, percebendo humanos como agentes estratégicos[13]. Haraway prefere o termo Capitaloceno (Capitalocene) que define o imperativo inflexível do capitalismo para se expandir e crescer, mas ela não apoia a noção de destruição irreversível nem para o Antropoceno, nem para o Capitaloceno.
A recepção de seus textos é marcada pelo questionamento de um humanismo dominante na cultura ocidental e o estudo das relações entre humanos e não-humanos, de ciborgues a animais companheiros[14].
Em 2002 ela recebeu o Prêmio J.D. Bernal (John Desmond Bernal Prize), a maior honraria dada pela Sociedade de Estudos Sociais da Ciência, por contribuições vitalícias para o campo.[15]
Percurso
Haraway se formou em Zoologia e Filosofia no The Colorado College, onde recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Boettcher. Ela também estudou em Paris sob uma bolsa Fulbright, e concluiu seu Ph.D. em Biologia na Universidade Yale em 1972 com uma dissertação intitulada "A Busca das Relações Organizadas: Um Paradigma Organismo na Biologia do Desenvolvimento do século XX", onde ela interligou os campos — e departamentos — Biologia, Filosofia e História da Ciência e Medicina. Ela começou sua carreira de professora de 1971 a 1974, no departamento de História Ciências e Estudos Femininos na Universidade do Havaí e na Universidade Johns Hopkins de 1974 a 1980, quando ela se juntou ao programa História da Consciência na Universidade de Santa Cruz da Califórnia. Desafiando a categorização departamental tradicionalmente definida, Donna Haraway possui associações associadas em Antropologia, Estudos Ambientais, Estudos Feministas e Cinema e Mídia Digital. Em seu trabalho ela explora os laços entre o universo técnico e popular e o tráfego espesso entre naturezas e culturas.[15][16]
Em 1991, Haraway publicou Simians, cyborgs and women, uma compilação de dez ensaios escritos durante a década de 1980 entre os quais o Manifesto Ciborgue. No campo da relação entre humanos e outras espécies, publicou o livro Manifesto das espécies companheiras (Editora Bazar do Tempo, 2021)[17], focado na defesa da noção "espécies companheiras" – em oposição aos "animais companheiros" – como resultado da reflexão sobre a interação que se estabelece entre humanos e muitos tipos de animais. Em 2015 ela escreveu seu grande ensaio Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene, ainda sem tradução para o português.[14]
Obras publicadas no Brasil
Artigos em revistas
- Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial (1995)[18]
- Gênero para um dicionário marxista: a política de uma palavra (2004)[19]
Publicações em capítulos de livros
- Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX (2009)[20]
- Você é um ciborgue: Encontro com Donna Haraway (2009)[21]
- Companhias multiespécies nas naturezaculturas: uma conversa entre Donna Haraway e Sandra Azerêdo (2011)[22]
- O Manifesto das espécies companheiras: cães, pessoas e alteridade significante [fragmento] (2017)[23]
Publicações de livros
- O Manifesto das espécies companheiras: Cachorros, pessoas e alteridade significativa (2021)[17]
Referências
- ↑ [feministstudies.ucsc.edu. «"Donna J Haraway". feministstudies.ucsc.edu. Archived from the original on 2017-03-17. Retrieved 2017-03-16.»] Verifique valor
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(ajuda). Consultado em 27 de março de 2022 - ↑ «Young, Robert M. (1992). "Science, Ideology and Donna Haraway". Science as Culture. 15 (3): 179.»
- ↑ Haraway, Donna (1990). "A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century". Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. Routledge. pp. 149–181. ISBN 978-0415903875. [S.l.: s.n.]
- ↑ «Antropologia do ciborgue. Tradução de "Manifesto ciborgue" e outros textos dialogantes de outras autorias.»
- ↑ «"Ideias que Colam": você conhece o Manifesto Ciborgue, de Donna Haraway?». Guia do Estudante (em português). Consultado em 12 de setembro de 2021
- ↑ «Donna Haraway e o manifesto ciborgue». Universidade Livre Feminista (em português). 6 de setembro de 2014. Consultado em 12 de setembro de 2021
- ↑ Jorge, Jonas. «"Estamos vivendo tempos extremamente perigosos". Entrevista com Donna Haraway». www.ihu.unisinos.br (em português). Consultado em 12 de setembro de 2021
- ↑ Haraway, Donna (Autumn 1988). "Situated Knowledges: The Science Question in Feminism and the Privilege of Partial Perspective". Feminist Studies. 14 (3): 575–599. doi:10.2307/3178066. JSTOR 3178066. [S.l.: s.n.]
- ↑ «Haraway, D. (2009). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, (5), 7–41. Recuperado de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1773». Consultado em 27 de março de 2022 Ligação externa em
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(ajuda) - ↑ «What Is Posthumanism?. University of Minnesota Press. Retrieved 2018-03-29.»
- ↑ «"New Materialism". newmaterialism.eu. Archived from the original on 2018-03-30. Retrieved 2018-03-29.»
- ↑ «Connolly, William E. (2013). "The 'New Materialism' and the Fragility of Things". Millennium: Journal of International Studies. 41 (3): 399–412. doi:10.1177/0305829813486849. S2CID 143725752.»
- ↑ «Franklin, Sarah (2017-07-01). "Staying with the Manifesto: An Interview with Donna Haraway". Theory, Culture & Society. 34 (4): 49–63. doi:10.1177/0263276417693290. ISSN 0263-2764. S2CID 152133541.»
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- ↑ 17,0 17,1 HARAWAY, Donna (2021). O manifesto das espécies companheiras: Cachorros, pessoas e alteridade significativa. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo. 192 páginas. ISBN 978-65-86719-64-2
- ↑ HARAWAY, Donna (1995). «Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial». UNICAMP. Cadernos Pagu (5): 7-41. ISSN 0104-8333. Consultado em 16 de março de 2022
- ↑ HARAWAY, Donna (2004). «Gênero para um dicionário marxista: a política de uma palavra». UNICAMP. Cadernos Pagu (22): 201-246. ISSN 0104-8333. Consultado em 16 de março de 2022
- ↑ HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz (2009). Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica. pp. 33–118. ISBN 9788575263952
- ↑ HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz (2009). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica. pp. 17–32. ISBN 9788575263952
- ↑ MACIEL, Maria Esther (2011). Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica. Florianópolis: UFSC. pp. 389–417. ISBN 978-8532805430
- ↑ BRANDÃO, Izabel; CAVALCANTI, Ildney; COSTA, Claudia de Lima; LIMA, Ana Cecília (2017). Traduções da Cultura: Perspectivas Críticas Feministas 1970-2010. Florianópolis: Editora Mulheres. ISBN 9788532808141