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Desenvolvimento motor

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O desenvolvimento motor se refere ao amadurecimento do controle sobre os diferentes músculos do organismo.

Segundo Gallahue (2005), o desenvolvimento motor é a mudança contínua do comportamento motor ao longo da vida, que se dá pela interação entre as exigências da tarefa motora, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente. Além disso, Gallahue defende que o ato de movimentar-se é a pura expressão da vida, sendo crucial a compreensão de como adquirimos o controle motor e a coordenação dos movimentos para entendermos como vivemos.[1]

Sendo assim, trata-se de um processo contínuo de mudanças que se inicia na concepção e só termina com a morte. Nesse processo, passamos a realizar ações motoras cada vez mais complexas e com alto nível de proficiência, levando em consideração fatores genéticos, ambientais e os diferentes estímulos recebidos ao longo do ciclo da vida.

Gallahue (2000) entende também, que o desenvolvimento é um fenômeno composto por mudanças constantes e que acontece durante toda a vida, de forma progressiva e dependente de fatores biológicos como hereditariedade e desnutrição. Na mesma linha de pensamento, Connoly (2000) afirma que o desenvolvimento motor acontece de forma natural na realização de tarefas cotidianas e fundamentais para a existência humana, como andar, correr, lançar e saltar. Portanto, pode-se dizer que existem conceitos acerca do desenvolvimento que podem ser resumidos em: uma alteração adaptativa em direção a determinada habilidade (por mais simples e essencial que seja), diferenciação e especialização celular, orgânica e sistêmica (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2004), alterações no modo de funcionamento do indivíduo ao longo do tempo ou ainda produto da maturação e das experiências oferecidas ao indivíduo (ESPENSCHADE; ECKERT apud GUEDES; GUEDES, 1997, p. 13).

Tendo em vista o desenvolvimento motor na educação infantil, Gallahue e Ozmun (2001) apresentam o processo de desenvolvimento motor em forma de ampulheta, em que há uma divisão do processo de desenvolvimento em quatro fases, sendo elas: fase motora reflexiva, fase motora rudimentar, fase motora fundamental e fase motora especializada.[1]

A fase motora reflexiva está associada às primeiras formas de movimento, movimentos involuntários que servem de base para outras fases do desenvolvimento motor. Já na fase motora rudimentar, há o desenvolvimento de movimentos estabilizadores, tarefas manipuladoras como alcançar, agarrar e soltar, além de movimentos locomotores como arrastar-se, engatinhar e caminhar. A fase de movimentos fundamentais representa um período no qual as crianças estão envolvidas ativamente na exploração e experimentação das capacidades motoras de seus corpos. Por fim, na fase motora especializada as habilidades fundamentais desenvolvidas anteriormente (locomotoras, estabilizadoras e manipulativas) são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas, para sua utilização permanente na vida diária, recreativa ou competitiva.[2]  

Porém, pelo fato de que nos primeiros anos de vida as mudanças no comportamento motor serem muito grandes, perceptíveis e aceleradas, cria-se um pensamento equivocado que afirma ser o desenvolvimento motor relacionado somente com crianças. De acordo com Gallahue (2005), “O desenvolvimento motor está relacionado à idade, mas não depende dela”. Ou seja, a idade é apenas uma referência para observarmos o processo de desenvolvimento e não uma forma de explicá-lo.[1]

Segundo Papalia e Feldman (2013), algumas mudanças específicas que acontecem com as crianças, principalmente na fase da primeira e segunda infância, ou seja, do nascimento até por volta dos 6 anos, ocorrem por estarem vinculadas com a maturação do corpo e do cérebro.[3]

A maturação, segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), está relacionada à processos inatos, que são determinados geneticamente e que não sofrem influências do meio externo. Com isso, a maturação pode ser entendida, segundo essa visão mais biológica, como um aparecimento fixo da aptidão de movimento, mas como dito pelos autores, o momento do aparecimento pode ser alterado em consequência das influências ambientais que os indivíduos estão inseridos, ou seja, os processos irão ocorrer mesmo que em momentos distintos para cada sujeito, dependendo do ambiente e do nível de estímulo que esses recebem para ser acelerado ou mais lento.[1]

Outra definição interessante sobre Comportamento Motor é dada pelas estudiosas Kathleen M. Haywood e Nancy Getchell, que o caracterizam como um processo sequencial e contínuo relacionado à idade, no qual há uma progressão de movimentos simples e não organizados, para uma habilidade motora complexa e organizada, ajustando-se às necessidades que acompanham o envelhecimento.[4]

Quando falamos em um processo contínuo de mudanças, estamos nos referindo às capacidades funcionais daquele indivíduo, sendo essa capacidade funcional a simples capacidade de existir, ou seja, se movimentar, locomover-se e viver. Isso deixa claro que tanto Gallahue e Ozmun, quanto Haywood e Getchell estão de acordo ao dizer que movimento é vida, pois tudo o que fazemos envolve movimento. Quando saímos de casa para ir trabalhar, quando as crianças começam a brincar, ou até mesmo as batidas do nosso coração, que são primordiais para nossa existência, representam movimentos.[1][4]

Outro ponto importante a ser destacado é a relação da idade com o desenvolvimento motor. Como já dito anteriormente, a idade tem forte relação com o desenvolvimento motor, porém, não é uma forma de explicá-lo. No decorrer da vida e com o passar dos anos, o desenvolvimento está presente, podendo ser mais rápido ou mais lendo em diferentes momentos, ou seja, nós estamos sempre em desenvolvimento, mas nem sempre as mudanças são possíveis de serem observadas, mas uma coisa é certa, o desenvolvimento não cessa em uma determinada idade, ele continua ao longo da vida.

Essas mudanças que ocorrem no decorrer do processo de desenvolvimento motor são sequenciais. Elas representam o resultado das interações dentro do indivíduo e das interações do indivíduo com o ambiente. A partir disso, se torna necessário observar o mundo que nos cerca, pois as pessoas agem e interagem em vários cenários como o físico, o social, o cognitivo e o psicológico, fazendo com que o indivíduo receba diferentes estímulos,  influenciando diretamente no processo de desenvolvimento, podendo ser ele motor, cognitivo ou social.[4]

O Mistério de Kasper Hauser, conta a história de um menino que viveu até os 17 anos de idade aproximadamente, em uma sala escura, sem contato com ninguém e vivendo de pão e água. Depois, é deixado em uma praça da cidade, sem saber falar, andar e apenas conhecendo pão e água como alimentos. Tempos depois, Kaspar Hauser recebeu ajuda e auxílio de professores para aprender a ler, falar e para que pudesse viver em sociedade e no ambiente em que estava inserido.[5] Essa história pode ser utilizada como um exemplo da influência dos estímulos no processo de desenvolvimento motor. Kaspar Hauser mal conseguia ficar de pé, devido ao ambiente que ele pertenceu durante toda sua vida até o momento em que foi deixado na praça, viveu em uma sala estreita e escura, onde só conseguia ficar sentado e desajeitado, também não sabia falar e escrever, ou seja, não recebeu os estímulos necessários para que pudesse desenvolver habilidades motoras como caminhar, se equilibrar ou até mesmo a capacidade de manipular algum objeto. O mistério de Kaspar Hauser enfatiza a concepção de que o processo de desenvolvimento pode acontecer ao longo de toda vida, e que a idade é usada apenas como referência, pois aos 17 anos, ele conseguiu aprender a andar, ler e escrever. Além disso, essa situação além de mostrar que algumas pessoas apresentem algum tipo de “atraso” com relação ao seu desenvolvimento, também deixa claro que o desenvolvimento motor depende não somente de fatores internos mas também de fatores externos (resultando na falta de determinados estímulos).[6]

Assim como apresentado na história de Kaspar, existe uma história relativamente parecida ocorrida na Romênia. Em 1990, o país estava enfrentando grandes dificuldades em decorrência da Revolução Romena em 1989. Essa revolução teve como consequência milhares de mortos e pessoas em situação de pobreza extrema, sem ter o que comer ou onde dormir. Por esse motivo, muitas crianças encontraram-se órfãs e sem nenhuma forma de se manter vivo, o que levou as crianças á viverem em orfanatos. Orfanatos esses que encontravam-se em péssimas condições higiênicas. Mais tarde, o cientista americano Nathan Fox, visitou os orfanatos e se deparou com uma situação incomum: os bebês ali presentes não choravam como em berçários, chegando a conclusão de que esse fator era consequência da negligência. Crianças que são privadas do contato cuidador-bebê, tendem a desenvolver o instinto de não chorar, já que estão acostumados a não receber atenção, pensam que não serão atendidos. Cientistas da época conseguiram examinar que essas adversidades tinham um impacto direto no cérebro, visto que não recebiam estímulos ou interações auxiliadoras para a formação da arquitetura cerebral. A falta de conversas, olhares, carinhos e brincadeiras, impedem que o cérebro infantil construa as redes neurais que posteriormente o ajudariam a se desenvolver tanto emocionalmente como cognitivamente, acarretando em uma dificuldade de aprendizado e comportamento.[7]

Assim, seguindo essa abordagem do atraso motor, surgem um novo cenário e personagem – escola e educador, respectivamente – capazes de auxiliar nesse desenvolvimento, onde esses agentes vão trabalhar, principalmente, com crianças. Atualmente, existe diversos estudos que apontam uma análise e uma proposta de ação interventora nas escolas, e junto disso, percebem os resultados daquela mesma intervenção, onde comparam a idade e desempenho motor nos momentos pré-intervenção e pós-intervenção.[6]

Vale destacar que as habilidades como fala e escrita podem ser trabalhadas em várias disciplinas, enquanto que o ensino de aspectos e elementos voltados à motricidade ficam mais evidentes com o educador físico, figura responsável por contribuir no aprendizado físico-motor, social, psicológico e cognitivo.[6]

Uma vez que o profissional, segundo Tani (2012), pode, por exemplo, desenvolver o ensino das habilidades motoras básicas através de sequências premeditadamente construídas de habilidades e situações que possibilitam a experimentação de variadas combinações, como os jogos de diferentes níveis de organização. Tal como, o aluno com o domínio do correr e do arremessar, aprende a combinar as duas habilidades, o que implica inserir o arremesso ao final da corrida. Essa ação envolve a aprendizagem do melhor momento para iniciar a preparação do braço para o arremesso - por exemplo, durante as últimas passadas ou somente após a última passada - o que acarreta um desmantelamento da corrida nas suas passadas finais com a diminuição ou o aumento da sua amplitude e velocidade.[8]

Entretanto, alguns aspectos importantes devem ser observados quando o professor elabora a sua prática e adota princípios para estruturar a progressão das combinações - das mais simples para as mais avançadas. Por exemplo, à sequência anteriormente mencionada, poderiam ser gradativamente adicionadas a outras habilidades básicas como o receber, o driblar, o saltar e o passar, aumentando, assim, a complexidade das combinações. Diante disso, caso o aluno adquira o domínio do repertório de combinações de habilidades básicas, faz-se necessário a elaboração de situações - passando de um processo de ensino da combinação de habilidades em si, para o ensino do momento mais adequado para se utilizar das combinações - onde se aprende a utilizar tais combinações. Com isso, o professor passaria a elaborar e problematizar situações e os alunos a buscar soluções com base no repertório que possuem, dessa maneira, estilos mais indiretos de ensino seriam adotados.[8]

Desenvolvimento motor na infância

Um estudo desenvolvido por Cohen em 2014 diz que crianças na primeira e segunda infância que tiveram acesso a um ambiente com mais exercícios físicos e mais estímulos as tarefas físicas, obtiveram um melhor desenvolvimento motor e com isso tiveram melhor desempenho nas tarefas cotidianas e desempenho esportivo ao longo da segunda infância e adolescência, provavelmente levando também um melhor desempenho para a vida adulta (a primeira infância é até os 3 anos de idade e a segunda infância vai dos 3 anos de idade até os 6 anos de idade).[9]

Segundo estudos feitos pela mestra da Universidade Lisboa, Gabriela Almeida, quando a criança aprende uma nova habilidade motora, ela passa por uma série de fases num contínuo, desde uma fase mais elementar até uma fase especializada. Logo, desenvolvimento motor é um aspecto do processo de desenvolvimento psicomotor global e toma um papel preponderante na aquisição de comportamentos em outros domínios, designadamente perceptivo, socioemocional e cognitivo. O julgamento positivo que a criança faz das suas habilidades motoras determina motivação para a participação em atividades físicas, aumentando e melhorando o seu repertório de habilidades psicomotoras.[10]

O desenvolvimento motor nas crianças nem sempre tem um padrão ou é de forma igual, visto que, pode variar de criança para criança, porém, há um tempo máximo. Quando os pais percebem algum tipo de estagnação, o certo é procurar um profissional especializado para conversar, um pediatra, pois é necessário descobrir o motivo da estagnação.

Desenvolvimento motor na velhice

O desenvolvimento motor em idosos, apresenta algumas divergências em comparação as crianças, visto que, o aumento da eficiência motora ocorre especialmente nas duas primeiras décadas de vida e o declínio ocorre na sétima e oitava décadas de vida. Nesse contexto, existe um paradoxo, já que, apesar de ter muita experiência adquiria em sua vida, eles tendem a se adaptar com o diminuição do comportamento motor.

De acordo com o artigo produzido pela UFSCar, o qual evidencia a importância da adaptação corporal dos idosos, dado que, isto reflete em sua autonomia e liberdade. Além disso, os idosos passam por um processo chamado de retrogênese, o qual se refere ao declínio do sistema motor, e com isso identificaram a necessidade de uma análise para ver o desenvolvimento motor dos idosos. Dessa maneira, com o intuito de verificar se eles se encontravam um padrão de normalidade. De acordo com essa pesquisa foi possível notar que ao depender do sexo e idade a tendência de estarem abaixo da normalidade é maior. Um excelente exemplo são os das mulheres, que por terem alterações hormonais e a perda de alguns componentes físicos, apresentam um declínio mais acentuado que os homens da mesma idade.[11]

Dessa forma, o ponto principal é focar na manutenção da performance de acordo com seu sexo e idade, dado que, a diminuição do sistema motor é inevitável, mas as adaptações dos movimentos e atividades podem proporcionar uma melhora na qualidade de vida dos idosos.

Desenvolvimento motor nos esportes

De acordo com Teixeira et al. (2018), o desenvolvimento motor nos esportes está dividido em 3 estágios, sendo eles: transição, aplicação e aplicação ao longo da vida. Respectivamente, o primeiro estágio é de extrema importância na idade de 8-12 anos, já que é um período de refinamento de movimentos e habilidades, ou seja, aprendizagem em esportes/jogos da cultura. Em questão do segundo estágio, o individuo tem uma consciência do próprio corpo, podendo tomar decisões de estar inserido em um ambiente recreativo ou competitivo, por meio do treinamento, aprimorando a proficiência. No último estágio, o individuo já tem ciência se quer caminhar para o lado competitivo ou do bem estar, este por sua vez visando o prazer por meio da recreação.[12][13]

Como retratado, o estágio de transição é de grande valia, pois para que a criança chegue ao estágio de aplicação ao longo da vida, é necessário que sejam criados mecanismos que mantenham o prazer daquela criança em fazer determinado esporte, para que não haja desistências precoces, tendo em vista que nesta faixa etária é importante manter essa parte lúdica e não para um treinamento sistematizado, com intuito competitivo, já que a criança não tem um suporte para tal. Neste contexto, utilizando-se do estágio aplicação, é importante apontar que é impossível definir uma idade para a escolha de um esporte que será lapido neste estágio, e sim sendo fatores determinantes tanto a idade, condição física, estágio de desenvolvimento  neuropsicomotor e nível de interesse, tendo-se o melhor desenvolvimento motor possível, sendo ele progressivo e não imposto por meios externos. Assim, é importante salientar a relevância de um profissional nesse processo esportivo, principalmente com as crianças, utilizando-se de estratégias diversas de intervenções educacionais, criando oportunidades futuras por meio da prática, e oferecendo um amplo leque de atividades, além de uma confiança para isso e um entendimento corporal.[12]

As etapas do desenvolvimento motor no esporte: Proposições para o esporte

O desenvolvimento motor é um processo contínuo por toda a vida e que se insere na complexidade do desenvolvimento humano, que integra a esta dimensão a cognitiva, afetiva, social e espiritual (GALLAHUE; OZMAN, 2003). A perspectiva desenvolvimentista tem importante impacto em diferentes linhas de pesquisa na Educação Física e dos diferentes fenômenos por ela estudados, como o esporte. Vieira, Vieira e Krebs (2005) – a partir de estudos como os de Gallahue e Ozman (2003), Bompa (2002, 1995) e Krebs (1992) – descrevem quatro etapas sequenciais do desenvolvimento motor de indivíduos aplicado ao contexto esportivo, sendo elas:

• Primeira Fase Iniciação; estimulação motora, movimentos fundamentais.

• Segunda Fase Generalizada: a aprendizagem motora, voltada para a formação atlética e os movimentos específicos.

• Terceira Fase Especializada; a escolha pelas modalidades, em que os níveis dos movimentos começam a ser voltados para a técnica esportiva.

• Quarta Fase Personalizada; especialização motora com dedicação exclusiva ao esporte de alto rendimento.

Assim, vemos que é processual a formação do atleta, sendo importante o respeito a cada uma dessas etapas.[14]


Desenvolvimento motor em pessoas com eficiência física

A LEI 3298 caracteriza deficiência como alterações a nível das funções psicológicas, fisiológicas ou anatômicas no indivíduo, a qual provocarão certa dificuldade para o desempenho de atividades consideradas “normais” para os padrões do ser humano. (BRASIL, 1999). A atividade física adaptada, (como o esporte adaptado), pode beneficiar de diversas formas as pessoas com deficiência. Seja para fins recreativos, ou de tratamento com condições médicas e terapêuticas, a atividade física é fortemente recomendada, pois auxilia tanto no desenvolvimento cognitivo, quanto motor.

Além disso, a atividade física depende da motivação e comprometimento de quem a pratica, o que é ótimo para pessoas com deficiência, pois muitas vezes as mesmas não trabalham, e não se sentem pertencentes à nada. Com o tempo, a prática das atividades ou esporte gera evoluções, e consequentemente interfere positivamente na autoconfiança das pessoas com deficiência física, o que é ótimo para seu desenvolvimento social.

Desenvolvimento motor em pessoas com deficiência visual

De acordo com a pesquisa ‘’Gross motor development and reach on sound as critical tools for the development of the blind child’’,[15] uma criança sem deficiência visual tem mais facilidade em desenvolver mecanismos sensoriais do que um criança com deficiência visual, sendo assim, a privação da visão pode acarretar, por exemplo, em problemas na coordenação motora, equilíbrio, mobilidade e até mesmo na marcha ao se locomover.

A pesquisa ‘’Intervenção precoce: reflexões sobre o desenvolvimento da criança cega até dois anos de idade”,[16] de Gerson Freitas, esclarece que a sequência de desenvolvimento de uma criança com deficiência visual e uma não, é a mesma, porém ocorre de forma mais lenta.

A cegueira dificulta o processo da criança de estabelecer padrões de movimento, e consequentemente afetando as capacidades de interação e exploração do ambiente, tal qual o ato de engatinhar. Essa falta de interação com o meio também está atrelada à insegurança e ao medo.  

Na prática o estudo “Pediatric Evaluation of Disability Inventory[17] avaliou 27 crianças por volta dos 6 anos de idade, 10 dessas possuíam deficiência visual. O intuito era verificar o desempenho das crianças ao realizarem tarefas típicas do dia a dia. Obtiveram como resultado que as crianças com carência visual tiveram um desempenho inferior significativo no autocuidado e na mobilidade, quando comparados ao grupo controle.

Dessa forma, para que haja promoção do desenvolvimento motor da criança com deficiência visual, é importante buscar compreender as capacidades e os potenciais delas, a fim de que se tenha uma maior exploração durante o processo terapêutico e também que a intervenção proporcione uma rica estimulação das demais vias sensoriais. Vale pontuar que existem vários métodos de intervenção por meio de atividades físicas que trazem benefícios para o individuo com deficiência visual, como a equoterapia e diversos tipos de dança.

Segundo Silva e Grubits, a equoterapia estimula o mecanismo do controle postural e noções de posições corporais no espaço contribuindo para as reações de equilíbrio, pelo aparelho vestibular. Permitindo também, ganhos no alinhamento corporal (cabeça, tronco, quadril), controle das simetrias globais, equilíbrio estático e dinâmico, através de informações proprioceptivas, vindas das regiões articulares, musculares e tendinosas.[18]

Em um estudo feito por Silva, Ribeiro e Rabelo verificaram a influência da dança de salão no equilíbrio estático e dinâmico, com um experimento envolvendo 30 voluntários com deficiência visual, dividindo-os em dois grupos, um grupo que praticaram aulas de dança e outro que foram submetidos a atividades manuais. Neste estudo foi observado que a prática da dança de salão obteve ganhos significativos no equilíbrio estático e dinâmico para o grupo que teve as aulas de dança, enquanto o outro não apresentou mudanças em relação ao equilíbrio.[19]


Desenvolvimento motor em crianças com síndrome de down

A capacidade do desenvolvimento motor é algo que depende da biologia do comportamento e do ambiente e não apenas da maturação do sistema nervoso. O desenvolvimento motor é um processo contínuo e demorado, todavia em indivíduos portadores da (SD) Síndrome de Down o processo é um pouco mais lento onde precisam de mais tempo e estimulo da família e de especialistas para ajudar no aprimoramento das habilidades. É possível perceber que as crianças que possuem a síndrome, são capazes de executar os mesmos movimentos, porém tardiamente, podendo alcançar estágios avançados de raciocínio e desenvolvimento, necessitando de estimulações coerentes em sua condição com o incentivo de familiares e da sociedade. Cada criança apresenta seu padrão característico de desenvolvimento onde tem uma grande influencia no ambiente em que vivem[20]

Para Goldberg[21] (2002) o desenvolvimento motor das crianças com SD são parecidas com o desenvolvimento de crianças sem deficiência, a única diferença são as etapas, que se apresentam mais lentas. A repetição é fundamental na aprendizagem de qualquer pessoa, mas geralmente se necessita de um quadro de repetições mais frequente e durante um tempo mais longo com crianças portadoras da SD. O desenvolvimento sensorial motor da criança começa com movimentos das mãos e do corpo, descobrindo o seu rosto, seus membros, seus dedos colocando assim os na boca, juntando as mãos e brincando com elas. Desenvolve o tato aprendendo através de texturas, formas e temperatura dos objetivos tocando-os e levando a boca, conhece seu próprio tamanho quando alcança objetos e pessoas, quando engatinha... Enfim, elas descobrem seu ambiente, indo de um lugar para outro, rolando e se arrastando, engatinhando e mais tarde, andando.

Desenvolvimento motor em crianças com deficiência intelectual

Conforme pesquisas realizadas na área, o desenvolvimento motor em crianças com deficiência intelectual é, no geral, inferior do que em crianças que não possuem a deficiência. A idade motora dessas crianças pode ser até 5 anos inferior à idade cronológica, o que pode acontecer tanto pelas limitações das deficiências intelectuais em si, quanto pela falta de experiências motoras vividas.[22]

No entanto, crianças com dificuldade no aprendizado apresentam menor capacidade motora, demonstrando que o desenvolvimento cognitivo está diretamente relacionado ao desenvolvimento motor, assim, a educação psicomotora se vê de extrema importância para estimular o desenvolvimento motor de crianças com deficiência intelectual.[23]

Além disso, muitas crianças com deficiências intelectuais apresentam a capacidade de atingir o de atingir padrões motores maturos. Portanto, os profissionais designados a trabalhar com estes indivíduos, devem, obrigatoriamente, realizar o trabalho de desenvolvimento motor de forma clara, objetiva e individualizada. Afinal, como supracitado, essas crianças necessitam de um processo de aprendizado mais gradual para que possam atingir sua maturidade motora.[24]

Desenvolvimento motor em crianças obesas

Crianças que apresentam um quadro de obesidade demonstram certa desvantagem, quando comparadas com crianças eutróficas, no que diz respeito à qualidade da realização dos movimentos propostos, conforme foi relatado por Belene, Haeffner e Valentini [25]. O estudo apresenta que, as crianças eutróficas mostraram-se claramente superiores nas habilidades de equilíbrio, salto e corrida. Tais habilidades foram testadas na fase madura do desenvolvimento.

Além disso, na análise da qualidade do movimento executado, observou-se que crianças obesas encontram-se, em sua grande maioria, em um estágio de maturidade abaixo do esperado para sua idade.

Ver também

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 Gallahue, David L.; OZMUN, John C.; GOODWAY, Jackie D. (2013). Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda. ISBN 8580551803 
  2. LEITE, D.M. (2016). «A importância da educação física escolar para o desenvolvimento motor». Revista Gestão Universitária 
  3. PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda. p. 42. ISBN 978-85-8055-217-1 
  4. 4,0 4,1 4,2 Haywood, Kathleen M. Desenvolvimento motor ao longo da vida. [S.l.: s.n.] ISBN 9788582713013 
  5. «Podcast LIII - O mistério de Kaspar Hauser» 
  6. 6,0 6,1 6,2 MEDINA-PEPST, Josiane e MARQUES, Inara. Avaliação do desenvolvimento motor de crianças com dificuldades de aprendizagem. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2010, 12(1):36-42. Disponível em:https://www.scielo.br/j/rbcdh/a/LZrX93psjYbfFfkq5kR887N/?format=pdf&lang=pt
  7. «A tragédia na Romênia comunista que revelou à ciência os danos da negligência na infância». BBC News Brasil (em português). Consultado em 19 de novembro de 2021 
  8. 8,0 8,1 Tani, Go; Basso, Luciano; Corrêa, Umberto Cesar (junho de 2012). «O ensino do esporte para crianças e jovens: considerações sobre uma fase do processo de desenvolvimento motor esquecida». Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (em português): 339–350. ISSN 1807-5509. doi:10.1590/S1807-55092012000200015. Consultado em 19 de novembro de 2021 
  9. Cohen, Kristen E; Morgan, Philip J; Plotnikoff, Ronald C; Callister, Robin; Lubans, David R (dezembro de 2014). «Fundamental movement skills and physical activity among children living in low-income communities: a cross-sectional study». International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity (em English) (1). 49 páginas. ISSN 1479-5868. PMC 4234279Acessível livremente. PMID 24708604. doi:10.1186/1479-5868-11-49. Consultado em 17 de novembro de 2021 
  10. Almeida, Gabriela Sousa Neves de (2012). «Desenvolvimento motor e percepção de competência motora na infância». Consultado em 18 de novembro de 2021 
  11. «Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional». www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br. Consultado em 18 de novembro de 2021 
  12. 12,0 12,1 Teixeira, Rafael (5 de maio de 2018). «Habilidade motora especializada: desenvolvimento motor nos esportes». Research Gate. Consultado em 18 de novembro de 2021 
  13. Hildebrandt-Stramann, Reiner (4 de dezembro de 2011). «Exploração do mundo através de experiências elementares de movimento». Revista da Educação Física/UEM (4). ISSN 1983-3083. doi:10.4025/reveducfis.v22i4.12323. Consultado em 19 de novembro de 2021 
  14. Galatti, Larissa. «PEDAGOGIA DO ESPORTE E BASQUETEBOL:». Revista Eletrônica da Escola de Educação Física e Desportos - UFRJ. Arquivos em Movimento. 8: https://www.researchgate.net/profile/Larissa-Galatti/publication/264784536_PEDAGOGIA_DO_ESPORTE_E_BASQUETEBOL_aspectos_metodologicos_para_o_desenvolvimento_motor_e_tecnico_do_atleta_em_formacao/links/53ef68100cf2711e0c42f261/PEDAGOGIA-DO-ESPORTE-E-BASQUETEBOL-aspectos-metodologicos-para-o-desenvolvimento-motor-e-tecnico-do-atleta-em-formacao.pdf 
  15. Elisa, Fazzi; Josée, Lanners; Oreste, Ferrari-Ginevra; Claudia, Achille; Antonella, Luparia; Sabrina, Signorini; Giovanni, Lanzi (agosto de 2002). «Gross motor development and reach on sound as critical tools for the development of the blind child». Brain and Development (em English) (5): 269–275. doi:10.1016/S0387-7604(02)00021-9. Consultado em 19 de novembro de 2021 
  16. Freitas, Gerson. «INTERVENÇÃO PRECOCE: REFLEXÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA CEGA ATÉ DOIS ANOS DE IDADE». Consultado em 19 de novembro de 2021 
  17. Malta, Juliana; Endriss, Daniela; Rached, Sueli; Moura, Terezinha; Ventura, Liana (agosto de 2006). «Desempenho funcional de crianças com deficiência visual, atendidas no Departamento de Estimulação Visual da Fundação Altino Ventura». Arquivos Brasileiros de Oftalmologia (em English) (4): 571–574. ISSN 0004-2749. doi:10.1590/S0004-27492006000400021. Consultado em 19 de novembro de 2021 
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  21. Foronda, Gustavo; Medeiros Barbar, Samia (10 de dezembro de 2020). «SÍNDROME INFLAMATÓRIA MULTISSISTÊMICA NA CRIANÇA COM COVID-19». Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (4): 479–482. ISSN 0103-8559. doi:10.29381/0103-8559/20203004479-82. Consultado em 20 de novembro de 2021 
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  23. Mansur, Samira Schultz; Marcon, Adair José (1 de dezembro de 2006). «Perfil motor de crianças e adolescentes com deficiência mental moderada». Journal of Human Growth and Development (em português) (3): 9–15. ISSN 2175-3598. doi:10.7322/jhgd.19798. Consultado em 19 de novembro de 2021 
  24. Fincato, Denise Pires; Bublitz, Michele Dias (30 de setembro de 2010). «Proteção legal do acesso ao trabalho das pessoas portadoras de deficiência». Revista Brasileira de Direitos Fundamentais & Justiça (12): 158–183. ISSN 2527-0001. doi:10.30899/dfj.v4i12.426. Consultado em 20 de novembro de 2021 
  25. Berleze, Adriana; Haeffner, Léris Salete Bonfanti; Valentini, Nadia Cristina (15 de junho de 2007). «Motor performance of obese children: an investigation of the process and product of basic motor abilities». Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano (em English) (2): 134–144. ISSN 1980-0037. doi:10.1590/%x. Consultado em 3 de dezembro de 2021 


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