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Correlativos do esperanto

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Correlativos são palavras que exprimem uma relação mútua e podem ser usadas aos pares. Por exemplo, as palavras usadas para formular questões e que exigem respostas específicas diferentes de um sim ou não. "O quê?" exige uma resposta por "algo", "aquilo", "tudo" ou "nada". Os pares "onde/ ali", "quando/ sempre", "como/ assim" etc, são outros exemplos de correlativos. O esperanto tem uma maneira muito interessante e prática de construir seus correlativos: ao todo existem 45 correlativos, derivados de quatro prefixos e nove sufixos, com um "I" intercalar. Note-se que a série dos indefinidos, que são a base do sistema, não tem prefixo, começando diretamente por I- ("I"ndefinidos). Quatro destas séries são pronominais e/ou adjectivais e cinco são adverbiais. Assim, basta aprender o significado desses 13 afixos para ter acesso a todos os correlativos da língua. E vale a pena aprendê-las, visto que estas palavras simples constituem aproximadamente 10% de qualquer texto em esperanto.

Prefixos

  • I: indefinido (sem prefixo).
  • KI: interrogativo, exclamativo, ou relativo (conjuntivo).
  • TI: demonstrativo.
  • NENI: negativo.
  • ĈI: coletivo, distributivo.

Sufixos

  • U: indivíduo.
  • O: coisa.
  • A: espécie.
  • ES: posse.
  • E: lugar.
  • AM: tempo.
  • AL: motivo.
  • EL: modo.
  • OM: quantidade.

Os correlativos terminados em -A ou -U podem levar a marca do plural J. Os sufixos terminados em vogais podem levar a terminação do caso acusativo N. No caso dos terminados em -E, trata-se do acusativo para mostrar o movimento (como em alemão e russo).

Correlativos

Unindo prefixos e sufixos com o -i- intercalar, temos os seguintes correlativos:

KI
Indagação
TI
Indicação
I
Indefinição
NENI
Ausência de algo
ĈI
Totalidade de algo
U
Indivíduo/Coisa definida
kiu
Que/Quem/Qual
tiu
Esse(a)/Aquele(a)
iu
Alguém/Algum(a)
neniu
Ninguém
ĉiu
Todo/Cada
O
Coisa Indefinida
kio
O que
tio
Isso/Aquilo
io
Algo
nenio
Nada
ĉio
Tudo
A
Tipo/Espécie
kia
De que tipo/espécie, como
tia
Desse tipo/espécie, assim/tal
ia
De algum tipo/espécie
nenia
De nenhum tipo/espécie
ĉia
De todo tipo/espécie
E
Lugar
kie
Onde
tie
Aí/Ali/Lá
ie
Algum lugar
nenie
Nenhum lugar
ĉie
Todo lugar
AL
Motivo
kial
Por quê?
tial
Por isso
ial
Por algum motivo
nenial
Por nenhum motivo
ĉial
Por todos os motivos
AM
Tempo
kiam
Quando
tiam
Nesse/Naquele tempo, então
iam
Em algum tempo/momento
neniam
Em nenhum tempo, Nunca
ĉiam
Em todos os tempos, Sempre
EL
Modo/Maneira/Forma
kiel
Como/De que modo
tiel
Assim, Desse/Daquele modo
iel
De algum modo
neniel
De nenhum modo
ĉiel
De todos os modos
ES
Posse
kies
De quem/Cujo
ties
De tal pessoa/Dele(a)
ies
De alguém
nenies
De ninguém
ĉies
De todos
OM
Quantidade
kiom
Quanto
tiom
Tanto
iom
Um pouco, uma certa quantidade
neniom
Nada, nenhuma quantidade
ĉiom
Tudo, toda quantidade

Uso dos correlativos

  • io kio: algo que
  • tio kio: aquilo que, o que, o qual
  • tiam kiam: naquele momento quando
  • ĉiam kiam: sempre que, sempre quando
  • tia kia: tal qual
  • tiel kiel: do mesmo modo que, assim como, tanto quanto, tão... quanto... (modo ou intensidade)
  • tiom kiom: tanto quanto (quantidade)

Partículas

Algumas ideias complementares são formadas com partículas especiais, ajn indica generalidades, ĉi reforça a ideia de proximidade e for para indicar distância, isso ocorre pelo fato dos correlativos não deixarem claras tais ideias. As partículas podem ser usadas tanto antes quanto depois dos correlativos.

Ĉi

A particula "ĉi" exprime a ideia de proximidade, sendo essa particula usada em conjunto com os correlativos que iniciam-se em "ti" ou "ĉi".

  • ĉi tie: aqui, cá
  • ĉi tio: isto
  • ĉi tiu: este aqui
  • ĉi ĉio: tudo isto aqui
  • ĉi ĉiuj: todos estes

Ajn

A partícula "ajn" é usada para representar o "quer que seja", aumentando assim a indefinição de algo. Normalmente usado junto com os correlativos que começam com "i", "ki" ou "ĉi".

  • iu ajn / kiu ajn: qualquer, qualquer um.
  • io ajn / kio ajn: o que quer que seja, qualquer coisa.
  • ie ajn / kie ajn: onde quer que seja.
  • ies ajn / kies ajn: de quem quer que seja.

For

  • tiu for: aquele lá, aquele ali.

Extensões dos correlativos

O sistema de correlativos é às vezes usado como uma forma de extensão para a raiz ali- (outro), isso acontece quando o resultado da palavra é clara.

  • aliel: em outro caminho.
  • alies: de alguém.

Se a tabela fosse completada com todos os itens começando com ali-, então alie, seria ambígua (ou simplesmente mudaria de significado) pelo fato de seu sentido original que significa "do contrário". Para expressar a ideia de "outro lugar", usa-se aliloke (de loko, "lugar").

Como significado prático, somente aliel e alies são vistas com alguma frequência, porém todas essas formas são criticadas por muitos falantes do idioma.

As "ki" para perguntas e como relativos

As palavras que se iniciam com "ki" são usadas tanto para perguntas como também para criar subfrases (orações subordinadas) referenciando elementos da frase principal.

  • Kiu é a forma mais comum de iniciar uma subfrase e corresponde em português a "o qual".
    • La viro, kiu staras tie.: O homem, o qual está ali. (No Brasil, "o qual" é frequentemente substituído por "que")
  • Quando for necessário fazer referência a "tio", a subfrase começa com "kio". No exemplo abaixo é fácil identificar a subfrase porque ela está intercalada entre vírgulas. É comum em esperanto usar vírgulas para separar subfrases. Todos os correlativos que terminam em "-o" podem receber a terminação do acusativo.
    • Tio, kion ŝi faris, estas malbona.: Isso, que ela fez foi ruim.
  • Frases com "kio" esperam respostas terminadas em "-o", que são no Esperanto a terminação para substantivos.
    • Kio li estas? Li estas ŝoforo.: O quê ele é? Ele é chofer.
  • Sentenças com "kia" esperam respostas terminadas em "-a", que são em Esperanto a terminação para adjetivos.
    • Kia estas la hundo? La hundo estas granda kaj bela.: Como é o cachorro? O cachorro é grande e bonito.
    • La aŭto estas granda kiel kamiono.: O carro é grande como um caminhão.

Direção

Os correlativos terminados em e (lugar) podem receber o acusativo de direção.

  • Kien?: Para onde?
  • Tien.: Para lá.

Derivações a partir dos correlativos

É possível adicionar outras terminações aos correlativos para criar novas palavras. Um caso útil é kialo, que simplesmente significa "razão, motivo".

A palavra "sempre" com a terminação de adjetivo passa a significar "eterno/a": ĉiam → ĉiama.

Se for necessário qualificar um substantivo com a ideia de que ele está em todo lugar, é possível transformar ĉie em adjetivo, gerando ĉiea. E se for desejado qualificar um substantivo indicando que nos referimos a um certo tempo, podemos usar tiam como adjetivo, gerando tiama (La tiama prezidento = O então presidente, o presidente daquela época).

Para dizer "um pouquinho", podemos partir de iom e adicionar o diminutivo et. Como o resultado é um advérbio, usa-se a terminação adverbial e (sem esse "e", a palavra ficaria incompleta): iom → iomete

Para perguntar um número ordinal, ou seja, a posição de algo numa lista, usa-se kioma. A aplicação mais comum é na pergunta Kioma horo estas? (Que horas são?). Em esperanto as horas do dia são vistas como uma lista: a primeira hora, a segunda hora, etc. Dessa forma se diferencia uma duração (du horoj) de um momento do dia (la dua horo). Como outro exemplo de kioma pode-se dizer Kioma etaĝo? (Qual andar?).


Origem dos correlativos

É pouco conhecido o facto, que a ideia destes correlativos não é uma invenção genial do Zamenhof, ou para os seus detratores uma criação artificial. Surgiu directamente da observação da lista destas palavras em línguas naturais, como em russo, a língua viva que preferia entre as que conhecia. Com efeito nesta língua complicada, cheia de declinações e excepções, estas palavras são de formação extraordinariamente regular. O génio o manifestou assim, na sua escolha do melhor em cada um dos três grupos de línguas indo-europeias (neo-latinas, germânicas e eslavas).

Em russo a tabela é criada a partir dos interrogativos, enquanto que em esperanto ela é baseada nos indefinidos, que não têm prefixo. Nesta língua, em cada série de nove correlativos, quatro dos interrogativos começam por K, sete dos demonstrativos começam por T, oito dos negativos começam por NI e sete dos coletivos começam por VS (que em alfabeto cirílico se escreve BC). Os indeterminados obtêm-se juntando -TO aos interrogativos, base do sistema. Eis uma série: KTO? TOT, NIKTO, VSJAKIJ, KTO-TO.

Zamenhof escolheu para os interrogativos o K- russo que corresponde ao Q ou C nas línguas neo-latinas (como em português: qual, quanto, como, quando, ...) e ao WH do inglês (where, what, when, ...). Para os demonstrativos o T- russo, que corresponde ao TH nos correlativos ingleses (there, that, then, ...). Para os negativos escolheu o NI- russo, que corresponde ao NE- do esperanto (com um -N- intercalar para facilitar a pronúncia) e que também aparece nas línguas neo-latinas (nenhum, ninguém, nunca...). Para os coletivos (Ĉ) baseou-se na palavra italiana Ciascuno que se pronuncia [ĉiaskuno], na francesa CHaque, no eaCH inglês e no Cada português, enquanto que o C do alfabeto russo é relembrado.

Tabela dos Correlativos em Russo e em Esperanto

KI- TI- I- NENI- ĈI-
U kiu
кто
tiu
тот
iu
кто-то
neniu
никто
ĉiu
всякий
O kio
что
tio
то
io
что-то
nenio
ничто
ĉio
все
A kia
какой
tia
такой
ia
какой-то
nenia
никакой
ĉia
всяческий
E kie
где
tie
там
ie
где-то
nenie
нигде
ĉie
везде
EN kien
куда
tien
туда
ien
куда-то
nenien
никуда
ĉien
куда угодно
AM kiam
когда
tiam
тогда
iam
когда-то
neniam
никогда
ĉiam
всегда
OM kiom
сколько
tiom
столько
iom
сколько-то
neniom
нисколько
ĉiom
целиком
EL kiel
как
tiel
так
iel
как-то
neniel
никак
ĉiel
всячески
AL kial
почему
tial
потаму
ial
почему-то
nenial
беспричинно
ĉial
по всякой причине
ES kies
чей
ties
того
ies
чей-то
nenies
ничей
ĉies
всех

Note-se que nesta tabela não aparecem todas as traduções dos correlativos em russo. Repare-se que por vezes a letra inicial aparece depois de um prefixo, como por ex. o "K" inicial em сколько e o "T" inicial em потаму.

Bibliografia

  • FERNANDES, Alberto Couto. Curso de esperanto em 20 lições. 5. ed. Rio de Janeiro: Liga Brasileira de Esperanto, 1953.
  • COOPERATIVA CULTURAL DOS ESPERANTISTAS. Esperanto: junul-kurso. Rio de Janeiro, RJ: Kultura Kooperativo de Esperantistoj, 1979.
  • BRAGA, Ismael Gomes. Gramática de esperanto: com chaves dos exercícios para estudo sem mestre. Rio de Janeiro: Cooperativa Cultural dos Esperantistas, 1952.
  • SCOLNIK, Jaime. Manual de esperanto. Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita Brasileira, 1939.
  • PASTORINO, C. Torres. Método elementar de esperanto (especialmente para rádio). Rio de Janeiro, RJ: Ed. Irmãos Pongetti, 1959.

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