Predefinição:Info/Nobre Henrique de Borgonha conhecido em Portugal por Conde D. Henrique (Dijon, 1066 — Astorga, 12 de maio de 1112) foi conde de Portucale desde 1096 até à sua morte.
Pertencia à família ducal da Borgonha, sendo filho de Henrique, herdeiro do duque Predefinição:Lknb2[1] com Sibila da Borgonha, e irmão dos também duques Predefinição:Lknb2 e Predefinição:Lknb2. Sendo um filho mais novo, D. Henrique tinha poucas possibilidades de alcançar fortuna e títulos por herança, tendo por isso aderido à Reconquista da Península Ibérica. Ajudou o rei Predefinição:Lknb a conquistar o Reino da Galiza, recebendo como recompensa pelos seus serviços casamento com a filha ilegítima do monarca, Teresa de Leão. Alguns anos mais tarde, em 1096, D. Henrique recebeu de Afonso VI o Condado Portucalense, que lhe assim passava a prestar vassalagem directa. O rei de Leão pretendeu assim limitar o poder do conde Raimundo de Borgonha, casado com Urraca de Leão.
Henrique morreu a 24 de Abril de 1112, tendo sido sepultado na Sé de Braga. Seu filho D. Afonso Henriques sucedeu ao pai e tornou-se o segundo conde de Portucale em 1112.[2] No entanto, o jovem Afonso Henriques rebelou-se contra a sua mãe em 1128, que pretendia manter-se no governo do condado. Por isso Afonso passou a intitular-se "Rei dos portugueses" em 1140, independente de Leão, recebendo o reconhecimento oficial de Leão em 1143 através do tratado de Zamora[3] e do Papado em 1179 através da Bula Manifestis probatum.[4]
Biografia
Ambiente familiar
Nascido em 1066, em Dijon, o conde D. Henrique era o filho mais novo de Henrique de Borgonha, filho do duque Predefinição:Lknb2 por sua vez filho do rei Roberto II de França.[1][5] Dois dos seus irmãos mais velhos, Hugo e Odo I, herdaram o ducado.[5] Apesar de sua mãe, chamada Sibila, aparecer em genealogias tradicionais como filha dos condes de Barcelona, Berengário Raimundo I e sua esposa Gisela de Lluçà, esta filiação não aparece em documentos medievais e Sibila provavelmente foi a filha de Reinaldo I e, portanto, irmã do pai de Raimundo de Borgonha, que de acordo com essas filiações, seria um primo em primeiro grau de Henrique.[6]Predefinição:NotaNT
Uma das tias do lado paterno era a rainha Constança, esposa do rei Afonso VI de Leão, e um tio-avô era Hugo, abade de Cluny, irmão de sua avó Hélia de Semur, e uma das personalidades mais poderosas e reverenciados do seu tempo.[1] Sua família ostentava um grande poder e dominava várias cidades no reino da França, como Chalon, Auxerre, Autun, Nevers, Dijon, Mâcon e Semur.[1] Ele era também um primo distante do Papa Calisto II.
Chegada ao Reino de Leão
Após a derrota das tropas cristãs na batalha de Zalaca, travada a 23 de outubro de 1086, o rei Afonso VI pediu auxílio aos cristãos do outro lado dos Pirenéus nos primeiros meses do ano seguinte, chamada a que responderam muitos nobres e cavaleiros franceses, entre eles Raimundo de Borgonha, os seus primos-irmãos, o duque Odo e Henrique de Borgonha, assim como Raimundo de Saint-Gilles.[7] Apesar das alegações de que Henrique chegara na primeira expedição em 1087, a sua presença na Península só é atestada a partir de 1096, quando aparece confirmando os forais de Guimarães e de Constantim de Panóias. Em 1 de outubro de 1096 e em 19 janeiro de 1097, o conde Henrique é mencionado em documentos como conde de Tordesilhas.[8]
Três destes nobres franceses contraíram matrimónio com filhas do rei Afonso VI: Raimundo com a infanta Urraca, que sucedeu seu pai no trono leonês; Raimundo de Saint-Gilles com Elvira Afonso;[9] e Henrique de Borgonha com Teresa de Leão,[9] filha nascida da relação extraconjugal de Afonso VI com Ximena Moniz.
Aliança com seu primo, o conde Raimundo da Borgonha
Entre o primeiro trimestre de 1096 e o final de 1097 o conde Raimundo, ao ver a sua influência reduzida na corte, acordou com o seu primo Henrique de Borgonha, que ainda não tinha sido nomeado governador de Portugal, a partilha do poder, o tesouro real e o apoio mútuo.[10] Através desta aliança, que teve a aprovação do abade Hugo de Cluny, parente de ambos,Predefinição:NotaNT Raimundo "prometia sob juramento a seu primo Henrique entregar o reino de Toledo e um terço do tesouro real quando Afonso VI morresse". Se ele não pudesse entregar o reino de Toledo, ele daria a Galiza. Henrique, por sua vez, comprometeu-se a ajudar Raimundo a obter "todos os domínios do rei Afonso e dois terços do tesouro".[11] O rei Afonso VI parece ter tido conhecimento do acordo e para contrariar a iniciativa dos seus dois genros, nomeou Henrique governador da região que se estende desde o rio Minho até ao rio Tejo, que até então era governada pelo Conde Raimundo. Este viu o seu poder reduzido apenas ao governo da Galiza.[12]Predefinição:NotaNT
Independência do Condado de Portugal
Por questões políticas e estratégicas, após enviuvar a rainha Urraca de Leão — meia irmã de Teresa de Leão — casou-se com Afonso I de Aragão. Henrique de Borgonha, tirando partido dos conflitos familiares e políticos surgidos em torno da sua cunhada Urraca, declarou a independência do Condado Portucalense. Morreu em Astorga a 22 de maio de 1112.[13] O seu corpo foi transferido, como havia ordenado, para a cidade de Braga, onde foi sepultado na capela-mor da catedral que tinha fundado.[14]
Após a sua morte, Teresa governou o condado durante a menoridade do futuro Afonso I de Portugal, que tinha apenas três anos de idade à data da morte do pai.[15]
Legado
O conde D. Henrique foi o líder de um grupo de cavaleiros, monges e clérigos de origem francesa que exerceram uma grande influência na Península Ibérica e impulsionaram muitas reformas e a implementação de instituições transpirenaicas, como o costumes cluniacenses e o rito romano. Essas pessoas ocuparam postos eclesiásticos e políticos relevantes, o que provocou uma forte oposição durante os últimos anos do reinado de Afonso VI.[16]
Genealogia
Ascendência
16. Hugo Capeto | ||||||||||||||||
8. Roberto II de França | ||||||||||||||||
17. Adelaide da Aquitânia | ||||||||||||||||
4. Roberto I de Borgonha | ||||||||||||||||
18. Guilherme I da Provença | ||||||||||||||||
9. Constança de Arles | ||||||||||||||||
19. Adelaide Branca de Anjou | ||||||||||||||||
2. Henrique de Borgonha | ||||||||||||||||
20. Godofredo I de Semur | ||||||||||||||||
10. Damásio, Senhor de Semur | ||||||||||||||||
5. Hélia de Semur | ||||||||||||||||
22. Henrique I, Duque da Borgonha | ||||||||||||||||
11. Aremburga de Borgonha | ||||||||||||||||
23. Matilde de Châlon | ||||||||||||||||
1. Henrique, Conde de Portucale | ||||||||||||||||
24. Adalberto de Ivrea | ||||||||||||||||
12. Otão-Guilherme da Borgonha | ||||||||||||||||
25. Gerberga de Châlon | ||||||||||||||||
6. Reinaldo I de Borgonha | ||||||||||||||||
26. Reinaldo de Roucy | ||||||||||||||||
13. Ermentrude de Roucy | ||||||||||||||||
27. Alberada da Lotaríngia | ||||||||||||||||
3. Sibila da Borgonha | ||||||||||||||||
29. Ricardo I da Normandia | ||||||||||||||||
14. Ricardo II da Normandia | ||||||||||||||||
7. Adelaide da Normandia | ||||||||||||||||
15. Judite da Bretanha | ||||||||||||||||
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Descendência
Casou-se com Teresa de Leão antes de 18 de dezembro de 1095.[8][17] Deste matrimónio nasceram:
- Urraca Henriques (nasceu ca. 1095[18]–depois de 1169); casou-se com o conde galego Bermudo Peres de Trava, filho do conde Pedro Froilaz, com descendência;[19]
- Sancha Henriques (c. 1097[18]–1163), casou-se com Sancho Nunes de Celanova[20] de quem teve sucessão, e depois de enviuvar, com Fernão Mendes de Bragança II senhor de Bragança, sem descendentes deste casamento;[21]
- Teresa Henriques (nasceu ca. 1098);[18]
- Henrique (ca.1106-1110);
- Afonso Henriques (1109[22]–1185), primeiro rei de Portugal, casado com Mafalda de Saboia;[23]
- Pedro Henriques[24] ou Pedro Afonso, (m. 1165), monge no Mosteiro de Alcobaça onde foi sepultado.Predefinição:NotaNT
Ver também
Predefinição:S-hou- RedirecionamentoPredefinição:fim
Notas
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 Mattoso 2014, p. 28.
- ↑ Mattoso 2014, pp. 25-27.
- ↑ Mattoso 2014, p. 212.
- ↑ Mattoso 2014, p. 359.
- ↑ 5,0 5,1 Martínez Diez 2003, p. 225.
- ↑ Martínez Diez 2003, pp. 105 e 225.
- ↑ Martínez Diez 2003, p. 223.
- ↑ 8,0 8,1 Reilly 1982, p. 28.
- ↑ 9,0 9,1 Martínez Diez 2003, p. 162.
- ↑ Rodrigues Oliveira 2010, pp. 28-29.
- ↑ Martínez Diez 2003, p. 170.
- ↑ Martínez Diez 2003, pp. 170-171.
- ↑ Mattoso 2014, p. 34.
- ↑ Caetano de Souza 1735, p. 37.
- ↑ Mattoso 2014, pp. 34-43.
- ↑ Mattoso 2014, p. 29.
- ↑ Rodrigues Oliveira 2010, p. 25.
- ↑ 18,0 18,1 18,2 Rodrigues Oliveira 2010, p. 28.
- ↑ López Sangil 2002, p. 89.
- ↑ López Morán 2005, p. 89.
- ↑ Pizarro 2007, p. 855 e 857-858.
- ↑ Rodrigues Oliveira 2010, p. 31.
- ↑ Rodrigues Oliveira 2010, p. 33.
- ↑ Caetano de Sousa 1735, pp. 48–49, livro I.
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(ajuda) 🔗 - López-Sangil, José Luis (2002). La nobleza altomedieval gallega, la familia Froílaz-Traba (em español). La Coruña: Toxosoutos, S.L. ISBN 84-95622-68-8
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- Pizarro, José Augusto de Sotto Mayor (2007), «O Regime Senhorial na Fronteira do Nordeste Português. Alto Douro e Riba Côa», Madrid: Instituto de Historia "Jerónimo Zurita." Centro de Estudios Históricos, Hispania. Revista Española de Historia, ISSN 0018-2141, LXVII (227): 849-880
- Mattoso, José (2014). D. Afonso Henriques 2ª ed. Lisboa: Temas e Debates. ISBN 978-972-759-911-0
- Reilly, Bernard F. (1982). The Kingdom of León-Castilla under Queen Urraca, 1109–1126 (em English). Princeton: Princeton University Press. ISBN 9780691053448
- Rodrigues Oliveira, Ana (2010). Rainhas medievais de Portugal. Dezassete mulheres, duas dinastias, quatro séculos de História. Lisboa: A esfera dos livros. ISBN 978-989-626-261-7
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