Christopher Marlowe | |
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Christopher Marlowe (batizado a 26 de fevereiro de 1564 — 30 de maio de 1593) foi dramaturgo, poeta e tradutor inglês, e viveu no Período Elizabetano. É considerado o maior renovador da forma do teatro do período com a introdução dos versos brancos, estrutura que será empregada por Shakespeare. Inclusivamente especula-se que ele será o próprio, como uma segunda identidade, e senão for assim, pelo menos parece ter sido provado que terão trabalhado em conjunto na composição de algumas peças de teatro.[1]
Especula-se que Marlowe tenha atuado como agente secreto para Francis Walsingham. Segundo o depoimento dos seus assassinos Christopher Marlowe foi morto ainda jovem numa briga de taberna em maio de 1593, se bem que não se tenha a certeza do que aconteceu naquela tarde fatídica.
Marlowe frequentou a The King's School (Canterbury) (onde uma edificação atualmente leva seu nome) e o Corpus Christi College (Cambridge), onde recebeu o grau de Bachelor of Arts em 1584.[2]
Vida
Primeiros anos (1564-1580)
Marlowe era o filho de John Marlowe, um sapateiro[3], e Elizabeth Archer, tendo sido batizado em 26 de fevereiro de 1564 na cidade de Cantuária, em Kent, na Inglaterra.[4] Documentos locais contêm ocorrências acerca do comportamento irascível e agressivo de John, características que seriam herdadas pelo seu filho, que mais tarde viria a se envolver em uma série de conflitos violentos.[5] Em 1589, Marlowe foi preso brevemente após uma briga na qual um homem acabou morto. Tempos depois, foi novamente preso após uma briga de rua.[6]
Restaram poucas informaçãoes a respeito da infância de Marlowe, mas é certo que, em 14 de janeiro de 1579[7], ele foi estudar na The King's School da Cantuária.[8][4] Marlowe recebia uma bolsa semanal no valor de quatro libras, pagas a "jovens pobres, mas dotados de grande aptidão para aprender".[5] Durante o período em que frequentou a King's School, Marlowe estudou sob a orientação de John Greeshop, então diretor da escola. Um inventário da biblioteca de Greeshop, elaborado em 1580, oferece um vislumbre do material acadêmico apresentado a Marlowe. Em meio a mais de trezentos volumes, encontravam-se exemplares de Ovídio, Petrarca, Chaucer e Bocaccio. Constavam também a obra Cosmographia, de Münster, e a Utopia, de Moore, além das comédias de Plauto e dos tratados filosóficos de Ficino.[5]
Após dois anos, Marlowe foi agraciado com uma nova bolsa de estudos, desta vez para estudar no Corpus Christi College, em Cambridge. A bolsa fora subvencionada pelo então arcebispo da Cantuária Matthew Parker, ainda em 1580, e condicionava o suporte à capacidade do candidato de demonstrar proeficiência em gramática latina e talento para a poesia, além da capacidade de compor e cantar. Uma vez que Marlowe recebeu a única bolsa entre tantos candidatos, é possível ter uma vaga ideia em relação às suas realizações acadêmica na King's School.[5][10] [11]
Universidade (1580-1587)
Kit, como Marlowe também era conhecido, aparece pela primeira vez nos registros de Cambridge através dos livros que detalham os gastos dos estudantes com comida e bebida daquele período. O documento indica que ele pode ter chegado à universidade em 10 de dezembro de 1580, em um sábado, embora sua matrícula tenha sido feita apenas em 17 de março de 1581.[12] Marlowe recebeu seu bachelor of arts não muito mais tarde, em março de 1584, e sem grandes distinções. Na ordem de formação, ele aparece como o 199º de 231 alunos.[13] Após dar início a seu MA, em 1585 a frequência de Marlowe na universidade se torna estranhamente irregular, embora suas despesas com alimentação tenham aumentado. É provável que Marlowe estivesse recebendo salários a partir de atividades extracurriculares, o que pode ser confirmado por meio de um memorando do Conselho Privado da Rainha Elizabeth I, de 1587, segundo o qual Marlowe esteve prestando valiosos serviços à Rainha, implicando espionagem.[14][15]
Embora não haja consenso quanto à ordem cronológica da obra de Marlowe, há uma tradição estabelecida de que tenha, ao menos, começado em Cambridge, com as traduções das Elegias de Ovídio. Além de Ovídio, também são desse período as traduções de Lucano e os rascunhos das peças Dido, composta em parceria com Thomas Nashe, e Tamburlaine.[16]
Kit recebeu seu masters of arts em julho de 1587, mas não sem dificuldades. Suas ausências, bem como as suspeitas de que ele se encontrava em Rheims, na França, indicavam que ele pudesse estar se convertendo ao catolicismo, em desconformidade com a Igreja Anglicana, então religião oficial do Reino da Inglaterra desde 1558[17]. Quando o grau acadêmico lhe foi negado, Kit apelou a Sir. Francis Walsingham, chefe do serviço secreto de Elizabeth I naquela ocasião. Um documento foi elaborado pelo Conselho Privado da Rainha, e Marlowe finalmente recebeu o título de Master of Corpus.[18]
Em Cambridge, além de ter dado início à sua obra, bem como ao serviço de espionagem, Marlowe travou contato com figuras importantes da Londres elisabetana, tais quais seu contemporâneo Thomas Nashe, co-autor de Dido, Thomas Walsingham, Robert Greene e Gabriel Harvey. Além dessas personagens, Marlowe certamente conheceu um Thomas Fineaux of Hoghan e um Simon Aldrich, ambos estudantes em Cambridge. Um diarista da época, Henry Oxiden, anotou comentários de Aldrich a respeito de Marlowe e seu período no College:[12]
"Sr. Aldrich disse que o Sr. Fineux de Dover foi um ateísta e que teria ido até a floresta à meia-noite e se ajoelhado para rezar ardentemente ao diabo. Ele aprendeu tudo de coração com Marlowe, além de outros livros. Marlowe fez dele um ateísta". Washington, DC, Folger Shakespeare Library, MS 750.1
Em 1593, o agente duplo Richard Baines e o dramaturgo Thomas Kyd viriam a acusar Marlowe de ateísmo, atribuindo-lhe uma série de práticas que implicavam traição, como homossexualismo e heresia.[19][20][21][22]
Espionagem
É amplamente documentado que Marlowe serviu como um espião, embora não tenham sobrevivido maiores informações quanto à extensão de suas atividades ou período exato.[23][6][24][25] Hilton especula que Marlowe possa ter sido recrutado em Cambridge, por Thomas Walsingham, que mais tarde também seria seu protetor e financiador em Londres.[26]
O atestado de envolvimento com o serviço secreto fica subentendido em um famoso documento de estado. Em 29 de junho de 1587, o Conselho Privado da Rainha deliberou acerca do caso de um estudante de Cambridge chamado Christopher 'Morley', que sofrera certas difamações e, por isso, a concessão de seu diploma lhe havia sido negada. Apenas o resumo da deliberação enviado à universidade sobreviveu até os dias atuais, conforme tradução que segue abaixo:[27]
Considerando que foi reportado ter Christopher Morley viajado para Rheims e lá permanecido, os membros acharam por bem certificar de que a intenção dele lá não era essa [de permanecer lá]; mas que, ao contrário, em todas suas ações ele se comportou ordeira e discretamente, realizando serviços em nome de Sua Majestade, de modo que merece ser bem recompensado por seus negócios fidedignos. Os membros requerem que os rumores mencionados sejam dissipados por todos os meios possíveis, e que a ele [Marlowe] seja concedido seu grau acadêmico, uma vez que não agrada a Sua Majestade que um de seus empregados como ele [Marlowe], envolvido em questões pertinentes ao benefício de seu país, seja difamado por indivíduos ignorantes dos casos em que ele se envolveu.
Uma das interpretações para esse documento assegura que Marlowe tenha frequentado círculos católicos em Rheims na posição de espião ou "infiltrado", atividades governamentais comuns no período, tipicamente (mas não exclusivamente) sob a égide de Sir. Francis Walsingham. [28][29][30]
Peças de teatro
- Dido, Rainha de Cartago
- Tamburlaine
- Tamburlaine, Segunda Parte
- O Judeu de Malta
- O Massacre em Paris
- Eduardo Segundo
- A Trágica História do Doutor Fausto
- Hero e Leandro (a peça inacabada)
Referências
- ↑ Afinal, Christopher Marlowe também foi Shakespeare, Rita Cipriano, Observador, 25/10/2016
- ↑ Predefinição:Venn
- ↑ «Marlowe's Birth». The Marlowe Society (em English). Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ 4,0 4,1 «British Library». www.bl.uk. Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ 5,0 5,1 5,2 5,3 «Marlowe [Marley], Christopher (bap. 1564, d. 1593), playwright and poet». Oxford Dictionary of National Biography (em English). doi:10.1093/ref:odnb/9780198614128.001.0001/odnb-9780198614128-e-18079. Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ 6,0 6,1 «British Library». www.bl.uk. Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ «Christopher Marlowe | English writer | Britannica». www.britannica.com (em English). Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ «Marlowe's Life». The Marlowe Society (em English). Consultado em 4 de julho de 2022
- ↑ «Marlowe's Birth». The Marlowe Society (em English). Consultado em 7 de julho de 2022
- ↑ A. D. Wraight and V. Stern, Virginia (1965). In search of Christopher Marlowe. Inglaterra: Adam Hart Publishers. p. 63
- ↑ Hilton, Della (1977). Who Was Kit Marlowe. Inglaterra: Taplinger Pub. Co. p. 8. ISBN 0800882911
- ↑ 12,0 12,1 «Marlowe [Marley], Christopher (bap. 1564, d. 1593), playwright and poet». Oxford Dictionary of National Biography (em English). doi:10.1093/ref:odnb/9780198614128.001.0001/odnb-9780198614128-e-18079. Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ Venn, John (1910). Grace Book Δ, Containing the Records of the University of Cambridge, 1542–89. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 372–3. ISBN 978-1108002448
- ↑ Park, Honan (2007). Christopher Marlowe: Poet and Spy. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0199232697
- ↑ Hilton, Della (1977). Who was Kit Marlowe?. [S.l.]: Taplinger Pub. Co. p. 18-19. ISBN 978-0800882914
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- ↑ «BBC - History - The English Reformation». www.bbc.co.uk (em English). Consultado em 7 de julho de 2022
- ↑ Hilton, Della (1977). Who was Kit Marlowe. [S.l.]: Taplinger Pub. Co. p. 24-25. ISBN 978-0800882914
- ↑ «British Library». www.bl.uk. Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ Foundation, Poetry (6 de julho de 2022). «Christopher Marlowe». Poetry Foundation (em English). Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ «Kyd's Accusations». marloweshakespeare.info. Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ «The 'Baines Note' (1)». marloweshakespeare.info. Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ Hilton, Della (1977). Who was Kit Marlowe?. [S.l.]: Taplinger Pub. Co
- ↑ «Christopher Marlowe | English writer | Britannica». www.britannica.com (em English). Consultado em 6 de julho de 2022
- ↑ Downie & Parnell,, J. A.; J. T.;. Constructing Christopher Marlowe. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0521572552
- ↑ Hilton, Della (1977). Who was Kit Marlowe?. [S.l.]: Taplinger Pub. Co. p. 18. ISBN 978-0800882914
- ↑ Documento datado de 29 de junho de 1587, disponível no registro do National Archives - Acts of Privy Council
- ↑ «Christopher Marlowe». Archon Books. The tragicall history of Christopher Marlowe (B0007DLE50). 1964
- ↑ D, Carlo (1 de maio de 2011). «Marlowe and the Privy Council». The Marlowe-Shakespeare Connection. Consultado em 7 de julho de 2022
- ↑ WRIGHT, STERN, A.D.; V. F. (1993). In Search of Christopher Marlowe. [S.l.]: Adam Hart Publishers; 2nd Edition. ISBN 978-1897763032