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Salamandra-lusitânica

Como ler uma infocaixa de taxonomiaSalamandra-lusitânica
Chioglossa lusitanica.001 - Fragas do Eume.jpg
Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável Predefinição:Cat-artigo (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Amphibia
Ordem: Caudata
Família: Salamandridae
Género: Chioglossa
Bocage, 1864
Espécie: C. lusitanica
Nome binomial
Chioglossa lusitanica
Bocage, 1864
Distribuição geográfica
Distribuição actual de Salamandra-lusitânica.
Distribuição actual de Salamandra-lusitânica.
Subespécies
  • C. l. lusitanica Bocage, 1864
  • C. l. longipes Arntzen, Groenenberg, Alexandrino, Ferrand e Sequeira, 2007

A salamandra-lusitânica ou saramântiga (Chioglossa lusitanica) é um anfíbio pertencente à ordem Caudata, endémico do noroeste da Península Ibérica. É a única espécie do género Chioglossa. A sua cauda pode atingir dois terços do comprimento do corpo. Se atacadas, estas salamandras podem soltar a cauda por autotomia, regenerando-a posteriormente. Esta espécie tem várias características morfológicas que as tornam adaptadas a ambientes ribeirinhos, reproduzindo-se em refúgios estivais, tais como minas abandonadas. O seu estado de conservação está actualmente definido como vulnerável pela UICN, dada a degradação contínua do seu habitat, e área de distribuição limitada.[1]

Descrição

Possui um corpo estreito e cilíndrico, raramente ultrapassando os 16 cm de comprimento. Os machos atingem os 15,6 cm de comprimento, e as fêmeas 16,4 cm. Tem uma cauda longa, que nos adultos pode atingir dois terços do comprimento total do animal, e metade do comprimento nos juvenis. Os olhos são protuberantes. As patas dianteiras têm 4 dedos e as traseiras 5. As patas anteriores são mais estreitas e pequenas do que as posteriores. A sua cor básica é o preto e têm 2 listas dorsais de cor dourada ao longo do corpo, que se unem, na cauda. A superfície dorsal pode ter pequenos ponteados azulados. O ventre é cinzento. Quando se sente ameaçada tem a possibilidade de soltar a cauda, que é posteriormente regenerada. É o único salamandrídeo ibérico com essa capacidade.[2] O seu corpo é cilíndrico. Os machos distinguem-se das fêmeas durante a época de reprodução pelas patas anteriores e cloaca inchadas.[3] Foram já encontrados indivíduos semi-albinos e albinos[4] em populações naturais e uma larva dicefálica.[5] Os adultos alimentam-se de insectos, aracnídeos e moluscos de pequenas dimensões, enquanto as larvas se alimentam de pequenos insectos aquáticos, moluscos e crusáceos.[6]

Taxonomia

O género Chioglossa é monoespecífico, sendo o seu parente mais próximo a salamandra Mertensiella caucasica, com a qual forma um grupo monofilético. Pensava-se que o isolamento das duas espécies terá iniciado há volta de 15 milhões de anos, quando a região Oriental e Ocidental do Mediterrâneo se separaram. A divergência entre as duas espécies poderá ser no entanto mais antigo, durante o Paleoceno ou Eoceno, de acordo com estudos mais recentes.[7] São actualmente reconhecidas duas subespécies, C. lusitanica lusitanica e C. l. longipes. A subespécie lusitanica distribui-se exclusivamente em Portugal, a sul do Rio Mondego, enquanto que a subespécie longipes se distribui a norte do Mondego, em todo o Norte de Portugal, Galiza e Astúrias.[8] As subespécies distinguem-se apenas por um maior comprimento relativo dos membros e dedos da forma longipes.[7]

Distribuição e habitat

É uma espécie que se situa em Espanha e Portugal, confinada à área noroeste da Península Ibérica, onde a precipitação é mais acentuada. Na Espanha está presente na Galiza, Astúrias e parte oeste da Cantábria. Está presente na parte norte de Portugal, a norte do Rio Tejo. A população mais a sul situa-se na Serra de Alvelos.[9]

Habita regiões com precipitação superior a 1000 mm por ano e abaixo dos 1500 m de altitude. Os adultos preferem zonas junto a ribeiros de água corrente de zonas de montanha onde ocorra vegetação densa e rochas cobertas de musgo.[7] Preferem ambientes aquáticos com pH ligeiramente ácido. Durante a época mais seca, migram para refúgios estivais, como barragens e minas abandonadas, onde se dá a reprodução.

Reprodução

A sua época de reprodução é entre Março e Novembro.[10] O seu ritual de acasalamento é complexo e semelhante ao do género Salamandra. Em grande parte dos anfíbios caudados, o macho deposita um espermatóforo em frente à fêmea e tenta conduzi-la a passar por cima dele. Salamandra e Chioglossa, no entanto, depositam o espermatóforo por baixo do ventre da fêmea. O ritual ocorre em terra ou em águas pouco profundas. O macho levanta-se numa posição alerta com as patas anteriores estendidas. Nessa posição persegue qualquer salamandra que se mexa. Quando alcança uma fêmea, dá-lhe um toque breve com o focinho e tenta completar o amplexo. O macho move-se em direcção à cabeça da fêmea, empurra-a brevemente e coloca depois a cabeça debaixo da axila da fêmea. O macho então empurra-se para a frente por debaixo da fêmea e quando as suas patas anteriores levantadas entram em contacto com as da fêmea, ele segura-as e à fêmea num amplexo.[11] Cada fêmea pode depositar à volta de 15 ovos em margens de ribeiros, debaixo de pedras submersas ou em minas. As larvas eclodem após 6 a 9 semanas. Estas abrigam-se em tanques ou charcos ou zonas mais tranquilas de ribeiros até terminarem a metamorfose, o que pode demorar 1 ou 2 anos. Tem uma longevidade máxima de 8 anos.[10]

Conservação

A espécie é considerada vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, integrante da Lista Vermelha do UICN.[12] Está também incluída no Anexo II da Convenção de Berna e nos Anexos II e IV da Directiva Habitats.[13] Como em muitas outras espécies de anfíbios, esta espécie está em declínio principalmente devido à alteração e destruição do habitat, modificação do habitat através de desflorestação e alteração da qualidade da água,[14] intensificação da agricultura, drenagem dos locais de reprodução e devido ao uso local de pesticidas, fertilizantes e outros poluentes. As salamandras-lusitânicas foram também afectadas pelo aumento das monoculturas de eucalipto. A manta morta formada de folhas de eucalipto diminui a quantidade de presas e liberta substâncias tóxicas para as salamandras.[15]

No litoral Norte e Centro de Portugal, a perda da qualidade da água deve-se ao desvio de pequenos ribeiros para uso na rega, e para abastecer zonas urbanas e industriais.[7]

Modelos climáticos prevêem que esta espécie, juntamente com outras espécies de anfíbios ibéricos, diminuam a sua área de distribuição nos próximos 50 a 70 anos devidos às alterações climáticas. Os modelos analisados incluem diminuição da precipitação e aumento da temperatura.[12]

História

A espécie foi descrita em 1864 por José Vicente Barbosa du Bocage, director da então Secção Zoológica do Museu de Lisboa. Os primeiros exemplares que recebeu foram-lhe enviados de Coimbra por M. Rosa de Carvalho, advogado (mas que se intitula nas cartas dirigidas a Bocage por Bicheiro-Mor), em 1863. No ano seguinte, este enviou mais alguns exemplares recolhidos na Serra do Buçaco.

A descrição da espécie e do género foi publicada nas revistas Proceedings of the Scientific Meetings of the Zoological Society of London e na Revue et Magasin de Zoologie Pure et Apliquée em 1864.[17]


Ver também

Referências

  1. 1,0 1,1 Predefinição:IUCN2009
  2. Manuel Nunes e Jorge Nunes Serras de Valongo - um património natural a descobrir e conservar Naturlink, acesso em 18 de Janeiro de 2009
  3. «AmphibiaWeb - Chioglossa lusitanica». Consultado em 20 de janeiro de 2011 
  4. Teixeira J, Fráguas B and Alexandrino J (1999). A larval albino of the golden-striped salamander, Chioglossa lusitanica. British Herpetological Society Bulletin, 68: 5-6.
  5. Pereira, R. and S. Rocha. 2004. Chioglossa lusitanica (Golden-striped Salamander): Dicephalic larva. The Herpetological Bulletin. 87:29-30.
  6. Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds.), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da natureza e da Biodiversidade, Lisboa. 1ª edição (ISBN 978-972-775-197-6).
  7. 7,0 7,1 7,2 7,3 Sequeira, F. & Alexandrino, J. (2008): Salamandra-lusitância Pp.92 - 93, in: Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds.), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da natureza e da Biodiversidade, Lisboa. 1ª edição (ISBN 978-972-775-197-6).
  8. Jan W. Arntzen; Dick S. J. Groenenberg; João Alexandrino; Nuno Ferrand; Fernando Sequeira. «Geographical variation in the golden-striped salamander, Chioglossa lusitanica Bocage, 1864 and the description of a newly recognized subspecies». Journal of Natural History. 41 (13): 925-936. Consultado em 9 de janeiro de 2011 
  9. Teixeira, José; Ferrand, Nuno & Arntzen, J.W. (2002). «Biogeography of the golden-striped salamander Chioglossa lusitanica: a field survey and spatial modelling approach.». Ecography (em Inglês). 24 (5): 618-624 
  10. 10,0 10,1 «Salamandra-lusitânica». [www.charcoscomvida.org Charcos Com Vida]. 27 de junho de 2013. Consultado em 2 de março de 2017. Arquivado do original em 29 de maio de 2016 
  11. Arnold, Stevan J. (12 de janeiro de 1987). «The Comparative Ethology of Courtship in Salamandrid Salamanders. 1. Salamandra and Chioglossa». Ethology (em English). 74 (2): 133–145. ISSN 1439-0310. doi:10.1111/j.1439-0310.1987.tb00926.x 
  12. 12,0 12,1 «Há anfíbios ibéricos que não vão gostar do clima do futuro». PÚBLICO 
  13. «Ficha da Salamandra-lusitânica - Espécies - Naturlink». naturlink.pt. Consultado em 2 de março de 2017 
  14. José Teixeira, Fernando Sequeira, João Alexandrino & Nuno Ferrand (1998) Bases para a Conservação da Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). Estudos de Biologia e Conservação da Natureza, 22. Instituto de Conservação da Natureza, Lisboa.
  15. Vences, Miguel (1993). «Habitat choice of the salamander Chioglossa lusitanica: the effects of eucalypt plantations». Amphibia-Reptilia. 14 (3). Brill. pp. 201–212. doi:10.1163/156853893X00408 
  16. Revue et Magazin de Zoologie Pure et Apliquée 16 (2éme sér.): 463 (1864)
  17. Eduardo G. Crespo (2008): História da Herpetologia em Portugal Pp. 23, in: Loureiro, A., Ferrand de Almeida, N., Carretero, M.A. & Paulo, O.S. (eds.), Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Instituto da Conservação da natureza e da Biodiversidade, Lisboa. 1ª edição (ISBN 978-972-775-197-6).

Ligações externas

Predefinição:Animais portugueses em perigo crítico

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