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Chamamé é um estilo musical tradicional da província de Corrientes, Argentina, apreciado também no Paraguai, Uruguai e Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.[1]
É considerado uma expressão artística que tem elementos da cultura indígena guarani, afro-americana e europeia.[1]
Foi declarado Patrimônio cultural da humanidade pela Unesco em dezembro de 2020.[1]
Origem
Sua origem é bastante controversa e mais ampla. Mario del Trancito Cocomarola, um dos primeiros chamamezeiros, dizia que o estilo musical que tocava não se chamava chamamé, mas sim polca correntina. Muitos historiadores argumentam que, na verdade, a origem do chamamé é paraguaia, constituindo-se de um novo ritmo oriundo das misturas entre guarânia e polca paraguaia, incluindo-se o bandoneón no estilo. Diversas personalidades argumentam que o nome chamamé foi atribuído ao então novo estilo musical em uma tentativa de identificá-lo com um sentimento nacional argentino, sendo que, na verdade, o mesmo era intimamente ligado à polca paraguaia e decorrente de uma versão argentina dos ritmos fronteiriços. Verdade ou mentira, o andamento do chamamé é praticamente idêntico à polca paraguaia e a outros estilos fronteiriços, como o rasqueado sul-mato-grossense, o qual recebeu forte influência da polca paraguaia, de forma que muitos rasqueados, polcas paraguaias e guarânias são tocados no estilo musical do chamamé, sendo facilmente adaptáveis.
Tradicionalmente, os instrumentos utilizados pelos conjuntos chamamezeiros são dois violões e um bandoneón, podendo ser usado, no lugar deste último, um acordeão (também chamado sanfona), acordeon oito baixos ou acordeon de botão.
Etimologia
Em pesquisas etimológicas não existe a palavra chamamé. O mais próximo que etimólogos chegaram a concluir é que chamamé vem do guarani e quer dizer improvisação.[2] A origem da palavra chamamé não é muito certa, alguns historiadores procuram atribuir à palavra o significado improvisar, porém, trata-se somente de uma tentativa de buscar uma origem nas línguas indígenas, a qual não pode ser comprovada.
Elementos
Os principais componentes do Chamamé são:[1]
- Dança do "abraço próximo": um tipo de dança em que os dançarinos se abraçam peito a peito e suas cabeças se entrelaçam, dançando de cara com cara às vezes. Não há coreografia fixa: os bailarinos seguem a música, adaptando passos de dança, figuras e batidas de sapatos.
- Musiqueada: ato de festa que inclui a festa, o convite, a oração e a sapukay.
- Sapukay: Fonação ou choro típico, acompanhado de gestos e movimentos corporais, para transmitir sentimentos, emoções e sensações profundas, como alegria, tristeza, dor e coragem.
- Instrumentos: os instrumentos originais eram o violino e a vihuela, e posteriormente o violão, a gaita, o acordeão diatônico de duas fileiras, o bandoneón e o contrabaixo também foram incorporados.
- Canção: tem suas raízes em canções de adoração ou oração. Mais tarde diversificou-se e as línguas guarani e espanhol foram combinadas.
- Roupas: variam de acordo com o evento e o tipo de música.
- Língua guarani: os músicos pioneiros do Chamamé eram oriundos de áreas rurais onde a língua guarani fazia parte da comunicação diária. Atualmente, as letras e poesias de Chamamé são transmitidas no dialeto "yopará", que combina o espanhol e o guarani.
Pelo mundo
Argentina
É uma arte muito popular na Argentina, principalmente na província de Corrientes, alcançando também as províncias de Chaco, Misiones, Santiago del Estero, Formosa, Entre Ríos, Santa Fe e Buenos Aires.
Foi inclusive através deste país, com grande apoio do Instituto de Cultura de Corrientes, que o chamamé se tornou Patrimônio cultural da humanidade em 2020.[1]
Brasil
O chamamé é bastante popular no Rio Grande do Sul, Paraná e no Mato Grosso do Sul, sendo considerado um dos estilos musicais símbolo da cultura do estado do centro do Brasil, ao lado da polca paraguaia, guarânia e do rasqueado sul-mato-grossense.
Entre as muitas versões para a sua popularização no estado, a qual foi muito grande após a década de 50, prevalece aquela de que o chamamé foi trazido pelos imigrantes correntinos e paraguaios e também pelos gaúchos que migraram para o estado, que vieram ao estado trabalhar nas fazendas durante o ciclo da erva mate e também na pecuária local, trazendo assim seus discos e LPs de chamamé.
Artistas de destaque
Um dos primeiros músicos locais a evidenciar e popularizar o chamamé na região do Centro-Oeste foi Zé Corrêa (1945-1974). Natural da zona rural de Maracaju, o músico foi levado a cidade de São Paulo para gravar um LP, após ser descoberto como um exímio acordeonista enquanto acompanhava a dupla Délio & Delinha nas suas apresentações de rasqueado sul-matogrossense. Apelidado de o Rei do Chamamé pela população do seu estado, foi morto precocemente aos 29 anos, mas lançou as raízes do que se tornaria um ritmo típico de Mato Grosso do Sul.[3]
É considerado o precursor de músicos como Dino Rocha , Marlon Maciel, Maciel Corrêa, Aurélio Miranda, Zezinho Nantes, Humberto Yule, Maurício Brito, Elinho do Bandoneon, Dom Ramon, Tostão Mineiro, Marcelo Loureiro e músicos juvenis da nova geração como David Júniors e Rech Filho.
Apesar de Zé Corrêa ser bastante louvado no estilo, é atribuído a Amambai e Amambay o mérito pela introdução do chamamé no estado, sendo considerada a primeira dupla a tocar chamamé na região. Assim também, é atribuído a Elinho do Bandoneon o mérito por ressuscitar o chamamé, que outrora perdia espaço para outros estilos desde a década de 80, bem como incentivar constantemente uma melhora na execução das músicas por parte dos instrumentistas sul-matogrossenses, ao que este sempre propaga uma volta às origens correntinas.[4]
A popularidade do estilo no Mato Grosso do Sul é evidenciada pela Lei Estadual 3 .837, a qual instituiu o Dia do Chamamé em Mato Grosso do Sul,[5] bem como pela lei estadual n.º 4.113/201, a qual instituiu Rio Brilhante a capital do chamamé no estado.[6]
Dentre os músicos que se destacaram nesse gênero musical, pode-se citar Nini Flores.[7]
Referências
- ↑ 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 «El Chamamé es Patrimonio Cultural de la Humanidad». UNESCO (em español). 22 de dezembro de 2020. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ «Danças e Ritmos». Canto Gaudério. Consultado em 18 de abril de 2014
- ↑ Márcio Guimarães B. Nina (12 de agosto de 2010). «Zé Corrêa - O rei do chamamé». Márcio Guimarães B. Nina. Consultado em 28 de julho de 2014
- ↑ Kátia Kuratone (24 de setembro de 2011). «Temos que reciclar os conceitos de execução». Kátia Kuratone. Consultado em 28 de julho de 2014
- ↑ sem autoria (19 de setembro de 2012). «Dia do Chamamé é celebrado nesta quarta-feira no MS». sem autoria. Consultado em 28 de julho de 2014
- ↑ «Rio Brilhante recebe o título de Capital Estadual do Chamamé». Consultado em 28 de julho de 2014
- ↑ Plaza, Gabriel (8 de agosto de 2016). «Murió Nini Flores, un maestro de la música del litoral». Buenos Aires. La Nación (em español). ISSN 0325-0946. Consultado em 25 de janeiro de 2022
Ligações externas
- Chamame.com.br Página sobre Chamamé Argentina-Brasileira