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Caramujo-gigante-africano

Predefinição:Speciesbox O caramujo-gigante-africano (nome científico: Lissachatina fulica) é um molusco da classe Gastropoda, de concha cônica marrom ou mosqueada de tons claros. Nativo no leste-nordeste da África, foi introduzido no Brasil em 1983 visando ao cultivo e comercialização do escargot.[1]

Características biológicas da espécie

Os adultos da espécie atingem até 18 cm de comprimento de concha e pesam até 500 g. No sudoeste do Brasil, eles chegam no máximo a 10 cm de concha e 100 g de peso total. Os jovens possuem as mesmas características de concha dos adultos.

É uma espécie extremamente prolífica, alcançando a maturidade sexual aos 4 ou 5 meses. A fecundação é mútua, pois os indivíduos são hermafroditas e podem realizar até cinco posturas por ano, podendo atingir de 50 a 400 ovos por postura. É ativa no inverno, resistente ao frio hibernal e à seca. Normalmente passa o dia escondido e sai para se alimentar e reproduzir à noite, ou durante e logo após as chuvas. A tonalidade do corpo é cinza-escuro e as conchas possuem faixas de coloração variável, de castanho até levemente arroxeado. Os ovos são um pouco maiores que uma semente de mamão, e possuem coloração branco-leitosa ou amarelada.

Introdução no Brasil

Presente em diversas partes do planeta, especialmente na África, o caracol Lissachatina fulica foi introduzido ilegalmente no Brasil inicialmente no estado do Paraná na década de 1980,[2] como alternativa econômica ao escargot (Helix aspersa), em uma feira agropecuária.

A segunda introdução teria ocorrido no Porto de Santos por um servidor público em meados da década de 90, que montou um heliciário na Praia Grande, no qual promovia cursos de final de semana. O fracasso das tentativas de comercialização, devido a sua carne ser mais dura do que a do escargot e por não ser um prato apreciado no País, levou os criadores, por desinformação, a soltar os caracóis nas matas. Como se reproduz rapidamente e possui poucos predadores naturais em áreas antropizadas e urbanas no Brasil, tornou-se uma praga agrícola e pode ser encontrado em praticamente todo o país, inclusive nas regiões litorâneas.[3] Em ambiente urbano foi constatada sua predação pelo rato doméstico (Rattus sp.)[4] tanto no Brasil como no Havaí, onde também é considerado uma espécie invasora.[5] Em ambientes silvestres no Brasil, provavelmente é naturalmente controlado por gambás (Didelphis spp.) e cobras come-lesmas (espécies da família Colubridae, exemplos [1]), o que explica por que não se torna um problema em áreas de florestas conservadas e reservas naturais onde existam esses predadores.

A espécie foi oficialmente declarada invasora em 2005.[6]

Achatina e a Saúde Pública

Esse caracol pode transmitir ao ser humano o verme Angiostrongylus cantonensis, causador de meningite, por ser o hospedeiro natural dele.[1] Esse tipo de meningite ocorre principalmente na Ásia, porém, há notificação de casos em Cuba, Porto Rico e Estados Unidos. Apesar disso, são baixas as chances de essa doença se instalar no país.[3]

Evite contato

O Achatina também transmite o parasita Angiostrongylus costaricensis,[1] angiostrongilose abdominal, que ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Raramente a doença evolui para forma letal, permanecendo na maior parte das vezes assintomática ou comportando-se como uma parasitose comum. No Brasil essa doença é transmitida por caracóis e lesmas nativos, e não pelo gigante africano; na região sul do país encontra-se a maioria dos casos. Apesar de não haver registro de exemplares de A. fulica adultos naturalmente infectados no Brasil, as larvas podem se infectar através da ingestão de hortaliças contaminadas com o muco deixado pelo molusco adulto silvestre ao se movimentar. Por isso, recomenda-se lavar as verduras em água corrente e depois deixar as mesmas em molho, bastando colocar uma colher de sobremesa de água sanitária em um litro de água e deixar os alimentos em molho durante 15 minutos.[3]

O caracol africano também é responsável indireto pela potencial transmissão da febre amarela e da dengue. Foi constatado inicialmente na Tanzânia que as conchas de Achatinas mortos podiam encher-se d'água e tornar-se um potencial ponto para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor dessas doenças. Em 2001, esse mosquito também foi encontrado em conchas de Lissachatina fulica no estado de São Paulo.[1]

Devido ao seu sucesso reprodutivo, ele tornou-se uma terrível praga agrícola, alimentando-se vorazmente de diversos vegetais de consumo humano, e por isso o parecer técnico 003/03 publicado pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura em 2003, que considera ilegal a criação de caracóis africanos no país, determina a erradicação da espécie e prevê a notificação dos produtores sobre a ilegalidade da atividade.[7] Este parecer vem reforçar a Portaria 102/98 do Ibama, de 1998, que regulamenta os criadouros de fauna exótica para fins comerciais, com o estabelecimento de modelos de criação e a exigência de registro dos criadouros junto ao Ibama.

Combate

Achatina fulica.JPG

Para combater o Lissachatina fulica, inicialmente é necessário identificar corretamente o caracol africano para que não haja qualquer confusão com as espécies nativas; posteriormente, o exemplar deve ser pego com luva ou saco plástico para evitar o contato direto com ele, e deve ser colocado sal ou cloro sobre o mesmo; também pode-se esmagá-lo, e não se deve esquecer de destruir seus ovos no solo com uma vassoura de grama. Quando chove muito numa região infestada, é comum observarmos os caracóis subindo as paredes, sendo, então, uma boa oportunidade para destruí-los. É preciso observar o local que foi infestado por eles por pelo menos três meses para verificação das reinfestações.[carece de fontes?] O combate químico com o uso de pesticidas não é indicado, pois o produto pode contaminar o solo, a água e até o lençol freático, podendo, assim, levar à intoxicação dos animais e do ser humano; além disso, o molusco pode ser resistente a vários pesticidas.[8] A melhor solução é a incineração em uma cova, o que evita a postura dos ovos.

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 PAIVA, Celso do Lago, ed., 1999/ 2003. Lissachatina fulica: praga agrícola e ameaça à saúde pública no Brasil. Fontes de informação impressas e digitais. 25 de abril de 2004.
  2. «O Achatina fulica e sua utilização zooterápica através de dietas acrescidas de própolis» (PDF) 
  3. 3,0 3,1 3,2 Paulo Aníbal G. Mesquita (6 de maio de 2004). «Achatina fulica, o caracól gigante invasor no BR.» 
  4. Nunes, C.E.P. 2017. Observação pessoal.
  5. Meyer, Wallace M. (2009). «Black Rat (Rattus rattus) Predation on Nonindigenous Snails in Hawai'i: Complex Management Implications». Pacific Science. doi:10.2984/049.063.0304. Consultado em 2 de junho de 2017 
  6. «Instrução Normativa 73/2005/Ibama» (PDF) 
  7. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Divisão de Vigilância e Controle de Pragas (20 de janeiro de 2003). «Parecer Técnico DPC/CPP/DDIV - nº003/03» (PDF) 
  8. Instituto Ambiental do Paraná (ed.). «Medidas de controle Lissachatina fulica» (PDF). Consultado em 4 de fevereiro de 2011 

Referências gerais

  • (em inglês) Martinez Escarbassiere, Rafael. y Martinez Moreno, Enrique. 1997. Nota acerca de la Achatina (Lissachatina) fulica (Bowdich, 1111), peligroso caracol africano (Pulmonata Achatinidae) introducido en Venezuela. Acta Biologica Venezuelica, 17(1):37-40.
  • Santana Teles, Horácio Manuel., Faria Vaz, Jorge., Roberto Fontes, Luiz e Domingos, Maria de Fátima. 1997. Registro de Lissachatina fulica Bowdich, 1822 (Mollusca, Gastropoda) no Brasil: caramujo hospedeiro intermediário da angiostrongilíase.Rev. Saúde Pública, 31(3): São Paulo jun.
  • Carvalho, Omar dos Santos, Teles, Horácio MS, Mot, Ester Maria et al. 2003. Potentiality of Lissachatina fulica Bowdich, 1822 (Mollusca: Gastropoda) as intermediate host of the Angiostrongylus costaricensis Morera & Céspedes 1971. Rev. Soc. Bras. Med. Trop, 36(6):743-745. Nov./Dec. ISSN 0037-8682.

Ligações externas

Wikispecies
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