As cantigas de escárnioPredefinição:Efn e maldizer constituem um dos três géneros em que se divide a satírica galego-portuguesa, que em Portugal encontrou expressão por volta de 1189 e 1385. Incluem sátiras morais, políticas e literárias e maledicências pessoais, como tenções (disputas em forma de diálogos), prantos (lamentações pela morte de alguém)[1] e paródias; em resumo, os textos que não se encaixam como cantiga de amigo ou de amor. O trovadorismo galego-português aperfeiçoou uma canção satírica proveniente da Provença, que lhe davam o nome de sirventés, que, chegada à Galiza, acabou por influenciar os trovadores para que estes, apoiando-se, talvez, numa tradição satírica regional transmitida oralmente e anterior à convivência com as formas occitânicas, criassem uma nova maneira de trovar: a cantiga de escárnio e maldizer.
O corpus lírico galego-português conta com aproximadamente 430 textos pertencentes ao género. A principal característica dessas cantigas é a crítica ou sátira dirigida a uma pessoa real, que era alguém próximo ou do mesmo círculo social do trovador. Apresentam grande interesse histórico, pois são verdadeiros relatos dos costumes e vícios, principalmente da corte, mas também dos próprios jograis e trovadores.
Cantiga de escárnio e cantiga de maldizer
A anônima Arte de Trovar que abre um dos cancioneiros medievais (o Cancioneiro da Biblioteca Nacional), diferencia as cantigas de escárnio das de maldizer:
Cantigas de escárnio são aquelas que os trovadores fazem querendo dizer mal d´alguém em elas, e dizem-lho per palavras cobertas que hajam dous entendimentos pera lhe-lo nom erem... ligeiramente; e estas palavras chamam os clérigos hequivocatio[2]
Tematicamente,as mais de 450 cantigas de escárnio e maldizer que chegaram até nós, abarcam um vastíssimo leque de motivos, personagens e acontecimentos, em áreas que vão dos comportamentos quotidianos (sexuais, morais) aos comportamentos políticos, devendo muitas delas ser entendidas como armas de combate entre os vários grupos e interesses sociais e políticos em presença. A sátira literária, nomeadamente a crítica às trovas alheias, é também uma área em destaque nestas cantigas. Enquanto as cantigas de escárnio apresentavam críticas sutis, as de maldizer eram vulgares, com o uso de palavrôes, e explícitas e pronto.
Referências
- ↑ «Sobre as cantigas». Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Consultado em 22 de agosto de 2022
- ↑ Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro; et al. «Arte de Trovar». Cantigas Medievais Galego Portuguesas [base de dados online]. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA. Consultado em 13 de outubro de 2016
Bibliografia
- LANCIANI, Giulia e TAVANI, Giuseppe, As cantigas de escarnio, Edicións Xerais de Galicia, S.A, 1995, página 106
- TAVANI, Giuseppe, A poesía lírica galego-portuguesa, Galaxia, Vigo, 2ª ed. , 1988, página 188