Buda (sânscrito-devanagari: बुद्ध, transliterado Buddha, que significa "Desperto",[1] do radical Budh-, "despertar") é um título[2] dado na filosofia budista àqueles que despertaram plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e se puseram a divulgar tal descoberta aos demais seres. "A verdadeira natureza dos fenômenos", aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfatórios e impessoais. Tornando-se consciente dessas características da realidade, seria possível viver de maneira plena, livre dos condicionamentos mentais que causam a insatisfação, o descontentamento e o sofrimento.
Do ponto de vista da doutrina budista clássica, a palavra "buda" denota não apenas um mestre religioso que viveu em uma época em particular, mas toda uma categoria de seres iluminados que alcançaram tal realização espiritual.[3] As escrituras budistas tradicionais mencionam pelo menos 24 budas que surgiram no passado, em épocas diferentes.
O budismo reconhece três tipos de Buda, dentre os quais o termo Buda é normalmente reservado para o primeiro tipo, o Samyaksam-buddha (em páli: Samma-Sambuddha). A realização do nirvana é exatamente a mesma nos três tipos, mas um Samyaksam-buddha expressa mais qualidades e capacidades que os outros dois tipos de buda.
Atualmente, as referências ao Buda referem-se em geral a Siddhartha Gautama, mestre religioso e fundador do budismo no século VI antes de Cristo.[1] Ele seria, portanto, o último buda de uma linhagem de antecessores cuja história perdeu-se no tempo. Conta a história que ele atingiu a iluminação durante uma meditação sob a árvore Bodhi, quando mudou seu nome para Buda, que quer dizer "desperto".
Existe uma passagem nas escrituras [Anguttara Nikaya (II, 37)] — a qual é frequentemente interpretada de maneira superficial — na qual o Buda nega ser alguma forma de ser sobrenatural, mas esclarece:
- "Brâmane, assim como uma flor de lótus azul, vermelha ou branca nasce nas águas, cresce e mantém-se sobre as águas intocada por elas; eu também, que nasci no mundo e nele cresci, transcendi o mundo e vivo intocado por este. Lembre-se de mim como aquele que é desperto."
Com isso, ele rejeitava qualquer possibilidade de ser tomado como um deus, mas reafirmava a característica transcendente de sua vivência espiritual e do caminho de libertação que oferecia aos demais seres. Nesse sentido, o Buda exerceu um papel importante de democratização da religião, que, até então, estava sujeita ao arbítrio da casta dos brâmanes.
Para Sidarta Gautama, não há intermediário entre a humanidade e o divino; deuses distantes também estão sujeitos ao carma em seus paraísos impermanentes. O Buda é apenas um exemplo, guia e mestre para os seres vivos sencientes, que devem trilhar o caminho por si próprios.
Dentre as religiões mundiais (a maioria das quais proclama a existência de um Deus criador), o budismo é considerado incomum por ser uma religião não teísta. Para o Buda, a chave para a libertação é a pureza mental e a compreensão correta e, por esse motivo, ele rejeitou a noção de que se conquista a salvação através de uma deidade.
De acordo com o Buda Gautama (Sidarta), a felicidade desperta do nirvana que ele atingiu está ao alcance de todos os seres, porém, na visão ortodoxa, é necessário ter nascido como um ser humano. No Tipitaca — a escritura budista mais antiga — fala-se dos numerosos budas do passado e de suas vidas, bem como sobre o próximo Bodisatva, que será chamado Maitreya.
Estátuas de buda
- Não confundir com Hotei, o buda obeso e sorridente geralmente visto na República Popular da China, que, a rigor, não é uma estátua de Buda e sim de um dos Sete Deuses da Sorte.
Budas são, frequentemente, representados em estátuas. Algumas formas comuns incluem:
- Buda sentado, como na escultura da Dinastia Tang acima;
- Buda deitado;
- Buda em pé, como na escultura no estilo Gandara;
- Buda caminhando, como na escultura no estilo de Sucotai em Banguecoque.
A maior parte das representações de buda contém certas marcas que simbolizam seu despertar espiritual. Essas marcas variam de acordo com a região, mas três se destacam:
- Uma protuberância no topo da cabeça denominada Usnisa, (simbolizando uma grande acuidade mental);
- Longos glóbulos ouriculares (simbolizando uma grande percepção);
- Um terceiro olho (simbolizando, também, grande percepção).
Buda, o Nono Avatar de Víxenu
De acordo com a tradição vixenuísta, o Buda é considerado o nono avatar de Vixenu. A encarnação de Víxenu é mais antiga, nascida em Gaya e datando do terceiro milênio após o desaparecimento de Críxena, há mais de 5 000 anos. Segundo as escrituras seguidas pelos víxenuístas (Bagavata Purana, Vixenu Purana), essa encarnação surgiu para eliminar a matança de animais durante os sacrifícios védicos e não ensinava a doutrina advaita como a do sábio Gautama, pregada por Sidarta, seguidor da linha filosófica de Gautama (daí o nome Sidarta Gautama) e que deu origem ao atual budismo.[4]
Ver também
Referências
- ↑ 1,0 1,1 «Budismo - Remédio para a dor | Superinteressante». Superinteressante. Consultado em 17 de fevereiro de 2016
- ↑ «Sanskrit Dictionary for Spoken Sanskrit». spokensanskrit.de. Consultado em 17 de fevereiro de 2016
- ↑ Xing, Guang (10 de novembro de 2004). The Concept of the Buddha: Its Evolution from Early Buddhism to the Trikaya Theory. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781134316991
- ↑ Patrick Gray (2015). Varieties of Religious Invention: Founders and Their Functions in History. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780199359738