Aviso aos Navegantes | |
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Brasil 1950 • cor • 113 min | |
Direção | Watson Macedo |
Roteiro | Alinor Azevedo Paulo Machado Watson Macedo |
Elenco | Oscarito Grande Otelo Anselmo Duarte Eliana Macedo José Lewgoy Zezé Macedo |
Género | comédia |
Idioma | português brasileiro |
Aviso aos Navegantes é um longa-metragem brasileiro sonoro de ficção de 1950, do gênero comédia musical, dirigido por Watson Macedo e estrelado por Oscarito e Grande Otelo. A produção foi feita pela Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil S.A. em conjunto com a União Cinematográfica Brasileira S.A., que também foi responsável pela distribuição. O filme foi restaurado em 2000, sendo a primeira chanchada da Atlântida a sair em DVD, em 2001. Este possui uma sucessão de números musicais, com destaque para Eliana, Oscarito, Ivon Curi (cantando em francês), Emilinha Borba, Francisco Carlos e as orquestras de Ruy Rei e do pianista Benê Nunes. Diferentes gêneros musicais são mesclados dentre estes números, de marchas a canções românticas francesas, compondo uma verdadeira comédia carnavalesca. Geraldo José, uma lenda no departamento de som do cinema brasileiro, inicia sua carreira cinematográfica como sonoplasta nesta obra, sendo este apenas um dos mais 600 de filmes dos quais ele participou.
Sinopse
Uma companhia teatral brasileira retorna ao Brasil num luxuoso transatlântico após uma série de apresentações em Buenos Aires. A bordo está Cléia (Eliana Macedo), uma dançarina cortejada por Alberto (Anselmo Duarte), o imediato do navio, e pelo Príncipe Suave Leão (Ivon Curi). Embarcado clandestinamente, há Frederico (Oscarito), que após ser descoberto por Azulão (Grande Otelo), o cozinheiro, passa a servi-lo para que não seja denunciado ao capitão do navio. Durante a viagem, o capitão é informado da presença de um perigoso espião internacional a bordo, que deve ser detido antes que o navio chegue ao Rio de Janeiro. Como se não bastasse, ocorre uma troca de passaporte que faz com que Frederico acabe descobrindo a identidade do espião. Frederico e Azulão entram em uma série de enroscadas na tentativa de impedir o espião, reunindo provas contra ele.
Elenco
- Oscarito....Frederico
- Grande Otelo....Azulão
- Anselmo Duarte....Alberto
- Eliana Macedo....Cléia
- José Lewgoy....Professor Scaramouche
- Adelaide Chiozzo.....Adelaide
- Sérgio de Oliveira...Capitão do navio
- Ivon Curi....Príncipe Suave Leão
- Mara Rios
- Yara Izabel
- Cuquita Carballo
- Zezé Macedo
- Clélia Rios
- Rubem Dourado
- Grijó Sobrinho
- Alfredo Rosário
- Dalva de Oliveira
- Emilinha Borba
- Elvira Pagã
- Juliana Yanakiewa
- Glauce Rocha
- Mara Rúbia
- Benê Nunes e sua orquestra
- Francisco Carlos
- Jorge Goulart
- Quatro Ases e Um Coringa
- Ruy Rey e sua orquestra
Equipe
- Produção: Severiano Ribeiro Jr.
- Direção de produção: Décio Tinoco
- Gerente de produção: Barroso Vasconcelos
- Argumento: Watson Macedo
- Roteiro e diálogos: Alinor Azevedo; Paulo Machado
- Direção: Watson Macedo
- Assistência de direção: Roberto Farias; Victor Olivo
- Coreografia: Juliana Yanakiewa
- Direção de fotografia: Edgar brasil
- Assistência de fotografia: Affonso Vianna
- Eletricista: Gork Chrisóstomo
- Técnico de som: Aloysio Vianna; Jesus Narvaez; Antonio Gomes
- Montagem: Waldemar Noya; Wilson Monteiro
- Decoração: Arnóbio Carvalho
- Maquiagem: Diva Assis
- Direção musical: Lindolfo G. Gaya
- Produção musical: Oswaldo Alves
- Orquestra: Rui Rey; Gaya
- Partitura musical: Gaya
Restauração
A restauração do filme Aviso aos Navegantes foi feita em uma iniciativa do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, nos anos de 1999 e 2000. O projeto de recuperação dos negativos foi incentivado pela Lei Rouanet e patrocinado pela BR Petrobras Distribuidora. Também recebeu o apoio da Labocine e da Rob Filmes. Nas fases de prospecção, contou-se com a participação de Germana Araújo, Eduardo Giffoni e Wanderci Chagas da Atlântida Cinematográfica. Como o filme se encontrava em avançado estado de deterioração, foi necessário utilizar-se diversas fontes nas diferentes etapas de restauração. Logo, foram utilizadas versões em 35 mm, 16 mm e até cópias em VHS. Com isto, o filme ainda requere uma equalização das imagens, que pode ser adquirida apenas através de um aperfeiçoamento digital. Esta etapa final da restauração foi acompanhada por Eduardo Giffoni, curador do estúdio na época. A Labocine serviu de base para o trabalho de restauração. A equipe utilizada foi coordenada pelo montador e pesquisador Francisco Moreira, um dos pioneiros da restauração cinematográfica no Brasil.[1] Houve também a colaboração do técnico e pesquisador Mauro Dominguez, do CTAv (Centro Técnico Audiovisual) e supervisão de Carlos Augusto Brandão e Myrna Brandão do próprio Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.
Contexto de produção e relevância
Em um momento onde a maioria dos filmes que ocupavam as salas de cinema brasileiras eram os americanos, este filme, junto com outros filmes brasileiros de sucesso da época, fazem o papel de trazer ao público um reconhecimento de suas identidades nas telas. Assim, a chanchada garante a visibilidade dos filmes brasileiros num mercado dominado pelo produto estrangeiro. A produção deste filme encontrava-se também em um contexto de “renovação” da chanchada, ainda próxima de uma cultura musical brasileira, o que deve-se em grande parte ao célebre roteirista Alinor Azevedo. Nesta fase, as narrativas tornam-se mais complexas, consolida-se o uso do estrelismo e são introduzidos novos elementos narrativos de outros gêneros (como suspense e policial). Mesmo que Alinor Azevedo seja descrito como “o articulador talvez mais comprometido com um cinema de ‘consciência social’; ou ainda filmes com pretensões artísticas ambiciosas”, muitos cineastas da época sentiam a necessidade de trabalhar em comédias musicais para possuir alguma segurança financeira e trabalhista. Isto fica comprovado pela forma como Alex Viany descreve a situação em uma matéria de jornal “É verdade que, em duros momentos, o recuo para a chanchada garantiu o amargo feijão cotidiano”, se referindo ao próprio Alinor Azevedo, mostrando que nem sempre era vontade do artista a produção de tais filmes. No entanto, a chanchada estava na época concretizada como a fórmula perfeita para um sucesso de bilheteria. Os personagens variavam pouco de filme para filme, buscando a segurança do sucesso já testado. Exemplo disso é o par romântico atuado por Eliana e Anselmo Duarte, que aparece em 5 filmes de Watson Macedo, tio da atriz. O galã parceiro de Eliana demonstra uma firmeza de caráter e valores, seguindo uma tradição narrativa da bondade em oposição maniqueísta ao vilão. Tal vilão, interpretado por José Lewgoy, ecoava o projeto de antropologia criminal de Cesare Lombroso - que acreditava que a criminalidade estava correlacionada com traços físicos - e o melodrama do século XIX. O ator possuía olhos esbugalhados que chamavam atenção em seu rosto magro, com bigode e cavanhaque, e um corpo também magro e esguio. O figurino reforçava a mensagem, sendo tipicamente preto e corroborada pelo uso de óculos escuros. Já o personagem de Oscarito desenvolve uma comédia corporal, em um estilo de performance repleto de trejeitos, repetições e variações no movimento de ações básicas, como seu andar. Muitas vezes essa comédia era construída em cima de incongruências de idade – como na boate do transatlântico ancorado em Buenos Aires, logo no início de Aviso aos navegantes, quando o personagem se passa por um bebê. Também neste filme, utiliza-se o clichê da chanchada das inversões de gênero, onde Oscarito destaca-se no travesti de rumbeira, realizando uma paródia de Cuquita Carballo. Esta obra é distribuída no período que é conhecido como a 2ª fase da produção da Atlântida. Isto é, quando o controle acionário da empresa passa para as mãos de Luís Severiano Ribeiro, maior exibidor cinematográfico do país. Já que a chanchada era o maior fenômeno de bilheteria durante os anos 1940 e 1950, a empresa tende à segurança do retorno financeiro que as comédias musicais proporcionam, uma vez que Severiano Ribeiro era um capitalista. Além disso, as produções eram baratas e feitas de forma ágil, de modo a se compensar o investimento feito. O filme, como previsto, foi um grande êxito de bilheteria. Desta forma, a chanchada torna-se marca identitária da empresa.
Recepção da crítica e do público
O filme obteve uma ótima recepção do público e em suas primeiras semanas levou milhares de espectadores às salas de cinema.O humor da dupla formada por Grande Otelo e Oscarito e a temática de carnaval foram pontos chaves para esse sucesso. No entanto a crítica, apesar de reconhecer que o filme divertia o grande público,desmereceu a obra em quesito cinematográfico. Na revista “A Scena Muda”, na sessão Telas da cidade, o crítico avalia o filme com nota 1 no quesito cotação artística e nota 5 em cotação comercial.[2] As principais críticas pontuaram um enredo fraco, ritmo problemático e atuações deficientes.[3]
Referências
Bibliografia
- VIEIRA, João Luiz. O Corpo Popular, a Chanchada Revisitada, ou a Comédia Carioca por Excelência. 2003
- MELO, Luis Alberto Rocha: “Estouro na praça”: Alinor Azevedo, Alex Viany e a Comédia Musical Carioca
- VIEIRA, João Luiz. Industrialização e Cinema de Estúdio no Brasil: A Fábrica Atlântida
- Aviso aos Navegantes. In: Almanaque Noites de Chanchada, Rio de Janeiro: Caixa Cultura, 2012