Annales. Histoire, Sciences Sociales é uma revista acadêmica da França consagrada pelo enfoque em história social, fundada em 1929 pelos historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre e que originou o movimento historiográfico conhecido como a Escola dos Annales. A publicação começou em Estrasburgo sob o título Annales d'histoire économique et sociale; mudou-se para Paris e manteve o mesmo nome de 1929 a 1939. Foi sucessivamente renomeada como Annales d'histoire sociale (1939–1942, 1945), Mélanges d'histoire sociale (1942–1944), Annales. Economies, sociétés, civilizations (1946–1994) e, finalmente, Annales. Histoire, Sciences Sociales em 1994.[1][2]
O escopo dos tópicos enfocados pela revista é amplo, mas a ênfase se deu na história social e nas tendências da longa duração temporal (longue durée), muitas vezes privilegiando a quantificação e com atenção especial à geografia e à visão de mundo intelectual das pessoas comuns ou "mentalidade" (mentalité).[3] A história política, diplomática ou militar recebeu menor atenção, assim como as biografias de homens famosos. Em vez disso, os Annales concentraram-se na síntese de padrões históricos identificados a partir da história social, econômica e cultural, estatísticas, relatórios médicos, estudos de família e até mesmo psicanálise.[4][5] É, sobretudo, um dos principais meios de publicação de pesquisa em antropologia histórica.
Entre os anos de 2012 e 2017, a Annales iniciou a publicação de uma edição em inglês, com todos os artigos traduzidos dos originais em francês.[6] Em 2017, a EHESS formou uma parceria com a Cambridge University Press para publicar as edições em francês e inglês dos Annales.[7]
História
Esta publicação periódica foi lançada quinze meses antes da comoção mundial materializada pela Grande Depressão a partir de Outubro de 1929, com o título Annales d'histoire économique et sociale (em português, Anais de História Econômica e Social), pelos historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre, então da Universidade de Estrasburgo. Inicialmente de circulação limitada, tinha como destaque novas proposições acerca da Teoria da História.
A aceitação que essas proposições obtiveram entre os intelectuais, alterou profundamente a concepção de análise histórica, originando a chamada "Escola dos Annales". Tradicionalmente, o estudo da História era feito em torno dos eventos, através do estudo crítico das fontes. Os artigos publicados na revista caracterizavam-se pela busca da ampliação dos campos de estudo da História, incorporando-lhe todos os demais campos do conhecimento humano que pudessem explicá-la, particularmente a Antropologia, a Sociologia, a Linguística, a Estatística e a Economia. Ao romper com a chamada "história factual" (ou "história dos eventos"), os seus fundadores passam a valorizar as mentalidades, o cotidiano, a arte, os afazeres do povo e a psicologia social, agora elementos fundamentais para a compreensão das transformações vividas pelos homens e seu meio.
Entre as mudanças editoriais que a publicação conheceu, destacam-se a sua primeira fase, onde pontificaram os trabalhos de seus fundadores, tornando-a conhecida mundialmente. Após a Segunda Guerra Mundial, uma segunda fase desponta, sob a direcção de Fernand Braudel. A partir da década de 1970, uma terceira fase teve lugar, conhecida como "Nouvelle Histoire" ("Nova História"), com nomes como o de Jacques Le Goff e Georges Duby.
Cronologia
- 1929 – lançada como "Annales d'Histoire Économique et Sociale";
- 1939 – passou a denominar-se "Annales d'Histoire Sociale" ("Anais de História Social");
- 1946 – Fernand Braudel assumiu a direcção da revista, que passou a denominar-se "Annales. Économies, Sociétés, Civilisations";
- 1994 – recebeu o título atual de "Annales. Histoire, Sciences Sociales" ("Anais: História, Ciências Sociais").
Ver também
Referências
- ↑ P. Burke, The French Historical Revolution. The Annales School 1929–89, p. 116 n. 2.
- ↑ Hunt, Lynn. "French History in the Last Twenty Years: the Rise and Fall of the Annales Paradigm." Journal of Contemporary History 1986 21(2): 209–224.
- ↑ See Lucien Febvre, La Terre et l'évolution humaine (1922), translated as A Geographical Introduction to History (London, 1932).
- ↑ P. Burke, The French Historical Revolution. The Annales School 1929–89, p. 116 n. 2.
- ↑ Hunt, Lynn. "French History in the Last Twenty Years: the Rise and Fall of the Annales Paradigm." Journal of Contemporary History 1986 21(2): 209–224.
- ↑ https://www.cambridge.org/core/journals/annales-histoire-sciences-sociales-english-edition/all-issues (Accessed February 2019)
- ↑ https://www.cambridge.org/core/journals/annales-histoire-sciences-sociales/article/editorial/8F90DD532271A990FDC22FF94FA842DB (Accessed February 2019)
Bibliografia
- AGUIRRE ROJAS, C. A. Os Annales e a historiografia francesa: tradições críticas de Marc Bloch a Michel Foucault. Maringá: Eduem, 2000.
- BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da historiografia. São Paulo: UNESP, 1991.
- BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo, UNESP, 1992.
- DOSSE, François. A História em Migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo: Edusc, 2003. 394p. ISBN 8574601578
- NOIRIEL, Gerard. "Les Annales, le non conformisme et le mythe de l’éternelle jeunesse". in: NOIRIEL, Gerard. Sur la "crise" de l’histoire. Paris: Éditions Belin, 1996. p. 261-286.
- PARIS, Erato. "L’Esprit des Annales à travers sa pédagogie et la correspondance entre Lucien Febvre e Marc Bloch". Storia della Storiografia, 32:71-98, 1977.
- PARIS, Erato. "L’époque brésiliene de Fernand Braudel (1935-1937) et les origines intelectuelles de La Mediterranée et le méditerranéen à l’époque de Philippe II". Storia della Storiografia, 30:31-56, 1996.
- REIS, José Carlos. Escola dos Annales: a inovação em história. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
Ligações externas
- «Edições digitalizadas da revista de 1929 até 2002» (em français)