𝖂𝖎ƙ𝖎𝖊

Amauri Pena

Amauri Pena

Amauri Xavier Pena (Pedro Leopoldo, 1933 - Sabará, 26 de junho de 1961) foi um suposto médium brasileiro, que se tornou conhecido por ter afirmado, em 1958, que sua suposta obra (que nunca foi exposta publicamente) era uma fraude e que a obra de Chico Xavier, seu tio, também era.

Biografia

Era filho de Jaci Pena e de Maria Xavier, irmã mais velha de Chico.

A declaração, à época, surpreendeu os círculos espíritas e foi noticiada pela imprensa em todo país. O caso foi estudado, entre outros autores, pelo jornalista Marcel Souto Maior, na década de 1990.[1]

Segundo o autor, desde criança Amauri escrevia poesias de qualidade incomum. Esse trabalho do jovem teria sido acompanhado de perto, durante muito tempo, pelo professor Rubens Costa Romanelli, um dos fundadores da União Juventude Espiritual de Minas Gerais, e secretário do jornal O Espírita Mineiro (op. cit., p. 139).

Entre eles, teria se destacado um, intitulado "Os Cruzílidas", cujos versos eram assinados por Camões, e narravam a história espiritual do descobrimento do Brasil, uma epopeia no mundo espiritual à época do descobrimento do país. De acordo com os versos, Cabral teria sido acompanhado de perto pelos espíritos (op. cit., p. 139).

Em Julho de 1958, então com 25 anos de idade e morando em Sabará, Amauri dirigiu-se à redação do periódico Diário de Minas, em Belo Horizonte, com a intenção de "desabafar". Declarou necessitar livrar-se "de um peso na consciência", uma vez que há muitos anos escrevia poemas, atribuía a obra ao espírito de Castro Alves e afirmava "ter sido escolhido pela espiritualidade para divulgar na Terra um novo Lusíadas". Complementou que tudo isso era mentira (op. cit., p. 138), afirmando:

"Aquilo que tenho escrito foi criado pela minha própria imaginação, sem interferência do outro mundo ou de qualquer outro fenômeno miraculoso. Assim como tio Chico, tenho enorme facilidade para fazer versos, imitando qualquer estilo de grandes autores. Como ele, descobri isso muito cedo. Tio Chico é inteligente, lê muito e, com ou sem auxílio do outro mundo, vai continuar escrevendo seus versos e seus livros." (op. cit., p. 139.)

Após essa publicação na capital mineira, o O Globo, no Rio de Janeiro, estampou em manchete, na primeira página da edição de 16 de Julho: "Desmascarado Chico Xavier pelo sobrinho e auxiliar!" O texto era incisivo: "Depois de se submeter ao papel de mistificador durante anos, o jovem Amauri Pena, sobrinho de Chico Xavier, resolveu, por uma questão de consciência, revelar toda a verdade! Chico Xavier era, desde muito cedo, um devorador de livros." (O Globo, 16 de Julho de 1958. apud op. cit., p. 139.)

O jornal Diário da Tarde, também de Belo Horizonte, visando uma melhor cobertura, enviou um repórter a Sabará para entrevistar Amauri, que entretanto, ainda se encontrava na capital mineira. O repórter procurou então o delegado Agostinho Couto, que informou ser o jovem um alcoólatra inveterado, "um desordeiro", que já tinha sido apanhado tentando roubar uma casa e fora expulso da cidade por várias vezes pelo policial. O pai de Amauri, Jaci Pena, confirmou as acusações, complementando:

"Meu filho é um doente da alma. Todo mundo sabe disso. É dado a bebidas. Ontem mesmo eu o apanhei caído no jardim no maior pileque. Chico conhece Amauri. As declarações dele não alteram nada." (Diário da Tarde. apud op. cit., p. 140.)

Prosseguindo no trabalho de reportagem, no dia 29 de Julho o repórter do Diário de Minas, autor do furo jornalístico, entrevistou Chico Xavier, acerca das declarações do sobrinho. Chico, à época muito surpreso e magoado, negou que Amauri fosse seu auxiliar:

"Meu sobrinho, até agora, não frequentou reuniões espíritas ao meu lado, mas posso acrescentar que ele tem estado num grupo de espíritas muito responsáveis em Belo Horizonte, junto dos quais sempre recebeu orientação com muito mais segurança que junto a mim.".

E acrescentou, demonstrando perdoar o seu acusador:

"Meu sobrinho é muito moço e, pelo que observo, é portador de um idealismo ardente, em sua sinceridade para consigo mesmo. De minha parte, peço a Jesus, com muita sinceridade, para que ele seja muito feliz no caminho que escolher."

Ao se despedir do repórter, ainda escreveu um bilhete, a ser publicado na edição do dia seguinte:

"Se algo posso falar ou pedir, nesta hora, rogo a todos os corações caridosos uma oração a Nossa Mãe Santíssima em meu favor, a fim de que eu possa - se for a vontade da Divina Providência - continuar cumprindo honestamente o meu dever de médium espírita sem julgar ou ferir quem quer que seja." (Diário de Minas, 29 de Julho de 1958. apud op. cit., p. 140-141).

Sem novos factos que a alimentassem, a polêmica encerrou-se por si só. Amauri não conseguia se livrar do alcoolismo e acabou sendo internado em um sanatório na cidade de Pinhal, no interior do estado de São Paulo, tendo vindo a falecer pouco tempo depois. Ainda de acordo com a pesquisa de Souto Maior, o seu último desejo, algum tempo antes de falecer, foi o de divulgar um documento com um pedido formal de desculpas ao tio, sem que o conseguisse, uma vez que os então diretores da Federação Espírita Brasileira decidiram adiar essa retratação sob a alegação de que os adversários da Doutrina poderiam insinuar que Amauri fora forçado a se arrepender (op. cit., p. 141).

Quanto às motivações de Amauri para as declarações, Souto Maior cita duas hipóteses principais, ambas carecendo de maior embasamento:

a)a passional, segundo a qual Amauri pretenderia impressionar e agradar uma jovem católica por quem estaria apaixonado; b)a pecuniária, segundo a qual Amauri teria sido subornado por um padre católico para desmoralizar Chico Xavier (op. cit., p. 141).

Este caso foi utilizado como argumento pelos críticos da obra de Chico Xavier, nomeadamente pelo Padre Quevedo em seus polémicos debates na imprensa. É nesse contexto que foram alegadas supostas 50 obras psicografadas por Amauri Pena, assim como os nomes de Cruz e Sousa, Gonçalves Dias, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Luís Guimarães Jr., Casimiro Cunha, Inácio Bitencourt, Cícero Pereira, Hermes Fontes, Fabiano de Cristo, Anália Franco, Bocage e Rabindranath Tagore como supostos autores espirituais de páginas recebidas pelo médium. Do mesmo modo foi alegado que o boletim espírita "Síntese", de Belo Horizonte, fez a divulgação desse material e que Amauri teria falecido por atropelamento,.[2][3]

Sobre a atitude do sobrinho, Chico voltaria a declarar, anos mais tarde: "Quanto ao meu sobrinho, era um perturbado. Bebia muito, não trabalhava direito, acabou louco. E morreu há alguns anos. Ele fez aquilo, ao que parece, pela sedução do dinheiro. Que o altíssimo o perdoe."[4]

Vida após o escândalo e Morte

Segundo a revista Reformador de Setembro de 1961, assim foi a informação oficial sobre a vida de Amauri Pena após o escândalo envolvendo seu tio:

"Em nossos números de Agosto a Dezembro de 1958, tratámos do «caso» de um sobrinho de Chico Xavier, o jovem Amauri Pena, cujo pai, com tristeza, havia dito aos jornais: «O meu filho é um doente da alma, todo mundo sabe disso.»

Posteriormente fomos informados de que ele passou, após o premeditado e bem estudado escândalo, amplamente aproveitado pelo clero, por um período de boa situação monetária, sendo visto, em cafés de Belo Horizonte, a exibir o seu novo estado financeiro.

Já no correr de 1959, soubemos que ele estava internado no Sanatório «Bezerra de Menezes», na cidade de Espírito Santo do Pinhal, Estado de S. Paulo. Sendo-lhe dado alta, ficara trabalhando e residindo na mesma cidade, onde passou a receber (?) e publicar poesias mediúnicas (ou ditas mediúnicas), então com o pseudônimo de Otaviano Severo, conforme se vê à página 6 da publicação «I Conclave Estadual da Fraternidade», editada em Maio de 1959, nas oficinas de «O Município», de S. João da Boa Vista, também do Estado de S. Paulo.

Bebendo, bebendo sempre e o dia inteiro, uma hepatite finalmente veio ocasionar-lhe a morte, em Sabará, sua terra natal, no dia 26 de Junho do ano de 1961. Contava ele então com 27 anos de idade."[5]

Ver também

Referências

  1. SOUTO MAIOR, Marcel. As Vidas de Chico Xavier. São Paulo: Planeta do Brasil. 2003. 271p. fotos. ISBN 85-7479-574-7.
  2. Lauro Denis.Sobrinho de Chico Xavier Fatos Não Revelados. 2005. Acedido em 22 Abr. 2008.
  3. «Espiritismo e Pe. Quevedo». Consultado em 22 de abril de 2008. Arquivado do original em 1 de setembro de 2009 
  4. In: Folha On-line Cotidiano, 30/06/2002. Acedido em 22 Abr. 2008.
  5. 5 - <http://obraspsicografadas.org/2012/afinal-de-contas-o-que-aconteceu-a-amauri-pena-o-sobrinho-de-chico-xavier/> Acessado em 07/01/2014.

Bibliografia

  • LEWGOY, Bernardo. O grande mediador - Chico Xavier e a Cultura Brasileira.
  • RANIERI, R.A.. Recordações de Chico Xavier. Guaratinguetá (SP): Editora Fraternidade, s.d.. p. 123-127
  • SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. São Paulo: Planeta do Brasil. 2003. 271p. fotos. ISBN 85-7479-574-7 p. 138-141.
  • Jornal Estado de Minas, Belo Horizonte, 20 de Janeiro de 1971.
  • Revista Realidade, Novembro de 1971, p. 65.

talvez você goste