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Almocafre

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Predefinição:Sem-notas Almocafre é um sacho fabricado inicialmente para uso na agricultura e, posteriormente, introduzido no garimpo manual de ouro.

Descrição

Palavra incomum, desconhecida das pessoas, inclusive dos garimpeiros brasileiros, mais presente na língua espanhola do que na portuguesa.

O almocafre foi introduzido pelos Árabes na Península Ibérica, para uso na agricultura, em especial a espanhola. De lá migrou e foi adaptada para uso na mineração de ouro (e, posteriormente, diamantes), com vista remover o cascalho do leito dos rios e encostas no processo de separação do ouro. Seu formato é melhor compreendido na observação das figuras em anexo. (7)

A palavra é de origem Árabe, de “Al muhaffer”, que significa “o cavador”. (1)

A primeira citação na língua portuguesa remete a 1624. (2)

Seu uso na mineração brasileira foi pioneiramente descrito em 1711. (3)

Entre o final do século XVII e o princípio do XVIII, com a descoberta das ricas jazidas auríferas na região das Minas pelos bandeirantes paulistas, teve início o grande surto de mineração, chamado “ciclo do ouro”. O rei de Portugal criou, em 1702, a Intendência das Minas, um órgão encarregado de controlar a exploração do ouro, cobrar impostos e julgar os crimes praticados na região. (7)

Quando o garimpeiro descobria uma mina, era obrigado por lei a informar ao intendente, que mandava dividir a mina em lotes auríferos chamados de datas. O descobridor tinha direito a escolher duas datas; uma era reservada ao rei e as outras eram distribuídas entre os mineradores; as maiores para quem tivesse mais escravos. (7)

Nos "Autos da Devassa da Inconfidência Mineira" no volume VI, página 69, lê-se (4)

SÃO JOSÉ DO RIO DAS MORTES em 25-05-1789, Traslado do sequestro feito ao Vigário Carlos Correia de Toledo, por João Batista Lustosa, Escrivão das Execuções Cíveis nesta Vila de São João del; (...) “eu Escrivão ao diante nomeado fui vindo, junto com o Meirinho dos ausentes Bernardo José da Silva, e sendo aí, em virtude do mandado retro, e despacho supra, chegou o dito Meirinho à pessoa do Tenente Manuel Francisco de Toledo e lhe deferiu o juramento dos Santos Evangelhos, em um livro deles, em que pôs sua mão direita, sub cargo do qual lhe encarregou jurasse a verdade, do que soubesse, e lhe fosse perguntado, e perguntando-lhe o dito Meirinho se tinha bens em seu poder, ouro, prata ou bens móveis, ou outros quaisquer, pertencentes ao Reverendo Carlos Correia de Toledo, ou se sabia quem os tivesse? E recebido por ele o dito juramento, debaixo do qual disse, e declarou, que na paragem tinha o dito reverendo terras minerais, e águas com um rego puxado com água que cobre parte das ditas terras minerais: e assim mais doze escravos por nomes Romão Crioulo, José Banguela, João Mina, Custódio Crioulo, Domingos Angola, Leonardo Crioulo, Tomás Angola, Agostinho Crioulo, Antônio Banguela, Apolinário Crioulo; Manuel Monjolo e Alberto Crioulo; e declarou mais que se acha como administrador trabalhando com os ditos escravos em um serviço de grupiara, pertencente ao dito reverendo, e mais ferramentas, a saber, seis alavancas de ferro, quatro cavadeiras de ferro, doze enxadas, oito em bom uso, e quatro já mais velhas, quatro almocafres em bom uso; e declarou mais que nas ditas terras águas minerais e rego é em igual parte sócio com o Doutor Manuel Rodrigues Pacheco Morais, e mais não disse... (grifo nosso) Disponível em: http://portaldainconfidencia.iof.mg.gov.br/leitura/web/v6?p#

A palavra almocafre aparece mais cinco vezes neste volume (nenhuma vez nos demais dez volumes da coleção). Em uma citação há referência ao valor de quatro peças usadas: 1 mil e duzentos réis. A título de comparação, um machado 300 réis”. (7)

A figura 1 mostra um almocafre novo, para uso na agricultura, disponível para compra nas lojas de ferramentas agrícolas da Espanha e do México. A figura 2 apresenta um almocafre antigo, fabricado no Brasil, no século XXVIII, destinado ao garimpo de ouro e de diamantes. É o único conhecido com tal grau de conservação (aparentemente nunca foi usado), a peça é extremamente rara e foi doada pelo proprietário (José Carlos Serufo) ao Museu do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Brasil, onde pode ser visitada. (5) (6)

Em 2018 foi produzido um suplemento especial da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais que parte da primeira descrição do almocafre por um agricultor árabe em Sevilha, na Espanha do século XXII; analisa dois livros proibidos pela Coroa Portuguesa, um impresso em Lisboa, em 1711, e o outro, impresso clandestinamente em Sevilha, em 1792, o qual é o mais antigo documento sobre os caminhos do ouro no Brasil Colonial; apresenta aos leitores a primeira fotografia de um almocafre, feita em 1888, e finaliza com os resultados de uma pesquisa de campo que vasculhou, por cinco anos, sítios de mineração setecentista em Minas Gerais, onde se deu o achado de várias ferramentas de garimpo, em especial, de um almocafre de forja antiga que, se comparado aos existentes nos museus, é o único em seu perfeito estado de conservação (figura 2). O suplemento (Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, volume 42, suplemento I) pode ser solicitado ao IHGMG no endereço [[1]] . O acervo de 20.000 livros e o museu encontram-se abertos ao público.

Fontes Bibliográficas

  • (1) Alves, Adalberto. Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda SA, 2013.
  • (2) Toniolo, Ênio José. Sobre a Datação do Léxico Português. In: Revista Acta, Assis. 1:1-11, 2011.
  • (3) Antonil, André João. Cultura e Opulência do Brazil, por suas drogas e minas. Lisboa: Officina Real. 1711 (1ª edição).
  • (4) Autos da Devassa da Inconfidência Mineira. Vol. 6, pág 60 a 75. Disponível em : http://portaldainconfidencia.iof.mg.gov.br/leitura/web/v6?p#
  • (5) Serufo, JC & Alvarenga, JO. Ata do plenário do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais em 13 de maios de 2017.
  • (6) Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
  • (7) Serufo, JC & Alvarenga, JO. O almocafre: evocações do ciclo do ouro. 2018. Edição especial bilingue. Usina do Livro. Belo Horizonte. 221p.
Figura 2: Almocafre Antigo (Pertence ao Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais)
Figura 1: Almocafre atual (Espanha e México)
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