Academia de Letras é uma instituição de cunho literário e linguístico, que reúne uma quantidade limitada de membros efetivos, numa tradição iniciada no Século XVII com a Academia francesa.[1]
Histórico
O termo "academia" remonta à Academia de Platão - escola fundada pelo célebre filósofo grego nos jardins que um dia teriam pertencido ao herói Akademus (donde vem o nome). Ali buscava-se, pelo dialética socrática, o saber pelo questionamento e pelo debate. Ao contrário da Escola de Isócrates, onde o conhecimento consistia na mera repetição do saber[2].
Foi com esta ideia de debates, que diversas instituições literárias surgiram em França, entre as décadas de 1620 a 1630 - consolidando-se na matriarca de todas as agremiações literárias - a citada Académie…
Mas, mesmo antes destas, existiram outras instituições com objetivos análogos, tais como:
- Academia do Palácio - em Paris, de 1570 - a primeira a receber o nome de "Academia francesa", no reinado de Carlos IX[3].
- Academia de Florença - de 1582, chamada "della Crusca" ou do "Farelo" - pois nas questões linguísticas dizia separar o joio do trigo, limitando o seu ingresso sob o lema "Il più bel fior ne coglie" (algo como "a fina flor colhida").[4]
- Academia dei Licei, também na Itália, de 1609.[5]
Após a fundação da Académie, em 1635, outras tantas surgiram e desapareceram:
- Academia das Inscrições e Belas Letras (1663, na França)[6];
- Academia de Ciências (1666, na França)[6];
- Sociedade Real ("Royal Society", Londres, 1660)[7];
- Arcádia Romana (1690)[8];
- Academia dos Generosos (Portugal, 1647)[9];
- Academia dos Singulares (Portugal, 1663)[9].
Ao Brasil, com certo atraso, foram fundadas:
- Academia Brasílica dos Esquecidos (na Bahia, 1724)[10];
- Academia dos Felizes (Rio de Janeiro, 1736)[11];
- Academia dos Selectos (Rio de Janeiro, 1751 ou 1752)[12];
- Academia Brasílica dos Renascidos (na Bahia, revivendo a dos Esquecidos, de vida breve - em 1759)[12]
Muitas outras vieram das quais apenas a francesa subsistiu - tendo também sido a única oficializada pelo Estado.
Academias no Brasil
Após a fundação da Academia Brasileira de Letras, foram sendo constituídas Academias em cada Estado da Federação brasileira. Sem possuir a grandiosidade e importância da Brasileira, várias delas constituem-se ativas e importantes espaços para a divulgação da literatura local e reconhecimento dos valores estaduais, neste mister, destacam-se, nos dias atuais, a Academia Paulista de Letras e a Academia Cearense de Letras. A Carioca já ocupou lugar de destaque, mas hoje, assim como a Baiana, não tem conseguido manter o nível de atividade do passado.
Muitas cidades têm na sua Academia o órgão literário máximo, no qual se reúnem-se os expoentes locais, numa extensa lista. Nestas, destaque especial para a Montesclarense, a Academia Recifense de Letras e a Caetiteense - em Minas Gerais, Pernambuco e Bahia, respectivamente[13].
- Veja: Anexo:Lista de academias de letras no Brasil
Academias "mistas" e "categorizadas"
No Brasil, com a proliferação de entidades literárias, muitas cidades não reuniam "literatos" em número suficiente para que viessem a justificar a fundação de um "silogeu". Vieram, assim, as Academias "mistas": de "letras e artes" (em tese, todo "artista" pode ser membro); de "letras e música", etc.
De outro lado, certas categorias profissionais ou associativas, reunindo em seu bojo muitos escritores, passaram a criar Academias específicas: médicos, militares, maçons, passaram também a ter "suas" próprias Academias de letras, nominadas como no caso dos formados em Direito, das chamadas academias "de Letras Jurídicas".
Ver também
Referências
- ↑ Bernardo, Luís Miguel (1 de julho de 2005). Histórias da Luz e das Cores, volume 1 (em português). [S.l.]: U.Porto Editorial - Universidade do Porto. ISBN 9789728025878
- ↑ Reale, Giovanni (2008). História da filosofia antiga III - Os sistemas da era helenística (em português). [S.l.]: Loyola. ISBN 9788515008483
- ↑ Moreri, Louis (1753). El gran diccionario historico, o Miscellanea curiosa de la Historia Sagrada y profana ... (em español). [S.l.]: a costa de los libreros privilegiados
- ↑ Pereira, Milena da Silveira (1 de janeiro de 2014). A crítica que fez história: as associações literárias no Oitocentos (em português). [S.l.]: SciELO - Editora UNESP. ISBN 9788568334508
- ↑ Carutti, Domenico (Maio de 2009). Breve Storia Della Accademia Dei Lincei (em italiano). [S.l.]: BiblioBazaar. ISBN 9781110110315
- ↑ 6,0 6,1 Andrade, António Alberto Banha de (1966). Vernei e a cultura do seu tempo (em português). [S.l.]: UC Biblioteca Geral 1
- ↑ «History of the Royal Society | Royal Society». royalsociety.org (em English). Consultado em 20 de julho de 2019
- ↑ Corniani, Giovanni Battista (1856). I secoli della letteratura italiana dopo il suo risorgimento: commentario di Giambattista Corniani, colle aggiunte di Camillo Ugoni e Stefano Ticozzi, e continuato sino a questi ultimi giorni (em italiano). [S.l.]: Cugini Pomba e comp.
- ↑ 9,0 9,1 «Ciência em Portugal - Episódios». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 20 de julho de 2019
- ↑ Scarparo, Marcelo Kochenborger (2010). «História e representações do espaço na Academia Brasílica dos Esquecidos (Salvador, 1724-25)»
- ↑ Cavalcanti, Nireu (18 de março de 2015). O Rio de Janeiro setecentista: A vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da corte (em português). [S.l.]: Zahar. ISBN 9788537814192
- ↑ 12,0 12,1 «literatura». www.academialetrasbrasil.org.br. Consultado em 20 de julho de 2019
- ↑ «Brasil conta com 33 mil academias. Mercado fitness, mesmo próspero, exige conveniência e criatividade de quem quer empreender | Publicado por Dino». EXAME (em português). Consultado em 20 de julho de 2019